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Nossa investigação é de caráter qualitativa, enquanto opção metodológica, e inscreve-se no lastro das pesquisas em educação, que primam pela combinação de um tratamento teórico acerca dos problemas da prática. Um diálogo que procura se desenvolver articulado ao terreno teórico e epistemológico de práticas sociais reconhecidas. É uma pesquisa sobre a natureza das ações dos sujeitos coletivos da

Educação Escolar Indígena (EEI) em Pernambuco. Dada a relevância dos atores em

ação, a dimensão da experiência assume, aqui, uma posição fundamental. Compreendemos que há um valor tributado nessas experiências em termos de uma prática pedagógica, politicamente situada. Porém, não me refiro a caracterização puramente empírica sobre a análise da experiência. Nosso “promunciamento” resvala-se com e na experiência vivida dos sujeitos da educação escolar indígena, a partir do pensar, do sentir, do agir e também do reconceber impressões (MELUCCI, 2005) de modo relacional.

As experiências emitem, certamente, um teor de qualidade quando os sujeitos que às realizam ou nelas se realizam, procuram responder questões que redefinem, de modo particular, as relações do coletivo. Essa dimensão também se esforça por incorporar o valor da vida cotidiana, nos diferentes espaços em que se potencializa a atuação dos atores da COPIPE, enquanto locais excepcionalmente importantes, no

sentido que passam a revelar diversos sentidos do fazer/agir sob a forma de ações/ realizações construídas. Significa dizer, entre outras coisas: que as experiências coletivas podem desempenhar vínculos identitários na mesma ordem que as atividades revelam significados às ações dos sujeitos.

Reconhecemos que não é nada fácil penetrar no tempo/mundo dos sujeitos da pesquisa, de apoderar-se empiricamente de competências lingüísticas, assumindo uma lúcida interpretação acerca das formas de comunicação ou de representações simbólicas. O campo social do observador está sempre em movimento, por isso ele e a pesquisa, de certa medida, estão em relação contínua.

Assim, nosso tratamento gnoseológico dado ao corpo do texto é, desde o início, relacional. Foram temas e categorias que, submetidos à crítica teórica, propusemos neles identificar como interdependentemente aparecem, entre os sujeitos da investigação. Cremos, dessa forma, não termos construído nossa investigação, fazendo uma separação entre natureza/cultura/sociedade. Assim, como Mellucci (2005, p. 30), aceitamos que no “mundo comtenporâneo, a natureza não é mais separável de modo claro da cultura porque a sociedade intervém de modo massivo sobre as bases mesmas da realidade natural seja no sentido ecológico seja no sentido biológico”, político, econômico, ético, pedagógico, estético. Posicionamo-nos a favor da escolha de processoss sociais gerais de saberes da prática em direitos, inferidos pelas necessidades de mudança da esfera pública, enquanto contribuição conscientemente produzida pelos sujeitos da Educação Escolar Indígena em Pernambuco.

Nesse caso particular, identificamos os atores em ação, como intelectuais sociais transformadores/as porque ao analisar os vínculos que estabelecem com as formas de elaboração de políticas públicas, propriamente ditas, fazem emergir de

modo patente uma profunda consciência do social, próprio de quem realmente busca mudanças mais profundas. Este nosso posicionamento está ligado às opções que a COPIPE têm assumido nos últimos anos enquanto ações das comunidades indígenas do Estado de Pernambuco. Fomos, então, incorporando melhor uma definição epistemológica, constituída sob algumas características que nos fizeream perceber, cremos que de uma maneira mais profunda, os sujeitos da nossa investigação.

Num primeiro plano, enquanto característica do campo da pesquisa consideramos que os discursos produzidos (implícitos e explícitos no corpus do texto) oferecem um destaque à linguagem, politicamente localizada, isto é, vinculando-se a pessoas, “tempos e lugares específicos” (MELUCCI, 2000). Essa redefinição nos ajudou a precisar melhor nossa visão de pesquisa empírica, procurando não fraturar, desnecessariamente, a relação observador/observado/campo. Procuramos oferecer a essa interconexão um papel qualitativamente importante. Assim, não foi nosso objetivo caracterizar a profusão de um determinado tipo de conhecimento centrado nele mesmo. Acreditamos que a pesquisa, como sugere Melucci (op. cit., p. 33), “produz interpretações que buscam dar sentido aos modos nos quais atores buscam, por sua vez, dar sentido às suas ações”, ou como diz, “interpretações plausíveis”. Porém, é necessário também aceitar que enquanto liguagem científica a ciência poderrá assumir posicionalidades estratégicas a favor da luta dos diferentes grupos sociais em situação de violação de direitos. Nesse caso, este reconhencimento, “introduz uma perspectiva que tende a aceitar a polifonia, o pluralismo possível das formas de relatos e exige sobre a forma escolhida uma atitude inevitavelmente auto-reflexiva” (MELUCCI, Idem, p. 34).

Parece que dessa forma a tradutabilidade do papel do investigador não se limita numa interpretação por si só do “objeto” investigado, mas, ao aceitar a polivocalidade das linguagens dos sujeitos, dos espaços, das relações e seus sistemas, faz uma conexão responsável com os significados que a partir da realidade consegue evocar. Dito de outra forma: “a experiência não é entendida como verificação objetiva de hipóteses, mas como um processo de produção de conhecimento que se adequa progressivamente através da interpretação entre observador e observado” (Idem, Ibidem).

Ao longo do texto argumentamos em prol dos sujeitos da Educação escolar Indígena (capítulos III e IV respectivamente), oferecendo-lhes o estatuto de pesquisadores/as sociais, intelectuais transformadores/as (GIROUX, GRAMSCI, FREIRE) ou como tradutores de linguagem e de percepções da realidade (MELUCCI). Cremos, então, ter descrito a favor das narrativas e discurssos provocados pelos sujeitos da COPIPE sem dicotomizar o lugar dos atores e seus discursos, naquilo que propriamente os mantêm conectados as premissas de suas lutas, como também do diálogo, interpelação e interpretação que realizam com a realidade social.

O plano focal das informações coletadas (espaços, lugares) se constituiu a partir do contato direto onde os sujeitos da EEI realizam seus processos formativos (Encontrões, Assembléias, Conferências, Debates, Reuniões), particularmente, nos últimos três anos. Esse contato presente nos espaços dos atores sociais da Educação Indígena procurou compeender à profundidade das relações de troca de saberes que neles se realizam e estabelecer com eles um tratamento analiticamente crítico-reflexivo.

As entrevistas abertas foram realizadas com membros da coordenação da COPIPE, lideranças e professores/as indígena (identificados pelas siglas: PI, para professor/a indígena; LI, liderança Indígena; PIC, professor/a, membro da coordenação da COPIPE)11, com o propósito de conectar melhor o lugar dos atores sociais em torno das lutas por direitos coletivos que estabelecem; de precisar os múltiplos significados das ações e aprofundar às implicações e repercussões de suas reinvidições. Nesse sentido, privielgiamos a combinação da observação participamte, à análise de documentos, à investigação teórica e as entrevistas abertas (BOGDAN & BIKLEN, 1994) procurando oferecer-lhes um melhor status epistemológico. As fases de nossa investigação - sob a rubrica da pesquisa qualitativa – foram assim delineadas:

1) Os achados do ambiente onde os atores da EEI atuam se tornaram fonte direta das análises que fomos construíndo (espaços, tempo, sujeitos), tratados diretamente como questões da educação. Facultamos aqui, semelhante à Bogdan & Biklen (1994, p. 48) que as “ações podem ser melhor compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência; e que o comportamento humano é influenciado pelo contexto em que ocorre”.

2) Nossos dados, com relação à pesquisa empírica, contém transcrições recolhidas entre lideranças indígenas, membros da coordenação geral da COPIPE e professores/as de uma maneira geral. Esses dados pressumem uma idéia básica para investigação qualitativa. Qual seja: nos permite estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo (BOGDAN & BIKLEN, 1994). Aqui já se abre uma prerrogatica que leva em consideração (enquanto recurso metodológico) o desempenho dos sujeitos da pesquisa no sentido de se

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Não há progressivamente alterações nas siglas (p.ex.: PIa, PIb, PIa, PIb, LIa, LIb etc.) por que no corpo do texto não incorporamos entrevistas reincidentes de um mesmo sujeito entrevistado.

compreender as mudanças que vêm sendo processadas na Educação Escolar Indígena em Pernambuco. Essa reflexão aceita como ponto convergente às questões que os atores sociais experimentam, interpretam e estruturam através dos diferentes processos em educação que estão realizando.

Dessa maneira, no tratamento expositivo de nossa investigação a compreensão dos fatores sócio-históricos teve considerável atenção. Entendemos que esse olhar sobre alguns pressupostos fundadores do passado, ajuda-nos a desvelar melhor os limites do presente e, ao mesmo tempo, tornar mais objetiva, conseqüentemente, à argumentação construída. Assim, a primeira parte da pesquisa constitui-se de uma análise pontual e problemática sobre o lugar dos povos indígenas no nordeste, tanto sobre os infortúnios quanto sobre as lutas de resistência que travaram. Capistrano de Abreu (1963), Caio Prado (1971, 1977), Sodré (1982), Marchant (1980), Simonsen (1978), Florestam Fernandes (1970, 1989), Furtado (1977), Vainfas (1986), Meliá (1979) entre outros, ajudaram a desconstruir a ideologia escravista, a norma senhorial, a economia colonial, a educação religiosa, o lugar da escola, expansão da colonização e a resistência indígena com diferentes enfoques, em mais de cinco décadas de produção cientifica ininterrupta. Guiados por essas premissas teóricas é possível encontrar às articulações, os processos associativos e também aqueles dissociativos, que estabelecem contradições, e os conflitos que deflagram.

A segunda parte da investigação focalizou o lugar da produção da diferença analisando e caracterizando a dimensão política da identidade étnica entre índios do nordeste, os percursos estabelecidos, as tipificações construídas e descosntruidas durante diferentes processos. Essa problemática nos leva aceitar o fato de que a identidade não é uma essência fixa, mas um conjunto de posições, narrativas e

discursos construídos pelo sujeito a partir das suas relações e experiências, num processo de contestação e luta, e estão sujeitas a interpretações múltiplas (TORRES, 2003, pp. 70, 85).

Enquanto discussão conceitual e teórica, à análise sobre a formação de professores/as indígenas, situamo-nos por uma interpretação pautada no lastro dos Estudos Culturais (EC). ). Nessa perspectiva, primamos por aceitar a comprerensão das relações sociais influenciadas por relações de poder, analisadas a partir das interpretações que os sujeitos da pesquisa fazem das suas próprias situações. Assuminos, assim, uma perspectiva teórico-metodológica que faz aparecer juntas na investigação, uma mesma “perspectivação teórica do comportamento humano e social, ou seja, a intersecção entre as estruturas sociais e a ação humana” (BOGDAN & BIKLEN, op. cit.), contextualmente situados. Dessa forma, no capítulo terceiro, nos dedicamos por realizar uma interpretação acerca da formação de professore/as para diversidade, estabelecendo com os Estudos Culturais um diálogo teórico propositivo, seja com relação à definição de uma pedagogia crítica (GIROUX & MACLAREN, 2001); ou mesmo da formação docente, incluindo como discussão: pós-colonialismo, formação de intelectual, o currículo como política cultural e o multiculturalismo (MORREIA & SILVA, 2001; APPLE, 2006; CARVALHO, 2004; SOUZA, 2007; BHABHA, 2005; HALL, 2005, 2006; GIROUX, 1988, 1997, 2003; KOSIK, 1976; ZEICHNER, 1993; NETO & SANTIAGO, 2007) de maneira geral. São categorias e questões relevantes que têm se apresentado de modo transdisciplinar nas discussões sobre políticas de formação entre professores/as para diversidade. Nossa hipótese assume o entendimento de que o tratamento epistemológico da prática em educação escolar indígena, com relação aquilo que a COPIPE tem desenvolvido, vem se constituindo como política de afirmação cultural e de formação

docente. Nesse sentido, os Estudos Culturais podem contribuir para compreensão da ação dos/as professores/as e lideranças indígenas enquanto intelectuais transformadores/as, e a inserir, de fato, a educação, na esfera política, comprendendo a escolarização como luta social, intercultural, bilíngüe e comunitária. Assim, teve também substancial relevância nesse trabalho, à análise de referências bibliográficas específicas, isto é, os autores/as que versam atualmente sobre o enfoque, de maneira que foi possível dialogar e nos aproximar muito melhor do foco central de nossa investigação: os saberes da prática entre os sujeitos da educação escolar indígena em Pernambuco. Por conseguinte, nosso tratamento empírico procura compreender a construção de práticas sociais, “as representações que delas fazem seus conceptores e utilizadores, os papéis que nelas assumem os diversos atores e os efeitos que essas intervenções têm gerado” (LEITE, 2002, p. 251).

No capítulo quatro, como delineamento prático da pesquisa, analisamos as interfaces da educação escolar indígena que a COPIPE realiza, e a organização entre professores/as indígenas, ou seja, as questões mais relevantes dessa organização mobilizadora, para o campo da qualificação docente, de maneira particular, e da formação de lideranças, de modo geral.

Estabelecemos como critério para análise documental da COPIPE, as seguintes fontes:

- A produção dos próprios índios (relatórios, documentos, cartas, livros, projetos pedagógicos, calendários, currículos diferenciados).

A partir desse procedimento foi possível pontuar sob que bases têm-se caracterizado o lugar da COPIPE, com relação ao modelo de escola, e das questões

inerentes à especificidade da identidade profissional e da organização dos professores/as.

O desenvolvimento da pesquisa documental e empírica esteve conectado às diversas leituras exploratórias realizadas, centradas no eixo de nossa temática. Por conseguinte, nossa participação nos eventos (encontrões, conferências, seminários temáticos) da COPIPE, corroborou seminalmente, para que pudéssemos compreender melhor o projeto social dessa organização. Nossa presença nesses eventos teve também como objetivo, interpretar os dados a partir de um compromisso de co-responsabilidade e ética sobre as informações coletadas. Significa dizer que essa investigação incorpora e assume os sujeitos pesquisados, não pretendendo provocar distanciamento entre observador e observado de modo a privilegiar um em detrimento de outro. Isto é, que essa pesquisa esteve intimamente articulada com os interesses coletivos da população analisada, tanto quanto com a objetivação da análise científica.

Atento às nossas fontes, aos diálogos com os sujeitos da pesquisa, recorremos às questões significativas do tema, ordenando quais bases epistemológicas e gnoseológicas12 elas indicam. Buscamos, assim, interpretar as repercussões contidas nesse percurso dentro do movimento de organização dos professores/as indígenas.

Partindo dos limites e possibilidades do nosso marco teórico- metodológico, daquilo que emite como componente da discussão empírica (saberes da prática: tempo, espaço e os sujeitos da formação escolar entre professores/as

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A questão gnoseológica, faz diferença, para a ação educadora, se a resposta à questão do saber (seu papel na transformação da sociedade) está ligada a um conjunto de conhecimentos “já sistematizados” ou se, ao contrário, saber é entendido como uma reorganização dos conhecimentos para incorporar e criar outros; faz diferença se o saber é concebido como algo já acabado ou como uma estrutura de pensamento em construção.Ver Gadotti, 1998, 1995.

indígenas em Pernambuco), a investigação procurou precisar os níveis de tensões dos vários atores da pesquisa; as relações dialógicas que travam e a intersecção que constroem, interpretadas e reconstruídas, com base nos dados coletados. Acreditamos, por conseguinte, que o entendimento e esclarecimento das múltiplas situações e questões que permeiam a especificidade da organização entre porfessores/as indígenas no Estado de Pernambuco, no campo da educação escolar, a partir dos eixos pedagógicos definidos pela COPIPE, foram analisados nessa dissertação.