• Nenhum resultado encontrado

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A ANÁLISE DOS DADOS

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 49-57)

O presente capítulo tem como objetivo (1) traçar um perfil dos entrevistados; (2) expor os princípios adotados para a coleta e organização dos dados; (3) apresentar os procedimentos empregados na análise dos dados.

4.1 Perfil dos entrevistados

Nesta pesquisa, contamos com a participação de 21 entrevistados falantes nativos do português do Brasil, sendo 5 homens e 16 mulheres, levando-se também em consideração a faixa etária e o período atual da graduação cursado na data da coleta dos dados, conforme se vê nos Quadros 5.1 e 5.2 a seguir:

Quadro 4.1: perfil dos participantes (I)

Sexo Faixa Etária Período da graduação

3º 4º Feminino

18 - 25 anos 8 2

26 - 43 anos 4 1

Quadro 4.2: perfil dos participantes (II)

Sexo Faixa Etária Período da graduação

3º 4º Masculino

18 - 25 anos 3 1

A identificação do período cursado foi apresentada a partir da informação dada pelo participante. No entanto, alguns informantes mencionaram o período estavam inscritos na disciplina de Língua Portuguesa e não em Língua Italiana. Entendemos, assim, que aqueles cujo período informado diferia das disciplinas de Italiano III e Italiano IV- disciplinas nas quais foram coletados os dados - não estavam periodizados. Deste modo, separamos, durante a coleta de dados, o período de Italiano cursado pelos alunos.

Como se pôde observar, a coleta de dados teve a participação de homens e mulheres de idades distintas. O critério adotado de divisão em dois níveis de faixa etária foi estabelecido segundo dados retirados das fichas cadastrais, levando em consideração a idade padrão da educação brasileira para o ingresso e para a formação universitária (primeiro nível: de 18 a 25 anos). O segundo (de 26 a 43 anos) foi considerado aquele no qual os indivíduos iniciaram seus estudos de nível superior tardiamente ou que estão também freqüentando um segundo curso universitário.

A opção por coletar os dados no 3º e 4º períodos não foi aleatória. Privilegiamos esses períodos por não poderrmos verificar, em longo prazo, o processo de interlíngua realizado pelos participantes em todos os níveis. Por isso, os períodos mencionados se adéquam aos objetivos de nossa pesquisa, por se encontrarem em um estágio onde o processo de aquisição de italiano LE não está nem em um nível inicial e nem avançado.

4.2 Coleta e Organização dos Dados

Optamos por trabalhar com questionários e com produções escritas a partir de situações vivenciadas pelos alunos enquanto fenômenos vinculados à sua inserção cultural e social, para que a produção escrita por eles realizada demonstrasse o conhecimento de língua estrangeira de forma empírica. Ao aprender uma nova língua, o discente tende a transferir

conceitos, vocábulos e estruturas inerentes a sua língua para a língua estrangeira, bem como utilizar os elementos sociais e culturais próprios de seu país de origem como válidos no contexto da língua estrangeira, conforme afirma DE MARCO

La didattica per l’insegnamento della L2 non deve relegare la L1 al ruolo di conoscenze buone ma inutili, e la L1 e la L2 non devono essere intese in un rapporto gerarchico, in cui la L2 prevale sulla L1 in quanto legata alla sopravvivenza sociale e all’integrazione. L’insegnamento della L2 non deve minacciare l’identità del bambino ma deve essere uno strumento di apertura verso nuove esperienze.33

No ensino de produção escrita em LE, a questão dos gêneros textuais apresenta-se como uma forma eficaz de se trabalhar também com a aquisição da escrita de Italiano LE. Segundo Swales (1990) “hoje, gênero é facilmente usado para referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com ou sem aspirações literárias.” 34

No campo da Lingüística Aplicada, o trabalho com gêneros textuais apresenta uma importância ainda maior, visto que lida com a língua em seus diversos usos autênticos no dia- a-dia, ensinando a produzir textos e não enunciados soltos.

A escolha desse tipo de atividade de produção escrita para o presente estudo justifica- se pelo fato de ser o caminho mais profícuo para a verificação de hipóteses quanto o estabelecimento de redes associativas no processo de ensino-aprendizagem. Essas redes darão origem a realizações textuais nas quais se verifica o sistema de interlíngua do aprendiz e as suas realizações enquanto processo em ação. Partindo desse pressuposto, a escrita assume assim um papel fundamental no ensino de uma LE.

Segundo BIZON

por estar intimamente relacionada à leitura, a escrita no ensino de LE ainda é trabalhada e vista como estruturação da fala, do pensamento, devendo

33

DE MARCO, Anna. Aspetti tipologici della língua italiana: implicazioni glottodidattiche, modulo 8. In: www.venus.unive.it/italdue/80mod_8_de_marco.pdf

34

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e textualidade. In: A. P. DIONÍSIO, A. R. MACHADO & M. A. BEZERRA (Orgs.), Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. (pp. 29-30)

obedecer à regras de propriedade gramatical, de coerência, coesão, etc. – abordagem essa decorrente de uma concepção teórico estruturalista.35

A escrita e a leitura são duas partes do um mesmo processo e se complementam mutuamente, em geral, e mais particularmente em se tratando de língua estrangeira. Assim, a solicitação por parte do docente de uma atividade escrita irá tomar como ponto de partida uma proposta de leitura previamente definida no contexto de ensino-aprendizagem do italiano língua estrangeira, através de questionários e redações de cartas e artigos, uma vez que o discente se depara com situações comunicativas que lhe proporcionam novas leituras e re- escrituras em contextos sócio-comunicativos de língua estrangeira. Dessa forma, a produção escrita

é uma interação que se estabelece em ausência do interlocutor, diferençando-se da intenção oral, na qual os parceiros encontram-se em presença na simultaneidade da fala. Logo, o interlocutor do texto escrito – a razão mesma da existência do texto – vem a ser um projeto do escritor que utilizará estratégias da língua escrita para suprir essa não-presença.36

Por isso, ao escrever, o aluno deve ter suas idéias claras e planejadas, para que neste processo ele possa evitar a ambigüidade e procurar a clareza. Contudo, para que ele possa realizar tal processo faz-se necessária uma atenção maior com o código lingüístico a ser utilizado, visto que as possibilidades de contextos socioculturais precisam ser recuperadas na produção escrita dos mesmos.

No contexto de ensino do Italiano LE nas universidades, devemos considerar que os aprendizes brasileiros, ao ingressarem por meio do Vestibular, irão apresentar uma forma de manifestação discursiva, oral e escrita, bastante heterogênea, pelo fato de que o conteúdo programático escolar é apresentado de forma desigual nas diversas instituições de Ensino Fundamental e de Ensino Médio das quais esses alunos são oriundos. Essa desigualdade será

35

JÚDICE, Norimar. Português / língua estrangeira. Leitura, produção e avaliação de textos. Niterói: Intertexto, 2000. p. 111-112

36

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília: MEC/SEF, 1998. p. 98

acentuada pelo contato tardio com a língua estrangeira, visto que já foi consolidado todo o sistema lingüístico na língua materna.

Assim, esperamos encontrar nos questionários, respostas mais diretas, com uso de períodos simples, enquanto que na atividade em que os alunos deveriam redigir um artigo para ser publicado e no encaminhamento da carta ao reitor, pressupõe-se a utilização de textos mais longos, com um suposto uso de períodos compostos. Optamos direcionar, em nossa coleta de dados, o material que foi produzido pelos alunos, pois seria muito difícil encontrar cada tipo de ocorrência lingüística que se pretendia pesquisar fora desse contexto proposto. O aparecimento de estruturas que não condiziam com as normas esperadas na língua estrangeira será analisado e classificado segundo critérios normativos das gramáticas mais utilizadas no ensino-aprendizagem da língua estrangeira, comparando-se o sistema da língua de chegada com aquele de língua materna.

4.2.1 Ficha de dados cadastrais

Com o propósito de obtermos informações a respeito dos informantes, elaboramos uma Ficha de Identificação. Essa ficha foi dividida em três partes, a serem apresentadas a seguir.

É importante ressaltarmos que antes do preenchimento de seus dados cadastrais foi apresentado ao informante um pequeno texto com o objetivo de esclarecer o propósito da pesquisa e de garantir seu anonimato.

Na primeira parte (cf. figura 4.1), buscamos identificar o informante com base nos seguintes itens: nome, idade, sexo, endereço, telefone, contato e-mail e período que estava cursando.

Figura 4.1: Dados cadastrais - primeira parte

Você participará da coleta de dados para uma pesquisa com fins acadêmicos. Este questionário assim como as informações das atividades desenvolvidas servirão apenas para fins cadastrais, por isso cada participante terá uma identificação elaborada por nós. Nosso objetivo não será a avaliação individual de cada informante, mas sim o aspecto global que identificaremos durante a nossa análise.

Dados Cadastrais

Número de identificação do informante: _________

Nome: ______________________________________________________________________ Idade: _______________________________________ Sexo: ( ) feminino ( ) masculino Endereço:____________________________________________________________________ Telefone:____________________________________________________________________ Contato e-mail: _______________________________________________________________ Período que está cursando: _____________________________________________________

Na segunda parte (cf. figura 4.2), buscamos obter dados sobre a aprendizagem de LE/L2 do informante, pois essas informações são de extrema relevância para a verificação de processos de transfer no corpus coletado.

Figura 4.2: Dados cadastrais - segunda parte

Você já aprendeu outra língua estrangeira? ( ) sim ( ) não

Em caso afirmativo, qual a foi a primeira? __________________________________________ Você já morou em outro país? ( )sim ( ) não

Qual? ______________________________ Por quanto tempo? ________________________

A terceira e última parte (cf. figura 4.3) questiona se o informante tem descendência italiana ou não, já que muitos alunos optam por estudar o idioma em questão devido à sua ascendência genealógica.

Figura 4.3: Dados cadastrais - terceira parte Tem descendência italiana? ( ) sim ( ) não

No caso de descendência italiana:

Qual o grau de parentesco? _____________________________________________________ Qual a língua de comunicação utilizada em casa? ____________________________________ Profissão: ___________________________________________________________________ Este é o primeiro curso universitário que você faz? ( ) sim ( ) não

Em caso negativo, qual foi o seu anterior? __________________________________________

Em cada ficha destinou-se um espaço para o número de identificação do informante, de 01 a 39, sendo cada número representativo de um participante da pesquisa, de modo que o primeiro participante foi identificado como 01. Essa medida permitiu-nos uma fácil organização dos dados, garantindo um cruzamento entre a Ficha de Identificação de cada participante e as informações prestadas por eles.

4.2.2 Instrumentos de coletas: questionários e produções escritas

Os alunos responderam a dois questionários: o primeiro apresentava como tema a relação de aprendizagem do discente com a língua italiana, com perguntas sobre a rotina semanal e com o seu contato com o idioma italiano; o segundo, cujo tema era “O que você espera do futuro”, apresentava perguntas sobre o que eles pensam em fazer quando terminarem a faculdade se irão à Itália, como serão as próximas férias, ou o tipo de expectativa que os alunos possuíam com relação às suas atividades futuras.

As atividades de produção escrita apresentavam como proposta: I) elaboração de um artigo para ser publicado em revista italiana, contando sobre a rotina e experiência do aluno no curso de graduação; II) redação de uma carta que deveria ser entregue ao reitor da Universidade de Siena, convencendo-o e justificando-lhe os motivos pelos quais o aluno deveria ganhar uma bolsa de estudos de 3 meses.

A escolha desses dois tipos de instrumentos de coleta é justificada pela presença de estruturas lingüísticas vistas e/ou aprendidas pelos estudantes no 3º e 4º períodos do curso de Bacharelado em Português-Italiano da Faculdade de Letras da UFRJ. As manifestações lingüísticas fornecidas pelos informantes aproximam-se do uso real, já que as tarefas propostas poderão ser utilizadas durante a sua vida acadêmica, profissional e pessoal.

4.3 A dinâmica da coleta

Inicialmente a coleta foi realizada com 23 alunos das disciplinas de Língua Italiana III e IV, durante o segundo semestre do ano de 2007. A aplicação das atividades foi realizada em sala de aula, com a presença do professor regente da turma.

Tabela 4.1: Relação de informantes e status das atividades propostas (I)

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 49-57)

Documentos relacionados