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CAPÍTULO 3 – PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

3.1 Procedimentos metodológicos

Diante de uma imensa diversidade de formas de fazer pesquisa, consideramos que a alternativa metodológica mais adequada à elaboração e análise da metodologia de ensino de Matemática proposta, apoia-se em uma abordagem qualitativa, que, apesar dos riscos e dificuldades que impõe, no que se refere às influências do posicionamento teórico-metodológico admitido pelo pesquisador na produção, obtenção e análise dos dados, distingue-se justamente pelo fato de conduzir o pesquisador a um estado de inquietude permanente, o qual deve aguçar a sua sensibilidade para lidar com questões subjetivas incomensuráveis.

Para diminuir os riscos dos “efeitos” da subjetividade sobre a produção de dados, cabe ao investigador qualitativo “estudar objetivamente os estados subjetivos dos seus sujeitos” (BOGDAN; BIKLEEN, 1994, p. 67), através de estratégias e métodos que possam afastá-lo de suas tendenciosidades. Além do mais, de acordo com Bogdan & Bikleen (1994, p. 67), “o objetivo principal do investigador é o de construir conhecimento e não o de dar opiniões sobre determinado contexto” (BOGDAN; BIKLEEN, 1994, p. 67).

RODRIGUES, R. V. R. unesp

O objeto de estudo definido pela construção de um objeto de aprendizagem, amparado sob a perspectiva lógico-histórica e análise de suas potencialidades em relação à introdução do conceito números inteiros a um determinado grupo de alunos, convergiu-nos para a escolha do estudo de caso, como estratégia de pesquisa compatível ao caráter específico e descritivo do objeto investigado.

Mas, o que pode ser caracterizado como um “caso”?

Para Bogdan & Bikleen (1994, p. 90), o estudo de caso incide sobre uma “área de trabalho delimitada” cuja “recolha de dados e as atividades de pesquisa são canalizadas para terrenos, sujeitos, materiais, assuntos e temas”. Nesse sentido, um “caso” pode ser definido como um determinado contexto ou acontecimento específico de enfoque contemporâneo, no qual o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e as circunstâncias. Segundo André (1984, p. 52), “o ‘caso’ é assim um ‘sistema delimitado’, algo como uma instituição, um currículo, um grupo, uma pessoa, cada qual tratado como entidade única, singular”.

Selecionamos algumas considerações que nos auxiliaram na compreensão do estudo de caso como estratégia de pesquisa:

• Questão de pesquisa do tipo “como” ou “por quê”; • Ocorre no ambiente natural do objeto;

• A complexidade da unidade exige um estudo intensivo, com forte trabalho de campo;

• Uma representação singular da realidade, cuja interpretação exige a sua contextualização (ANDRÉ, 1984, p. 52);

• Preserva o caráter único do objeto investigado;

• “Beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e análise dos dados” (YIN, 2003, p. 33);

• Os dados são coletados por diversos instrumentos;

• Possui a capacidade de lidar com uma ampla variedade de fontes de informações e evidências.

“Em outras palavras, o estudo de caso como estratégia de pesquisa compreende um método que abrange tudo – tratando da lógica de planejamento, das técnicas de coleta de dados e das abordagens específicas à análise dos mesmos” (YIN, 2003, p. 33). Dessa forma, a partir desse arsenal metodológico, pudemos definir a construção, a obtenção e a documentação dos dados.

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A singularidade presente no conhecimento produzido pelo estudo de caso não nos distancia de nossos pressupostos teóricos, pois exige uma contextualização das situações por ele descritas, bem como o retrato de sua pluralidade e relações com os fenômenos sócio-historicamente determinados.

A escolha de um determinado foco [...], é sempre um acto artificial, uma vez que implica a fragmentação do todo onde ele está integrado. O investigador qualitativo tenta ter em consideração a relação desta parte com o todo, mas, pela necessidade de controlar a investigação, delimita a matéria de estudo [...] (BOGDAN; BIKLEEN, 1994, p. 91).

Portanto, ao estudar uma unidade, bem delimitada e contextualizada, tomamos o cuidado de não analisar apenas o caso em si, como algo à parte, mas o que ele representa dentro do todo – e a partir daí.

Os principais riscos e dificuldades encontrados no estudo de caso são: 1) Requer longo período de tempo, devido à:

- Necessidade de um aprofundamento teórico antecipado; - Quantidade de dados para organizar.

2) Dificuldade de generalização dos resultados obtidos.

As alternativas encontradas para amenizar os obstáculos gerados pelo primeiro caso são: uma intensa negociação com os sujeitos pesquisados e a explicitação das técnicas e procedimentos utilizados, além do emprego de diferentes métodos de investigação.

A respeito do segundo dilema mencionado, André (1984, p. 52) comenta que a generalização nesse tipo de investigação deve ser entendida “como um processo subjetivo e não como um ato de inferência lógica (ou estatística)”, isto é, as generalizações são feitas pelo leitor a partir de seus conhecimentos sobre o assunto. Dessa maneira, o estudo de caso deve ser organizado de modo a provocar “novas idéias, novos significados, novas compreensões”.

No entanto, essas dificuldades podem ser eliminadas através da elaboração de um planejamento bem estruturado do estudo de caso e de um questionamento constante do que se deseja descobrir do objeto de estudo, prevenindo-se contra os possíveis enviesamentos da pesquisa.

A essência do estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudo de caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de

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com quais resultados. (SCHRAMM52, 1971, apud YIN, 2003, p. 31, grifo do autor)

Assim, para explicitar o conjunto de “decisões” e ações desenvolvidas, a fim de alcançar os objetivos da pesquisa, dividimos o estudo em duas etapas que definimos como: (1) caráter bibliográfico/laboratorial, por se tratar do processo teórico-metodológico de construção do OA e (2) prática pedagógica com o OA, por se tratar do processo de utilização do OA por uma 6ª série do Ensino Fundamental.