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CAPÍTULO III PERCURSO METODOLÓGICO

3.3 PROCESSO DE FORMAÇÃO DA EQUIPE DOCENTE

O processo de formação da equipe docente ocorreu durante o período de março de 2015 a janeiro de 2016, contabilizando 48 encontros semanais de 04 horas. Participaram dessa formação a professora- formadora e os professores-tutores26 das quatro turmas do NE. Os eixos de trabalho e estudo foram delineados em conjunto, considerando os interesses e as necessidades de cada integrante da equipe docente, e tiveram a finalidade de amparar teórico e metodologicamente a mediação pedagógica dos docentes no processo educacional no NE. Esses eixos foram desenvolvidos e refletidos em parceria entre os integrantes da equipe docente, ao longo do período de vigência da formação, caracterizando, assim, um processo de formação compartilhado e coletivo. Esses eixos podem ser visualizados na Figura 04 – Eixos de trabalho e estudo da equipe docente.

26 Os professores-tutores das quatro turmas do NE participaram do processo de formação, porém, devido ao período limitado para a realização desta pesquisa, foram sorteadas duas turmas do NE para que a coleta de dados no AVEA e análise desses dados fossem feitas.

Figura 04: Eixos de trabalho e estudo da equipe docente

Fonte: Elaborada pela Autora.

Apresentar esses eixos compondo a figura de um espiral reflete a compreensão de que o processo de formação compartilhado e coletivo da equipe docente do NE foi construído de forma democrática e esteve em constante movimento e desenvolvimento. Como destaca Feuerstein (1997), o ser humano não é imutável, pois está em constantes transformações e, a cada nova transformação, carrega consigo novas formas de olhar o mundo. Nesse sentido, a interação entre pares na equipe docente do NE pode ser considerada um fator fundamental para a constituição do processo de transformação desses sujeitos, tendo em vista a troca de saberes entre eles, que possuem formações experienciais e científicas diferentes. Isso atribui uma característica de dinamismo ao processo pedagógico no decorrer do NE, como poderá ser observado a seguir na apresentação dos eixos de trabalho e estudo do processo de formação da equipe docente, os quais foram compreendidos a partir das perspectivas elencadas a seguir.

1) Apropriação de constructos teóricos de Reuven Feuerstein – as concepções teóricas presentes na prática pedagógica de um docente resultam de um desenvolvimento profissional contínuo que se inicia antes de o sujeito ingressar no ensino superior, estende-se ao longo de toda a

vida profissional e acontece nos múltiplos espaços e momentos de sua vida (ROCHA; FIORENTINI, 2006). Nesse sentido, entendemos que a concepção teórica de cada docente embasa a sua prática pedagógica, e esta prática pedagógica gera um processo de ensino-aprendizagem para o estudante característico ao processo de desenvolvimento profissional do docente (PRADO; MARTINS, 2002).

Posto isso, cabe a reflexão: como o docente pode promover um processo de ensino-aprendizagem na EaD pautado no diálogo e que leve em consideração as particularidades de cada estudante, que possibilite desenvolver sua cognição de modo crítico, reflexivo, questionador, transformador de si mesmo e do meio no qual está inserido? Os constructos teóricos de Feuerstein podem ser uma possibilidade para auxiliar nesse processo, pois apresentam contribuições que buscam identificar as características sociais, históricas, culturais e cognitivas do estudante, no intuito de promover o seu potencial de modificabilidade cognitiva estrutural.

2) Apropriação teórica da temática do NE – a necessidade de apropriação teórica da temática do NE ocorreu devido à compreensão de que o docente precisa estar preparado para articular os conhecimentos (em nível de experiências e/ou textos científicos) trazidos pelos estudantes com os recursos estabelecidos no currículo prescrito (materiais didáticos, textos de apoio, tecnologias disponíveis, etc.). Ao refletir sobre o material didático, o docente pode perceber que o conhecimento oriundo desse material é suscetível a renovações e adaptações. Quando entendemos isso, somos capazes de auxiliar os nossos estudantes a transcender as aprendizagens oriundas do material didático para outros contextos nos quais eles estão inseridos. Segundo Kenski (2013), vivenciamos na nossa sociedade um movimento de consumo imediato das formas de acesso a dados e informações disponíveis em terminais e redes digitais. Com as TDIC, o texto liberta-se do contexto em que foi originalmente produzido e pode ser recombinado em novas produções, assumindo novas formas e produzindo um novo saber (KENSKI, 2013). Esse movimento foi possível no NE devido à prática dos docentes de estudarem e refletirem sobre os materiais didáticos propostos, nos encontros de formação e em momentos de estudo individualizado. A partir das reflexões feitas, os docentes produziram artigos que puderam ser utilizados como material complementar no NE e puderam pesquisar e adotar materiais multimídias complementares com o intuito de contribuir para a aprendizagem dos estudantes sobre a temática proposta no NE.

3) Apropriação do AVEA – os AVEAs são sistemas computacionais, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas

TDIC (SOUZA, 2005). Esses sistemas computacionais permitem integrar múltiplas mídias e recursos, oferecem informações de maneira organizada e proporcionam interações entre as pessoas. Assim, cada instituição de ensino adota o sistema computacional que estiver ao seu alcance, para que seja ofertado um curso e/ou disciplinas on-line.

Os AVEAs envolvem vários dispositivos integrados de comunicação síncrona27 e assíncrona que fortalecem a mediação

pedagógica, à medida que a mediação humana é potencializada pela convergência digital, favorecendo o processo de ensino-aprendizagem (SOUZA; SARTORI; ROESLER, 2008).Assim, apresentam-se como um espaço significativo em que o docente e o estudante interagem, retroalimentando o processo de ensino-aprendizagem e possibilitando a execução de trabalhos colaborativos em que o ensinar e o aprender ocorrem de modo participativo. Esse espaço assume a função de ser o principal ambiente de articulação para a mediação pedagógica.

O AVEA pode influenciar o processo de ensino-aprendizagem, pois faz parte do sistema educativo experienciado pelos sujeitos na EaD. As cores, o tamanho, o formato das letras e das telas, as imagens utilizadas, a distribuição das atividades em determinadas ferramentas no AVEA, projetam estímulos para os sujeitos envolvidos nesse processo. Isso acontece, segundo Kenski (2013), porque o AVEA comunica visualmente a filosofia de trabalho de uma equipe docente, de uma disciplina, de um curso e de uma instituição de ensino.

No caso do Curso de Especialização Educação na Cultura Digital, foi adotado o e-Proinfo como AVEA para viabilizar o processo de ensino- aprendizagem on-line.Acreditamos que a apropriação de um AVEA, de forma crítica e reflexiva, possibilita ao docente: a) propor atividades que sejam adequadas às ferramentas disponibilizadas pelo AVEA para obter uma participação ativa dos estudantes nas atividades; b) orientar os estudantes em relação às suas dúvidas de como acessar as atividades propostas e como usar as ferramentas selecionadas para o desenvolvimento dessas atividades; e c) incentivar os estudantes a utilizar as ferramentas do AVEA de modo crítico e criativo voltado para a aprendizagem significativa.

27 A ferramenta síncrona possibilita a comunicação imediata entre emissor e receptor e é considerada uma ferramenta de comunicação espontânea; a ferramenta assíncrona possibilita a comunicação ente emissor e receptor em horários diferentes, por isso não é considerada uma comunicação espontânea. Ressaltamos que nas ferramentas síncrona e assíncrona o emissor e o receptor trocam de papéis o tempo todo.

4) Tomada das decisões pedagógicas no processo educacional do NE – a tomada das decisões pedagógicas no processo educacional do NE se deu de modo compartilhado e coletivo entre os integrantes da equipe docente (professora-formadora e professores-tutores). Partindo do ponto de vista de que uma equipe docente é um grupo de pessoas que trabalha junto, de forma colaborativa e solidária, visando à formação e à aprendizagem dos estudantes, compreendemos que, quando as decisões são tomadas de modo compartilhado e coletivo, “[...] por meio da distribuição de responsabilidades, da cooperação, do diálogo, do compartilhamento de atitudes e modos de agir, favorece a convivência entre os integrantes da equipe” (LIBÂNEO, 2008, p. 103). O contexto do trabalho compartilhado e coletivo possibilita aos integrantes da equipe docente encarar as mudanças necessárias no processo educacional, romper com as práticas individualistas, e isso pode levar à produção de melhores resultados na aprendizagem dos estudantes.

5) Suporte para mediação pedagógica com o estudante – os profissionais que compõem a equipe docente de um curso oferecido on- line são, na maioria das vezes, os que ritmam, apresentam, acompanham o desenvolvimento dos conteúdos didáticos e nutrem as relações socioafetivas com os estudantes para a construção do conhecimento. Nesse sentido, por entendermos que a mediação pedagógica não é um processo estático e que demanda (re)planejamento contínuo28 enquanto houver processo de ensino-aprendizagem, ter um espaço e momento acolhedor, no qual os docentes ajudam uns aos outros a resolver problemas, discutir suas situações, inseguranças, anseios, aspirações e necessidades, favorece o desenvolvimento de um trabalho compartilhado e apoiado no diálogo.

6) Compartilhar saberes – os eixos de trabalho e estudo mantiveram vivo e espontâneo o processo de formação compartilhado e coletivo da equipe docente do NE, o qual foi constituído cotidianamente por meio do diálogo. Diante disso, o eixo compartilhar saberes pode ser compreendido a partir da perspectiva de Freire (2011a, p. 65):

O que se pretende com o diálogo, em qualquer hipótese (seja em torno de um conhecimento científico e técnico, seja de um conhecimento

28 Entendemos como replanejamento contínuo a ação do docente de avaliar gradualmente a sua própria prática pedagógica (se essa prática tem acessado o estudante, se tem alcançado os objetivos do processo de ensino-aprendizagem) e caso identifique que suas práticas pedagógicas não estejam fazendo sentido para si mesmo e para o sujeito mediado, replaneja suas ações.

“experiencial”), é a problematização do próprio conhecimento em sua indiscutível relação com a realidade concreta, na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicá-la e transformá-la.

Nesse movimento de diálogo em que os saberes são compartilhados, Wenger, McDermott e Snyder (2002, p. 04) apontam que a prática de partilhar saberes em uma equipe “não é meramente instrumental para o seu trabalho”, pois pode resultar “na satisfação pessoal de conhecer colegas que compreendem as perspectivas uns dos outros[...] e com o passar do tempo” as pessoas dessa equipe “desenvolvem relações pessoais e instituem formas de interação” entre elas, podendo “desenvolver um senso em comum de identidade”.

De modo geral, cabe destacar que os integrantes da equipe docente do NE atuaram no AVEA em horários flexíveis, levando em consideração: a) o acordo organizacional instituído com a coordenação do Curso; b) o acordo pedagógico estabelecido entre os próprios integrantes da equipe docente; e c) o acordo didático firmado com os estudantes. Os professores-tutores atuavam a distância no processo educacional no NE, tinham as mesmas responsabilidades pedagógicas, mas não necessariamente mediavam pedagogicamente da mesma forma, pois cada docente tinham um jeito próprio de trabalho, devido às suas especificidades, que o torna um sujeito único.