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Processos Cognitivos e Trabalho

No documento Livro_Ergonomia (páginas 115-121)

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Aula 22 Processos Cognitivos e Trabalho

Toda percepção carece de atenção para observar os diversos estímulos do meio externo. A atenção pode ser associada a um filtro que focaliza o que o indivíduo deseja perceber. É uma abertura seletiva para uma pequena porção de fenômenos sensoriais, em outras palavras, a atenção é dada literalmente ao que interessa ao indivíduo. Se o foco da atenção for diferente do que está sendo estimulado, não irá ocorrer a percepção desse estímulo por parte do indivíduo, e, por consequência, a aprendizagem fica comprometida, pois o estímulo não causou o impacto necessário em seu campo sensorial para que este tivesse a devida percepção do que está sendo ensinado. Dessa forma, a maneira pela qual é percebido um determinado estímulo irá determinar o comportamento ou reação do indivíduo.

Uma vez recebida a mensagem da sensação no cérebro, ela é percebida e arquivada na memória do indivíduo. Davidoff (2001) descreve três procedi- mentos essenciais para que o processo de memorização ocorra:

Codificação ou aquisição: é o processo de preparo para o armazenamen-

to das informações. O cérebro precisa identificar, codificar ou traduzir os conteúdos assimilados do meio externo. É preciso, através da repetitividade, associar o nome do objeto com sua forma, cor, tamanho, estrutura, funcio- nalidade. Assim, quando algum gestor disser que para o cargo se faz neces- sário ter habilidade com informática, o cérebro já tem codificado que são elementos relacionados com computadores e seus componentes em geral.

Armazenamento: assim que a experiência, evento, processo ou fenôme-

no estão codificados, serão armazenados por algum tempo no cérebro.

Recuperação: quando se desejar usar uma determinada informação anteriormente armazenada, basta apenas buscá-la nos registros da me- mória para se fazer uso desta.

É preciso estabelecer os tipos de memória existentes para que se tenha uma noção do que é necessário repetir em um Treinamento, Desenvolvimento e Educação (TD&E). Davidoff (2001) apresenta três estruturas da memória:

Memória Sensorial (MS): é o primeiro sistema de armazenamento e

ocorre momentaneamente. É exatamente aquela que obtemos do con- tato com o meio externo, e todos os estímulos sensoriais (dos cinco sen- tidos)com os quais o indivíduo já teve contato desde o momento do seu nascimento permanecem no registro cerebral.

Memória de Curto Prazo (MCP): a memória sensorial é transferida

imediatamente para esse segundo sistema de registro, que pode ser considerado um centro de consciência do indivíduo. Esse depósito pode

abrigar, temporariamente, uma quantidade limitada de dados (em geral, por quinze segundos). Se ocorrer um processo de repetição, essa mesma informação poderá permanecer por mais tempo.

Memória de Longo Prazo (MLP): para que ela ocorra, o armazena-

mento deve ser de forma mais profunda. Faz-se necessário um grau de atenção maior para que o significado possa ser acomodado no registro mnemônico do indivíduo.

Isso significa que se dermos a devida atenção a informações ou estímulos que chegam aos sistemas sensoriais da memória, estes passarão para a me- mória de curto prazo, ao contrário, essas informações irão se perder, não objetivando a sua finalidade. Na memória de curto prazo, a informação é mantida por um período não muito longo (processamento superficial). Para que esse processamento seja mantido por tempo indeterminado, é necessá- rio que ele seja mais aprofundado e permaneça na memória de longo prazo. Assim, toda vez que o registro for solicitado, basta o cérebro “procurar” nos elementos mnemônicos acomodados/internalizados e resgatar os conteúdos ou informações ali existentes.

A memória não compreende somente dados numéricos ou registros gra- maticais. O ser humano é capaz de reter imagens, cheiros, sons ou qual- quer outro tipo de dado sensorial. Se esses dados estiverem associados a aspectos emocionais, a memorização tende a ser mais intensa, pois as emoções auxiliam no processo de armazenagem. Há sempre maior ten- dência a gravar na MLP emoções agradáveis e de se esquecer emoções ou fatos desagradáveis.

A aquisição da linguagem é a etapa subsequente. Se o indivíduo tem co- dificado e armazenado um estímulo, ele fez a devida associação entre o objeto a ser memorizado com o seu nome ou significado. A linguagem está diretamente relacionada aos símbolos, sons, letras, sinais e códigos, gerando a significação destes. O seu objetivo é oferecer ao indivíduo uma forma de expor o conteúdo da mente de um modo original, apropriado e coerente. Através da linguagem, da palavra escrita ou falada/verbalizada, os indivíduos podem interagir com seus pares. A capacidade para a fala criativa depende do conhecimento e do uso do conjunto de princípios chamado gramática, a fim de orientar a produção da fala (DAVIDOFF, 2001).

Noam Chomsky, linguista americano contemporâneo, enfatiza o papel da genética em prover as competências básicas. Para ele, os princípios da gra- mática são tão profundos e abstratos que somente um organismo “informado

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adiantadamente” sobre sua natureza poderia descobri-los. Os seres humanos estariam pré-programados de algum modo para compreenderem as regras da linguagem, pois, aos dois anos de idade, uma criança é capaz de verbalizar, mediante devida estimulação, quase 300 palavras. Esse estudioso da lingüís- tica afirma que a filogênese (história evolucionária das espécies) garante que os seres humanos têm uma propensão automática para desenvolverem a lin- guagem; que a sequência é similar nos estágios de aquisição em crianças no mundo inteiro; que bebês desde muito cedo apresentam a sensibilidade para a linguagem e que mesmo os bebês surdos apresentam capacidades relacio- nadas à linguagem, pois emitem balbucios e outros sons. Já no aspecto da on- togênese (desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até a maturida- de para a reprodução), a linguagem se processa através do desenvolvimento cognitivo, mediante as etapas de sons (balbucios), fonemas, morfemas, letras, palavras, até a articulação de uma frase com sentenças.

A inteligência é a somatória de todos os processos anteriormente descri- tos e está associada ao pensamento lógico, matemático, dedutivo, indutivo, abstrato e espacial. Um indivíduo é considerado inteligente quando é capaz de transferir um conhecimento apreendido para outras situações, ou seja, a transferência do conhecimento é sinônimo de aprendizagem. Essa relação é diretamente proporcional.

A criatividade é a forma mais complexa da atividade psíquica, pois neces- sita de vários processos mentais para a sua elaboração. Outro fator prepon- derante à criatividade, e que interfere diretamente nesta, são os traços de personalidade do indivíduo, o ambiente social no qual ele convive e seus antecedentes nutricionais e hereditários.

Esse tópico poderia demandar muito mais conteúdos se abordássemos a teoria das inteligências múltiplas de Gardner (1994). Esse autor relata que os indivíduos apresentam seis formas de expressar o conhecimento através das inteligências: linguística, musical, lógico-matemática, espacial, corporal-cinestésica e pessoal. Se ainda associarmos a teoria da inteligência emocional de Goleman (1995), a qual defende que as emoções interferem de forma significativa em todo o processo de aprendizagem – de forma tal que o desempenho cognitivo está permeado pelo equilíbrio emocional do indivíduo, pela sua forma de reagir aos estímulos do meio através do autocontrole, motivação, empatia e habilidade social – podemos então afirmar que desenvolver programas que envolvam a saúde ocupacional nas empresas requer uma atenção mais detalhada, pois os indivíduos guardam características muito particulares.

Os profissionais de segurança do trabalho mais conscienciosos têm claro que processos de aprendizagem organizacional ou desenvolvimento cognitivo na formação de cognição de obra requer uma estimulação adequada, ou seja, sem subcarga e, tampouco sobrecarga mental. Os processos organizacionais mais tradicionais devem ser revistos, pois o ato de aprender não é simples ou linear. Envolve uma relação da teoria com a prática que afasta procedi- mentos rígidos e muito rotineiros, pois estes “matam” o processo de criati- vidade inerente a todos os seres humanos. Uma política interna que viabilize a cultura organizacional fundamentada nas organizações vistas, segundo Morgan (1996) descreve – como organismos vivos, cérebros e elemento de transformação – estaria mais próxima do objetivo: transformar as organiza- ções em empresas aprendizes.

Resumo

Nesta aula você conheceu a fundamentação teórica da ergonomia cognitiva mediante o estudo dos processos cognitivos. Conheceu também a interde- pendência dos processos cognitivos para o desenvolvimento da inteligência do homem e as especificidades de cada um dos processos cognitivos.

Atividade de aprendizagem

Observe durante sua semana de trabalho quais são os processos cognitivos que você utiliza na realização das tarefas que executa. Quanto de memória, atenção, criatividade e dos diferentes raciocínios são necessários para man- ter a produtividade. Relacione com o grau de fadiga mental e como se pode minimizar este desgaste.

Acesse os sites: http://www.youtube.com/ watch?v=_MF0j3_3_ SI&feature=related http://www.youtube.com/watc h?v=NQRqRRCYsP8&feature= related http://www.youtube.com/ watch?v=ayMkk13hH9E&NR=1 Assista a sequência de vídeos sobre o cérebro. Este material foi produzido pela Abril Cultural e a Revista Super Interessante. É muito didático e resgata muitos conceitos da biologia em relação a este órgão humano.

Leia o livro: MATLIN, M. W.

Psicologia cognitiva. Rio

de Janeiro: LTC, 2004. O livro aborda todos os processos cognitivos estudados nesta aula de forma bem mais aprofundada. Boa leitura! Acesse o site: http://www.scielo.br/ scielo.php?pid=S0102- 37722005000200006&script=sci_ arttext

Leia o artigo: Ergonomia, cognição e trabalho informatizado. Os autores abordam o estudo da cognição pela problemática dos aplicativos e sítios da internet, além de analisar a usabilidade entre outros conceitos já estudos. Vale a pena conferir!

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Nesta aula vamos concluir o estudo sobre a ergonomia cognitiva através da análise da sobrecarga física e mental.

É importante estar atento a este quesito porque se pode traçar medidas preventivas para com os acidentes e doenças ocupacionais e assim evitar prejuízos a saúde do trabalhador. Boa leitura!

23.1 Carga de trabalho

Há uma concepção ergonômica de Kroemer e Grandjean (2005) muito apropriada que suscita uma reflexão. Comenta que: a sobrecarga desgas- ta, a subcarga atrofia, mas a carga bem dimensionada leva ao desenvolvi- mento saudável.

A Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia, nos itens 17.1.2 e 17.6.1, deixa claro que um dos objetivos da ergonomia é adaptar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, mas o que a norma quer dizer com isso? Quer dizer que compete às chefias com auxílio dos pro- fissionais de saúde ocupacional adequar a carga de trabalho física e mental que um funcionário/operador pode realizar.

O que tem se tornado uma constante no mercado globalizado onde se vive na atualidade é sugerir que o trabalhador/operador atue no limite de sua resistência física e mental. Isso é percebido quando se faz uso da hora-extra em demasia, cobrança pela produtividade, scripts padronizados para o aten- dimento ao público, etc.

Quando se dá ênfase maior à mecanização ou robotização das tarefas sem possibilitar ao trabalhador/operador a oportunidade de fazer uso de seus processos cognitivos, acaba-se por criar uma demanda insuficiente para as capacidades físicas e mentais.

A subcarga pode ser expressa através do trabalho repetitivo, monótono com poucas oportunidades de executar uma tarefa que demande criatividade, in- tegração com outros colegas de trabalho. O isolamento físico e mental torna

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