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4.1 Contextualização do Programa Reuni

4.1.1 Processos de inclusão/exclusão em educação

Em face da conquista do direito de todos à educação, consolidado nos Estados democráticos, cumpre-nos refletir sobre suas implicações. O nosso estudo abrange a inserção em educação, em uma ampla perspectiva, a qual reitera os princípios democráticos de participação social plena.

Buscaremos compreender seus princípios, suas contradições e suas dimensões, as quais estão em consonância com a sociedade contemporânea.

As políticas públicas de inclusão são uma resposta à sociedade que se desenvolveu de acordo com o sistema de acúmulo de capital, cujo cerne é a produção de incluídos/excluídos, em todas as dimensões da vida humana: social, trabalho, educação, saúde, psíquica, entre outras. Este processo de produção dos incluídos/excluídos tem como aliadas as instituições de educação, que reforçam as disparidades e ratificam as seleções, naturalizando-as.

Diante disso, nossa análise dos processos de inclusão/exclusão está amparada na teoria crítica, com ênfase no pensamento de Adorno (2010). O referido autor pensou a educação capaz de combater à violência por meio da educação emancipadora. Sendo assim, verificamos algumas características, como emancipação, adaptação, consciência, autoridade e diversidade, de modo a compreendermos as condições objetivas, materiais e sociais que produzem a exclusão na sociedade contemporânea.

Para Adorno (2010) a educação não é mera transmissão de conhecimentos e, sim, na emancipação, isto é, a formação para a liberdade intelectual, para a convivência saudável e o desenvolvimento da consciência, para fazer escolhas com responsabilidade e justiça. Em outras palavras, a educação para a emancipação prima pela educação humana, plural e solidária.

Entretanto, há uma linha tênue entre as possibilidades de formação crítica e reflexiva (emancipação) e a manutenção da ordem vigente (adaptação). À maneira do sistema capitalista a educação é adaptação para a reprodução social. Por um lado, a adaptação não tem

82 compromisso com o desenvolvimento do indivíduo para a emancipação e, por outro, é necessária para possibilitar a orientação dos mesmos em sociedade, assim como para sua participação social, por lhes transmitir os conhecimentos básicos da sociedade com vistas à sua reprodução.

Portanto, a postura democrática não elimina as contradições do seio escolar, ao contrário, discutir sobre as fragilidades da democracia é importante para a formação na e para este sistema, que exige consciência sobre suas contradições inerentes. Considerando as explicações de Adorno (2010), depreendemos o desafio posto, de que o sistema democrático é, dentre todos os sistemas político, aquele que abre possibilidades de participação, mas, simultaneamente, aquele que demanda plena consciência de seus partícipes. Contra isso, o autor defende um processo educacional capaz de criar e manter uma sociedade baseada na dignidade e no respeito às diferenças, tendo em vista que para o referido autor, os indivíduos são capazes de resistir ao processo de sua própria alienação.

Assim, lutar contra a barbárie equivale a fortalecer o direito de todos à educação. Eis o ponto de convergência entre teoria crítica e o ideário de inclusão em educação, isto é, compreender a complexa correlação entre as três dimensões (culturas, políticas e práticas), com intuito de desenvolvermos, no cotidiano do colégio, a formação intelectual e as relações humanas mais inclusivas.

As motivações são humanas e também econômicas. Assim, de um lado, a inclusão em educação busca garantir o direito à educação de todos os alunos, independentemente de suas características ou dificuldades individuais, para construir uma sociedade mais justa. Por outro, representa a saída que permite a redução de gastos e, por conseguinte, promove o aumento dos lucros.

Em nosso contexto educacional a “dialética inclusão/exclusão” é consequência de uma trama que define a política pública educacional. A esfera política reflete a ordem econômica com seus valores relacionados à competitividade, à ética da concorrência, à valorização das leis de mercado e à ordem neoliberal que impõe reformas de Estado na direção de privilegiar o aspecto econômico sobre o social.

Saber que a política educacional está sendo pautada pelos critérios próprios do mercado e, mesmo assim, pressupor que a escola, por si só, pode romper com o ciclo da pobreza, é desconhecer a realidade. Logo, a Educação para todos implica melhorar a distribuição de renda, que por sua vez remete à distribuição do poder, assim como a possibilidade de participação efetiva de todos, dos mais diversos âmbitos sociais.

83 Entendemos a inclusão em educação como decorrência do Estado democrático em razão deste ter como fundamento o direito de todos à educação. Com base nessa premissa pretende-se garantir a igualdade de oportunidades e o respeito à diversidade. Em consequência, os objetivos da inclusão em educação envolvem mudanças fundamentais na sociedade e de nossas percepções sobre o potencial humano e sobre nossas ações. Seus fundamentos assentam-se nas oportunidades oferecidas para a totalidade dos alunos e no acolhimento à diversidade humana.

De acordo com Santos (1999) a inclusão em educação é um processo que promove a participação e reduz a exclusão de alunos de diferentes culturas, do currículo e de comunidades em centros locais de aprendizagem. Devido a sua abrangência a inclusão é entendida como um processo permanente que depende do contínuo desenvolvimento pedagógico e organizacional.

A reflexão sobre a inclusão em educação não se restringe apenas a desvelar as diferenças culturais, étnicas, religiosas, de gêneros, entre outras; e sim a de desnaturalizar a exclusão social. Portanto, defender a diversidade corresponde não só a ensinar ao outro a entender as diferenças, como também a emancipá-lo como ator do processo de transformação das relações sociais em busca da construção de espaços de direito para todos.

Longe da ideia de uma escola que transformará a sociedade, assume-se aqui a perspectiva de uma educação que poderá colaborar e participar do processo de emancipação do homem (ADORNO, 2010). Isto inclui, então, o reconhecimento da diversidade humana como riqueza em potencialidades diversas a serem alavancadas em todos os âmbitos sociais, mormente nas instituições de ensino.