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A UNIDADE DE ENSINO

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4.3. Processos e instrumentos de recolha de dados

A generalidade dos estudos qualitativos envolve mais do que uma técnica de recolha de dados (Bogdan & Biklen, 1994). Nesta investigação a recolha de dados foi feita sobretudo por mim através da observação participante. Foram também recolhidos documentos escritos, realizados pelos alunos na sala de aula bem como prints screens relativos às tarefas realizadas com o software Geogebra e no excel. Passo, de seguida, a fundamentar e descrever os métodos e instrumentos usados nesta investigação.

4.3.1. Observação participante

Para Adler e Adler (1994) a observação consiste em “recolher impressões do mundo que nos rodeia através de todas as capacidades humanas relevantes” (p. 378), o que, de modo geral, pressupõe uma familiaridade com o objeto da observação. A

6ºAno 9ºAno 12ºAno Licencia. Mestrado

1 5 11 11 1 2 2 6 14 5 Habilitações literárias dos pais pai

54 observação constitui um elemento fundamental para uma investigação com enfoque qualitativo, porque está presente desde a formulação do problema, passando pela construção das questões de investigação, recolha de dados, análise e interpretação dos dados. Com efeito, a observação desempenha um papel imprescindível para a construção de conhecimento desde o início do interesse pelo estudo do mundo natural e social e, segundo estes autores é o alicerce de muitos métodos de pesquisa.

Adler e Adler (1994) indicam ainda que a “não intervenção” tem sido uma das marcas da observação. Estes autores distinguem os “observadores” (simples observadores) dos investigadores que colocam questões ou dão tarefas aos seus sujeitos para resolver, e dos investigadores experimentais que, muitas vezes, controlam certas condições com vista a estudar a relação entre as variáveis em estudo:

Os observadores não manipulam nem estimulam os seus sujeitos. (…) Os simples observadores seguem o curso dos acontecimentos. Os comportamentos e as interações continuam a decorrer como decorreriam sem a presença do investigador, não interrompidos pela intromissão (Adler e Adler, 1994, p. 378).

Conforme indicam Bogdan e Biklen (1994), os investigadores qualitativos “tentam agir de modo que as atividades que ocorrem na sua presença não sejam significativamente diferentes das que ocorrem na sua ausência” (p. 68), uma vez que pretendem compreender como é que os sujeitos da investigação se comportam no seu ambiente natural. No entanto, apesar de ser usualmente assumido que a observação naturalista não deve interferir com as pessoas ou atividades que estão a ser observadas, reconhece-se que a presença dos observadores afeta o que observam pois pode levar a alterações do comportamento dos indivíduos observados. Os autores referem-se a este fenómeno como “efeito do observador”.

A forma como a observação é encarada depende do paradigma que é seguido e, segundo Adler e Adler (1994), a observação participante é uma das formas de observação mais reconhecida. Desenvolvida a partir da antropologia e sociologia (Lüdke & André, 1986), é uma forma de observação muito utilizada na investigação qualitativa (Flick, 2005). Trata-se, segundo Marshall e Rossman (2006), de um método de pesquisa qualitativa que pressupõe o envolvimento do observador no mundo social escolhido para o estudo, oferecendo oportunidade ao investigador de ver, ouvir e experienciar a realidade próximo do modo como os participantes o fazem.

55 Seguindo a mesma ótica de pensamento, Fiorentini e Lorenzato (2006) consideram a observação participante um género de estudo naturalista em que o investigador frequenta os locais onde os fenómenos surgem espontaneamente:

A recolha de dados é realizada junto aos comportamentos naturais das pessoas quando estas estão conversando, ouvindo, trabalhando, estudando em classe, brincando, comendo (…) O termo “participante” aqui significa principalmente participação com registo de observação, procurando produzir pouca ou nenhuma interferência no ambiente de estudo (Fiorentini e Lorenzato, 2006, p. 107).

A observação participante torna possível “descrever o que está a acontecer, quem ou o que é que está envolvido, quando e onde as coisas se passaram, como é que ocorreram e porquê – pelo menos do ponto de vista dos participantes” (Jorgensen, 1989, p. 12). Este autor enumera sete características que definem a observação participante: (i) um interesse concreto no significado e na interação humana, do ponto de vista dos observados; (ii) um envolvimento nas situações da vida do dia-a-dia; (iii) uma forma de teoria e de teorizar que valoriza a interpretação e compreensão da natureza humana; (iv) uma lógica e um processo de pesquisa em aberto, que requerem flexibilidade, sentido de oportunidade e uma redefinição constante da problemática baseada nos factos observados; (v) uma abordagem e design de estudos de caso, qualitativos e em profundidade; (vi) o desempenho de um ou mais papéis de participante que envolve o estabelecimento e a manutenção de relações com os observados; e (vii) o uso da observação direta em conjunto com outros métodos de recolha de informação (Jorgensen, 1989, p. 14).

Neste trabalho, tendo em conta a problemática do estudo e as opções metodológicas, fui uma observadora participante. O principal instrumento de recolha de dados sou eu própria. Estive sempre presente durante a investigação, elaborando em momento posterior à observação registos escritos (diário de aula) a completar com um registo áudio-vídeo e prints screens das tarefas com uso do Geogebra. A utilização de um videogravador permitiu manter intacta toda a informação recolhida, facilitando a descrição detalhada dos diálogos professor-alunos e alunos-alunos. Como investigadora, procedi a diligências no sentido de “ouvir” os participantes, de modo a compreender o significado que estes atribuíam às experiências matemáticas vividas na sala de aula e as respetivas implicações nos seus raciocínios.

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4.3.2. Recolha documental

Os diversos elementos incluídos no banco de dados da investigação tais como notas de campo, registos escritos, planificações, provas significativas como fotografias, gravações e print screens proporcionaram uma imensa panóplia de informações para este estudo. Ressalte-se que as notas de campo e outros registos escritos permitiram uma descrição detalhada acerca de situações e ocorrências ao longo do estudo. As fotografias e as gravações são as evidências das práticas desenvolvidas.

Uma fonte preciosa de recolha de dados é a análise de documentos, nos seus mais variados suportes, ora complementando dados fornecidos por outras fontes de prova, ora levantando novas questões a considerar (Lüdke e André, 1986). Os autores mencionam alguns aspetos a favor da análise documental. Por um lado, consideram que os documentos constituem uma fonte de informação rica e estável, podendo ser consultados repetidamente, para além de que, representam uma fonte de informações contextualizadas, fornecendo elementos sobre o contexto. Por fim, os autores mencionam o baixo custo como um fator vantajoso na utilização da análise documental.

Neste estudo, a recolha documental foi utilizada como uma técnica para obter dados que complementa a observação participante. Deste modo, foram recolhidas produções escritas significativas elaboradas pelos alunos, com o propósito de responder às questões de investigação levantadas – relatórios, registo de autoavaliação, ficheiros com os prints screens das tarefas com uso do Geogebra.