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ASPECTOS HISTÓRICOS DAS TRADIÇÕES AYAHUASQUEIRAS

1.1 Processos históricos e econômicos da região

Inserido em diferentes categorias próprias da região amazônica, como seringueiro, lenhador, soldado da borracha e agricultor, o fundador da Doutrina do Daime, Raimundo Irineu Serra, testemunhou momentos importantes e decisivos na história do estado do Acre.

Um homem forte, com quase dois metros de altura, tornou-se um cidadão conhecido e respeitado por seu trabalho. Sua vida sintetiza a saga do povo nordestino que povoou a Amazônia. A figuração em que esse personagem se constituiu acompanha o momento histórico em que foi elaborado o Plano de Defesa da Borracha, estabelecido pelo governo federal em 1912, que pretendia ser um plano de desenvolvimento regional para a recuperação econômica da Amazônia - visava-se um amplo processo de transformação regional em que seria projetado o mito do eldorado amazônico. O contexto inseria-se no cenário das forças políticas existentes na Primeira República Brasileira (1889–1930), marcado pelo Plano de Valorização do Café (CANO, 1977). Neste cenário, destacamos alguns processos sociais relativos à história da borracha e sua importância para a formação do estado do Acre.

A borracha ganha importância como produto comercial em meados do século XIX, com a descoberta do processo de vulcanização da goma feita por Goodyear (1839) e Hancock (1842) e com sua utilização para a indústria automobilística na década de 1890 (Cf. PRADO

& CAPELATO, 1975, p. 288; PINTO, 1984, p. 33).

Nessa conjuntura, em fins do século XIX, a atividade seringalista brasileira apresenta um grande impulso. O auge da produção ocorre entre 1890 e 1910, fazendo da região amazônica o principal fornecedor de borracha para o mercado mundial. A rápida e elevada rentabilidade auferida pelo negócio da borracha atraía capital e trabalho para a região, transformando o cenário socioeconômico de algumas cidades amazônicas e incentivando o

processo migratório de trabalhadores para a região. Essa migração de mão-de-obra, principalmente nordestina, acelerou o processo de povoamento da região (FURTADO, 1990).

Observa ainda Prado Jr. que,

O símbolo máximo que ficará desta fortuna fácil e ainda mais facilmente dissipada é o Teatro Municipal de Manaus, monumento em que à imponência se une ao mau gosto [...] Em poucos anos [...] a riqueza amazonense se desfará em fumaça. Sobrarão apenas ruínas [...]. O drama da borracha brasileira é mais assunto de novela romanesca que de história econômica (PRADO JR., 1990, p. 240).

O processo de rápida transformação econômica produziu o sistema seringalista, caracterizado por uma modernização urbana com profunda concentração de renda. As relações de trabalho baseavam-se no aviamento24, sistema de exploração do seringueiro em regime de trabalho escravo por meio do endividamento nos barracões. Essa configuração, apoiada na corrupção administrativa, impedia a distribuição de renda e a formação do mercado interno regional. A economia da borracha e seus altos custos sociais cumpriram papel importante no processo de povoamento da região amazônica e na elevação das rendas dos estados do Amazonas, do Pará e do recém-criado território do Acre (adquirido da Bolívia em 1903).

O período foi marcado por muitos conflitos e pela intervenção do governo para resolver os impasses decorrentes das rendas da extração do látex, que concentrava seus principais recursos no comércio exportador e importador, bem como nos serviços de transporte e financiamento dessas operações (PINTO, 1984, p. 23). De acordo com Nelson Prado Alves Pinto (idem), esse modelo beneficiou o domínio do capital comercial, tornando vulnerável a economia local. O excedente era desviado para outras regiões, fossem elas internas ou externas ao mercado nacional, ou mesmo empregado em consumo suntuário. O pouco que sobrava para a economia local foi consumido em obras públicas de modernização e demais serviços urbanos, não criando outras formas de investimentos produtivos25.

24 O sistema de aviamento é caracterizado pela cadeia de fornecimento de mercadorias a crédito. Aviar significava fornecer mercadoria a alguém em troca de trabalho, sem a intermediação do dinheiro e baseado no endividamento prévio e contínuo do seringueiro com o patrão, a começar pelo fornecimento das passagens da região Nordeste para a Amazônia. Antes mesmo de produzir a borracha, o patrão fornecia todo o material logístico necessário à produção da borracha e à sobrevivência do seringueiro. Portanto, o seringueiro já começava a trabalhar endividado. Nessas condições, era quase impossível a esses trabalhadores se libertarem do patrão. ―O sertanejo emigrante realiza ali uma anomalia sobre a qual nunca é demasiado insistir: é o homem que trabalha para escravizar-se‖ (CUNHA, 1999, p. 36).

25 Warren Dean, ao reforçar o discurso de crise, calcula que os governos teriam gasto 241.000 contos de réis entre 1890 e 1912 no ―embelezamento de suas capitais‖ e no ―pagamento dos políticos locais‖ (Dean,1971, p.

81). Também para Wilson Cano (1977), a região não teve investimentos na produção. Surpreende-se ao comparar o vigor do complexo paulista com a riqueza da economia da borracha amazônica: uma população que representava apenas 4% da população brasileira conseguia concentrar 10% das importações do país em 1900,

Há uma polêmica quanto ao problema fundamental de a região não ter diversificado sua produção interna e, por isso, ter-se tornado dependente de recursos extraídos da exportação da borracha26. Em 1912, buscou-se solucionar a questão da reinserção da borracha amazônica no mercado internacional por meio do Plano de Defesa da Borracha. Tal plano serviria para recuperar uma economia prenhe de contradições e que certamente continuaria enfrentando as consequências de políticas públicas limitadas e de uma estrutura produtiva arcaica.

Foi nesse contexto que ocorreu a migração dos nordestinos para a Amazônia, dentre os quais se encontrava Mestre Irineu. Com a subsequente passagem do extrativismo para a agricultura e pecuária, agravou-se a situação socioeconômica da região. A narrativa de um dos seguidores de Mestre Irineu, Luiz Mendes do Nascimento (orador do CICLU no tempo de Mestre Irineu), ao falar sobre a chegada do Mestre àquelas bandas, parece ilustrar bem essa realidade:

Aí justamente foi quando estava acontecendo a repercussão da história da borracha lá no Amazonas, que era uma fonte de riqueza muito grande e lá se juntava dinheiro como se juntam folhas e paus. E ele: ‗Puxa vida, caiu a sopa no mel, é nessa que eu vou. Conhecer, obedecer meu tio - no aconselhamento que ele me deu, e ao mesmo tempo ganhar esse dinheirão.‘

Daí ele se despediu e rumou com destino ao Amazonas. Consta que na viagem ele teve um pequenino estágio ali por Belém e depois um outro estagiozinho lá por Manaus. E havia uma listagem dos patrões que comercializavam a borracha, vendiam a mercadoria e compravam a produção dos seringueiros. Era uma viagem facilitada, mas o seringueiro quando chegava lá tinha que trabalhar para pagá-la; em consequência disso, o seringueiro já chegava devendo [...]. Então os seringueiros, meus irmãos, foram eternos escravos. E o Mestre Irineu também provou dessa escravatura.

E o patrão fazia tudo para que o seringueiro não tivesse saldo, sempre estivesse devendo, escravizando para ele poder se manter, porque muitos seringalistas, como a gente chamava, enricaram, e os seringueiros que eram pobres iam ficando mais pobres ainda. E o Mestre Irineu se deparou justamente com essa problemática. Logo ele ficou decepcionado e viu que toda aquela história que repercutia por todo o país era muito diferente. Então aquele povo, além de enfrentar o débito, estava ainda exposto às feras, à grande crise (1908-1916), a Amazônia não progrediu no mesmo ―nível de São Paulo‖ devido ao desinteresse do governo federal pela região. Além disso, o oligopólio das exportações, a corrupção dos governos estaduais, a

―insalubridade reinante‖ e as ―dimensões continentais‖ da Amazônia não permitiram que a economia de exportação da borracha se consolidasse. Neste cenário de crise econômica e do ―aparelho estatal‖, lucraram ―os exportadores‖ e os ―intermediários especuladores das bolsas de Nova York e Londres‖. Estes foram os maiores responsáveis pela ―instabilidade‖ da economia regional (LOUREIRO, 1985, p. 247).

nordestino molestado pela malária daqueles lados, e o Mestre Irineu enfrentou isso tudo (NASCIMENTO, 2005).

A figuração social daquele período foi formada pela chegada de muitos nordestinos em busca do eldorado na Amazônia e se caracterizava pela ocupação financiada pelo capital monopolista e pelo fluxo de outros processos formadores da estrutura social. A ocupação estratégica da região resultou de um processo macro: a revolução industrial que impulsionava os Estados Unidos no século XIX. No Atlas Geográfico Ambiental do estado consta que tanto a ocupação do território do Acre quanto sua posterior incorporação ao Brasil devem-se, principalmente, aos acontecimentos ligados à Revolução Industrial:

[...] a descoberta da vulcanização, em 1839, nos Estados Unidos; a invenção do automóvel, na década de 1870, na Alemanha; a invenção do pneumático e a produção de automóveis em série, na década de 1890 [...] acarretaram uma acentuada demanda de borracha em todo o mundo; e os seringais nativos da Amazônia representavam a maior fonte dessa matéria-prima então disponível [...] (Atlas Geográfico Ambiental do Acre, 1991, p. 13).

O processo de ocupação da Amazônia, caracterizado sobretudo por elevado grau de monopólio e desnacionalização, inaugurou formas de exploração dos recursos naturais e apresentou os efeitos de uma ação antrópica no ecossistema. A formação cultural do acreano é marcada pelas especificidades desses processos: até meados do século passado, o Acre não pertencia ao Brasil e era habitado apenas por índios. Paulatinamente, o estado foi sendo ocupado por amazonenses e nordestinos que vinham em busca da seringueira e pelos incentivos do governo à migração, face às grandes secas que assolaram o nordeste após 1877.

Uma das primeiras características de ocupação do Acre foi a que ocorreu ―sob a égide do capitalismo, quando o capital industrial já exercia seu domínio a (sic) nível internacional. Este fato é relevante para se entender a forma de processo de trabalho ali implantada, as relações de produção, a estrutura fundiária, as oscilações de desenvolvimento e estagnação da economia, bem como os movimentos demográficos‖ (DUARTE, 1987, p. 11).

O processo de formação histórica do estado do Acre foi marcado por ciclos econômicos, ora prósperos, ora decadentes, e pode ser dividido em duas fases: a fase áurea do extrativismo da borracha, em 1960, e a fase moderna iniciada em 1970, marcada por transformações na política econômica de ocupação da região por meio de uma política favorecedora de grandes apropriações de terras e de incentivos fiscais para a agropecuária.

Segundo Machado (1999, p. 113), a intervenção estatal foi necessária devido à queda brusca das exportações de borracha, que provocou ―a desordem na incipiente rede urbana e em todo o processo de povoamento regional‖. A partir desse momento, as alterações sofridas no meio ambiente tornam-se visíveis, mudando a paisagem e destruindo sua riqueza natural como, por

exemplo, as seringueiras e as castanheiras. Em consequência disso, observam-se outros processos, como o crescente êxodo rural e a ocupação desordenada nas periferias urbanas, gerando uma crise socioestrutural, o aumento substancial da população não economicamente ativa, o decréscimo de atividades do setor primário. Oliveira (1982), no livro ―O sertanejo, o brabo e o posseiro‖, narra os cem anos de andanças da população acreana27.

Ao processo de crescimento desordenado das cidades somam-se processos de degradação socioambiental, como o desperdício do patrimônio natural e cultural; formas de ocupações predatórias; problemas fundiários de dificuldade de acesso à terra e aos recursos;

expropriação física e cultural de populações indígenas, seringueiros e pequenos produtores;

mobilidade da mão de obra; ausência de representação e participação política. A partir desses processos, pode-se entender que os problemas socioambientais do Acre decorreram do processo econômico que teve papel determinante na formação da estrutura fundiária.

O desenvolvimento da urbanização ocorreu a partir da segunda metade do século XIX, um estilo de povoamento que Machado (1999) chamou de ―protourbanização‖. Os fluxos migratórios criaram uma rede de povoados, vilas e pequenas cidades cujas características não favoreceram o desenvolvimento da rede urbana: o precário equipamento urbano e portuário, a dificuldade de comunicação e a ausência de diferenciação funcional entre as aglomerações, entre outros fatores. É a própria razão dendítrica da rede proto-urbana, resultante da exploração, que restringiu o pleno desenvolvimento do urbano e da urbanização. Somente a partir desses pontos podemos compreender que o tipo de projeto social visto no Acre foi o responsável pela geração de uma urbanização incompleta. O que caracterizou primordialmente essa estrutura urbana foi a diferenciação na forma de distribuição da população entre Belém e, depois, Manaus. Tais cidades concentravam negócios de exportação, distribuição de bens de consumo e recursos financeiros disponíveis para investir no urbano. Logo, o fosso social separando ―os habitantes de pequenas e grandes aglomerações se refletia na paisagem urbana‖ (MACHADO,1999, p. 114).

Percebe-se, então, que há aqui uma efetiva determinação do rural sobre o urbano. A pobreza urbana surge dessa estrutura sócio-político-institucional que emergiu com a

27 Para o autor: ―uma das características demográficas mais importantes do Acre nos últimos dez anos é dada pelo intenso movimento migratório interno em direção a algumas cidades do estado, mais notadamente Rio Branco‖. As políticas oficiais em relação à Amazônia ganham destaque durante a década de 1960 e

―caracterizam-se pela ‗abertura‘ das terras acreanas aos interesses de grandes empresários do Centro-Sul. As contradições geradas nesse processo afetam de maneira excepcional as condições da população que migra, da que permanece nas terras e, sobretudo, daquela que conduz os contigentes humanos que formam o cinturão de miséria em torno da cidade de Rio Branco‖ (OLIVEIRA, 1982, p. 52).

cidade e que excluiu a maior parte da população de seus benefícios. A crise econômica regional vem acentuar a dinamização da rede urbana, só que em sentido inverso, gerando um processo de autoorganização para exploração de recursos locais. Surgem outras pequenas aglomerações proto-urbanas a partir da frente vinculada à criação de gado, fabricação de couros, exploração mineral e cultura de arroz (Ibid., p. 114).

Esse contexto é fundamental para entender a relação entre a ocupação do território e o mercado de trabalho, que apresentam certas especificidades nas fronteiras de povoamento: a forte mobilidade da população e do trabalho e o caráter experimental de atividades produtivas que provocam bruscas alterações na distribuição da população e do trabalho (Ibid., p. 109). É nesse cenário que as comunidades ayahuasqueiras vivem o drama entre os cantos do exílio e o sonho, analisado por Monteiro da Silva:

O Culto do Santo Daime surge no contexto de uma Amazônia humana e social, entre a realidade do sonho e ‗sonho‘ de realidade; Amazônia feita de êxodo e exílio, em estase e êxtase, podendo ser descrito como resposta às necessidades e pressões do ambiente concreto onde existe (MONTEIRO DA SILVA, 1983, p. 18).

Para o autor, as comunidades ayahuasqueiras pertencem a uma formação sociocultural intermediária entre populações primitivo-rústicas e rústico-urbanizadas, situadas no contexto macrossocial amazônico. O período compreendido entre as décadas de 1970 e 1980 ficou conhecido como o momento da ―abertura‖, ou seja, penetração do capital, chegada dos

―paulistas‖28 e expansão da agropecuária. Tudo isso teve o efeito de deslocar populações tradicionalmente fixadas e fez surgir conflitos sociais em resposta a um modelo econômico que excluía seringueiros, castanheiros e posseiros, causando sua expropriação e obrigando-os a migrar para as periferias urbanas. Nos últimos anos da década de 70, cresce significativamente o movimento de resistência da população devido a sua exclusão das decisões de planejamento e dos projetos de ocupação e urbanização. No Acre, a partir de 1970, entram em cena diversas entidades associativas, constituídas por moradores da região, seringueiros e índios, organizam-se contra as diversas formas de degradação dos recursos florestais. As lutas protagonizadas pelas diversas entidades (especialmente o Conselho Nacional dos Seringueiros e a Aliança dos Povos da Floresta) e os confrontos (empates) nos quais estiveram envolvidas por mais de 20 anos geralmente tiveram como alvo a agropecuária e a especulação imobiliária. Essas atividades eram consideradas predatórias por destruir o

28 ―Paulistas‖, denominação genérica pela qual ficaram conhecidos os ―empresários de fora‖ que compravam terras acreanas nos primeiros anos da década de 70. Essas terras foram vendidas a preço baixo mediante incentivos do governo federal (Duarte, 1987, p.55).

ecossistema com os desmatamentos e com as invasões de áreas de preservação ambiental.

Agravando ainda mais a falta de uma infraestrutura adequada de saneamento nos municípios da região, toda a carga orgânica era lançada ―in natura‖ no Rio Acre.

Esses fatos e a pressão constante de movimentos de defesa e preservação do meio ambiente aumentaram os esforços institucionais para neutralizar as ações mobilizatórias dos movimentos e, ao mesmo tempo, garantir a expansão do capital e o ritmo do desenvolvimento econômico no território. Nas décadas de 1980/90, essas ações envolviam a realização de

"Estudos de Impacto Ambiental" (EIA/RIMA) para viabilizar empreendimentos, sobretudo aqueles que promoviam os interesses dos grupos econômicos instalados no Acre, como por exemplo, construção de estradas (mesmo invadindo terras indígenas). Essas tendências se evidenciaram em diversos diagnósticos, estudos e análises ambientais e em propostas de zoneamento realizadas pelos órgãos públicos sediados na região.

O processo de redemocratização do país no final do século XX permitiu que o Estado e o empresariado a ele associado se apropriassem do discurso ambientalista e participativo mais adequado a seus interesses. A estratégia de ―ecologizar‖ a inserção do capital nos processos sociais de apropriação territorial caminhou de forma simultânea à construção de um arcabouço legal que lhe desse sustentação e legitimidade. A prática institucional que alicerçava esse modelo de desenvolvimento desencadeou lutas simbólicas entre antigas e novas concepções, entre as formas tradicionais e as formas modernas de ocupação do espaço.

Eram lutas de poder protagonizadas por atores dos mais diversos campos, produzidas no âmbito do processo de reinvenção da região amazônica.

Os movimentos que surgiram com o objetivo de preservar as áreas de importância histórica e evitar a degradação do meio ambiente entraram em diversos conflitos com os grupos que defendiam uma nova forma de ocupação para o território. A resistência a esse novo modelo de ocupação encontra seu exemplo paradigmático na polêmica que se estabeleceu por ocasião das lutas dos seringueiros para a criação de reservas extrativistas. O conflito desencadeado revelou a existência, na região, de uma disputa de projetos de ocupação e urbanização inteiramente diversos e contrapostos. O foco desses confrontos era a forma como o território vinha sendo ocupado. A propriedade da terra ou os direitos sobre o uso dos recursos eram questões sempre contestadas pelos que demandavam um debate em torno dos limites do uso público e do privado, assim como da necessidade de se estabelecer uma ampla discussão sobre projetos de desenvolvimento (econômico, turístico, urbano) previstos para a região. Os conflitos ocorriam entre os segmentos da atividade agropecuária e as organizações de seringueiros e indígenas; entre o capital imobiliário e as diversas entidades associativas.

Esses constantes embates demonstravam os momentos de resistência dos grupos afetados a um modelo excludente imposto de fora.