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Processos linguísticos e cognitivos envolvidos na compreensão de textos

2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

2.1 Compreensão de texto

2.1.3 Processos linguísticos e cognitivos envolvidos na compreensão de textos

Vários pesquisadores citam a importância dos fatores linguísticos e cognitivos no processo de compreensão textual (e.g. OAKHILL; YUILL, 1996; PERFETTI et al., 1996; YUILL; OAKHILL, 1991). Os elementos linguísticos estão relacionados aos aspectos sintáticos, semânticos, lexicais e à habilidade de decodificação do leitor; ao passo que os fatores cognitivos envolvem memória de trabalho, ao monitoramento e à capacidade de gerar inferências.

Segundo Yuill e Oakhill (1991), para que haja uma compreensão do texto adequada é importante a participação de dois tipos de processos: baixo nível e alto nível. Conforme Oakhill e Cain (2007), os processos de baixo nível se referem à leitura eficiente e incluem a identificação de letras (decodificação), memória de trabalho e reconhecimento de palavras. Já os processos de alto nível correspondem à construção de sentido, uma vez que incluem a capacidade de fazer inferências, o entendimento da estrutura do texto e o monitoramento da compreensão.

Todos estes fatores, em maior ou menor grau, participam de forma integrada do processo de compreensão de texto. Todos esses elementos serão abordados a seguir, destinando, porém, uma seção separada para as inferências, uma vez que este processo é um dos objetos de estudo da presente pesquisa, sendo necessário um maior destaque a este assunto.

Dentre os processos cognitivos de baixo nível, tem-se a decodificação. Alguns autores defendem que os problemas de compreensão ocorrem em função das dificuldades dos leitores em identificar palavras (e.g. PERFETTI, 1985; PERFETTI et al., 1996; STOTHARD, 1994). Ao passo que alguns pesquisadores não consideram que o conhecimento do código linguístico e a fluência em leitura garantem uma compreensão adequada, pois compreender vai além de decodificar palavras (e.g. GOUGH; HOOVER; PETERSON, 1996; KOCH; ELIAS, 2007; MAHON, 2002; FERREIRA; DIAS, 2002; OAKHILL; CAIN, 2007; YUILL; OAKHILL, 1991). Há pesquisas, inclusive, que apontam que as habilidades básicas da linguagem, como a decodificação, se desenvolvem relativamente independentes da capacidade de compreensão (KENDEOU et al., 2007; OAKHILL; CAIN; BRYANT, 2003).

A sintaxe, definida como a capacidade para refletir sobre os aspectos sintáticos da língua e para regular sua aplicação (GOMBERT, 1992), é outro elemento que influencia a compreensão de textos, pois o conhecimento e o uso de normas gramaticais auxiliam no entendimento das sentenças. Nesse sentido, este conhecimento pode ajudar, de maneira mais

específica, os leitores a identificar e retificar seus erros de leitura, melhorando o monitoramento da compreensão (OAKHILL et al. 2003).

O vocabulário está também associado à compreensão de textos. A literatura da área admite que dificuldades de vocabulário, tais como o desconhecimento de termos utilizados, tornam a leitura mais lenta, bem como podem impedir a construção de significados. Sendo assim, um conhecimento lexical rico e amplo tende a ajudar na compreensão de textos, contudo, este fator não pode ser considerado como determinante desta habilidade (OAKHILL; CAIN, 2007; PERFETTI et al., 1996).

Os conhecimentos prévios que o leitor possui sobre as informações tratadas no texto funcionam como um processo desencadeador de grande importância para a compreensão, requeridos para monitorar a leitura e a construção de um esquema mental coerente (PERFETTI et al., 1996). De acordo com Fulgêncio e Liberato (2001), os conhecimentos prévios são essenciais ao estabelecimento das representações mentais e sua carência ou a sua falta pode prejudicar substancialmente ou até mesmo impedir as conexões de sentido, tornando-se um grande obstáculo para uma compreensão eficiente.

A memória, considerada um processo de alto nível, desenvolve um papel central em todas as formas de pensamento complexo, assim como na compreensão de textos. Dois tipos de memória são considerados na compreensão textual: a memória de trabalho e a de longo prazo. Apesar da importância de ambas, a memória de trabalho tem sido mais relacionada à compreensão, pois exige que o leitor transforme uma sequência de símbolos ao longo do tempo e possibilita o armazenamento de informações temporariamente a fim de que construa e integre os conhecimentos àqueles veiculados no texto (e.g. PERFETTI et al., 1996; STOTHARD, 1994; YUILL; OAKHILL, 1991).

No seu modelo de Construção-Integração, Kintsch (1998), destaca a importância da memória de trabalho para a compreensão de textos, uma vez que ela está presente em todo o processo de leitura, auxiliando a construir e integrar a representação mental. A memória de trabalho possibilita o armazenamento temporário de informações veiculadas no texto e de informações prévias relacionadas ao texto, as quais são resgatadas da memória de longo prazo a fim de que o leitor estabeleça relações entre elas, construindo, assim, o sentido do texto.

O monitoramento é uma capacidade metacognitiva que permite ao leitor ter consciência de seu próprio processo de compreensão de textos. O leitor eficiente é capaz de avaliar a sua compreensão enquanto lê e a consistência interna do texto, podendo detectar as incoerências no texto, bem como perceber a sua dificuldade em compreender o texto como um todo ou determinado fragmento do mesmo. Nesse sentido, Ruffman (1996) afirma que a

capacidade de monitoramento permite a um bom leitor identificar suas dificuldades e, então, buscar compreender a razão de suas dificuldades e adotar estratégias para ultrapassá-las. Estas estratégias envolvem a autocorreção, a repetição da leitura, a realização da leitura em velocidade mais lenta, a seleção de informações relevantes, a procura de outras fontes para obter informações, entre outras. Falhas na capacidade de monitoramento geram dificuldades em eleger e utilizar a estratégia mais adequada, bem como podem gerar problemas para detectar as inconsistências de compreensão ou, percebendo a dificuldade, não ter condições de especificá- la (OAKHILL; YUILL, 1996; YUILL; OAKHILL, 1991).

Após todas essas considerações teóricas, percebe-se que são muitos os fatores linguísticos e cognitivos envolvidos na compreensão de textos e que, apesar de todos serem necessários para uma compreensão eficiente, nenhum, isoladamente, é suficiente. Ademais, percebe-se também uma relação entre, praticamente, todos os fatores discutidos e as inferências, processo cognitivo de alto nível e de extrema importância para uma compreensão textual adequada. Sendo assim, como já mencionado, as inferências serão discutidas numa seção em separado pelo fato destas serem o cerne da compreensão de texto e um dos objetos de estudo do presente trabalho.