Produção: aumentar a produtividade e a qualidade através das práticas agronómicas

A disseminação de boas práticas deve ser transmitida através de serviços de consultoria agrícola capacitados para o efeito (por exemplo, através do INCA, de organizações de agricultores, etc.) e dos próprios produtores, usando parcelas de demonstração, mas também através da disseminação de meios de comunicação específicos, por exemplo, guias de boas práticas com especificações simplificadas, etc. A fim de aumentar a produtividades as seguintes práticas são recomendadas:

 Reabilitar as plantações antigas, acima de tudo de canephora (Robusta), substituindo progressivamente as plantas velhas por novas através da promoção de mudas, de acordo

com o modelo dos produtores do sistema ECT-misto (ECT que iniciaram a reabilitação de parte das suas velhas plantações, seguindo o modelo das plantações ECM para 25% da superfície total). A mudas devem ser monitorizadas, desde o início do estádio do viveiro até o final do primeiro ano de plantio. Para o replantio, recomenda-se: i) o uso de plantas seleccionadas e fornecidas por viveiros, cujas especificações deverão ser clarificadas (incluindo o fornecimento de apoio técnico para o plantio); ii) o uso de instrumentos de diagnóstico específicos para corrigir a acidez do solo, decisivos para todo o ciclo, e para a sua fertilidade; e iii) a implementação de planos de acção ‘em mosaico’, possibilitando a) diversificação da produção, incluindo serviços eco-sistémicos; b) diversificação no espaço e no tempo dos recursos económicos.

Para a replantação, a qualidade das plantas e a preparação do solo recomendamos em particular:

o Melhorar os viveiros: Melhorar a qualidade das mudas, alteração do tamanho dos sacos (quanto mais comprida for a raiz primária, melhor) e da textura e estrutura da terra utilizada. A melhoria da qualidade da sementeira é particularmente crítica para as culturas perenes (plantadas há décadas). Implementação de directrizes específicas, baseadas no estado da arte da produção de mudas de café. Estas devem ser controladas pelas autoridades públicas para garantir que os produtores de mudas oferecem mudas de alta qualidade. Um sistema de credenciação deverá ser criado para garantir a aplicação dessas directrizes.

o Corrigir a acidez do solo: Na maioria das plantações, os solos são demasiado ácidos pelo que devem ser neutralizados através de calagem (existem minas de calcário em Angola). Os cálculos para estimar a quantidade de cal necessária são de fácil execução. Algumas plantas também podem ser identificadas como indicadores de acidez. Deve também ser aplicado composto para melhorar a matéria orgânica e a estrutura da camada superior do solo.

o Plantação no campo: Correcta preparação do solo e correcta plantação (evitar raízes dobradas e plantação demasiado profunda). Utilização de boas práticas agrícolas de poda para reduzir a influência das pragas e doenças.

 Melhores práticas de gestão das plantações de EFT, a fim de aumentar a produtividade até o nível das plantações de ECT. Os produtores de EFT poderiam obter melhores rendimentos aumentando a frequência, e a eficiência, do controlo de infestantes, assim como a eficiência da poda e da colheita. Recomenda-se um melhor controlo de ervas daninhas (mais frequente e na altura certa) que deve manter-se manual ou mecânico (sem uso de herbicidas). Boas práticas de poda, observadas em alguns produtores, devem ser sistematizadas em todas as plantações, bem como o controle manual da "broca-tronco" (método com fio) e de ninhos de formigas, para facilitar a colheita de cerejas de café. Finalmente, deverá investir-se em investigação para o desenvolvimento conducente à intensificação ecológica de plantações agro-florestais com cafeeiros (por exemplo, sobre as associações culturais com melhor desempenho, indicadores de serviços agro- ecossistémicos, etc.).

 Melhorar a gestão de resíduos, ou seja, promover o uso de palha de café como cobertura das plantações de café para controlar ervas daninhas e melhorar a qualidade do solo. Ao nível nacional, a mistura de plantações de canephora e arabica deve ser mantida para combinar os activos de ambos os sistemas de produção, ou seja, rendimentos muito altos de plantações intensivas de arabica e rendimentos médios de plantações extensivas de canephora. A dimensão das parcelas de plantações intensivas de arabica deve, no entanto, ser limitada até que práticas mais agro-ecológicas sejam implementadas nas plantações que usam, actualmente, muito insumos (agrotóxicos e água de irrigação).

 Colheita e pós-colheita: em virtude de o amadurecimento das cerejas de café não ser uniforme, a técnica de colheita recomendada requer que sejam efectuadas duas a três colheitas em cada planta, num período de três meses. Este método é denominado “colheita

de “colheita ríspida”, que consiste em apenas uma colheita por planta, na qual são retiradas todas as cerejas, maduras e não maduras. A estimativa é que um saco de café cereja que inclui 25% de grãos verdes pode provocar perdas de produtividade nas fases seguintes do processo (mabuba) de 25% a 45% (Carlos Magno de Mesquita et al., 2016). A missão constatou, na mesma região acima descrita para os produtores EFT, a existência de produtores ECT e ECM que utilizavam o método de “colheita selectiva”, evitando, assim, as perdas de produção sofridas pelos produtores EFT. Recomendamos em particular:

o Diminuir as perdas e aumentar a frequência dos passes de colheita. A secagem de café mabuba no solo (argiloso) causa uma percentagem significativa de grãos com bolor; provocando, portanto, uma perda significativa de quantidade e qualidade (risco de produzir café com um nível de ocratoxina superior ao padrão europeu) e consequentes perdas económicas. Essas perdas podem ser reduzidas, secando o café mabuba em prateleiras ou mesas fixas, de fabrico fácil.

o Melhorar a qualidade da secagem: para melhorar a qualidade do café mabuba (a incentivar através de um preço mais alto atribuído a uma melhor qualidade), é também necessário aperfeiçoar a qualidade da secagem, ou seja, através de uma secagem em plataformas suspensas e não no chão. Proteger as cerejas à noite (o mabuba geralmente ganha bolor durante a secagem devido a períodos de humidade ou chuva no período nocturno) também pode ajudar a reduzir as perdas. o A implementação de um programa de extensão direccionado ao produtor com o objectivo específico de melhorar as práticas de colheita e pós-colheita. Tal programa deverá ser organizado pelo INCA, associado a outros actores, e deverá incluir os seguintes aspectos:

 Demonstração da melhoria do rendimento e rentabilidade económica de práticas tal como a colheita selectiva.

 Demonstração no campo de melhores práticas a serem adoptadas pelos produtores.

 Assistência e controle no campo da implementação correcta dessas práticas na época da colheita.

 Assistência e controlo de processos de secagem.

As recomendações apresentadas na Tabela 27 devem ser entendidas como complementares das anteriores, devendo ser aplicadas no âmbito de uma estrutura mais ampla que permita o empoderamento dos actores no campo, harmonizando uma série de acções para um desenvolvimento sustentável.

Domínio de acção

principal Objectivos Actividades principais

Ordenamento do

território O desenvolvimento de um planeamento estratégico de utilização do solo para o café a nível nacional que deve identificar as áreas adequadas para as várias espécies de café (com informações geográficas precisas ao nível da parcela) e incluir um plano estratégico para a reabilitação de antigas plantações e a distribuição das diversas produções por tipos de sistema de acordo com o plano comercial.

- Definição de áreas de características adequadas com base nas condições do solo e do clima, de acordo com as necessidades das espécies de café e com a preservação de áreas de alto valor de conservação e alto estoque de carbono (implica pesquisas de campo). Estas são condições para proteger a biodiversidade e reduzir o impacte nas mudanças climáticas por meio da perda de estoque de carbono.

- Mapeamento dessas áreas com base em campos de detecção remota e pesquisa de campo

- Definir mapas preliminares com a participação da população local e ajustar mapas, dependendo das necessidades locais - Garantir consistência e fluidez de informações dos actores nas províncias responsáveis pela legalização da posse da terra Desenvolvimento

do conhecimento O desenvolvimento do conhecimento agrícola sobre os sistemas cafeeiros deve ajudar a promover as melhores práticas, a fim de promover a produção em quantidade e qualidade, preservando os

- Levantamentos sistemáticos de práticas agrícolas e pós-colheita em plantações de café nas aldeias e níveis provinciais, a fim de identificarem as que devem ser melhoradas.

- Pesquisa académica para investigar a diversidade de plantações de café e sistemas agroflorestais, a fim de definir as práticas agro- ecológicas mais adaptadas, dependendo dos serviços

Domínio de acção

principal Objectivos Actividades principais

recursos e o meio ambiente de maneira sustentável.

Transferência de

conhecimento A transferência de conhecimento para os actores no campo é fundamental para garantir a implementação das melhores práticas e a

sustentabilidade a longo prazo da cadeia de valor.

- O conhecimento básico sobre a produção sustentável de café deve fazer parte do currículo regular escolar (com treino experimental no campo)

- Os serviços de extensão (públicos e privados) devem fornecer folhetos simplificados sobre as melhores práticas de gestão das plantações de café (distribuição aos agricultores e aos estudantes dos institutos universitários agrícolas). Esses folhetos devem conter figuras para ajudar a identificar plantas indicadoras de acidez, ilustrar boas mudas, sintomas de broca etc.

- Os serviços de extensão, juntamente com as associações de agricultores, devem fornecer formação gratuita aos agricultores no campo e propor plataformas de demonstração em áreas-chave nas principais províncias produtoras de café

Tabela 27 - Recomendações para melhorar os sistemas agrícolas de café

6.2.6 Melhorar a estratégia comercial do café

É muito importante considerar e valorizar a diversidade de produtos de café que existem em Angola. Essa diversidade pode permitir a diversificação de fontes de rendimento e multiplicar o número de beneficiários. No entanto, nem todos os actores podem facilmente diversificar os seus sistemas de produção. O foco na qualidade, ou na quantidade, requereria competências diversas (conhecimento e meios), que não se encontram facilmente ao alcance de todos os actores. Daí que uma estratégia nacional deverá, idealmente, desenvolver e disseminar ferramentas técnicas e comerciais específicas para cada actor, de modo que todos possam beneficiar de oportunidades que, por isso, deverão ser adaptadas às suas circunstâncias.

 Actualmente, a rastreabilidade é uma ferramenta necessária para contar a história de um produto agrícola. A estratégia comercial deve ser, deste modo, desenvolvida de acordo com o conhecimento e o desenvolvimento da informação necessários em cada nível (planeamento da ocupação dos solos, produção no campo, transformação...).

 Sistemas de rastreabilidade dos produtos que incluem a designação de origem

controlada ou a indicação de área geográfica protegida, podem ser implementados

para fortalecer a organização da cadeia de valor e o fluxo de informações, criando um sinal visível de autenticidade no mercado.