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6 O FAZER ZINÍCO NAS AULAS DE BIOLOGIA: RELATOS,

6.2 A implementação do fazer zínico no cotidiano das aulas de

6.2.2 Produção supervisionada de zines biológicos na escola

Na aula seguinte, vencidas as ansiedades iniciais sobre a realização dos trabalhos, houve a divisão da turma em sete grupos, bem como a definição dos orientadores (bolsistas ID) das equipes e a determinação dos temas20. Feito isso,

anunciamos que as pequenas revistas artesanais seriam produzidas em caráter colaborativo e sob a minha supervisão.

A elaboração conjunta de zines remete suas origens quando a maioria das produções do passado era feita grupalmente pelos indivíduos. Na concepção de Maranhão (2012, p. 52) é importante que se trabalhe grupalmente na construção de fanzines, pois “quando os alunos se juntam em grupos para a produção de zines, aparecem situações dialógicas relativas ao próprio trabalho a ser realizado”. O que a autora quer dizer é que ocorrem constantes diálogos entre os integrantes da equipe a fim de debater questões e superar dificuldades que, se bem resolvidas, permitem o aprimoramento do trabalho além do desenvolvimento da capacidade de aprender a conviver.

Ao apropriarem-se dos temas dos fanzines, os grupos e seus orientadores foram se distribuindo naturalmente pelo espaço físico da sala de aula (Apêndice F – FIGURA 3) para elaborar um roteiro que pudesse sistematizar os afazeres que o novo objeto exigia (pesquisa, processo de leitura e escrita, seleção dos elementos imagéticos, discussão e reflexão do assunto, e outros).

Cabe ressaltar que os BID assumiram nos espaços grupais, novamente, a posição de liderança ao conduzir discussões sobre o tema e sobre a ferramenta em questão; fornecendo orientações de pesquisa aos alunos e sugerindo opções de apresentação do tema no fanzine. Importa notar que, em nenhum momento, os pibidianos interferiram na liberdade e na autonomia dos estudantes. Como é de se supor, interessava-nos que os faneditores tivessem um sentimento de pertença em relação aos seus projetos.

Na aula posterior, de posse dos seus planejamentos grupais, os envolvidos iniciaram suas produções (Apêndice F – FIGURAS 4 e 5). Nesta ocasião, esclarecemos que considerávamos importante que cada educando: manifestasse suas preferências, pesquisasse sobre o tema proposto, produzisse páginas, participasse da montagem dos bonecos, fosse à gráfica e depois ajudasse na montagem coletiva dos exemplares, entre outros procedimentos. Não foi difícil a compreensão de que, embora cada componente do grupo fizesse parte do trabalho, o resultado do processo seria, pela natureza da atividade, coletivo.

Revisitando as anotações feitas em nosso caderno de campo, destacamos que pôde-se visualizar no contexto da sala de aula, uma inversão de quem fala e de quem é ouvido. No fazer zínico que experimentamos, o professor deixou de ser o centro das atividades, posto que, ele apenas mediou e orientou os trabalhos. Os discentes, ao contrário, se engajaram, sob a supervisão dos pibidianos, em práticas de pesquisa, leitura, escrita e estética, tornando-se sujeitos ativos no processo.

Para realizar a confecção das páginas, os alunos utilizaram materiais de uma caixa cedida pela escola, contendo: borrachas, canetas de diversas espessuras, grampeador, lápis de cor, giz de cera, cola branca, estiletes, régua, tesouras com cortes artesanais e tesoura com cortes retos. Além desses, conseguimos disponibilizar alguns outros materiais para aguçar a criatividade dos participantes, foram eles: revistas e jornais velhos.

Conforme o exposto, os fanzines foram construídos pelos estudantes sob a orientação dos licenciandos (BID), baseando-se nos conhecimentos biológicos relativos as doenças parasitárias. Mas, o tempo não se colocou a favor do processo de criação zinesca naquela aula. Por isso, todos os grupos finalizaram ou confeccionaram suas

páginas em casa, ou as fizeram em outro dia, nos espaços de aprendizagens que a escola possuía. Não raro, encontrávamos grupos de alunos e seus respectivos orientadores na escola, utilizando o período do contraturno de suas aulas, para cumprir com a atividade.

Na aula da semana seguinte, os grupos me entregaram os seus fanzines. No mesmo dia, iniciei com cada equipe um momento destinado à apreciação e troca de ideia sobre as produções. Eis que, na leitura de todos os fanzines que me foram entregues, pude identificar, em maior ou menor grau, erros ortográficos e gramaticais que, provavelmente, dificultariam a compreensão dos conceitos biológicos que se queria comunicar. Também, detectei problemas com a montagem das matrizes dos projetos, tendo que reorientá-los sobre o modo mais apropriado.

Por meio de diálogos decidimos que eles fariam a correção dos erros, e combinamos de, após isso, iniciaríamos o processo de reprodução e montagem das cópias. Cabe mencionar, que esse encontro constituiu o único no qual os bolsistas ID não compareceram, em função da participação dos mesmos num encontro universitário, realizado no mesmo período, na cidade de Fortaleza-CE.

É relevante destacar, que segundo o cronograma de ações, haveria a entrega dos fanzines e de suas cópias naquela semana. Porém, isso não pôde ser cumprido pelos grupos, em razão das correções que deveriam ser efetuadas na matriz. Outro contraste foi a dificuldade e a insegurança sentida pelos próprios alunos no gerenciamento dos trabalhos com os zines, no interstício temporal em que seus orientadores estiveram ausentes.

Frente aos imprevistos supracitados, percebi uma certa preocupação dos estudantes no que diz respeito ao aprimoramento da tarefa dentro do prazo estabelecido. Em contrapartida, quando identificamos a necessidade dos ajustes, os autores se mostraram interessados em melhorar não só a sua qualidade textual, mas também a qualidade estética. Resolvemos, de tal modo, reservar parte da aula de biologia da semana seguinte para o recebimento dos bonecos, momento em que os bolsistas ID se fizeram presentes.