• Nenhum resultado encontrado

PROFESSORA SÍLVIA NOGUEIRA CHAVES

No documento PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (páginas 194-200)

4 Histórias de vida de professoras de Biologia

4.9 PROFESSORA SÍLVIA NOGUEIRA CHAVES

Eu nasci no dia 13/02/1966, na cidade de Belém do Pará. Eu sou a 6ª filha de uma família de três gerações, porque meu pai se casou três vezes. Eu sou da última geração de filhos deles. Meu pai era advogado, comunista, ateu. A minha mãe é dona de casa como todas as mulheres da época. É descendente de portugueses, e eu sou a caçula desse grupamento de seis filhos. Eu tenho irmãos que têm quase a idade da minha mãe. Há uma diversidade cultural, geracional na minha família. Meu pai, na minha primeira infância até os quatro anos de idade, era prefeito de uma cidade do interior do Pará, onde morávamos. Todo esse contato com a vida silvestre eu tive até quatro anos de idade.

Entrei na escola, em uma escola Suíça, aos cinco anos de idade, já alfabetizada em casa. Aí não me adaptei à série em que eu estava, porque já sabia aquilo que eles estavam ensinando na série. Então, eles aceleraram e me passaram logo para outra série com a idade inadequada para estar ali. Eu tinha elementos cognitivos, mas não tinha maturidade emocional para estar nessa série. Então, sempre fui a menorzinha, a caçulinha, a pequeninha na minha vida escolar toda. Sempre as pessoas eram bem mais velhas que eu na série em que eu estava.

Em um texto que eu escrevi para o XIV ENDIPE164, levantei algumas hipóteses por que escolhi ser professora de Biologia. Porque não é uma coisa racional com que você possa fazer uma relação direta. Escolhi porque tive uma vida muito ligada à natureza, ao ambiente. Minha casa era na praia. Abria uma porteirazinha, e já estávamos na praia. Escolhi a Biologia. Escolhi a Licenciatura em Biologia. Na sétima série, decidi que queria ser professora de Biologia. Não queria ser Bióloga, lembro-me até que, na Universidade, tive muito problema, porque tinha estágio na Biologia no Museu Emílio Goeldi, no Instituto Evandro Chagas. Queria ser professora, e todo mundo perguntava: “quando você vai começar seu estágio de Biologia?” Eu não tinha interesse, até que um dia tão pressionada pelos colegas, eu fui ao Museu Emílio Goeldi e fiquei pensando: meu Deus, eu vou fazer estágio em quê? Eu gosto de gente, gosto de lidar com gente e o mais próximo de gente é mamífero. Então, eu penso que eu vou fazer estágio lá no laboratório de mamíferos, mas não sabia que a professora trabalhava com morcegos. Não é muito parecido com o que eu queria, não é!? Fui, a professora estava afastada por quatro meses no campo, coletando. Um outro professor me recebeu; era de Ictiologia. Ele disse para eu ficar lá. “Fica aqui com esse professor”. “Não quero!” “Fica aqui com esse professor enquanto a outra professora não chega”. Ele repetiu:

“não, de jeito nenhum não quero essa menina aqui, ela quer trabalhar com mamífero e eu trabalho com peixe!” Só faltou me escorraçar de lá. Aí decidi que jamais faria estágio em outra área da Biologia, porque eu queria mesmo era ser professora. Na época, eu não sabia que existia uma área, ou melhor, não existia, era uma coisa muito incipiente. Mas um professor, no dia da minha colação, informou-me que existia uma pessoa que trabalhava com Ensino de Biologia em Belém, e me encaminhou para ela. Foi quando fiz a Especialização lato sensu em Ensino de Ciências. Conheci professores da UNICAMP, fui fazer o Mestrado em Educação na UNICAMP, na época, não era na Linha de Ciências. A minha intenção, quando eu entrei na graduação, era ser professora.

Eu ingressei na graduação em 1983. O curso era voltado para a Biologia, não era um curso voltado para a formação docente. Creio que é assim, como até hoje, com poucas e honrosas exceções. Era aquele esquema 3 mais 1, em que você via parte da docência nos últimos anos, praticamente no último ano do curso. Então, por isso que era pressionada, porque todo mundo julgava um absurdo eu querer ser professora. Embora ninguém pensasse que estava num Curso de Licenciatura, porque na UFPA, embora não houvesse essa distinção do ponto de vista curricular, as entradas sempre foram diferentes. Havia a entrada para o curso de Licenciatura e vestibular para o curso de Bacharelado. Entrei na licenciatura consciente. Eu perguntei para o meu professor, na sétima série, “quero ser professora de Biologia, qual é o curso que eu tenho que fazer na universidade”? “Na universidade você faz Licenciatura”.

Em 1983, estávamos saindo do militarismo, estávamos na boca do movimento das “Diretas Já”, que ocorreu em 1984. O país estava saindo do militarismo, mas ainda havia muito resquício dentro da própria Universidade. Por exemplo, o fato de a organização curricular ser toda fragmentada por créditos. Eu me lembro de ter feito disciplina EPB (Estudos dos Problemas Brasileiros). Na época, existia, e os professores de EPB, EPB1 e EPB2 eram militares. Lembro-me que, uma vez, na avaliação de EPB1, ele pediu que escrevêssemos sobre a Amazônia. Coloquei uma visão da Amazônia detonando com a questão política, com a falta de investimento na região e quase fui reprovada.

Eu não fiz estágio. Pasme. Não fiz estágio, porque eu comecei a dar aula na escola particular antes de terminar o curso, e o professor cismou que, por eu dar aula numa escola privada, não precisava fazer o estágio. Ele iria lá, simplesmente, um dia, assistir a minha aula na escola. Fiquei extremamente frustrada. Uma pessoa que entra na Licenciatura para ser professora. Esperei o tempo todo para viver essa experiência da docência, e o professor diz não. Porque a Escola de Aplicação onde fazíamos os estágios já estava com muitos alunos. Os professores da Escola de Aplicação já estavam reclamando. Assim, como eu era professora,

não precisava ir mais uma para lá. Não fui. Mas até hoje, quando os meus alunos chegam para mim e dizem: “ah professora eu já dou aula!” (Agora pensa a mentalidade desses alunos). “A senhora não pode creditar para mim”. Eu digo: “não! A Universidade não é consórcio que, ao final de tanto tempo, você sai formado, não é assim. Você tem que participar e, se você acha que já está tão imbuído da docência, venha compartilhar a sua experiência com seus colegas que não a têm”. Eu sei que para mim foi tão frustrante. Considero que fez falta, fez muita falta. Depois, pode-se recuperar, mas o custo disso é alto! Eu não deixo isso acontecer com meus alunos.

Primeiro, descobri que existia uma pessoa que trabalhava com Ensino de Ciências na Universidade e eu fui, fiz o curso de Especialização lato sensu. Durante o curso de Especialização, houve um concurso na rede pública de ensino na Secretaria de Educação do Estado do Pará. Fiz concurso, passei e planejei a minha vida: vou ficar o tempo do estágio probatório e depois vou sair para o Mestrado, foi exatamente isso que eu fiz. Fiquei na Secretaria de Educação, trabalhando no tempo do estágio probatório, depois que acabou esse período, fiz a seleção do Mestrado na UNICAMP e pedi licença na época. Creio que, ainda hoje, a Secretaria de Educação concede a licença. Quando eu estava no Mestrado houve o concurso da Universidade do Estado do Pará, e também fiz. Passei. Como a Universidade do Pará não exigia, como não exige até hoje, dedicação exclusiva, fiquei nas duas instituições, tanto na Secretaria de Educação quanto na Universidade do Estado. Quando eu já estava no Doutorado, fiz o concurso para Universidade Federal do Pará e lá estou até hoje.

O currículo de Biologia no Estado do Pará era como é em todo o Brasil. Não há distinção alguma, porque somos herdeiros de um modelo estadunidense de Ensino de Ciências. Esse modelo de Ensino de Ciências estadunidense entrou na nossa educação do país pelo livro didático. Pela tradução do BSCS, PSSC. Então, não havia diferença, as pessoas imaginam que há uma especificidade, porque é uma região diferente, mas não há. Ao contrário, o que se vê são os alunos, os adultos falando da Amazônia, como se eles estivessem fora dela. Porque o discurso que eu faço sobre a Amazônia não é do amazônida, é de alguém que fala sobre aquilo, sem nunca ter pisado lá.

Na Educação Básica, preparava aula por aula, como até hoje faço. Marcando o dia e a atividade que ia desenvolver, muito sozinha. Sozinha! Muito isolada, já que os meus colegas acreditavam que o modelo era seguir o livro didático mesmo. Já estava pronto, não precisava aquele planejamento. E eu não, batalhava porque eu me sentia extremamente incompleta, mal formada. Não fiz nem estágio, não é?! E, sentindo-me muito incompleta, fazia assim e errava. Para mim, não dava certo e não sabia por que não dava certo. Meu encontro com a educação,

com a área da educação, com o campo da pesquisa em educação aliviou-me um bocado, pois me fez perceber de onde vinham as minhas expectativas de que a experimentação é que melhoraria o ensino. Tudo aquilo eram estereótipos da área que eu não problematizava, não tinha nem leitura para problematizar. Mas fui fazer isso na Pós-Graduação.

O programa de ensino era preestabelecido, mas sempre burlava o programa. Lembro- me até de discussões dentro da escola privada, ainda com a coordenadora pedagógica, que é o “calo” dos professores. Infelizmente, até hoje. Eu queria fazer as atividades diferentes, e ela avaliava que aquilo não tinha nada a ver, que estava muito fora do nível dos alunos. Eu me lembro, claramente, de uma situação que eu queria trabalhar, a parte ambiental sobre a discussão ambiental, com aquela música do Sá e Guarabira “Sobradinho”, sobre o sertão, “o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão”. E ela implicou com aquilo, disse-me que não podia trabalhar assim, porque o vocabulário da música era muito elevado pros alunos da 5ª série. Eu respondi: “mas, vem cá, eu lembro na relação de materiais do início do ano que os alunos compraram dicionário, não é esta a função da escola também, ampliar o vocabulário dos alunos?” Vamos usar o dicionário, se for necessário, para entender a letra da música. Lembro-me bem desse embate quando ela disse não, mas não pode usar. Eu retruquei: então, está bom! Então, vai dar aula do jeito que você quiser. Então, ela admitiu: “faz, pode fazer do jeito que você quiser”.

A avaliação também sempre foi algo problemático para mim. Porque, mesmo sem as leituras, mesmo sem as reflexões, as problematizações da área, eu tinha em mim algo que me fazia acreditar que prova de marcar, de associar coluna não respondia a nada, não fazia o sujeito pensar com o conhecimento. Claro que eu não me expressava dessa maneira! Mas, pra mim, aquilo era mutilar tudo o que eu havia ensinado. “Botar” na prova, e os alunos estavam habituados com isso. Foi uma dificuldade muito grande até as pessoas, na escola, valorizarem esse tipo de coisa. As provas eram todas dissertativas, em que o aluno tinha que escrever ou apresentar uma situação problemática sobre aquele conteúdo, e ele tinha que descrever, analisar, justificar determinados temas. Os alunos perguntavam: “professora, a senhora dá aula de Biologia ou de Português?”

Eu pondero que tinha a visão clássica de currículo na época. Era de que o importante era o aluno conhecer, saber as informações. Eu não tinha, não estava muito fora também. Estava fora em alguns aspectos, mas não estava em outros, por exemplo, para mim não questionava o currículo. Esse conteúdo é importante, esse não é importante, vou tirar esse e colocar esse, vou dar uma abordagem diferente. Eu não tinha essa visão na época. Hoje, procuro trabalhar com os professores em formação para que eles não se submetam ao

currículo acriticamente. Eu não! Eu me submetia sim, submetia-me fazendo algumas distinções que, na época, julgava que o movimento era de saída metodológica e não conceitual.

Quanto à minha participação nas discussões para implementação de reformas educacionais enquanto eu era professora da rede, nunca fui chamada pra nada. Nunca, nunca. As mudanças sociais, políticas, econômica, se afetaram o meu trabalho com o ensino, eu não tive a sensibilidade para perceber. Não, não. Certamente, algumas questões, alguns conteúdos, foram emergindo dessas movimentações econômicas, políticas e sociais do país e do mundo, mas não foram perceptíveis até porque a escola não acompanha muito esse desenvolvimento, demora muito para sair da esfera macro para entrar na escola.

Com relação à minha competência como profissional, creio que melhorei na relação com os alunos, na questão do conteúdo. Nem sei se podemos rotular isso de competência, mas sinto que ampliei meu repertório. O fato de eu ter entrado na Pós-Graduação, ter começado a desenvolver pesquisa na área de educação, possibilitou-me olhar a educação de vários ângulos. Porque eu olhava de um único ponto de vista, de um ponto de vista mais óbvio, mais de senso comum, mais de imediato. Se eu tenho problema na sala de aula, tenho que resolver aquilo, naquele momento eu não consigo entender que aquele problema é uma coisa mais ampla. Eu entendo que, para isso, a docência, a pesquisa, a experiência, a troca são importantes, além do contato com os meus pares. Foram esses fatores que me possibilitaram ampliar meu repertório. E se isso pode ser tido como maior competência, então é isso. Eu fiz o Doutorado também na UNICAMP, comecei, em 1994, quando eu já estava na Universidade como professora. Eu estava na Universidade do Estado. Depois, já estava na Universidade Federal também. Porque, na época do Fernando Henrique, não abria concurso neste país. A Universidade fez uma reforma curricular nos cursos de Licenciatura e criou a disciplina de Metodologia do Ensino de Biologia, porque eu não tive essa disciplina no meu currículo. Não existia. No currículo em que me formei, havia Estrutura e Funcionamento do 1º e 2º graus; lei, lei, lei e mais lei; Psicologia da Educação, as ditas pedagógicas: Prática de Ensino 1 e 2. Era isso. Eu fui a primeira professora de Metodologia de Ensino de Biologia da UFPA. Quando eu estava ainda na Universidade do Estado, eu era professora substituta na UFPA. Em 1992, também já estava na Universidade Federal do Pará, só que não estava na carreira acadêmica, na carreira em que eu estou. Hoje, eu trabalho com Metodologia.

Eu nunca fiz uma avaliação em termos de melhores e piores anos da minha carreira. Para mim, é sempre bom! Sempre aprendo muito, às vezes, eu saio da sala de aula e digo para os alunos, “eu tenho a nítida sensação de que eu aprendi com vocês mais do que ensinei”. Eles

falam: “então, deixa o seu salário aqui!”. “Então, pague para gente, deixe o seu salário aqui!” Há coisas boas e ruins em todos eles, todos os momentos.

O trabalho com exigência de dedicação exclusiva só foi possível na Universidade Federal do Pará.

Eu sou casada e tenho uma filha. O nascimento da minha filha foi um divisor de águas, eu sempre digo que foi. Minha filha nasceu em 1999, eu asseguro que houve dois acontecimentos, no começo de 1999, que mudaram a minha forma de ver a profissão e de dar valor não à profissão, mas de valorizar determinados aspectos dentro da profissão. Eu presumo que, até 1999, tinha muita coisa do acadêmico, da hierarquização do acadêmico, de colocar o acadêmico em primeiro plano de formação, muito encantamento com a academia. Reconhecia que a academia era o melhor lugar do mundo! Embora já fosse casada. Em 1999, morreu uma grande amiga, que era professora também da área de Ensino de Biologia, e nasceu a minha filha. Quer dizer: são os dois momentos extremos da nossa vida, nascimento e a morte, aquilo me fez até parar para pensar se eu deveria continuar na carreira acadêmica. Porque comecei achar tudo tão vazio, perceber que as pessoas competiam muito, que as pessoas não estavam interessadas em pensar na educação; elas estavam interessadas em alimentar o próprio ego, em publicar, aparecer! Para mim, aquilo era muito sedutor também. Comecei a pensar: eu não quero isso! Quero é, efetivamente, contribuir com a mudança social. Será que é por aí, porque eu não vejo, na academia, as pessoas preocupadas com a mudança social. Eu vejo, na academia, as pessoas muito preocupadas, inclusive eu, em obedecer a um procedimento acadêmico, uma expectativa de publicação, e aquilo, pra mim, se tornou tão vazio, tão sem sentido. Minha filha nasceu quase no final do meu Doutorado, terminei o Doutorado em 2000. Naquele momento, eu parei 1 ou 2 meses e, na minha cabeça, tinha desistido de terminar o Doutorado. Não quero mais esse título. Não me pergunte o que foi, mas aconteceu alguma coisa dentro de mim, e comecei a pensar: não, se eu quero que academia tenha um movimento diferente, pense de forma diferente, eu tenho que estar dentro dela. Se eu estiver fora, ninguém vai me ouvir! Foi quando recomecei. Decidi terminar o Doutorado, por outro motivo. Eu vou terminar o Doutorado porque eu preciso “cutucar” essa estrutura, do que eu não estou gostando de dentro dela.

Até hoje, é uma tensão conciliar a vida particular com a academia. Eu estou aqui (em Florianópolis), estou ligando para Belém para minha filha, porque ela está em prova. Estou aflita, sentimo-nos o tempo toda culpadas, em débito, com dívida com alguém. Sempre digo que ou estou com dívida com o trabalho ou com dívida com a minha filha, minha família. Meu marido veio comigo agora, porque eu quase não o estava encontrando, esse semestre eu

quase não encontrei meu marido. Eu não passei nem 1 mês do 2º semestre sem viajar, não consegui passar 1 mês inteiro em Belém. Ele tirou licença para ficarmos um pouco juntos. É sempre uma tensão. Toda a liberação da mulher redundou nisso: no acúmulo, no acréscimo e não na liberação de tarefas. Claro que eu não tenho mais aquela tarefa de estar em casa, de lavar roupa, de fazer comida, mas ainda há a responsabilidade sobre a dinâmica da casa. Sobre a responsabilidade da casa, sobre a manutenção da casa; tudo cai sobre a gente. Embora meu marido me ajude muito, mas é como eu comento com ele: é muito diferente ajudar e assumir. O ajudar eu estou fazendo um favor para as pessoas ajudando, não é parte das minhas tarefas eu estou fazendo uma concessão. É bastante complicado.

Pelas leis antigas, eu me aposentaria no ano que vem. Não parei para pensar sobre isso. Não parei para pensar, suponho que eu não gostaria de parar de trabalhar. Creio não, não gostaria de parar de trabalhar, mas eu gostaria muito, muitíssimo, desde já, de diminuir o ritmo. Entendo que a aposentadoria, o final da carreira, talvez nos propicie isso. Quer dizer, que trabalhemos por puro diletantismo, porque, agora, não é diletantismo. Agora, eu tenho prazer, mas também tenho compromisso que temos que assumir. Eu estou num programa de Pós-Graduação que exige uma produtividade, exigência da CAPES, tenho que atender a isso, senão eu prejudico o programa. Na aposentadoria, espero poder fazer coisas sem estar pressionada por esse mecanismo, sem precisar ter o trabalho triplicado, às vezes. Não penso que eu vou abandonar. Penso que eu vou lidar de outra forma, num outro ritmo, mas não me vejo fazendo outra coisa que não seja envolvida com educação. Pode até nem ser mais em espaços formais, pode até ser em uma comunidade alternativa, em um grupo não governamental. Mas não me vejo fora da esfera da educação.

Não estou nem no Departamento de Educação nem no de Biologia. Quando eu entrei na Universidade, entrei na Faculdade de Educação, mas eu era Bióloga. Quando chegava para dar aula para os alunos da Biologia, eu era Pedagoga, ou seja, não tinha identidade. Explicava que vivia no limbo. Dizia: “gente, eu não sou uma Bióloga nem Pedagoga, eu sou uma híbrida”. Para usar um conceito da Biologia, eu sou híbrida, eu sou professora de Biologia, eu tenho os pés nas duas áreas. E sempre foi problemático isso. Felizmente, quando eu voltei do

No documento PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (páginas 194-200)