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As professoras: Beatriz, Cintia, Fernanda, Maria Luiza, Paula e Tayane

CAPÍTULO 3 - PROFESSOR: UM DOS AGENTES DA POLÍTICA DOS 9 ANOS

4.3 A PESQUISA: CONTEXTOS E PARTICIPANTES

4.3.2 As professoras: Beatriz, Cintia, Fernanda, Maria Luiza, Paula e Tayane

As seis participantes da pesquisa eram todas mulheres. Com isso, a função profissional assume no texto o gênero feminino e passa-se a partir de então a utilizarem-se os termos professora e professoras. Foram entrevistadas quatro professoras da escola A, uma professora da escola B e outra da escola C. Todas sempre fizeram parte do Quadro Funcional do Magistério, relativo às escolas de Ensino Fundamental. No município de Curitiba não aconteceu de o pessoal pertencente ao segmento da Educação Infantil ter assumido as turmas de 1º ano do

Ensino de 9 anos (possibilidade assinalada no 3o Relatório do Programa de Ampliação do Ensino Fundamental; BRASIL, 2006d, p.10-11), sequer as turmas da chamada Etapa Inicial (última turma do pré-escolar), que já estavam integradas à escolaridade em Ciclos de Aprendizagem (proposta pelo município e adotada pela maioria das escolas desde 1999)48.

Com a intenção de conhecer cada participante nas suas singularidades e ao mesmo tempo reconhecer suas inserções nessa atuação que lhes é comum, passa-se às aprepassa-sentações de cada uma, com bapassa-se no que elas indicaram no momento das entrevistas. A fim de se resguardar o anonimato das participantes, pediu-se que cada uma escolhesse um nome fictício que viria a constar do texto da pesquisa (uma das professoras deixou a cargo da pesquisadora esta escolha). Desse modo, os nomes aqui expostos foram escolhidos para efeito da apresentação delas e das informações por elas fornecidas. Os nomes escolhidos pelas professoras têm histórias particulares e significados pessoais que ficaram resguardados a elas.

Assim, passa-se a conhecer as singularidades de: BEATRIZ, CINTIA, FERNANDA, MARIA LUIZA, PAULA e TAYANE.

Elegeu-se usar a ordenação alfabética para a exposição que segue:

BEATRIZ está com 38 anos, é casada e tem dois filhos (um com 10 anos e outro com 6 anos). Já trabalhou com turmas de Educação Infantil e Ensino Fundamental (anos iniciais). Tem 18 anos de Magistério. Na ocasião trabalhava exclusivamente como professora na Rede Pública Municipal em um período, tendo feito concurso público para tal. No período contrário auxilia o marido em um estabelecimento comercial de propriedade dele. Sua renda pessoal está entre R$

1.001,00 e R$ 1.500,00 mensais.

48 Atualmente, entre as 173 escolas municipais existentes, apenas 8 escolas adotam o regime seriado e 9 adotam os dois regimes, em série e em ciclos (CURITIBA, 2008).

Formou-se em Magistério, no nível Médio, tendo-o cursado no Instituto de Educação do Paraná. No nível superior, concluiu o curso de Pedagogia, na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Ela não soube precisar o ano de conclusão nessas duas etapas. Em 2001 concluiu o curso de Especialização em Psicopedagogia pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (IBPEX).

O tempo de atuação como docente em etapas distintas se mostrou dividido, aproximadamente, da seguinte forma: trabalhou 12 anos na Educação Infantil com crianças acima de 3 anos; 8 anos com 1ª e 2ª Séries do Ensino Fundamental (atuais 2º e 3º Anos) e dois anos com 3ª e 4ª Séries (atuais 4º e 5º Anos).

No ano de 2007, estava como professora do Pré, que se tornou uma turma de 1º ano do Ensino Fundamental de 9 anos. Sua intenção em termos de trabalho futuro foi permanecer na função atual, na mesma instituição, mas muito provavelmente assumindo uma turma mais avançada em termos de tempo de escolaridade e não mais uma turma de 1º ano.

FERNANDA é casada, está com 40 anos e tem dois filhos (um com 17 anos e outro com 9 meses de idade). Tem 20 anos de experiência no Magistério, já tendo trabalhado na Educação Infantil e Ensino Fundamental (anos iniciais).

Atualmente trabalha em dois períodos na Rede Pública Municipal, na mesma escola. Sua renda pessoal está entre R$ 1.501,00 e R$ 2.000,00.

Cursou Magistério, nível Médio, no Colégio Estadual Santa Catarina, tendo-o concluído no ano de 1984. Realizou o curso Normal Superior, ofertado aos professores da Rede Municipal por intermédio de convênio entre a Secretaria Municipal de Educação de Curitiba e a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), concluído no ano de 2003. Em 2004, fez Especialização em Educação Infantil e Séries Iniciais, pela Faculdade Internacional de Curitiba (FACINTER).

O tempo de trabalho de Fernanda, em cada etapa, foi de aproximadamente:

cinco anos na Educação Infantil com crianças acima de 3 anos; 18 anos na 1ª e 2ª Séries do Ensino Fundamental (atuais 2º e 3º Anos) e dois anos na 3ª e 4ª Séries (atuais 4º e 5º Anos).

Em 2007, também experimentou a docência no Pré e no 1º ano, decorrente da mudança sofrida no meio do ano letivo. Pretende permanecer na função atual, na mesma instituição escolar.

CINTIA é casada, tem 40 anos e dois filhos (um com 14 e o outro com 8 anos de idade). Faz parte do quadro efetivo de pessoal da Prefeitura e atua como docente em dois períodos, ambos na Rede Pública Municipal, na mesma escola. Tem 19 anos de experiência no Magistério, sempre com os anos iniciais do Ensino Fundamental. Sua renda mensal individual está entre R$ 1.501,00 e R$ 2.000,00 mensais.

Concluiu a formação inicial em nível Médio, no ano de 1985, tendo cursado Magistério no Colégio Rui Barbosa e a formação em Pedagogia, em 1990, na UFPR.

Em 1998, especializou-se em Educação Infantil e Séries Iniciais, pelo IBPEX.

Seu tempo de trabalho nas diferentes etapas da educação indica que ela não atuava anteriormente na Educação Infantil, tendo 15 anos de trabalho com 1ª e 2ª Séries do Ensino Fundamental (atuais 2º e 3º Anos) e 6 anos com 3ª e 4ª Séries (atuais 4º e 5º Anos).

No ano de 2007 foi professora pela primeira vez do Pré-escolar, denominado Etapa Inicial do Ciclo I, na Rede Municipal de Curitiba. Deseja manter-se na função atual e na mesma instituição escolar nos próximos anos.

MARIA LUIZA tem 41 anos, é casada e não possui filhos. Sua experiência no Magistério contabiliza 17 anos de trabalho entre Educação Infantil e Ensino Fundamental (anos iniciais).

Atualmente trabalha exclusivamente na Rede Pública Municipal em um período, tendo feito concurso público para tal. Sua renda pessoal está entre R$

1.001,00 e R$ 1.500,00 mensais.

Maria Luiza formou-se em Magistério, no nível Médio, em 1986, tendo cursado o Colégio Divina Providência, e em Pedagogia, no ano de 1991, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Em 2004 concluiu a Especialização em Educação Infantil e Séries Iniciais, pelo IBPEX.

Seu tempo de trabalho, em cada etapa, está dividido em aproximadamente: 9 anos na Educação Infantil com crianças acima de 3 anos e 8 anos com 3ª e 4ª Séries do Ensino Fundamental (atuais 4º e 5º Anos).

Em 2007 atuou como professora do 1º ano, desde o início do ano letivo. Tem intenção de permanecer na função atual, na mesma instituição.

PAULA está com 31 anos, é solteira e não tem filhos. Já atuou na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Possui 13 anos de experiência no Magistério. Trabalha atualmente apenas na Rede Pública Municipal em dois períodos, sendo num deles na modalidade de Regime de Trabalho Integral (RIT) em outra unidade escolar, ou seja, faz parte efetiva do quadro de Magistério da Secretaria Municipal de Educação com apenas um padrão. Sua renda pessoal está entre R$ 501,00 e R$ 1.000,00 mensais.

Sua formação inicial é, em nível Médio, no curso de Magistério, pelo Colégio Estadual Loureiro Fernandes, concluído em 1995. E em Pedagogia, pelo Centro Universitário Campos de Andrade (UNIANDRADE), em 2005.

O tempo de trabalho de Paula, em cada etapa, está mais ou menos dividido em: 7 anos na Educação Infantil, com crianças acima de 3 anos; três anos na 1ª e 2ª Séries do Ensino Fundamental (atuais 2º e 3º Anos) e dois anos com 3ª e 4ª Séries (atuais 4º e 5º Anos).

Em 2007, atuava como professora do Pré, quando houve a mudança de enquadramento das turmas, sendo que seguiu com a turma no 1º ano do Ensino Fundamental de 9 anos. Gostaria de permanecer na mesma instituição escolar, apesar de estar no quadro de RIT, o que não lhe dá essa garantia. Assim, qualquer que seja a instituição em que estará no ano seguinte, pensa em permanecer na função atual, independentemente do ano ou série em que venha a atuar.

TAYANE é casada, está com 47 anos e tem dois filhos (uma de 17 anos e um de 14 anos). Trabalha no Magistério há 21 anos, tendo tido experiência tanto na Educação Infantil quanto nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Na ocasião das entrevistas e no referido ano letivo estava trabalhando somente na Rede Municipal por um período e não quis pedir RIT, apesar de já ter feito o pedido em outros anos e de precisar desse aumento de renda. Sua renda pessoal estava entre R$ 501,00 e R$ 1.000,00 mensais. Faz parte do quadro efetivo da Rede.

Fez magistério em nível Médio e cursou Letras, na UFPR, tendo concluído o curso por volta de 1985. Em 2001, especializou-se em Alfabetização, pela Universidade Tuiuti.

Seu tempo de trabalho em cada etapa foi de aproximadamente: três anos na Educação Infantil com crianças de até 3 anos; 4 anos com crianças entre 3 e 6 anos de idade; dois anos com 1ª e 2ª Séries (atuais 2º e 3º Anos) e 12 anos com 3ª e 4ª Séries do Ensino Fundamental (atuais 4º e 5º Anos), nem sempre como professora regente. Nos últimos anos trabalhou como professora de Artes, como no ano de 2007, atuando com todas as turmas dos ciclos I e II (1º ao 5º Anos). Tem intenções

de manter-se na função atual, contudo em outra instituição, principalmente pela distância e deslocamento envolvido no trajeto da casa para a escola.

O grupo de professoras entrevistadas tem em comum o fato de a formação inicial ser em nível Superior e a formação antecedente, em nível Médio, lhes conceder a habilitação em Magistério. Entre as seis professoras, a média de idade é de aproximadamente 40 anos, indo dos 31 aos 47 anos. Entre as seis professoras entrevistadas, cinco estavam casadas e uma solteira, no período da realização das entrevistas. Maria Luiza e Paula, sendo a primeira casada e a segunda solteira, não têm filhos. Já Tayane, Cintia, Fernanda e Beatriz, casadas, têm dois filhos cada uma. A filha mais nova de Beatriz estava, no ano de 2008, matriculada no 1o ano do Ensino de 9 anos em uma escola particular.

O tempo médio de docência entre elas foi de 18 anos, sendo o menor tempo de experiência o de 13 anos e o maior o de 21 anos, não podendo ser consideradas professoras em início de carreira. Todas as professoras referiram ter a intenção de manter-se futuramente na função atual. Fernanda, Cintia e Maria Luiza pretendem permanecer na mesma escola, assim como Beatriz, que, contudo, referiu querer trabalhar com alunos de outra faixa etária (com mais idade). Paula, por estar na escola na modalidade de RIT, conta com a eventualidade de ter que mudar de unidade escolar. Tayane indicou o desejo de trocar de escola para trabalhar mais próxima à sua residência. Contudo, indicou na entrevista que seria muito bom ter outra turma de 1o ano, no sentido de ter a possibilidade de seguir melhorando seu trabalho para com esta faixa etária.

Verificando as especificidades da formação inicial das professoras, observou-se que três delas cursaram instituição pública, duas cursaram instituição particular e uma delas fez um curso ofertado em parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e uma universidade pública, que de certa forma mescla formação inicial

com formação em serviço49. Entre as habilitações em nível Superior estão: o curso de Pedagogia, concluído por quatro professoras; o curso Normal Superior e o curso de Letras, realizados por uma professora cada um. Cinco professoras concluíram cursos de Pós-graduação lato sensu, entre os anos de 1998 e 2004, sempre em instituição particular, sendo que Beatriz fez especialização em Psicopedagogia;

Cintia, Maria Luiza e Fernanda fizeram especialização em Educação Infantil e Séries Iniciais e Tayane fez especialização em Alfabetização.

Os dados acerca dos cursos de especialização permitem inferir que há uma carência em sua oferta por parte de instituições públicas, locais. Apesar de metade do grupo pesquisado ter concluído a graduação em universidade pública, nenhuma das professoras do grupo cursou pós-graduação lato sensu em instituição do mesmo segmento. O ônus do curso de Especialização é exclusivamente do professor, o que significa uma despesa alta em relação à percepção salarial.

Em relação à experiência com as duas primeiras etapas da Educação Básica, todas as professoras vivenciaram a docência na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. O tempo de trabalho com crianças com até os 6 anos de idade estava entre 2 e 12 anos de atuação.

Metade do grupo – Cintia, Fernanda e Paula – trabalhavam dois períodos como professoras na própria Rede Municipal. A outra metade – Tayane, Maria Luiza e Beatriz – trabalhava um período. A renda mensal variava de R$ 501,00 a R$

2.000,00. Nenhuma das professoras desenvolvia outra atividade remunerada, além da docência.

Os dados referentes ao perfil das professoras entrevistadas levantados na presente pesquisa, cotejados aos dados do Censo (BRASIL, 2003), revelam sintonia no que diz respeito: à idade média dos professores que atuavam na Educação

49 O curso – Normal Superior – foi oferecido exclusivamente para professores da Rede Municipal que ainda não tinham formação superior específica para atuação com as séries inciais, em modalidade semipresencial, a distância.

Básica, sendo que a maioria, 74,4% dos que responderam ao Censo, tinha até 44 anos de idade; à carga horária de trabalho, que era de até 20 horas semanais, para 51,2% dos docentes que responderam ao levantamento; à renda familiar, sensivelmente superior em relação à média da população, pois o Censo indicou que 65,5% dos professores contava com uma renda familiar mensal de dois a dez salários mínimos e 36,6% de cinco a dez salários mínimos. Na presente pesquisa não se dispõe desse dado, mas ele pode ser inferido a partir da informação sobre a renda pessoal mensal das professoras entrevistadas (não inferior à faixa entre R$

500,00 e R$ 1.000,00). A intenção, ao se fazer este comparativo, foi apenas considerar aspectos comuns entre o grupo de professoras entrevistadas e o perfil do professor brasileiro levantado pelo Censo e não buscar generalizações mediante os dados qualitativos a serem apresentados.