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PROFISSÃO? – GESTOR

No documento Política e Negócios (páginas 49-61)

O Presidente do Conselho de Administração falou com o Director, comuni- cando-lhe que o Presidente do Conselho Directivo não concordava com a decisão do Ministro, que teve a ousadia de acusar o Administrador-Delegado de ter convencido o Chefe dos Serviços a imputar as responsabilidades ao Gestor do Programa. Em resposta, o Presidente do Conselho Executivo falou com a empresa responsável pelo fornecimento, que, na pessoa do seu gerente, cancelou de imediato o contrato. Já se ouve falar em fraude.

Se de repetente alguém perguntar a profissão a um gestor de facto e de formação, tenho sérias dúvidas na resposta que dará. Imagine-se o seguinte quadro situacional: António (nome fictício), licenciado em Gestão, responsá- vel pela gestão de uma unidade fabril, entra nas urgências de um hospital e perguntam-lhe: “Profissão?”, que será que ele responde? “- Gestor?”. Tenho dúvidas.

Se esse gestor de facto, for licenciado em economia, vai responder de imediato “economista”. Se responder “gestor” (independentemente da formação ou exercício da função), no mínimo, o zeloso funcionário vai olhar de soslaio, isto, se não estiver mais ninguém na sala de espera a ouvir a conversa. Qual será a razão para tais reacções? Parece-me elementar.

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Desconhecendo em parte a organização dos outros países, pelo menos em Portugal todos podem ser gestores, e bem. Admito que o gestor possa ser visto como o engenheiro no seio da realidade económica, e bem. A gestão estratégica de uma qualquer instituição pode ser feita por quem quer que seja, independentemente da área de formação, cultura, percurso profissio- nal,…, e bem. Agora o que ainda não percebi (ou talvez já tenha percebido), é qual a razão que leva a que muitos desses “gestores de facto” não tenham um “gestor de formação” por perto, e a hierarquia passe directamente do estratega para o operacional.

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Um paradigma contextual: Até há bem pouco tempo não percebia qual a razão dos professores das escolas exigirem ter a exclusividade de só eles poderem vir a ser Directores das mesmas (não percebia, e ainda não percebo!). É que eu sempre pensei que aquilo que um professor mais desejava fazer enquanto profissional, era, justamente, dar aulas!

…Mas que há excelentes Directores de escola, ai isso há, e são profes- sores.

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Então, impõe-se uma questão: “Evitar-se-iam muitas fraudes se os gestores de profissão também o fossem de formação?”

Vale a pena pensar nisto…

Henrique Santos 2010-11-23

ESTRATÉGIAS

Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável”, é máxima

associada a Séneca (filósofo que viveu em Roma durante o auge do Império Romano, entre os anos 4 a.C. e 65 d.C.), que põe em evidência uma noção de grande importância, que compreende a necessidade de ao longo das nossas vidas irmos definindo objectivos e, correlativamente, as estratégias para os ir alcançando.

Apesar de não ser propriamente grande especialista nos territórios da economia ou da gestão, correndo por isso mesmo o risco de fazer afirma- ções tecnicamente menos correctas, não quero no entanto deixar de tecer e partilhar algumas reflexões, necessariamente de carácter empírico, que considero importantes nos tempos presentes relativamente à realidade que atravessamos (por vezes interrogo-me se não será a própria realidade que nos está nos atravessar?).

O exemplo mais simples e porventura mais palpável que podemos encontrar acerca da importância de definirmos objectivos e delinearmos as correspondentes estratégias para os alcançar, está, para não irmos mais longe, em cada um de nós, nomeadamente na relação que vamos mantendo com o contexto da nossa vida. Se fizermos agora, neste preciso momento, um pequeno exercício de auto-reflexão, conseguimos identificar rapidamente um conjunto de objectivos (mais ou menos realistas e a cumprir em futuros mais ou menos próximos) que nos propomos ir alcançando em função de estratégias que consideramos ajustadas e que vão dependendo das circuns- tâncias que se nos vão deparando a cada momento.

Digamos, traduzindo por termos mais mundanos, que os objectivos são metas que desejamos alcançar e as estratégias são os caminhos que vamos trilhando para lá chegar. O exemplo mais simples é de uma viagem. Imaginemos, por exemplo, que nos encontramos em Lisboa e pretendemos ir ao Porto. Chegar ao Porto passa a ser o objectivo, e a forma como iremos

fazer o percurso entre as duas cidades, a estratégia. Importa ainda que se conheçam as circunstâncias em que nos encontramos para que possamos escolher a melhor estratégia. Assim, se se trata por exemplo de uma deslocação em trabalho, que nos obrigue a estar no Porto num determinado momento, teremos de escolher a forma de deslocação mais apropriada em função desse critério. Poderemos utilizar o avião, o comboio ou o automóvel, enfim o meio de transporte que melhores garantias nos dê de estarmos lá, no local, dia e hora aprazados. Porém, se a viagem se projecta num contexto de passeio de fim-de-semana ou mesmo de férias, a estratégia será, muito provavelmente, diferente. Utilizaremos pela certa o nosso automóvel, para evitarmos limitações de vária ordem, nomeadamente de horários. É também muito natural que seleccionemos pontos intermédios para paragem, para almoçar num determinado local, ou até para visitar uns familiares que vivam algures a meio do percurso. De uma forma ou de outra, havemos de alcançar o nosso objectivo, que é chegar ao Porto.

Obviamente que este processo não é assim tão linear, até porque por vezes cruzamo-nos com factores imponderáveis, de todo não previstos nem previsíveis, que nos obrigam a ter que alterar tudo, como por exemplo termos de ficar retidos horas a fio devido a um acidente na estrada. Porém e apesar de não ser uma aritmética constante, em que dois mais dois nem sempre são quatro, julgo que possamos facilmente aceitar que, pelo menos em termos abstractos, a vida de cada um de nós tende a decorrer dentro de um fio condutor que obedece a uma lógica com estas características. Vamos definindo diversos objectivos, de preferência realistas (alcançáveis), das mais diversas ordens (na escola, no trabalho, nas férias, nas compras, na relação com os outros, etc.), a alcançar em futuros mais ou menos distantes, e, em cada dia, vamos dando pequenos passos no sentido de os ir concretizando. É assim a vida de cada um de nós, individualmente e a das nossas famílias, e deverá ser assim também relativamente aos grupos de que fazemos parte, nomeadamente nas organizações onde trabalhamos ou onde desenvolvemos outra qualquer actividade, ou simplesmente com que nos identificamos (o clube de futebol, a associação cultural e recreativa, etc.) e na vida da própria sociedade de que fazemos parte, ou ainda, porque não referi-lo (sobretudo num tempo de globalização marcado pela quebra de fronteiras), numa região do globo ou, utopia das utopias, relativamente à própria humanidade, numa espécie de desígnio do homem ou “sentido da vida”.

53 CONTEXTOS PROPÍCIOS À FRAUDE

É evidente que para lá de poder não ser assim tão linear, como já se disse, este processo tende ainda a ser tanto mais complicado quanto mais alargada seja a dimensão dos grupos e das organizações que consideremos. Quanto mais pessoas estiverem envolvidas, mais difícil se torna a estabilização de objectivos realistas a alcançar pelo grupo, o alinhamento das vontades das pessoas envolvidas em função de tais objectivos (entroncam aqui, por exemplo, aspectos tão importantes como os da liderança, ou as expectativas sociais) e a definição e implementação das estratégias de acção do grupo, que hão-de permitir alcançar tais objectivos.

A verdade porém é que muito provavelmente, em reflexo dos efeitos profundos do processo de globalização, estamos, um pouco por todo o mundo, a atravessar um período histórico em que os sujeitos são capazes de reconhecer os seus próprios objectivos e estratégias, bem como os das suas famílias e porventura dos grupos de que fazem parte, parecendo de reconhe- cimento mais improvável os objectivos e as estratégias de âmbito nacional. Se questionarmos um qualquer cidadão do mundo, ou muito me engano ou provavelmente não saberá dizer para onde o seu país se dirige, nem, pelo menos, para onde pretende dirigir-se, que caminhos tenciona percorrer para lá chegar, nem que dificuldades possa encontrar nessa caminhada.

É afinal um dos reflexos do processo de anomia que identifiquei em textos anteriores e que tem caracterizado as profundas mudanças nos modelos de organização económica, política, social e cultural. Já não reconhecemos os modelos que contextualizaram a formação da nossa identidade social, mas ainda não somos capazes de identificar aqueles que os estão a substituir.

A ser verdadeira esta percepção, vão-nos restando apenas os objecti- vos e estratégias individuais e de grupo, ficando em suspenso aquela parte dos objectivos e das estratégias, que também devem existir, que derivam ou que se alicerçam nos de âmbito mais alargado. É que são eles, os de âmbito mais alargado, que de alguma forma nos ajudam a olhar para mais longe, a podermos esboçar algumas linhas de horizonte mais longínquo, a podermos antecipar, com um mínimo grau de certeza, os quadros futuros para nós próprios e sobretudo para os nossos filhos. São esses quadros que criam expectativas positivas de acção e de certa forma nos impelem com confiança para o futuro, numa certa convergência de objectivos e de estratégias.

Sinto estarmos todos numa espécie de “jangadas de pedra”, parafra- seando José Saramago, que vão navegando mais ou menos à deriva, ao

sabor dos ventos, das correntes e das marés, sem grandes rotas traçadas, dentro das quais vão viajando os povos correspondentes, cujos sujeitos se vão ajeitando da melhor forma possível, em função do ajeitamento uns dos dos outros e dos solavancos provocados pelo temporal que se vai acentuando precisamente através dos fortes ventos e da agitação do mar (causados pelas movimentações das “jangadas”, ou seja, pelo mundo em mudança profunda). Neste contexto, as barcas que não conseguirem definir rapidamente o seu rumo, ou seja que continuem sem definir os seus próprios objectivos e estratégias, correm alguns riscos de poderem vir a ser arrasta- das para uma espécie de “naufrágio”.

Creio que está em nós (em todos nós e em cada um de nós), nas institui- ções, na sociedade civil, nas redes sociais, a capacidade para unirmos esforços tendentes à redefinição dos nossos objectivos comuns e das estratégias para os alcançar. Mais do que nunca, este parece ser um tempo em que necessitamos de o fazer.

Numa altura em que as relações e os modelos económicos, políticos, sociais e culturais se encontram em remodelação profunda um pouco por todo o mundo, presume-se particularmente importante que cada país entre numa espécie de processo de análise prospectiva de auto-reflexão objectiva e realista sobre o quadro das suas potencialidades de desenvolvimento susten- tável naquelas áreas – aquilo que os gestores e universitários designam como a envolvente interna – e os quadros prospectivos de desenvolvimento dos restantes países e regiões do globo – a envolvente externa, represen- tada nestas linhas pelos ventos, marés e correntes oceânicas –. Entre nós, este levantamento tem sido objecto de sucessivas reflexões, muitas delas acompanhadas pela comunicação social. Importa pois considerar de forma objectiva e isenta os diversos elementos conhecidos e outros que careçam de maior aprofundamento, e, com base nesses dados e nas expectivas das pessoas, dar forma ao processo de concretização de um quadro realista e de amplo consenso social, para que as vias de solucionamento da crise em que nos encontramos mergulhados dependam sobretudo de nós e sejam função e desígnio com que nos identifiquemos.

Termino com uma passagem de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol (ed. de 2008, da editora book.it, pág. 59), quando, em diálogo com o Gato de Cheshire e sentindo-se perdida, Alice lhe pergunta:

55 CONTEXTOS PROPÍCIOS À FRAUDE

– Poderias dizer-me, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui?

– Isso depende muito de para onde quiseres ir – respondeu o Gato. – Não me interessa muito para onde … – retorquiu Alice.

– Então, não importa para onde vás – disse-lhe o Gato.

– … contando que vá dar a algum lado – completou Alice, à laia de explica- ção.

– Ah, podes ter a certeza de que vai lá dar – disse o Gato –, mas só se caminhares o suficiente.

António João Maia 2011-03-17

Em 1981 os TAXI, uma das primeiras bandas rock portuguesas, editavam o seu primeiro disco de originais (TAXI, polygram discos), do qual veio a ficar particularmente conhecido o “Chiclete”. Do alinhamento desse disco faz também parte o tema “Vida de Cão”, cuja letra se inicia com a seguinte passagem:

Neste monte de ferro e aço Onde tudo me parece igual Ninguém liga para o que eu faço Mesmo que tudo seja intencional

Para lá de um certo e natural espírito de rebeldia próprio da idade dos músicos e sobretudo dos destinatários das músicas, parece óbvio (sobretudo visto daqui, trinta anos depois) que o tema procurava explorar uma certa monotonia nos estilos e nas opções de vida que os anos oitenta começavam a evidenciar, de forma muito particular nas grandes cidades.

De então para cá e muito por força do efeito de contágio caracteriza- dor do processo de globalização, temos vivido num mundo que tem vindo a acentuar essa monotonia padronizada dos estilos de vida, sobretudo no modelo cultural ocidental. Neste sentido, a globalização pode ser também perspetivada como um processo de normalização dos estilos de vida das sociedades e das pessoas. Por isso não há já grandes dúvidas relativamente ao facto de estarmos a viver num contexto da sociedade de plástico, no sentido em que tudo (tudo o que possamos imaginar) se encontra normali- zado, estandardizado, pronto a consumir, com uma capacidade de gerar quadros de vivência individual e colectiva de elevada previsibilidade e segurança, quer nas opções, quer nas expectativas, no sentido referido por Giddens em “As Consequências da Modernidade” (2000; editora Celta).

57 CONTEXTOS PROPÍCIOS À FRAUDE

A sociedade de ferro e aço, onde tudo parecia igual, dos anos 80, evoluiu e deu lugar à sociedade de plástico. Vivemos agora como seres encerrados em “bolhas”, em ambientes assépticos, com elevados índices de conforto e de

conformidade, que podem ler-se por exemplo nos nossos próprios compor- tamentos e nas expectativas que temos relativamente aos comportamen- tos dos outros. Cada vez mais assimilamos (ou vamos sendo assimilados), sem nos darmos conta, da enorme ritualidade cíclica (grande parte dela oca em si mesma) que tem vindo a tomar conta da nossa existência. A hora de levantar, a hora de comer, a hora de trabalhar, a hora de descansar, a hora de ir ao cinema, a hora de ir ao ginásio, a hora de estar com a namorada, a hora de estar com os amigos, a hora de ir ao café, a hora de estar com a família, enfim tudo muito bem arrumadinho e compactado nas nossas agendas diárias, tornando a vida de cada um de nós numa espécie de correria, sem que saibamos exactamente para onde corremos, ou muito simplesmente porque corremos. Hoje é, por exemplo, possível comer pizzas, cachorros,

massas, hambúrgueres exactamente com o mesmo sabor, os mesmos ingredientes, o mesmo processo de confecção e os mesmos acompanha- mentos em qualquer cidade do mundo. As principais marcas de vestuário, calçado, automóveis e tecnologia (televisores, telemóveis, computadores, etc.), os filmes, as músicas e os livros são os mesmos um pouco por todo o lado, como refere Naomi Klein em “No Logo” (2000; editora Relógio d´Água).

Tudo se tem padronizado. Ritos, estilos de vida, formas de ser e de estar, locais a frequentar e sobretudo sinais e exibir (roupas, sapatos, perfumes, automóveis, locais de férias, etc.). Até as formas de pensar, nos casos em que ainda sobre tempo para tal, parecem evidenciar alguma padronização, sinal que não deixa de ser inquietante. É precisamente a este enquadramento de um certo contexto de formatação e homogeneização de todos os aspectos das nossas vidas que apelido de “bolha” de plástico, que nos rodeia e que nos

vai mantendo como que plastificados, sem que grande parte de nós tenha sequer consciência deste efeito.

Por outro lado, acresce também que o mundo que criamos e que susten- tamos é também ele cada vez mais virtual, no sentido em que temos deixado de contatar directamente com a natureza nas suas formas puras, naturais ou brutas. Os poucos contactos que ainda vamos tendo nas cidades (não esqueçamos que a maioria das populações vive nas cidades) são os jardins, ainda assim espaços também arranjados e produzidos à nossa medida. O dedo do homem está cada vez mais um pouco por todo o lado.

Tudo isto é naturalmente reflexo da nossa capacidade para ajustarmos o mundo e tudo o que nele se encontra em função das nossas necessidades. Se olharmos para o processo evolutivo da humanidade, desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, verificaremos que ele se tem desenvolvido sobretudo em torno da busca de soluções de adaptação do mundo à melhoria do conforto e da qualidade de vida do homem, quer em termos individuais, quer em termos coletivos (do cultural e do social).

Em “A divisão do trabalho social” (1984; editorial Presença – original

de 1893), Émile Durkheim verifica que tem sido a capacidade do homem em segmentar o trabalho nas inúmeras actividades especializadas que conhecemos que tem permitido e suportado toda a evolução deste modelo de desenvolvimento tecnológico, social, económico e cultural, de elevação dos índices de conforto e do desenvolvimento dos padrões de vida das populações.

Não se defende que, em si mesmo, este processo seja mau. Bem pelo contrário. Ele tem-se revelado óptimo! Apesar das incongruências e dos desníveis que ainda se verificam, e que vamos conhecendo por exemplo através da comunicação social, nunca como no presente o homem teve padrões de vida com índices de qualidade tão elevados. Porém, e é neste ponto que verdadeiramente importa deter a reflexão, todo este contexto em que nos encontramos mergulhados aparenta ter um efeito anestesiante sobre a capacidade natural para a resolução de novos problemas, designa- damente quando estes se tornam verdadeiros desafios, como aparentam ser muitos dos efeitos derivados do contexto de mudança profunda que o mundo atravessa.

Esta ilusão de controlo da realidade, alicerçada na vivência dentro de “bolhas” de plástico, como se referiu, em que todas as nossas necessidades

são facilmente supridas por um mercado que as produz (vale a pena referir, a propósito das nossas necessidades e da forma como elas são criadas e mercadejadas, José Saramago em “A Caverna” (2000; editorial Caminho: pág. 282), quando escreve que “na fachada do Centro, por cima das suas cabeças, um novo e gigantesco cartaz proclamava, VENDER-LHE-ÍAMOS TUDO QUANTO VOCÊ NECESSITASSE SE NÃO PREFERÍSSEMOS QUE VOCÊ PRECISASSE DO QUE TEMOS PARA VENDER-LHE”, numa referência crítica muito clara à existên- cia de uma lógica de mercado associada ao processo de integração social, ou, de edificação da “bolha”, no sentido que temos vindo a descrever) tende

a criar uma espécie de armadilha da nossa existência individual, social e cultural, que nos tolda, conferindo a tal noção ilusória de controlo absoluto

59 CONTEXTOS PROPÍCIOS À FRAUDE

sobre tudo o que nos rodeia e que nos deixa mergulhados numa espécie de cegueira, autênticos “ilusionados”, incapazes de olhar para fora ou para lá

das paredes da “bolha”, nomeadamente para questionar a própria realidade,

para equacionar hipóteses de resposta, para imaginar soluções alternativas, para debater ideias fora deste contexto. A “bolha” tende a limitar a nossa

capacidade de pensar fora da caixa - “thinking outside the box”.

Temos de fazer um esforço. As dificuldades resultantes da mudança precipitada do paradigma em que tem assentado o modelo social, económico e cultural e os problemas que se têm suscitado carecem que esta “bolha” se

quebre, para que voltemos a ter a capacidade de ver mais além e sobretudo de ver com olhos de ver, de questionar, de reequacionar, de debater os novos desafios e as hipóteses de resposta fora da caixa.

Curiosamente, ou talvez não, toda esta crescente padronização de ritos, ritmos, imagens, expectativas, formas de estar, de pensar e de agir, ocorre num contexto em que cada vez mais se acredita viver em liberdade. Parece de facto verificar-se uma tendência para a libertação do determinismo biológico na medida em que o controlo e o domínio do mundo que nos rodeia, através de uma capacidade tecnológica para moldarmos e construirmos os nossos

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