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Profissionais da cultura

No documento Produção e Comunicação Cultural (páginas 71-73)

PARTE II. Enquadramento teórico

4.4. Profissionais da cultura

O conjunto de atividades e ações incluídos nos sistemas culturais tem exigido a formação de profissionais e agentes específicos e qualificados, que possam responder às necessidades existentes nestes mesmos sistemas, como já foi possível constatar.

Na linha das ideias defendidas por Antonio Gramsci, no que diz respeito aos intelectuais da cultura e suas atividades, essas atividades podem ser classificadas da seguinte forma:

A criação cultural está associada aos intelectuais, aos cientistas, aos artistas (…); a transmissão, difusão e a divulgação da cultura cabe aos educadores e professores e, mais recentemente, aos profissionais da comunicação e aos media; a preservação da cultura - material e imaterial - requer arquitetos, arquivadores, bibliotecários, etc. A reflexão e a investigação da cultura é realizada por críticos culturais, estudiosos e pesquisadores; a gestão da cultura supõe a existência de administradores, economistas, etc. A organização da cultura exige a presença de um tipo de profissional especializado: o produtor (…) cultural. (Rubim, 2005, p. 18)

O único intelectual que não necessita de formação profissional, e que por isso constitui uma exceção no sistema cultural, é o consumidor, sendo que a sua atividade não requer uma especialização profissionalizada, dependendo somente da sua instrução.

4.4.1. Criadores, promotores e produtores ou organizadores culturais

Tem-se falado, nos pontos anteriores, da importante questão dos profissionais da cultura e, por isso, torna-se importante perceber que tipos existem e quais as suas funções - sendo que só recentemente se despertou para a necessidade de uma formação especializada e qualificada nesta área.

Como já referido atrás, existem várias atividades dentro de um sistema cultural, que compreendem inúmeras ações destinadas a profissionais especializados e qualificados, que possam desempenhar tais funções de forma satisfatória. Podemos, então, enumerar as várias ações que requerem esse tipo de profissional, sendo elas: a criação, a difusão ou divulgação, a preservação, a investigação e reflexão, a gestão e, por último, a organização cultural. Como referia Rubim na citação anterior, a criação cultural diz respeito aos cientistas, aos intelectuais e aos artistas, a quem cabe a função de fazer cultura; de criar bens culturais. A difusão ou divulgação fica a cargo dos professores, educadores e profissionais da comunicação, como é o caso dos jornalistas, relações públicas, marketeers e publicitários. Na preservação da cultura, seja ela material ou imaterial, são necessários arquitetos, engenheiros civis, restauradores, bibliotecários e arquivadores. Os investigadores, estudiosos, filósofos e críticos, por sua vez, são os responsáveis pela investigação e reflexão. Na questão da gestão da cultura, são necessários gestores culturais, administradores e economistas. Por fim, a organização cultural requer o trabalho de produtores ou organizadores culturais. No entanto, quero-me apenas focar em três aspetos da ação cultural, sendo eles a criação, a difusão ou divulgação e a organização.

Os criadores, ou artistas, são então os responsáveis por criar cultura, e nos quais incluem-se os músicos, pintores, escultores, artistas plásticos, realizadores, encenadores, atores,

coreógrafos, bailarinos, escritores, poetas, fotógrafos, designers e estilistas. Na difusão ou divulgação da cultura, os responsáveis são os jornalistas, relações públicas, promotores, marketers e publicitários. Quanto á organização cultural, ou como debatido no ponto 3.2.2 do capítulo 3 – produção cultural –, são os produtores ou organizadores culturais os profissionais responsáveis.

Quanto aos promotores culturais, aqui destacados como difusores ou divulgadores da cultura, pode-se ser, comumente, associado o “animador cultural” que, não sendo propriamente o mesmo, também poderá não ser tão distante assim, como refere Linda Rubim, na obra

Organização e Produção da Cultura: “a organização da cultura exige a presença de um tipo de

profissional especializado: o produtor ou promotor ou ainda animador cultural” (Rubim, 2005, p. 18). O animador cultural é, então, um profissional que poderá exercer duplamente as duas funções, a de promotor e a de animador – quando o seu trabalho é o de animar, per si, um evento específico.

A ASTA – Associação de Teatro e Outras Artes trata-se de uma pequena companhia que, na altura do meu estágio curricular, empregava oito profissionais a tempo inteiro, e que, atualmente, emprega apenas três. No período em que lá estive, as tarefas eram distribuídas de acordo com a especialização e competências de cada um dos profissionais empregues, sendo, por exemplo, o trabalho técnico e de montagem destinado apenas ao profissional especializado para isso, o trabalho de representação, destinado a um ator profissional e o trabalho de comunicação e publicidade destinado, neste caso, a mim. No entanto, atualmente, as mesmas tarefas são distribuídas pelos três profissionais empregues, sendo que alguém responsável pela criação terá também de assumir funções de produtor e gestor, ou ainda de promotor e divulgador. Este é um caso prático, no qual os profissionais têm de desempenhar várias funções que poderão, muitas vezes, não ser a sua área de especialização.

Capítulo 5

Na sociedade atual, onde as diferenças e desigualdades económicas e sociais são cada vez mais, e por demais evidentes, não só o teatro, mas toda a arte em geral tem sido vista e tratada como algo que não é essencial nem prioritário, sendo relegada para “segundo plano” das preferências e intenções governativas. A arte tem vindo a assumir-se, neste cenário, como um bem de luxo, de cada vez mais difícil acesso, restringida àqueles de maiores posses económicas.

Aqui pode entrar a “velha” questão de que “a arte paga-se”, o que não é errado, pois como em todos os bens e serviços, na arte também é necessário pagar aos criadores, aos produtores e a todos os outros profissionais pelo seu trabalho. Mas levar esta verdade a um nível extremo, ao ponto de só certos segmentos da sociedade poderem ter acesso à cultura, pode não ser o melhor caminho a tomar.

No documento Produção e Comunicação Cultural (páginas 71-73)