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4 CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO E DOS ATORES SOCIAIS.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DA (O)S PROFISSIONAIS INVESTIGADOS.

4.2.1 Profissionais do grupo C: Agentes Comunitários de Saúde.

A(O) agente comunitário de saúde foi incluído na equipe multiprofissional de saúde em 1991, com a criação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) pelo Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde, visando à melhoria da realidade sanitária, na perspectiva de construção e consolidação do Sistema

Único de Saúde (SOLLA; MEDINA; DANTAS, 1996). O PACS foi formulado, tendo como objetivo central contribuir para a redução da mortalidade infantil e materna, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste, através de extensão de cobertura dos serviços de saúde para as áreas mais pobres e desassistidas.

O programa trouxe como inovação uma visão ativa da intervenção em saúde, diante da possibilidade de atuação preventiva em problemas específicos de cada comunidade e, também, oferece a possibilidade de integração com a comunidade e de um enfoque menos reducionista sobre a saúde, não centrado apenas na intervenção médica (SILVA; DALMASO, 2002).

Diante dessas atribuições, um dos critérios exigido para ser um/uma agente comunitário de saúde era residir na comunidade, onde atua. Essa condição foi definida, com o objetivo de facilitar o desenvolvimento das principais atribuições estabelecidas para esse novo profissional, quais sejam:

orientar as famílias para a utilização adequada dos serviços de saúde e informar os demais membros da equipe de saúde acerca da dinâmica social da comunidade, suas disponibilidades e necessidades (BRASIL, 1998, p.18).

A convivência com o contexto da comunidade, com as práticas de saúde locais e, ainda, a formação baseada em referenciais biomédicos atribuem a(o)s ACS um caráter "híbrido e polifônico" (NUNES et al.,2002) que contribui para o fortalecimento de sua atuação como mediador(a) entre a comunidade e os serviços de saúde na implantação e consolidação do novo modelo assistencial.

Diante das características e funções atribuídas aos agentes comunitários de saúde, assim como do interesse em conhecer a comunidade, na qual a unidade está inserida, o trabalho de campo foi iniciado com esse grupo de profissionais. O contato com os agentes comunitários foi facilitado pelo acolhimento da enfermeira supervisora desses profissionais (uma colega do curso de graduação em enfermagem) que contribuiu para a integração com o grupo. Iniciar a produção de dados empíricos com a(o)s agentes comunitária(o)s de saúde favoreceu a incorporação da condição de pesquisadora com concomitante “afastamento” da condição de docente/profissional de saúde.

A apresentação da proposta de pesquisa para este grupo se deu coletivamente, numa reunião mensal, que faz parte das atividades programadas. Antes da reunião, porém, foi mantido contato com alguns dos agentes, os quais, a princípio, apresentaram um pouco de resistência em participar da pesquisa. A

resistência inicial apresentada centrou-se, basicamente, em situações vivenciadas pelo grupo no seu dia-a-dia com relação ao consumo das drogas, quer como agentes de saúde ou como moradores da área. O temor estava associado a possíveis reações por pessoas ligadas ao comércio de drogas, o que, decerto, resultaria no enfrentamento de situações de riscos pessoais e/ou para familiares. A situação foi comentada da seguinte maneira:

O problema da droga aqui, é sério. E aqui o caso de rixa de rua é mais por causa de drogas [...] então, para nós agentes de saúde, o risco é maior [...] Tem momentos que é preciso suspender as atividades (Profissional do grupo C, ACS).

As drogas amedrontam. A comunidade inteira tem medo de sair de casa, inclusive eu também. Eu saio, mas tenho meu horário de sair e ainda digo aos meus filhos, passou de 10 horas fiquem aonde tiver (Profissional do grupo C, ACS).

Durante a reunião, contudo, após exposição dos objetivos da pesquisa e de como seria minha atuação junto ao grupo, as dúvidas foram esclarecidas. Daí em diante, o grupo mostrou-se bastante interessado em participar das atividades da pesquisa, permitindo e facilitando o acompanhamento das atividades diárias e respondendo aos instrumentos de coleta de dados.

O grupo de agentes comunitários de saúde, na época da produção dos dados, era composto por vinte e quatro profissionais, sendo que dois encontravam- se afastados: um à disposição do sindicato e outro, de licença médica. Os demais participaram da pesquisa em momentos diversos.

As características referentes ao perfil sócio-econômico desse grupo podem ser visualizadas no quadro 07. O grupo é formado majoritariamente por pessoas do sexo feminino (19 mulheres). A faixa etária da(o)s participantes varia entre 27 a 45 anos, sendo predominante a faixa de 30 a 39 anos. Em relação à cor da pele, da(o)s vinte dois investigadas(os), cinco se auto definiram como sendo da cor parda, dois mulatos e os demais afirmaram ser da cor negra. A condição de solteira(o) mostra- se predominante entre a(o)s entrevistados(as), embora, alguns desses revelassem, em conversas informais, a existência de parceria fixa com convivência estável por muitos anos. Entre as dezenove mulheres, apenas uma informou não ter filhos, porém cuidava de filhos da irmã, que moravam em sua casa.

Entre a(o)s participantes do grupo C, alguns informaram ter nascido e crescido na comunidade, outros diziam ter mais de dez anos que moravam em

bairros da comunidade e, outros, ainda, revelaram que, mesmo tendo construído casa em outro bairro, permaneciam na comunidade, durante toda a semana, em casa de parentes, afastando-se apenas no final de semana. O conhecimento que demonstraram ter da comunidade confirma a informação prestada pelo grupo, quanto ao local de moradia e está em conformidade com um dos critérios estabelecidos pelo Ministério de Saúde, para atuação como agente comunitário, qual seja, ser morador da área onde vai atuar.

Todos os integrantes do grupo C sabiam ler e escrever em conformidade com critério definido pelo Ministério da Saúde. Alguns tinham segundo grau completo, outros apenas o primeiro grau, correspondendo assim ao nível médio e fundamental de escolaridade. Algumas das agentes continuavam estudando com o propósito de conquistar uma vaga na universidade.

Ordem Escolaridade Sexo Idade Cor Estado Civil Bairro Tempo na unidade

Religião

1 2º C M 33 Negra solteiro Nordeste 9 anos Evangélica. 2 2ª Inc. M 36 Negra Solteiro Nordeste 9 anos Evangélica

3 2º C. M 40 Negra solteiro Nordeste 8 anos Todas

4 2ª inc. M 31 Pardo casado Nordeste 4 anos Católica 5 1º c M 35 Pardo solteiro Chapada 8 anos Catolico 6 2º c. F 28 Negra c/ comp Chapada 3 anos Catolico

7 2º c. F 34 Negra Casada Nordeste 7 anos Todas

8 2º c. F 42 Negra Solteira Chapada 7 anos Católica 9 2ª inc F 45 Negra Casada Nordeste 8 anos Católica 10 2º c F 40 Negra Solteira Nordeste 8 anos Evangélica

11 2º c. F 42 Negra Divorciada Chapada 8 anos Espírita

12 2º c. F 32 Negra Casada Nordeste 7 anos Todas

13 1º c. F 37 Parda Solteira Nordeste 7 anos Católica 14 2º c. F 41 Mulata Solteira Nordeste 7 anos Não informou 15 2º c. F 32 Mulata Casada Nordeste 7 anos Católica 16 2ª inc. F 42 Negra c/ comp. Nordeste 8 anos Católica 17 2ª inc F 44 Negra casada Nordeste 7 anos Espírita 18 2ª inc. F 36 Negra solteira Nordeste 7 anos Candonblé 19 2º c. F 27 Negra solteira Nordeste 8 anos Católica 20 2º c. F 29 Parda solteira Chapada 8 anos Católica

21 2º c. F 34 Negra solteira Chapada 8 anos Todas

22 1ª inc. F 45 Parda casada Chapada 8 anos Católica

Quadro 7 - Caracterização dos profissionais do grupo de C: Agentes comunitários de Saúde.

Em conversas informais, mantidas durante a observação participante, ficou claro que, para a maioria dos(as) participantes desse grupo, a única fonte de renda se constituí no salário que recebem como agentes comunitários. Atrasos freqüentes

no pagamento tornavam-se motivo de insatisfação para realização das atividades e de preocupação para com a sobrevivência familiar. Durante o período da pesquisa, algumas paralisações curtas e greves por mais de duas semanas foram registradas, porém não foi observada nenhuma forma de apoio por parte dos demais profissionais da unidade para esse grupo. Eles entravam e retornavam das greves e/ou paralisações, sem que houvesse nenhuma modificação na rotina da unidade e, também, sem nenhuma solicitação da presença deles por pessoas da comunidade. Os ACS parecem não ter impacto sobre o serviço e sobre a comunidade, pelo menos no contexto estudado.

Para o grupo investigado, a atuação, como agente comunitário de saúde, não se constituiu numa escolha de trabalho, mas como uma das poucas opções de fonte de renda que se apresentaram diante do seu nível de escolaridade e das circunstâncias econômicas e sociais em que vivem. A falta de uma atividade remunerada e de escolha para ingresso na função de agente comunitário de saúde é comentada pelos participantes.

Antes de entrar no PACS eu já tinha 5 anos desempregado. Aí eu estava passando ali no posto do Dique, de saúde bucal e vi um anúncio de inscrição para agente comunitário, eu não sabia nem o que era.[...] na época eu fazia prestação de serviço de voluntário de comissário de menor (Profissional do grupo C, ACS).

Eu tava sem opção de emprego mesmo, tava trabalhando numa locadora e ai, fui e fiquei sabendo da seleção pra agente comunitário. Eu nem ia participar, mas pressão da mãe porque tava desempregado [...] Terminei fazendo a prova e fui aprovado. Não tinha idéia do serviço que ia fazer (Profissional do grupo C, ACS). Hoje, posso dizer que gosto do que faço, mas quando comecei nem sabia o que ia fazer. [...] Estava desempregada, vendia acarajé com minha tia, mas a coisa estava começando e o ponto não era meu. Então apareceu essa historia de agente de saúde, me inscrevi e passei (Profissional do grupo C, ACS).

A atuação da (o)s agentes comunitários de saúde se dá principalmente no espaço da comunidade. A convivência com a clientela no mesmo contexto social e com profissionais de saúde dentro de uma instituição permeada por um modelo de atenção médico assistencial, conduzido por metas predeterminadas, constitui uma característica do trabalho desse grupo de profissionais.

4.2.2 Profissionais do grupo B: profissionais de nível de