Profissionais do grupo A: profissionais de nível de escolaridade superior e com atuação exclusivamente no contexto

institucional.

Durante o trabalho de campo, quarenta e sete profissionais da área de saúde com nível superior atuavam na unidade. Desse total, trinta e três participaram diretamente da investigação, respondendo ao teste de associação livre de palavras e desse total, onze concordaram em responder a entrevista.

Enfermeiras, médico(a)s, assistentes sociais, odontólogas, farmacêuticas e nutricionistas representam as categorias profissionais que atuam na unidade. Pelo menos um(a) representante de cada categoria profissional participou da investigação. Nas categorias com várias especialidades, foi possível envolver profissionais de cada especialidade, como a categoria de médico(a) e de enfermeira. Na unidade atuam médico(a)s das seguintes especialidades: pediatria, hebeatria, angiologia, clínica médica, ginecologia, oftalmologia (esse último, durante o período de trabalho de campo encontrava-se afastado da unidade devido problemas técnicos com o equipamento específico para atendimento). A categoria de enfermagem é representada por enfermeiras que atuam em programas específicos, tais como: atenção à saúde da mulher, crescimento e desenvolvimento da criança, atenção à hipertensão, atenção a diabetes, atenção à tuberculose e, também, no serviço de imunização.

O contato com profissionais desse grupo ocorreu, também, de forma individual e paulatina. Inicialmente, o contato foi feito com enfermeiras que atuavam no programa de atenção à saúde da mulher, com as quais já havia um contato prévio. O contato com a(o)s demais profissionais foi facilitado pelas enfermeiras, por profissionais do grupo B e, também, por iniciativa própria da pesquisadora.

De um modo geral, os únicos profissionais que mostraram resistência em participar da pesquisa foram os da categoria médica. Esses justificavam indisponibilidade de tempo, grande demanda de atendimento e, principalmente, a desculpa de que não trabalhavam com pessoas usuárias de drogas, portanto, pouco ou nada teriam a colaborar com a pesquisa. A/Os profissionais dessa categoria resistiram também, em relação à observação direta no atendimento à clientela.

Assim como os profissionais dos demais grupos, os profissionais que compõem esse grupo são majoritariamente do sexo feminino. Em relação à idade, a faixa etária predominante é a de 50 a 59 anos, seguida das faixas de 30 a 39 e de 40 a 49 anos. Nesse grupo, todos afirmaram ser de cor branca, (Quadro 9) confirmando assim a desigualdade social vinculada à variável raça/etnia entre os grupos, já que nos demais foi registrada a predominância para cores da raça negra.

O nível de instrução, a condição econômica e a categoria profissional parecem contribuir para que esses profissionais adquiram, socialmente, um poder dentro da instituição diferenciado dos demais. Poder esse que se revela na carga horária inferior aos demais profissionais, na autonomia de atender ou não determinada pessoa; na possibilidade de negar-se a fazer atendimentos diante da falta de materiais e ainda de ausentar-se do trabalho, diante da falta de um material ou quebra de equipamento. Esses profissionais, no entanto, estão subordinados a leis e normas, que regem a instituição e que determinam o número de pacientes a ser atendido por cada um, diária e mensalmente.

O tempo de atuação dos profissionais desse grupo na unidade varia de 8 meses a 24 anos, com destaque para cinco profissionais com mais de vinte anos de atuação e de sete deles, com período de atuação entre onze a vinte anos.

Nº Categoria Profissional

Escola ridade

Sexo Idade Cor Estado

Civil Bairro onde mora Tempo na unidade Religião

1 Enfermeira 3º grau F 50 Parda Solteiro R.Vermelho 10 anos Espírita 2 Enfermeira 3º grau F 46 Branca Solteira Graça 8meses Católica 3 Enfermeira 3º grau F 33 Branca Divorciada Pituba 2 anos Católica 4 Enfermeira 3º grau F 33 Branca Casada Politeama 8 meses Católica 5 Enfermeira 3º grau F 47 Parda Casada R.Vermelho 21 anos Católica 6 Enfermeira 3º grau F 35 Parda Casada Pituba 4 anos Católica 7 Enfermeira 3º grau F 56 Branca Solteira R Vermelho 22 anos Católica 8 Enfermeira 3º grau F 43 Parda Solteira Brotas 7 anos Católica 9 Enfermeira 3º grau F 51 amarelo Separada R Vermelho 1 ano Batista 10 M. hebeatra 3º grau F 55 Branca Solteira Candeal 12 anos Católica 11 M. Hebeatra 3º grau F 58 Branca Casada Pituba 3 anos Católica 12 M. Clínico 3º grau M 39 Branco Casado Graça 1 ano Católico 13 M. Clíníco. 3º grau F 49 Negra Divorciada Itapuã 14 anos Espírita 14 Ginecologista 3º grau F 38 Parda Casada Brotas 5 anos Católica 15 Ginecologista 3º grau F 43 Parda Casada Itapuã 5 anos Eclética 16 Ginecologista 3º grau F 50 Branca Casada Candeal 24 anos Católica 17 M. Hebeatra 3º grau F 55 Branca Solteira Graça 1 ano Católica 18 Ginecologista 3º grau F 56 Branca Casada R Vermelho 1 ano Católica 19 Angiologista 3º grau M 56 Branco Casado Itapuã 10 anos Católico 20 M. Pediatra 3º grau F 57 Parda Casada Pituba 23 anos Católica 21 M. Pediatra. 3º grau F 48 Branca Casada Pituba 8 anos Batista 22 Dentista 3º grau F 44 Branca Casada Itaigara 2 ano Protestante 23 Nutrição 3º grau F 44 Branca Casada Canela 22 anos Católica 24 Nutrição 3º grau F 38 morena Casada Pituba 2anos Católica 25 Dentista 3º grau F 30 Parda Solteira Brotas 3 anos Batista 26 M. pediatra 3º grau M 51 Mulato Casado Itaigara 20 anos Espiritualista 27 A. Social 3º grau F 55 Branca Casada Itaigara 4 anos Católica 28 A. Social 3º grau F 38 Afro Solteira Federação 5 anos Espírita 29 A. Social 3º grau F 60 Branca Divorciada Graça 20 anos Católica 30 Farmácia Hos 3º grau F 34 Parda Separada Centenário 2 anos Católica 31 Farmácia Hos 3º grau F 58 Branca Divorciada Canela 12 anos Evangélica 32 Bioquímica 3º grau F 34 morena Solteira Federação 5 anos Batista 33 Bioquímica 3º grau F 29 Parda Solteira Pituba 3 anos Católica

Quadro 9 - Caracterização dos profissionais do grupo A

Essa informação aponta para vasta experiência dos profissionais do grupo, consolidada ao longo do tempo. O local de moradia desse grupo de profissionais também é diversificado. De um modo geral, moram em bairros considerados socialmente como “nobres”, onde habitam pessoas de classe média alta e/ou alta,

com boa infra- estrutura e condições sanitárias. Embora de forma menos enfática, alguns profissionais desse grupo relataram situações relacionadas com o consumo das drogas, no bairro onde moram e/em locais próximos com as mesmas características.Embora de forma menos enfática, alguns profissionais desse grupo relataram situações relacionadas com o consumo das drogas, no bairro onde moram e/em locais próximos com as mesmas características.

As informações apresentadas assinalam que o problema das drogas não está restrito a uma determinada classe social ou a uma determinada região geográfica da cidade. As informações revelam a expansão das drogas e sua disseminação entre pessoas de diferentes sexos, idade, cor/raça, religião, nível de escolaridade.

Com relação à situação conjugal, a maioria das pessoas afirmou ser casada(o) e ter filhos. Algumas das entrevistadas, independente de estar ou não casada, mas, na condição de mãe, esboçam preocupação com os filhos, diante da problemática estudada e da expansão do consumo de drogas no mundo globalizado.

Esse é um negócio (as drogas) que deixa a gente assim assustada, como pessoas engajadas na sociedade, como mãe que sou, com filhos adolescentes que a gente tem que manter um processo de vigilância muito grande, pra que eles também não se vejam tentados a isso. Porque nem sempre o uso de drogas se dá muito distante, muitas vezes ele está assim pertinho e você não está percebendo e quando percebe, a coisa já está avançada (Profissional do grupo A, médica clinica).

No mundo, o consumo tem aumentado assim estupidamente. Fica todo mundo assim muito alerta. Porque os pais sabem dos riscos que os filhos podem correr em relação a isso. Minha filha tem 8 anos só, mas eu fico assim muito assustada e preocupada..(Profissional do grupo A, enfermeira).

A maioria dos componentes desse grupo afirma ser adepta(o) da religião católica. Não houve, nesse grupo de profissionais, nenhuma referência à religião, como uma forma de deter o consumo de drogas na população.

Os profissionais desse grupo desenvolvem atividades individuais que são caracterizadas pelo atendimento às queixas trazidas pela clientela, especialmente, quando essa se configura em sinal e/ou sintoma de doença (maiores discussões sobre esta questão serão apresentadas no capítulo 6). Essa prática reproduz o caráter reducionista expressado no modelo hegemônico que norteia as práticas no sistema de saúde brasileiro. A superação desse modelo exige mudanças em uma

visão de mundo e de relações de poder que se estabelecem, sobretudo, entre profissionais e usuária(o)s do serviço.

4.3 RELAÇÕES ENTRE OS PROFISSIONAIS NO CONTEXTO