Em 1985 um grupo de estudantes francês foi desafiado a lançar garrafas ao mar, com o objetivo de saber onde e quantas seriam encontradas e dessa forma tentar perceber as rotas de poluição (ABAE, 2017). As garrafas tinham mensagens sobre o lixo marinho e o seu impacto, bem como um pedido para que quem as encontrasse o reportasse (ABAE, 2017).
Desta iniciativa surgiu a ideia de desenvolver um prémio de reconhecimento ecológico para as praias, portos de recreio e marinas a que chamaram Bandeira Azul. Assim, em 1987, no âmbito do ano Europeu do Ambiente, apoiados pela União Europeia, os 10 países fundadores (França, Irlanda, Grécia, Itália, Portugal, Espanha, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Reino Unido) atribuíram as primeiras Bandeiras Azuis (ABAE, 2017). O programa passou a ser desenvolvido pela “Foudation for Environmental Education in Europe” (FEEE), criada em 1981, numa altura em que as questões relacionadas com a educação ambiental eram uma sombra daquilo em que se vieram a tornar. Em 2001, com a entrada da África do Sul no Programa Bandeira Azul, a FEEE deixou cair o E de Europa e desde aí países de todos os continentes desenvolvem os programas que se juntaram à Bandeira Azul, nomeadamente o Eco-Escolas (1994), os Jovens Repórteres para o Ambiente (JRA) (1994), o Aprender sobre as Florestas (1999) e a Green Key (2003) (ABAE, 2017).
O PBA é então um certificado de qualidade ambiental que distingue o esforço de diversas entidades, no sentido da melhoria do ambiente marinho, costeiro, fluvial e lacustre e implica o cumprimento de diversos critérios (FEE, 2019). As entidades que podem promover e candidatar a este programa, designadas como promotores, são os municípios, os portos de recreio, as embarcações ecoturísticas ou as marinas.
Os critérios de atribuição da bandeira, atualmente 33, têm sido revistos e atualizados ao longo dos 32 anos de existência do programa. Alguns destes critérios são de cariz imperativo e outros apenas guias, possibilitando atingir melhores resultados e agrupando-se em 4 categorias (Anexo II.1):
• Educação e Informação Ambiental, • Qualidade da Água Balnear, • Segurança e Serviços e
• Gestão Ambiental e equipamentos.
Com estes critérios pretende-se promover a participação dos utilizadores de praias, marinas e embarcações em atividades de educação ambiental, implementar medidas de
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segurança e sistemas de gestão ambiental, monitorizar as condições ambientais visando reduzir o impacto da atividade humana nas praias, promover parcerias e compromissos no sentido do desenvolvimento do turismo sustentável. “Em suma, informar, sensibilizar, envolver e agir em prol dos oceanos e das praias é a missão dos 49 países que desenvolvem o Programa Bandeira Azul” (ABAE, 2017).
Os critérios da Bandeira Azul destinam-se a trabalhar em consonância com a legislação ambiental nacional, regional e local de cada país, assegurando assim, que a legislação é sendo seguida, podendo também ser usada para estabelecer um padrão de referência superior ao que já existe (Van Dijk, 2009).
Em Portugal o PBA é desenvolvido pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE), uma ONGA, sem fins lucrativos, dedicada à Educação para o Desenvolvimento Sustentável e à gestão e reconhecimento de boas práticas ambientais (ABAE, 2017).
A candidatura é realizada pelos promotores em plataforma online com o envio de toda a documentação exigida, incluindo toda a informação sobre as atividades de educação ambiental, ou seja, quando é realizada a candidatura ao programa (figura 2) todas as atividades têm de estar previamente definidas (Anexo II.2). No ano de 2019 o prazo para apresentação de candidatura foi 15 de Janeiro e a avaliação nacional decorreu até 28 de Janeiro. A avaliação internacional decorreu entre 5 de Fevereiro e 9 de Abril e a decisão foi comunicada aos países uma semana depois. O PBA permitiu o hastear da bandeira a partir do dia 1 de Maio.
Das quatro categorias de critérios do PBA apresentadas anteriormente aquela que tem maior importância e significado é sem dúvida a Educação e Informação Ambiental, isto porque é através da educação e da disseminação de informação ambiental nas comunidades locais que se consegue mudar a consciência ambiental da população e assim mudar atos inconscientes que prejudiquem o ambiente. O próprio programa tem, ao longo destes anos, vindo a aumentar o grau de exigência desta categoria para com os promotores
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do programa. Exemplo disso é a obrigatoriedade de um mínimo de atividades de educação ambiental a realizar, a submissão de um relatório para cada atividade após a época balnear com registo fotográfico e publicitário, com o intuito de provar a realização das atividades e a sua promoção (em 2019, o envio decorre até 31 de Outubro). Em 2019, pela primeira vez, foi necessário, aquando da submissão da candidatura, a colocação de informação sobre a duração (em horas) de cada ação, a verba prevista (em euros) e o número de recursos humanos e de participantes previstos.
Atualmente o programa exige aos promotores do PBA a realização e promoção de, pelo menos, 6 atividades de educação ambiental, distribuídas por quatro grupos/tipos (tabela 2). Destas, duas devem obrigatoriamente trabalhar o tema do ano, anunciado pela ABAE antes da abertura do período de candidaturas.
Tabela 2 - Distribuição das atividades de educação ambiental exigidas pelo PBA pelos vários tipos.
Tipo Designação Nº de
atividades
A Atividades de Sensibilização e Publicação de Informação 1
B Atividades de Participação Passiva 2
C Atividades de Participação Ativa 2
D Atividades de Efeito Multiplicador 1
Todos os anos o PBA tem lançado um tema para desenvolvimento por parte dos promotores do programa em atividades de educação ambiental (tabela 3). Em 2019, o tema do ano é “Do Rio ao Mar sem Lixo”, com o objetivo de sensibilizar para o facto do lixo marinho ter origem em atividades terrestres (cerca de 80%) para as consequências dos comportamentos humanos e para o papel dos rios enquanto ponte de ligação entre terra e mar.
A Diretiva Quadro da Estratégia Marinha da União Europeia, a declaração da Nações Unidas “Nosso Oceano, Nosso Futuro: Convite para Ação” e muitas outras iniciativas internacionais têm vindo a reconhecer o lixo marinho como uma matéria que requer ação urgente, (APA, 2019).
Assente na capacitação cívica e de participação ativa na prevenção e na solução dos problemas ambientais, o PBA 2019 visa a prossecução de todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos na Agenda 2030 nas suas atividades de educação ambiental, nomeadamente no que respeita os objetivos 4 (Educação de Qualidade), 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima), 14 (Vida na Água) e 15 (Vida Terrestre) e também os eixos identificados recentemente na Estratégia Nacional de
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Educação Ambiental 2020, Descarbonizar a Sociedade, Valorizar o Território e Tornar a Economia Circular.
Tabela 3 - Temas do ano do PBA desde 1999.
Ano Tema
1999 Recolha seletiva de resíduos
2000 Preservação das Ribeiras como áreas naturais
2001 Limpeza das Areias
2002 15 Anos da Bandeira Azul
2003 Biodiversidade
2004 “Segurança”
2005 Educação para o Desenvolvimento Sustentável
2006 20 Anos Bandeira Azul
2007 Alterações Climáticas
2008 Alterações Climáticas II
2009 Energias Renováveis
2010 Biodiversidade em Sistemas Aquáticos
2011 Mar, Tradição e Recursos
2012 Turismo Sustentável
2013 Património Natural e Cultural
2014 Poluição dos Oceanos
2015 Faz da MUDANÇA a tua Praia!
2016 30 Anos, 30 Critérios, um objetivo
2017 O teu Planeta é a tua Terra
2018 O Mar que respiramos
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