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1. INTRODUÇÃO:

4.1 Caracterização dos Principais Programas

4.1.3 Programa Educação nos Quilombos

As comunidades remanescentes de quilombolas, que só recentemente passam a ser reconhecidas como comunidades merecedoras das políticas públicas, possuem

dimensões sociais, políticas e culturais significativas, com particularidades no contexto geográfico brasileiro, tanto no que diz respeito à localização, quanto à origem.

Estudos realizados sobre a situação dessas localidades demonstram que as escolas estão longe das residências dos alunos e que as condições de estrutura são precárias, pois, são geralmente construídas de palha ou de taipa (pau-a-pique); poucas moradias possuem água potável, e as instalações sanitárias são inadequadas. Os professores, em sua maioria, não são capacitados adequadamente, e o número é insuficiente para atender a demanda. Em muitos casos uma professora ministra aulas para turmas multisseriadas. Poucas comunidades têm unidade educacional com o ensino fundamental completo.

O levantamento feito pela Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério da Cultura, aponta a existência de 3.754 comunidades remanescentes de quilombos certificadas. Essas comunidades existem em quase todos os estados brasileiros, exceto no Acre, Roraima e no Distrito Federal. Os Estados que possuem o maior número de comunidades remanescentes de quilombos são: Bahia (229), Maranhão (112), Minas Gerais (89) e Pará (81).

De acordo com o Censo Escolar de 2007, o Brasil tem aproximadamente 151 mil alunos matriculados em 1.253 escolas localizadas em áreas remanescentes de quilombos. Quase 75% dessas matrículas estão concentradas na região Nordeste, conforme pode ser verificado nos dados do quadro abaixo.

A educação quilombola está entre o conjunto de grupos sociais e culturais que compõem a Educação do Campo. Os quilombolas são considerados grupos tradicionais e apresentam trajetórias de ausência das políticas do Estado no mesmo nível dos agricultores, ribeirinhos, indígenas e demais sujeitos do campo. No caso dos quilombolas há ainda o agravante da discriminação racial que aliada às outras identidades camponesas, torna-se um dos grupos mais vulneráveis. Em termos educacionais, não se distinguem dos demais sujeitos camponeses. As escolas localizadas nos quilombos, quando existem, apresentam as mesmas condições das escolas dos assentamentos, dos povoados, da aldeia, ou seja, das escolas do campo no que tange à estrutura física, material e humana.

“quando se discutir a educação do campo se estará tratando da educação que se volta ao conjunto dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo, sejam os camponeses, incluindo os

quilombolas, sejam as nações indígenas, sejam os diversos tipos de assalariados vinculados à vida e ao trabalho no meio rural” (KOLLING et al, 1999, p. 17).

As comunidades quilombolas compõem o que tem sido identificado como território camponês, exceção feita para alguns, que localizados em espaços urbanos, não são identificados como comunidades camponesas, mas, urbanas, porém, apenas uma pequena minoria residem nas cidades.

O termo Quilombo tem passado por significativas transformações na forma como tem sido conceituado. O texto base que subsidia a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola, faz um interessante recorte desse processo conceitual. A primeira conceituação do termo data de 1740, no Brasil colônia, e afirmava que quilombo era: “toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados, nem se achem pilões neles” (Texto Base, 2011, p. 12). Porém, essa conceituação foi sendo modificada no decorrer do tempo através das lutas dos quilombolas e das contribuições que estudiosos e pesquisadores foram agregando à discussão.

Outro momento significativo nesse debate refere-se ao decreto nº 3912/2001. Nele, abandona-se a concepção de quilombo como algo constituído por africanos escravizados, mas por outro lado, não apresenta muitos avanços na medida em que determina ser considerado quilombola somente as terras “ocupadas por quilombolas até 1888 e que estivessem ocupadas por remanescentes de quilombos até 5 de outubro de 1988” (Texto Base, 2011, p. 13).

O decreto foi rejeitado por todas as instituições sociais interessadas no assunto, incluindo desde lideranças quilombolas, até juristas preocupados com o cumprimento do artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que garante “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras o reconhecimento a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos” (C. F.B. 1988, p.177). O conceito do termo quilombo vai sofrer alterações novamente com o Decreto nº 4.887/2003. O segundo artigo desse Decreto diz que

Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra

relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida (Decreto nº 4.887, 2003).

Esse Decreto traz, ainda de acordo com o Texto Base, a ideia de terra coletiva. Ele define em seu parágrafo 2o que “São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural” (DECRETO nº 4.887, 2003). Para a atual sociedade,

Quilombos, também chamados de terras de preto, terras de santo ou santíssimo e/ou mocambos, são comunidades negras rurais habitadas principalmente por descendentes de africanos escravizados que mantêm laços de parentesco e vivem, em sua maioria, de culturas de subsistência, em terra doada, comprada ou ocupada secularmente pelo grupo. Valorizam as tradições culturais dos antepassados, religiosas ou não, recriando-as no presente. Possuem uma história comum e têm normas de pertencimento explícitas, com consciência de sua identidade( Texto Base, 2011, p. 14).

Na discussão da Educação Quilombola, também é fundamental compreender a noção de território e terra a partir da concepção quilombola. Para os quilombolas, terra representa possibilidade de fixação, de continuidade. A terra, ao mesmo tempo em que representa história de vida, trajetória de luta, garante o sustento tanto do corpo como da mente, a partir da preservação dos valores hábitos e costumes tradicionais que foram passando de geração a geração, de pais para filhos.

A terra está relacionada com a dignidade, a identidade quilombola, diferente da concepção de terra como mercadoria, como objeto de troca. Deve-se considerar, portanto, as distinções entre terra e território quando pensamos a questão quilombola. Especialmente, quando pensamos a educação quilombola, haja vista, esta dever ter como foco a diversidade e a valorização da identidade étnica como modo de fortalecimento da cultura quilombola.