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A ciência em ação no laboratório Amazônia (1990 )

3.7 Principais fontes de financiamento à pesquisa

3.8.5 Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7)

O Programa PPG-7 foi criado em 1992 através de uma proposta do governo da Alemanha e configurado como uma rede internacional de pesquisa. Para a gestão de suas atividades no Brasil foi instituída uma comissão tripartite, integrada pelo governo brasileiro, o Banco Mundial e a União Européia. Esse programa distribuiu recursos para a melhoria de infra-estrutura de pesquisa no INPA, no Museu Goeldi e em ONGs atuantes na Amazônia.118 Atualmente é o programa de financiamento com foco na conservação ambiental mais relevante na região Norte. Apesar de não ser um

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Dados disponíveis em: www.bionorte.org.br, março de 2011.

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programa destinado exclusivamente à floresta amazônica porque também visava atividades na floresta Mata Atlântica, grande parte dos investimentos e/ou projetos realizados no âmbito do PPG-7 estavam atrelados à floresta Amazônica.119

O PPG-7 envolve a participação de diferenciados atores, como o governo de países desenvolvidos (Estados Unidos, França, Alemanha, entre outros) e diferentes setores ou instituições públicas brasileiras. De um lado, os países europeus contribuíram como os principais doadores; de outro, o governo brasileiro se propôs a estabelecer os parâmetros do Programa, mas o Banco Mundial comanda o Programa. Todavia, conflitos internos face às distintas visões setoriais sobre o que significa desenvolvimento para a Amazônia reduziram o universo de ação do PPG-7 (MELLO, 2006). Houve conflitos relacionados à tomada de decisão na aplicação dos recursos no programa e divergências em relação aos conceitos, metodologias e técnicas empregados nos projetos, principalmente nos projetos de delimitação e gestão de Unidades de Conservação que o PPG-7 financiou.

Não obstante aos conflitos de poder, a atuação do PPG-7 na Amazônia Legal se estruturou através de 13 projetos centrais. Para Mello (2006), esses projetos direcionaram a política territorial na Amazônia nos últimos dez anos. Em todos os projetos há a participação de pesquisadores do INPA, do Museu Goeldi e de ONGs, que foram as instituições escolhidas para coordenar a execução das atividades técnico-científicas necessárias. O quadro 3.4 apresenta esses projetos e os valores de financiamento já executados para os mesmos.

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O título de PPG-7 se refere ao grupo de países que investem dinheiro nas pesquisas (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido). O Brasil também colabora com recursos provenientes do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO).

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Quadro 3.4 – Projetos executados pelo PPG-7 (Financiamento e Coordenação) Projetos PPG-7 Financiamento

(US$ milhões)

Coordenação no Brasil e encerramento

Monitoramento e Análise 5,9 MMA – Junho, 2008

Ciência e Tecnologia (Assistência aos Centros de

Pesquisa selecionados – Infra-Estrutura) 2,5

MCT – Outubro, 2004 Fortalecimento da rede “Grupo de Trabalho Amazônico” Não Informado Não Informado

Plano Sustentável da BR-163 0,5 GTA, ISA e IPAM -

Dezembro, 2008

Corredores Ecológicos 36 MMA – Dezembro,

2008 Programa Integrado de Proteção às Populações e

Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) 29,5

MMA e FUNAI Em andamento Fortalecimento Institucional da Coordenação das

Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)

0,22 COIAB, Dezembro, 2008

Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (Pró-Várzea) 15,5 IBAMA, Setembro, 2007 Mobilização e Capacitação para a Prevenção de

Incêndios Florestais na Amazônia (PROTEGER) 2,2

MMA - Setembro, 2004 Apoio ao Manejo Sustentável na Amazônia (ProManejo) 31,1 IBAMA – Junho,

2007

Reservas Extrativistas 21 IBAMA – Julho,

2006

Negócios Sustentáveis 2,9 MMA - Julho, 2005

Subprograma Política de Recursos Naturais 85 MMA – Junho, 2006

TOTAL 232,32 1992 - 2008

(Elaboração própria. Dados disponíveis em: www.worldbank.org, junho de 2009)

Entre os programas listados na tabela, o PPTAL se destaca por ter contemplado ações em 157 Terras Indígenas na Amazônia Legal que somam o total de 46 milhões de hectares. As pesquisas financiadas por esse projeto resultaram na identificação novas Terras Indígenas, das quais 92 foram efetivamente demarcadas pela FUNAI com o apoio do programa, abrangendo 38 milhões de hectares. Para dar suporte a essas atividades, o projeto investiu na construção de uma sofisticada base de dados georeferênciada, contendo informações de seus limites políticos, das populações e dos recursos naturais presentes nessas áreas. Também foram realizadas várias

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atividades de treinamento focado na conservação dos recursos em 60 Terras Indígenas, tanto para funcionários da FUNAI quando para as populações indígenas.120

Outro projeto de grande expressão no âmbito do PPG-7 é o denominado “Corredores Ecológicos”, cujo trabalho consistiu em pesquisas para a definição das melhores áreas a serem protegidas e conectadas para facilitar o fluxo genético entre populações da flora e da fauna nativas. Esse projeto se pautou no conceito de “Redes Ecológicas” e concentrou esforços na Floresta Amazônica e na Mata Atlântica. Foram identificados cinco corredores prioritários para a conservação da biodiversidade na Amazônia brasileira: Corredor Central; Corredor Norte; Corredor Oeste e Corredor Sul (AYRES, 2005). Os recursos desse projeto também foram direcionados para a implantação de Planos de Manejo em 15 áreas protegidas localizadas nesses corredores, com maior destaque para as Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã e o Parque Nacional do Jaú, onde se concentraram a maior parte dos projetos.

O PPG-7 também financiou pesquisas para dar suporte ao “Programa Áreas Protegidas da Amazônia” (ARPA), criado em 2002 na Conferência Rio+10, realizada em Johanesburgo. Esse programa é coordenado pelo MMA e implementado pelo IBAMA, com apoio de governos estaduais e instituições como a ONG SOS-Amazônia, o WWF, o Banco Mundial e o Banco de Cooperação da Alemanha. Conta com doações do Programa Global Environmental Facility (GEF – Banco Mundial), do WWF- Brasil, Banco Alemão e do PPG-7. A meta inicial do projeto era delimitar 9 milhões de hectares de áreas protegidas em 10 anos, mas em 2009 já havia delimitado 13,2 milhões de hectares de Unidades de Proteção Integral e 10,8 milhões de hectares de Unidades de Uso Sustentável. Para a segunda fase do programa, de 2009 a 2012, já foram aprovados US$ 105 milhões para alcançar uma meta mais ambiciosa de 60 milhões de hectares delimitados com áreas protegidas no bioma amazônico.121

Em 2004 o governo brasileiro também criou o Fundo de Áreas Protegidas, gerido pelo FUNBIO, para garantir a sustentabilidade das áreas protegidas criadas na Amazônia Legal no âmbito do PPG-7 e do ARPA. Para Becker (2006), esses programas, PPG-7 e ARPA, configuram-se como a maior iniciativa conjunta de

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Dados disponíveis em: www.worldbank.org, junho de 2009. 121

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conservação de florestas tropicais da história. Trata-se de mais um exemplo de investimentos que, através do suporte técnico-científico dos países desenvolvidos e da comunidade de pesquisa da região Norte, direcionam o processo de ordenamento territorial da Amazônia em prol da conservação.

Outro desdobramento do PPG-7 foi a criação da Rede de instituições do terceiro setor denominada Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), que nasceu em 1991 como um grupo de trabalho ad hoc para auxiliar na estruturação do escopo do Programa PPG-7 (JACOBI, 2000). Essa rede reúne ONGs, fóruns, associações comunitárias, federações, sindicados, órgãos públicos e instituições de pesquisa em prol de uma maior participação das comunidades tradicionais da Amazônia nas políticas de Desenvolvimento Sustentável regional. Dessa forma, trata-se de um formato institucional diferente das ONGs anteriores, que alcança uma extensa capilaridade de ação na Amazônia e, por isso, não pode ser desconsiderada.

Atualmente essa rede está estruturada com mais de 600 instituições parceiras e 19 escritórios distribuídos pelos estados que conformam a Amazônia Legal. Entre as instituições de pesquisa parceiras na região Norte, encontra-se o INPA, o Museu Emílio Goeldi e o IDSM. Também desenvolve projetos financiados por órgãos e programas federais, tais como os ministérios MDA, MCT, MDS, MINC, MMA, MRE e dos programas FUNBIO, PRONAF e Fome Zero. A principal fonte de financiamento internacional da rede é o Banco Mundial. De acordo com Jacob (2000), o GTA tem recebido uma significativa contribuição de organizações internacionais que atuam de forma permanente na defesa da floresta amazônica brasileira122, tanto através de investimentos em projetos de pesquisa, como na pressão política junto a instituições multilaterais.

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