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Apêndice X – 24ª Sequência Didática

Anexo 13 – Última Produção Textual Carta Aberta

2.4 PROGRESSÃO TEMÁTICA – A SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL

Para Koch e Elias (2012a), a progressão temática assume importância fundamental na sequenciação de um texto. As autoras, em seus estudos sobre a progressão, ainda, afirmam que “do ponto de vista funcional, a organização e hierarquização das unidades semânticas do texto concretiza-se através de dois blocos comunicativos, que têm sido denominados tema (tópico) e rema (comentário)” (2012a, p. 160 – grifos das autoras).

Elemento textual pertencente à coesão, a progressão temática, assim como a intertextualidade, é um critério de textualidade pensado por Beaugrande e Dressler (1981). Nesse sentido, esclarecemos que a progressão temática, que integra a coesão sequencial, também constituirá embasamento teórico e metodológico para nossa pesquisa de doutorado.

De acordo com Moreira (1991), a diferenciação para o tema e o rema remonta a Vilém Mathesius (1939), o criador do Círculo Linguístico de Praga. Ele estabeleceu as bases da Perspectiva Funcional da Sentença, que fora incorporada pelos linguistas da Escola de Praga, para os quais a essencial função da linguagem é a comunicativa ou a referencial. Estes estudiosos da linguagem consideram que um dos objetivos mais relevantes da sintaxe é estudar como a informação “avança” em uma frase. Conforme os estudos de Mathesius, o tema é aquilo que já é conhecido ou pelo menos está explícito em uma determinada situação, por meio da qual o falante/interlocutor consegue prosseguir.

Koch (2002, p. 124) assevera que “as relações entre segmentos textuais estabelecem- se em vários níveis: no interior do enunciado, o relacionamento se dá em termos da articulação tema-rema”. Nesse viés, a informação que contém o tema é, geralmente, dada, ao passo que informação que abrange o rema constitui, de modo geral, dado novo.

Segundo Koch e Elias (2012a), o tema é aquilo que tomamos como base do processo comunicacional, aquilo de que falamos. O tema, geralmente, é a informação dada, conhecida do interlocutor ou que pode ser facilmente inferível, por meio do co(n)texto. Já o rema é o centro da contribuição, aquilo que se diz sobre o tema. Por sua vez, o rema traz a informação nova, até então desconhecida.

Ainda de acordo com Moreira (1991), Kassai (1976, p. 123)11 enfatiza que é, antes de tudo, o tema – que apresenta o elemento já conhecido, a propósito do qual o rema explicita novas informações – que é fruto de pesquisas dos estudiosos da área. Kassai (1976) pontua, também, que este “elemento já conhecido” pressupõe uma ancoragem do tema acerca do texto, do contexto e da situação.

A partir dos estudos de Danes (1970)12, linguista tcheco que era filiado à Escola Funcionalista de Praga e que tinha como preocupação a organização do texto e não da frase, é que se dá a classificação das formas de progressão temática existentes. Segundo seu entendimento, a progressão do tema de um texto pode ser entendida como a base, a sustentação, a coluna vertebral da escrita em si (DANES, 1974).

A classificação está assim organizada: progressão temática com tema constante; progressão temática linear; progressão com temas derivados e progressão por desenvolvimento de um rema subdividido (KOCH e ELIAS, 2012a). Mais tarde, Danes (1974), ampliando o conceito de progressão, instaura a progressão com salto temático.

11 KASSAI, G. A propos de la 1inguistique du texte. La Linguistique, 12:119-128, 1976.

12 DANES, F. (1970). Zur linguistischen Analyse der Textstruktur. In: DRESSLER, W. (org.). Textlinguistik. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1978.

Nesse sentido, a progressão com tema constante acontece quando se mantém um mesmo tema em sucessivos momentos ao longo do texto, isto é, quando são acrescentadas novas informações ao mesmo assunto.

Figura 1 – Progressão com tema constante – Danes (1974)

Esquema elaborado por Danes (1974, p. 118)

Figura 2 – Progressão com tema constante – Koch (1989)

Esquema elaborado por Koch (1989, p. 59)

A seguir, um exemplar13 de texto que apresenta progressão com tema constante: A escola é um ambiente de aprendizado e oportunidades. É na escola que aperfeiçoamos nossos conhecimentos. O âmbito escolar propicia um mundo de possibilidades em se tratando de conhecimentos de leitura e escrita.

A progressão linear ocorre toda vez em que o rema de cada enunciado, dito anteriormente, torna-se o tema do tópico posterior.

13 Para fins de ilustração do exposto, elencaremos exemplos para cada categoria de progressão temática. Esclarecemos, ainda, que todas as frases utilizadas para exemplificação dos tipos de progressão temática foram elaboradas por nós.

Figura 3 – Progressão linear – Danes (1974)

Esquema elaborado por Danes (1974, p. 118)

Figura 4 – Progressão linear – Koch (1989)

Esquema elaborado por Koch (1989, p. 58)

Exemplo de texto que explicita progressão linear: A violência contra a mulher já foi

tema de redação no ENEM. O ENEM, geralmente, aborda temas sociais como proposta de redação. As propostas de redação do exame sempre apresentam coletânea de textos-base.

A progressão com divisão do tema ou temas derivados nasce sempre que o tema do primeiro tópico se subdivide em diversos outros temas subsequentes, a serem desenvolvidos, ou seja, é quando se originam temas parciais do tema principal.

Figura 5 – Progressão com tema derivado – Danes (1974)

Esquema elaborado por Danes (1974, p. 119)

Figura 6 – Progressão com tema derivado – Koch (1989)

Esquema elaborado por Koch (1989, p. 59)

Exemplar de texto que denota progressão com tema derivado: As regiões do Brasil

revelam que há diferenças consideráveis entre pessoas que concluem os estudos e pessoas que não concluem, conforme pesquisas recentes. Na região Sul, em geral, os dados são favoráveis, pois existe um bom número de pessoas que ingressam no Ensino Superior. No Nordeste, não há tantas pessoas com formação acadêmica. Já na região Sudeste, os números são positivos também.

A progressão com rema subdividido ou por desenvolvimento de um rema subdividido ocorre quando o rema do primeiro enunciado se divide, sendo que cada uma das partes constitui o tema de um tópico novo (KOCH e ELIAS, 2012b).

Figura 7 – Progressão com rema subdividido – Danes (1974)

Esquema elaborado por Danes (1974, p. 120)

Figura 8 – Progressão com rema subdividido – Koch (1989)

Esquema elaborado por Koch (1989, p. 59)

Exemplo de texto que apresenta progressão com rema subdividido: O principal foco

das aulas de linguagem é o ensino da leitura e da escrita de textos. A leitura é uma competência que requer a mobilização de estratégias e a ativação de conhecimentos. Para a escrita, necessitamos ler, reler, refletir, compreender e interpretar.

Já a progressão com salto temático acontece no momento em que há omissão de uma parte intermediária da cadeia temática, deduzível a partir do contexto.

Figura 9 – Progressão com salto temático – Koch (1989)

Esquema elaborado por Koch (1989, p. 60)

Exemplo de texto que revela progressão com salto temático: Em nossa cidade, há

muitos animais abandonados. Muitas pessoas abandonam e maltratam os animaizinhos. Esse será um ano eleitoral bastante acirrado, pois teremos muitos candidatos e as promessas eleitorais serão maiores ainda.

Segundo Koch (2015, p. 49) a “coesão sequencial diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto [...], diversos tipos de relação semântica e/ou pragmático-discursiva [...]”. Nesse viés, importante é a reflexão de Danes (1970 apud MARCUSCHI, 2008), o qual observa que essas formas de progressão não acontecem de modo isolado, mas que, de maneira geral, aparecem interconectadas com o predomínio de uma delas.

Desse modo, refletindo acerca da relevância da progressão temática, podemos pensá- la, para o trabalho com textos, vinculada à intertextualidade e, nesse viés, pensamos que tais elementos merecem um lugar no encaminhamento da produção de textos, na sala de aula. De acordo com nossa compreensão, o uso de intertextos em uma produção contribui para a progressão temática do texto. Partindo de tais pressupostos, concebemos que a mediação do professor, no que tange à produção textual em sala de aula, pautada pelo trabalho com a intertextualidade e a progressão temática, oportuniza maior aprendizado sobre a escrita e sobre a própria argumentação.

Portanto, pensando a relação ensino e aprendizagem, especialmente de textos escritos, e no modo como tal relação se efetiva, na escola de Educação Básica, trazemos, na sequência, o capítulo que aborda o aporte metodológico de nosso estudo.

3 APORTE METODOLÓGICO

“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão” (FREIRE, [1997], 2003, p. 78).

Neste capítulo, exploramos o Aporte Metodológico que subsidia nossa investigação. Para tanto, trazemos os postulados da Pesquisa-ação, a filosofia de trabalho do Process

Writing, bem como subcapítulos sobre o texto argumentativo e o seu processo na sala de aula,

a escola e os participantes da pesquisa, a sujeita de pesquisa e a seleção do corpus, o enquadramento do processo de escrita e as categorias de análise.