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Progresso e prosperidade na Fazenda Monte Alegre

4 ANÁLISE DA AUTORREFERÊNCIA E DA HETERORREFERÊNCIA

4.6 A heterorreferência em O Tibagi

4.6.2 Progresso e prosperidade na Fazenda Monte Alegre

Enquanto assunto central da notícia, o progresso e a prosperidade na Fazenda Monte Alegre aparece 20 vezes. Como já mencionado, por meio do jornal era possível divulgar os feitos locais na tentativa de atrair atenções para o desenvolvimento local, atraindo mão de obra e investidores. Acredita-se que por este motivo seja tão frequente o uso de imagens.

Em 1950 jornal publicou: “a Fazenda Monte Alegre possui diversos núcleos de habitação. Os três principais são: Harmonia, Lagoa e Muá [sic]. Dêstes, o mais importante é Harmonia, onde está localizada a Fábrica das I.K.P.C.”275. Por meio deste argumento, seguido de uma lista das atividades oferecidas em Monte Alegre e uma fotografia do Cine Harmonia, é possível pressupor que ao publicar esta notícia visavam, efetivamente, divulgar a Fazenda Monte Alegre, especialmente porque a indústria estava se desenvolvendo no interior, onde os recursos precisavam ser criados. Nesse sentido, é possível pressupor que muitos trabalhadores que temiam se aventurar naquelas terras, mas que ao tomarem conhecimento da estrutura ali desenvolvida, dos benefícios oferecidos aos operários da fábrica, alimentavam a expectativa de mudar de vida276.

Parece que em 1950 a divulgação do local foi feita de modo mais incisivo, pois são, ao todo, 06 notícias ilustradas que abordam os “Aspectos de Monte Alegre”, ressaltando o crescimento e a transformação local através da construção de um hotel277, das casas residenciais “em vários estilos”278, do posto de serviço Esso279, da igreja matriz de Harmonia280 e da própria fábrica da Klabin281.

Outra contribuição para a divulgação local foi a poesia escrita por Lauro Nery, publicada também em 1950, que edeniza Monte Alegre:

A Fábrica e a Cidade, em sonho eu as diviso Abençoadas por Deus, porque o Destino quis Que fôsse Monte Alegre o próprio paraíso Aqui é tudo grande: esta imensa Fornalha,

275 Aspectos de Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.09, 23 de novembro de 1950. 276 Esta afirmação também se baseia no depoimento oral cedido por Seu J, que diz que o motivo que levou sua família a se mudar para Monte Alegre foi trabalho. “Na época dos meus pais havia uma dificuldade muito grande de emprego e na minha cidade, Ribeirão Vermelho do Sul, era uma cidadezinha muito pequena, muito pobre, e não havia trabalho. E o meu pai era carpinteiro, tinha um servicinho, mas não era o suficiente pra dar sustentação à família. Minha mãe era costureira até que um primo dela, A. M., já estava trabalhando aqui em Monte Alegre, fizemos um conexão com ele e a minha mãe convidou meu pai: “Vamos para Monte Alegre?!”. “Vamos”. (...)Então, nós viemos pra cá em busca de trabalho, porque meu pai era carpinteiro e naquela fase grande da indústria ele teve então serviço por muito tempo. E foi muito gratificante o acompanhamento da evolução de Monte Alegre” (Seu J. Entrevista Oral. 2014).

277 Aspectos de Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.05, 23 de novembro de 1950. 278 Aspectos de Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.22, 23 de novembro de 1950. 279 Aspectos de Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.25, 23 de novembro de 1950. 280 Aspectos de Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.02, 23 de novembro de 1950. 281 Aspectos de Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.07, 23 de novembro de 1950

101 Dá papel, celulose e riqueza ao País E o pão de cada dia, ao homem que trabalha282.

Esta noção de “paraíso” que vai sendo criada em relação à Monte Alegre é corroborada pelas diretrizes do próprio jornal, que não tinha página policial, logo não eram publicadas notícias sobre crimes e delitos no local. Segundo Hellê Vellozo Fernandes, o diretor-fundador do semanário, Horácio Klabin, foi quem deu tal orientação (FERNANDES, 1974, p.127).

Outras maneiras de exaltação ao local que também podem conotar ao trabalhador o status de paraíso à Monte Alegre tratam da oferta de casas aos funcionários da empresa e suas famílias283; de ambientes de recreação, como o Harmonia Clube e o Clube Atlético Monte Alegre, que ofereciam atividades recreativas, esportivas e sociais284 para os momentos de lazer; do Cine Harmonia, “um dos melhores do interior do Estado”285; do “cinturão verde”, da Colônia Agrícola e da fartura de alimentos comercializados nos armazéns de Harmonia e Lagoa286; e da oportunidade de estudo nas escolas espalhadas pela Fazenda Monte Alegre287.

Outra poesia que diz do progresso e da prosperidade local foi escrita por Luiz Vieira, uma personalidade ilustre, “consagrado artista da TV Record e Rádio Nacional do Rio de Janeiro”, quando de sua estadia em Monte Alegre. Em seus versos Luiz Vieira trata do “povo todo irmão”, do “chefão camarada” e da “vida de conde” que todos ali teriam caso Péricles Pacheco fosse o “chefe da nação”. Suas letras também abordam a noção paradisíaca do lugar:

Em Monte Alegre eu senti / O que é se ter amigos, / Parece que Jesus aqui / Perdoa qualquer castigo / E até transforma em amor, / A ira dos inimigos. Não poderei me esquecer / Dessa cidade elegante. / Pequenina no tamanho. / Mas que é grande bastante / Grande no papel do pinho / No seu povo acolhedor / Grande muito no carinho, / No trabalho e no amor288.

Como já visto, com o advento de Cidade Nova, as notícias que visavam a exaltação e divulgação local também se estenderam a esta localidade289.

282 NERY, Lauro. Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.02, 23 de novembro de 1950. 283 Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.21, 23 de novembro de 1950.

284O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.04, 23 de novembro de 1950, MARENFIS. Crônica da Cidade.

O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.02, 23 de novembro de 1953, Clube Atlético Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.01 – terceiro caderno, 23 de novembro de 1954, Harmonia Clube. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.01 – segundo caderno, 23 de novembro de 1954 e MAGICO. Clube

Atlético Monte Alegre – Atividades Sociais – Trabalho de uma diretoria. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.06, 23 de dezembro de 1957.

285 Aspectos de Monte Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.23, 23 de novembro de 1952. 286 Passeio à Colônia. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.08 – terceiro caderno, 23 de dezembro de 1957.

287 Passeio à Colônia. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.08 – terceiro caderno, 23 de dezembro de 1957.

288 VIEIRA Luiz. Poema para M. Alegre. O Tibagi. Monte Alegre – Tibagi – Paraná, p.11, 23 de dezembro de 1957.

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De modo semelhante aos momentos em que é tema das notícias, o progresso e a prosperidade na Fazenda Monte Alegre serve enquanto enredo para a construção de sentidos em categorias como relacionamento e vivência em Monte Alegre, autovalorização, gratidão à Horácio Klabin, feitos da Klabin e desenvolvimento industrial, visando a divulgação do local, em relação à industrialização e à modernização.