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“VII - É proibida a venda e o uso do Pito do Pango, bem como a conservação d’elle51 em casas públicas: os contraventores serão mul- tados, a saber, o vendedor em 20$000., e os escravos, e mais pessoas que d’elle usarem, em três dias de cadêa”52.

Esse Código de Postura da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, sancionado em 04 de outubro de 1830, é considerado o primeiro registro de proibição da maconha no Brasil. Nove anos mais tarde, ele foi ampliado: o tempo de prisão passou de 3 para 8 dias de cadeia53. Pouco a pouco, o pioneirismo do Rio influenciou outras localidades. Em 1866, por exemplo, a Câmara de São Luís proibiu a venda e a exposição pública do pito do pango. Escravos que violassem tal legislação seriam punidos com 4 dias de cadeia (VIEIRA FILHO, 1978). No ano de 1870, a Câmara Municipal de Santos, por sua vez, decretou uma resolução que tinha como objetivo a normatização social. O artigo 99 determinava: “É prohibida a venda e o uso do pango e outras substancias venenosas para cachimbar ou fumar. Os contraventores serão multados pela venda em 10$000 e pelo uso em quatro dias de prisão”54. Outro exemplo similar é o da Câmara Municipal de Campinas que, em 1876, também sancionou uma reso- lução que proibia “a venda e uso do pito do pango, bem como a conservação delle em casas publicas”. Os contraventores serão multados, a saber: o vendedor em 10$000, e os escravos e mais pessoas que delle usarem, em cinco dias de cadêa”55. Convém notar que a Câmara de

Santos não salientava os escravos como contraventores diretos, ao passo que as do Rio e de Campinas o fazem sem titubear. Outra particularidade, nesse caso das três, diz respeito as legislações se limitarem a restringir a comercialização e o uso, o que deixa em aberto a ques- tão do cultivo.

De modo geral, ao longo do século XIX, a sanção dos Códigos de Postura de- monstra que o Estado reivindicava o controle das relações sociais e econômicas no espaço

51 Optou-se por manter a grafia original em todas as citações diretas por se tratar de textos de época e para facilitar a compreensão.

52 Posturas da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 4 de outubro de 1930.

53 O Código de Posturas foi publicado na integra no Jornal O Sete D’Abril. Posturas da Câmara Municipal do Rio de

Janeiro. O Sete D’Abril. Título II – § 7 Sobre vendas de gêneros e remédios e, sobre boticários. 7 de janeiro de 1839, p 1.

54 Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. (Brasil). Resolução Nº 103.

urbano. Nesse sentido, eles assumiam um caráter preventivo para a esfera da segurança pú- blica. No caso das sanções citadas há pouco, as Câmaras pretendiam inegavelmente refrear certos hábitos sociais existentes entre os escravos e provavelmente entre as camadas baixas da população. Apesar disso, não se sabe ao certo os motivos oficiais que levaram as autori- dades públicas a atacar a venda e o consumo do “pito do pango”, bem como os interesses por trás dessas leis. Além disso, não se sabe se estas eram ações isoladas ou se refletiam alguma conjuntura política imperial mais ampla. Tudo isso indica que na prática esse tema ainda requer esclarecimentos.

O enfoque na questão da proibição é um dos principais eixos de análise das pes- quisas acadêmicas que se dedicam ao estudo da maconha no Brasil56 ou à investigação de algum assunto tangente a essa problemática. Dentro dessa perspectiva, geralmente parte-se do processo histórico que culminou com a sua proibição; mas antes de abordá-la em especi- fico, convém inicialmente retomar alguns aspectos políticos, sociais e econômicos que leva- ram a mudanças estruturais no Império, após 1850.

Um primeiro que se destaca é a Lei Eusébio de Queiros de 04 de setembro de 1850, que aboliu o tráfico negreiro externo. Essa Lei é tida por boa parte da historiografia como um marco teórico primordial para o processo de ruptura do trabalho cativo e de tran- sição da escravidão à mão de obra assalariada. Um segundo aspecto que se destaca é a Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, conhecida como Lei de Terras. Essa Lei, por sua vez, entrou em vigor com a pretensão de demarcar as terras devolutas e de regularizar o acesso à propriedade privada. Diante da promulgação de tais Leis, a nova conjuntura interna, pós 1850, engendrou uma profunda transformação socioeconômica. Os recursos antes destina- dos à compra do escravo foram reinvestidos em outros setores econômicos como, por exem- plo, o ferroviário, o varejista, o bancário, o telegráfico, entre outros. Esses novos investi- mentos, por sua vez, contribuíram com a dinamização da economia e da sociedade (SILVA, 2008). Frente a esse conjunto de transformações, as contradições se aguçaram e se tornaram intransponíveis. Após 1870 ficava cada vez mais difícil para o Estado Imperial dialogar e atender aos diversos interesses das elites nacionais (intelectual, econômica e política). Até certo ponto, essa conjuntura contribuiu para desgastar a ordem vigente e levar ao término do Império em 1889 (SCHWARCZ, 1993).

Como desdobramentos desses acontecimentos, no final do século XIX e início

56 Como exemplo: Sonhos da Diamba, controle do cotidiano: uma história da criminalização da maconha no Brasil repu- blicano. José Emanuel Luz de Souza. Dissertação de mestrado. 2012; Fumo de Negro: a criminalização da maconha no Brasil. Luísa Gonçalves Saad. Dissertação de mestrado. 2013.

do XX, um novo projeto de nação era disputado por grupos sociais distintos, cada um destes com seus próprios pontos de vista. Uma das polêmicas centrais era o final da escravidão e os novos rumos da sociedade brasileira. Imerso nessas circunstâncias, um grupo represen- tado por setores da classe médica baiana57 ganhou destaque no cenário nacional. Para esse grupo, o cruzamento racial explicava a criminalidade, a loucura e a degeneração, o que então impedia a “perfectibilidade” biológica (SCHWARCZ, 1993). Apesar de absurdos sob a ótica do tempo presente, o argumento desses médicos aos poucos se difundiu no senso comum. Nas sociedades modernas, a posição política dos intelectuais geralmente possui uma impor- tância estratégica para o conjunto de reflexões e deliberações sobre a constituição e anda- mento de um projeto de nação. Em geral, esse posicionamento se vale de recursos persuasi- vos para controlar e influenciar outros segmentos sociais em torno de um ideal (GRAMSCI, 2000). Nesse sentido, os tais médicos perniciosamente colaboraram para a criminalização da população afrodescendente e dos seus hábitos culturais, como a capoeira, o samba e as reli- giões. No meio disso, a maconha, bem como seus diferentes usos, tornou-se o foco de um debate que paulatinamente a converteu em coisa de negro, índio, prostituta, macumbeiro, capoeirista, sambista, marinheiro, vadio, enfim, toda uma camada social pobre que não se encaixava nos valores morais, étnicos e financeiros de uma parcela elitista da sociedade.

Esse debate não se deu apenas no âmbito interno, ele esteve em sintonia com uma disputa de convicções sobre as drogas e os entorpecentes que ocorreu em diferentes países do globo e que ganhou força nas três primeiras décadas do século XX. Desenvolveu- se em conferências internacionais que buscavam acordos e soluções para o assunto. Dentro desse rol se destaca uma que ocorreu em Xangai, em 1909, que ficou conhecida como a primeira convenção internacional sobre o controle de entorpecentes. Nela foram discutidas e elaboradas algumas recomendações, ainda que sem peso legal, para uma lenta diminuição do comércio mundial de opiáceos. Tal decisão não teve um efeito direto, mas a conferência foi o gérmen e o exemplo para outras que se sucederam (ESCOHOTADO, 2007).

Dois anos mais tarde, desta vez em Haia, na Holanda, os principais países do cenário mundial começaram as negociações sobre a regulação comercial da cocaína e do ópio, bem como de seus derivados (heroína, morfina, codeína) (RODRIGUES, 2004). Já em 1925, na Conferência de Genebra sobre Drogas, organizada pela Liga das Nações Unidas, a

Cannabis entrou pela primeira vez na lista das substâncias proibidas58. O pedido partiu do

57 Para saber mais sobre as disputas políticas no campo da medicina legal ver: (SCHWARCZ, 1993).

58 Este estudo não tem como objetivo aprofundar no debate acerca do processo de proibição das drogas no contexto externo. Para mais informações o processo de proibição das drogas no mundo, os tratados, as convenções e as disputas entre as potencias internacionais que levaram a cabo a proibição, ver: Antonio Escohotado (1996); Thiago Rodrigues, Política e

representante do Egito, El Guindly. Ele denunciou que a meio século o país sofria uma epi- demia de Cannabis e, para sustentar essa afirmação, apresentou um relatório que apontava os perigos sociais em usá-la e recomendava o controle da sua circulação mundial. Seu pedido recebeu apoio imediato de outros representantes e, como ação para combatê-la, foi criada uma subcomissão (composta por médicos, farmacêuticos e químicos) para discutir o pro- blema. Dentre esses intelectuais estava o médico e representante brasileiro, Pernambuco Fi- lho, o qual afirmou que no Brasil a maconha era ainda mais perigosa que o ópio. Possivel- mente, os relatos dos representantes brasileiro e egípcio sobre os males sociais provocados pela Cannabis contribuíram para que no final da conferência a subcomissão redigisse um documento final em que colocava o cânhamo, bem como todas as plantas da família da Can-

nabis (indica e sativa), na lista das substâncias tóxicas e, portanto, ilícitas (FRANÇA, 2015).

Essa nova consideração a respeito da Cannabis provocou uma inevitável ruptura, de ampla abrangência, no modo como as sociedades interagiam com essa planta. É claro que esse processo foi se completando aos poucos, com disputas e ambiguidades no campo polí- tico, econômico e social. Ademais, para que a ruptura ocorresse plenamente foi imprescin- dível o uso do corpo burocrático dos Estados que, através de suas legislações, sancionaram artigos, leis, e decretos que versavam sobre a proibição do cultivo, do comércio e do con- sumo da Cannabis. Vale ressaltar ainda que esse processo ocorreu segundo as especificida- des de cada país. No Brasil, em particular, esse clima interacional provavelmente influenciou os intelectuais e as autoridades, que ao longo dos anos de 1930 concentraram mais atenção no tema e construíram uma política sistemática para o controle do cultivo, do comércio e do uso de entorpecentes de modo geral. A maconha evidentemente foi alvo dessas políticas.

A proibição parcial

Através do Decreto nº 20.930 de 11 de janeiro de 1932, o estado brasileiro pas- sou a regular a entrada de substâncias tóxicas no país. Além disso, o artigo 1º do capítulo I elencava como substâncias tóxicas “o ópio bruto e medicinal, a morfina, a diacetilmorfina ou heroína, a benzoilmorfina, a dilandide, a dicodide, a eucodal, as folhas de coca, a cocaína bruta, a cocaína, a ecgonina e a canabis indica – grifo meu”. Ao mesmo tempo, o governo

Drogas nas Américas. Edipuc.2004; Thiago Rodrigues. Narcotráfico: uma guerra na guerra. Saraiva. 2003; SOUZA, Jorge Emanuel Luz de. Sonhos da diamba, controles do cotidiano: uma história da criminalização da maconha no Brasil Repu- blicano. Bahia. 2013. Dissertação de Mestrado.

criminalizou a comercialização, a ministração, a doação, ou qualquer outro tipo de uso des- sas substâncias, sem a devida autorização do Estado59. Particularmente em relação à Canna-

bis indica, com o intuito de fazer cumprir a lei, foi estipulada uma pena de até nove meses

de prisão para quem portasse em qualquer situação a planta ou seus derivados (RODRI- GUES, 2004). Quanto às demais substâncias, a lei previa a reclusão de um a cinco anos.

Vale ressaltar que esse decreto colocou a Cannabis indica na mesma escala de periculosidade de outras drogas, como o ópio, a cocaína e a heroína. A despeito disso, essa primeira Lei, em seus artigos 2 e 3 do capítulo II, especificava as condições para “fabricar, importar, exportar, reexportar, vender, trocar, ceder, expor ou ter para um desses fins (...)”, bem como para vender ao público, as tais substâncias. Por isso que, concomitantemente ao controle da Cannabis indica em território nacional, também em 1932, encontra-se documen- tos que mostram que o estado brasileiro revalidou a licença de atuação da empresa respon- sável pelos “cigarros Indianos Grimault”, produzidos a base dessa planta. A mesma empresa conseguiu uma nova revalidação em 1937, cinco anos após a promulgação da Lei.

Não admira que, nesse contexto, membros do governo brasileiro ainda viam com preocupação a importação, a exportação e o uso dessas substâncias e desejavam um maior controle sobre a situação. Diante disso, foi criada uma comissão especial com representantes de diferentes ministérios (educação, saúde pública, trabalho e agricultura, relações exterio- res, fazenda, justiça, entre outros) que durante os anos de 1935 a 1936 se reunia semanal- mente no Palácio do Itamaraty para pensar as diretrizes da política nacional de drogas. Em meio aos debates, uma das principais propostas que surgiu foi a criação da Comissão Naci- onal de Fiscalização de Entorpecentes (CNFE).

A Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes (CNFE)

A Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes (CNFE) surgiu em 1936 a partir do Decreto nº 780. Em um primeiro momento, ela se vinculou ao ministério das Relações Exteriores, que também tinha o objetivo de adequar o Brasil as normas e medidas internacionais (CARVALHO, 2013). Dentre suas atribuições legais estavam:

O estudo e a fixação de normas geraes de accão fiscalizadora do cul- tivo, extracção, producção, fabricação, transformação, preparo, posse, importação, reexportação, offerta, venda, compra, troca, ces-

são, bem como a repressão do trafico e uso illicitos de drogas entor- pecentes, incumbindo-lhe todas as attribuições decorrentes dos ob- jectivos geraes, para os quaes é constituída60.

Com a criação dessa comissão, o governo centralizou em um só órgão diferentes informações sobre o assunto. Com isso, ele aglutinou estatísticas, elaborou relatórios e esta- beleceu diretivas para a fiscalização e apreensão. De certa forma, a centralização dessas prá- ticas e discursos fortaleceu e legitimou o combate aos entorpecentes no Brasil (CARVALHO, 2013).

Os estados da federação, por sua vez, tiveram que se adequar às diretrizes naci- onais mencionadas anteriormente. Contudo, a aplicação desse projeto possivelmente susci- tou dúvidas nas instituições que deveriam cumprir a legislação, ou seja, os funcionários do estado encarregados das ações de coibição nem sempre tinham clareza sobre a execução das novas normas e sequer sobre as substâncias presentes nelas. Em 1937, por exemplo, a Se- cretaria de Agricultura, Indústria e Comércio de Pernambuco solicitou ao Instituto de Pes- quisas Agronômicas um estudo referente a planta denominada maconha. O relatório de con- clusão da pesquisa registou as seguintes informações:

Planta de valor econômico - A seção de botânica, estudou minucio- samente a maconha, que é utilizada como entorpecente, e concluiu que se trata do cânhamo trazido da África pelos escravos. O cânhamo produz fibras de qualidade superior. Assim, já temos aclimatada uma planta de valor econômico elevado61.

Contraditoriamente ao preconizado pela CNFE, o relatório, embora reconheça a maconha como entorpecente, destaca a aplicação têxtil do cânhamo e o seu alto valor eco- nômico, mesmo ao identificar que a maconha e o cânhamo são na verdade uma só espécie vegetal. O registo também revela um pensamento de época, a crença de que os povos negros escravizados haviam trazido a planta da África.

Não foram localizados documentos que indicassem um debate mais abrangente entre os deputados pernambucanos sobre as diferentes aplicações da maconha. No entanto, pouco a pouco, a Assembleia Legislativa começou a discutir as possibilidades de introduzir o caroá62 como um produto industrial têxtil de valor econômico. Para defender essa hipótese,

60 Câmara dos Deputados. Decreto nº 780. 28 de abril de 1936; art. 3º. Diário Oficial da União - Seção 1 - 06/05/1936, p, 9492. Legislação informatizada.

61 Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio. Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Pernambuco. 03 de ago. 1937, p. 65-66.

os deputados se apoiaram em um estudo, realizado pelo Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco (IPA), no qual apontava que o caroá era melhor que a juta e mais vantajosa que o linho, o cânhamo, o sisal e a manilha63. Em outro discurso, também da mesma época, ressaltou-se que o caroá era uma planta da família das bromélias, um vegetal que cobria enormes superfícies da região, resistia as secas prolongadas e cujas folhas forneciam exce- lentes fibras indústrias superiores ao cânhamo e ao linho na tecelagem64. Esses discursos revelam que o Estado passou a incentivar o cultivo e exploração do caroá e fez concessões especiais a empresas com esse viés, como a firma José Vasconcelos & Cia, que montou duas usinas preparadoras – uma na região do agreste e outra no sertão – e uma fábrica de fiação e cordoalha65.

Esses exemplos colaboram com a hipótese de que, diferentemente das décadas anteriores em que o cânhamo recebera incentivos do governo estadual, a partir da segunda metade da década de 1930 ocorreu uma alteração nos projetos econômicos apoiados pelo poder público. A legislação mais rigorosa sobre o uso dos entorpecentes e o subsequente reconhecimento de que a maconha e o cânhamo eram a mesma espécie de planta provavel- mente desmotivaram os legisladores estaduais a enfrentar as leis nacionais e os levaram a redirecionar os investimentos em outras fibras têxteis como estratégia indireta para a redução do cânhamo industrial.

Os avanços da proibição

No dia 25 de novembro de 1938 o presidente da República, Getúlio Vargas, e os ministros do Estado assinaram o Decreto-Lei nº 891 para oficializar uma série de mudanças significativas no âmbito das drogas. A justificativa foi de que era necessário dotar o país de uma legislação capaz de regular eficientemente a fiscalização dos entorpecentes e atualizar a legislação brasileira com as mais recentes convenções sobre o tema.

Na prática, esse Decreto-Lei avançou com o processo de proibição da maconha, uma vez que ele ampliou legalmente as restrições referente a Cannabis, conforme se observa no artigo 1º do capitulo 1 que estabelece uma relação dos entorpecentes proibidos. Cânhamo,

Cannabis sativa, Cannabis indica e todas as denominações vulgares do gênero – maconha,

meconha, diamba, liamba e entre outras – constavam na lista do primeiro grupo, considerada

matéria prima na fabricação de tecidos, bolsas e chapéus, por exemplo.

63 Agricultura e Comércio. Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Pernambuco. N°. 91. 26 de abr. 1936, p. 1. 64 Requerimento nº 528

a das substâncias mais perigosas. O artigo 2º do Capítulo II, por sua vez, proibia a produção, o tráfico e o consumo:

São proibidos no território nacional o plantio, a cultura, a colheita e a exploração, por particulares, (...) do cânhamo "Cannibis sativa" e sua variedade "indica" (Moraceae) (Cânhamo da Índia, Maconha, Meconha, Diamba, Liamba e outras denominações vulgares) e de- mais plantas de que se possam extrair as substâncias entorpecentes mencionadas no art. 1º desta lei e Seus parágrafos.

Para garantir que a legislação fosse cumprida, o§ 1º sancionava que plantas dessa natureza, nativas ou cultivadas, existentes no território nacional, seriam destruídas pe- las autoridades policiais, sob a direção técnica de representantes do Ministério da Agricul- tura. Uma vez destruídas, as autoridades também deviam notificar de imediato o fato a CNFE.

Apesar da proibição do plantio, da cultura, da colheita e da exploração ora men- cionadas, o artigo 3º do mesmo Capítulo dizia que era possível “extrair, produzir, fabricar, transformar, preparar, possuir, importar, exportar, reexportar, expedir, transportar, expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou ter para um desses fins” qualquer uma das subs- tâncias discriminadas no artigo 1º, desde que fosse obtida uma licença da autoridade sanitária e da autoridade policial competente.

Com o avanço da proibição, os diferentes usos da maconha pouco a pouco so- freram modificações profundas. Em 1941, a empresa responsável pelos “cigarros Indianos Grimault” não teve sua licença de importação renovada sem que antes fosse retirado da fór- mula os diferentes tipos de Cannabis por serem substâncias consideradas nocivas. O posici- onamento da Comissão foi de que os tais cigarros se prestavam a difusão de uma nova mo- dalidade de toxicomania que vinha aliciando um grande número de adeptos no Brasil (CARVALHO, 2013). No mesmo ano, a Comissão notificou aos inspetores alfandegários que não permitissem a entrada dos “cigarros Indianos Grimault” produto de procedência francesa, que teve sua primeira licença nacional em 1888, sendo está revalidada em 1932 e novamente em 1937. A empresa foi transferida para os Estados Unidos e necessitou de nova revalidação da licença. Contudo, com o Decreto-Lei nº 891/1938, a CNFE determinou que fosse retirado da fórmula a “Cannabis Sativa (marihuana)” por ser tal substância conside-