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Projectos, iniciativas e estratégias para a integração das TIC

Capítulo II – Enquadramento Teórico

2.1. A sociedade, a escola e as TIC

2.1.2. Projectos, iniciativas e estratégias para a integração das TIC

Como já foi referido, o valor das TIC é inegável. Estas constituem, de facto, uma importante ferramenta intelectual que permite estender as capacidades de pensamento e de acção dos seres humanos nos mais diversos domínios. Todavia, não é a ferramenta que interessa, mas sim o que se pode fazer com ela. O seu principal interesse reside nas novas formas de criatividade que se podem desenvolver (Ponte, 1994).

Ao longo destes anos, o Ministério de Educação procurou promover algumas iniciativas no sentido de integrar as TIC na educação.

A primeira dessas iniciativas, que teve expressão nacional na introdução das TIC no ensino, foi o projecto Minerva (Meios Informáticos no Ensino: Racionalização, Valorização e Actualização). Este projecto foi iniciado em 1985 e durou até 1994 (Lemos, 1998).

Os objectivos perseguidos por este projecto contemplavam diversas vertentes: apetrechamento informático das escolas; formação de professores e de formadores de professores; desenvolvimento de software educativo; promoção da investigação no âmbito da utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação nos Ensinos Básico e Secundário (id).

Neste sentido, foram desenvolvidas actividades, em diversos pólos espalhados pelo país, coordenadas pelo Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério de Educação, envolvendo largos milhares de alunos e professores, que colocavam os computadores como ferramentas de aprendizagem, quer a nível disciplinar como interdisciplinar, na sala de aula e em clubes ou laboratórios de informática (Ministério da Ciência e da Tecnologia – Missão para a Sociedade da Informação, 1997).

Segundo Ponte (1994) o projecto MINERVA “proporcionou a afirmação de conceitos educativos importantes como a noção de utilização crítica da informação, o trabalho de projecto, a colaboração interdisciplinar, a integração das TIC nas disciplinas existentes e o papel dos centros de recursos nas organizações escolares” (s/p).

Todavia, segundo o relatório final deste projecto, referido também em Ponte (1994), os propósitos que visava não foram totalmente conseguidos. Muito ficou por desenvolver, nomeadamente ao nível da integração das TIC nos planos curriculares, na vida das escolas e na formação dos professores.

Assim, numa tentativa de dar seguimento ao que tinha sido feito através do projecto MINERVA, foi criado, posteriormente, o Programa Nónio-Século XXI (Programa de Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação), lançado, igualmente, pelo Ministério da Educação, em Outubro de 1996. Este projecto contemplava quatro subprogramas: aplicação e desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC); formação em TIC; criação e desenvolvimento de software educativo e difusão de informação e cooperação internacional (Ministério da Ciência e da Tecnologia – Missão para a Sociedade da Informação, 1997). Este programa, como refere Brandão (2002-a), apoiou, entre 1997-2001, 430 projectos que envolveram mais de 750 escolas do pré-escolar ao secundário que visavam a integração pedagógica das TIC, tendo-se criado uma rede de Centros de Competência, a nível nacional, que acompanhou e apoiou estes projectos. A avaliação global da actividade dos Centros e dos projectos de escola confirmaram ser este o modelo recomendado para garantir impactos positivos na aprendizagem.

No início de 2002, o Ministério de Educação publicou um documento intitulado “Estratégias para a acção – As TIC na educação”, resultado de um trabalho de reflexão conjunto de representantes dos diferentes serviços centrais e regionais do Ministério da Educação que constituíram o Grupo Coordenador dos Programas de Introdução, Difusão e Formação em TIC.

As estratégias nacionais apontadas nesse documento incidiram essencialmente em: definição, desenvolvimento e certificação de competências básicas em TIC dos alunos, professores e adultos; integração das TIC nos processos de ensino e aprendizagem – integração curricular (educação básica, ensino secundário, ensino recorrente, ensino básico e secundário a distância, ensino do Português no estrangeiro) e alunos com NEE; condições de acesso às TIC em infra-estruturas e conteúdos multimédia; formação de professores e outros agentes educativos e, por último, investigação, desenvolvimento e avaliação das TIC (Brandão, 2002-a).

Este documento, segundo Brandão (2002-a), passou a ser um referencial para a implementação de estratégias de integração das TIC no sistema até 2006.

Paralelamente a estas iniciativas, várias outras foram promulgadas ao longo destes anos, de modo a pôr em prática as estratégias apontadas. Contam-se entre muitas, por exemplo:

- a criação, por parte do Departamento do Ensino Secundário e do Departamento do Ensino Básico, de conteúdos online para apoio de várias áreas curriculares, como é o caso da Matemática;

- a iniciativa do Departamento de Avaliação Prospectiva e Planeamento (DAPP), através do Programa Nónio, de premiar, editar e financiar o desenvolvimento de software educacional e de conteúdos para a Web. Entre 1997 e 2001 premiou cerca de 20 títulos de software educacional, financiou cerca de 10 projectos de desenvolvimento de software e cerca de 50 projectos temáticos para a Web. Para além disto, o DAPP realizou vários levantamentos estatísticos e apoiou vários estudos relacionados com as TIC e com a aprendizagem.

- o lançamento, por parte da Direcção Regional de Educação do Centro em parceria com a PT Inovação e o CFAE de Aveiro, do projecto TIC-TAC com o objectivo de criar uma comunidade local comprometida com a educação das crianças e dos jovens e com o objectivo de pensar novos modelos de aprendizagem e cooperação envolvendo as TIC.

Outro projecto financiado pelos programas Nónio século XXI foi o REDEMATTIC. Este projecto, implementado em oito escolas dos concelhos de Cascais e Oeiras, no ano lectivo de 1997/1998, teve como vertente fundamental a formação de professores. Incluiu, neste âmbito, acções de formação para aquisição de conhecimento na área das TIC (exploração de software aplicável em Matemática) e, noutro momento, oficinas para planificação, produção de materiais e divulgação e reflexão sobre experiências levadas a cabo com os alunos. No que concerne às actividades com os alunos, esta iniciativa compreendeu a criação de laboratórios de Matemática, equipados com material informático e outros. Este projecto conta, actualmente, com um sítio na Web, onde se disponibilizam materiais no âmbito de várias unidades programáticas desta disciplina, ao nível do 3.º Ciclo do Ensino Básico (Educare1, 2003).

Algumas das principais estratégias nacionais, no que à integração das TIC diz respeito, têm sido implementadas com parceiros europeus – eEurope e Plano de Acção eLearning, designing tomorrow’s education – unidos para fomentar a utilização educativa das TIC, nomeadamente da Internet, para melhorar a qualidade do ensino e aprendizagem (Ministério da Educação, 2002).

No que concerne ao Plano de acção eLearning, as metas estabelecidas foram as seguintes:

- até finais de 2002, todas as escolas deveriam estar ligadas à Internet;

1 “Educare” é um portal de Educação, com informação de referência na referida área, especialmente dirigida a alunos, professores, etc. (URL: http://www.educare.pt/)

- até 2004, deveria alcançar-se um rácio entre 5 a 15 alunos por computador multimédia em todas as escolas;

- disponibilizar um conjunto de serviços e recursos educativos na Internet, bem como plataformas de ensino online para professores, pais e alunos;

- deveriam ser revistos os curricula de forma a integrar novas metodologias de aprendizagem, baseadas nas TIC (Ministério da Educação, 2002; Brandão, 2002-b).

Em Novembro de 2004 foi aprovado mais um projecto europeu com o nome de Seguranet. Os objectivos perseguidos foram criar um nó nacional para a segurança na Internet, articulado com a rede europeia liderada pela European Schoolnet; implementar um site nacional para a “Segurança na Internet” e produzir material de divulgação, e também, lançar uma campanha de sensibilização junto da comunidade educativa e na comunicação social sobre “Segurança na Internet". Assim, com intuito de cumprir os seus propósitos, o Seguranet lançou uma campanha de sensibilização junto das escolas e da comunidade em geral para os reais benefícios da Internet, procurando esclarecer, junto dos educadores (famílias e professores), para que serve a Internet e a Web, o que se pode fazer com ela, como tirar partido desta ferramenta na vida quotidiana ao nível da educação, do lazer, da actividade económica, da vida social, da cultura, etc. e, ainda, sobre os benefícios da rede do ponto de vista tecnológico. A juntar a isto, foi divulgada uma lista de conselhos práticos para os educadores, onde se alerta para a correcta utilização desta ferramenta, bem como formas de prevenir situações de risco de modo a proporcionar aos filhos e alunos uma navegação com segurança (Ministério da Educação, s/d).

Destacaram-se apenas alguns exemplos de iniciativas e projectos no âmbito das TIC na educação, muitos outros se poderiam apontar, igualmente relevantes. Contudo, há ainda um longo percurso até que a utilização das TIC, nomeadamente, da Internet e da Web, em particular, seja contextualizada e utilizada pelos professores de forma sistemática e natural na sala de aula e noutros espaços escolares.