• Nenhum resultado encontrado

Esse Projeto foi resultante de mais uma ação conjunta, desenvolvida em parceria entre a UNDIME, a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação - UNCME, o UNICEF e a Secretaria de Educação do estado da Paraíba – SEC/PB, denominado Construção

dos Planos Municipais de Educação: por uma pedagogia de direitos. Ele foi desenvolvido

Municípios39, entre os que haviam manifestado no instrumento denominado Plano de Ação Educativa, o propósito de realizar a metodologia sugerida no material para construir seus planos municipais. A esse respeito, a coordenação do UNICEF referiu em entrevista:

Com os resultados de 2003, na articulação de 101 municípios para a capacitação em gestão pública da educação com todo o quadro técnico do CENPEC foram feitos inúmeros eventos. Ao final do período, numa reunião de avaliação e de exibição de experiências dos municípios, em João Pessoa, a Fundação Itaú Social, o CENPEC e o governo do estado da Paraíba, a Secretaria de Educação decidiram continuar o programa sob um novo formato, identificando que o diagnóstico que os municípios tinham feito na capacitação com o CENPEC apontava para a necessidade de fazer planos municipais de educação (UNICEF, 2005).

Os dados analisados permitem identificar as formas de exercício do poder local conservador se colocando como obstáculo para mudanças na Educação. De fato, o fisiologismo e demais práticas político-partidárias que vêm historicamente dificultando uma construção substantiva da democracia entre nós, constitui um fator de preocupação expressa no discurso da técnica da UNICEF, conforme exemplificamos a seguir, na questão relativa à centralização das decisões acerca dos desdobramentos do Programa:

Como recursos, nós adicionamos a participação da Casa Pequeno Davi, que congrega também o Fórum DCA – Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente e que exerce representação no Conselho de Educação e no Conselho dos Direitos da Criança da Paraíba. Então era uma instituição que tinha articulação política suficiente para inclusive enfrentar o ano de dois mil e quatro como um ano de transição política. Então que as mudanças na Prefeitura pudessem desde o início estar sendo pensadas para garantir a continuidade das ações. O Estado seria uma garantia porque o estado ainda teria um período de exercício. (UNICEF, 2005)

Podemos, também, perceber, em contextos discursivos da mesma pessoa entrevistada (técnica da UNICEF), uma percepção do papel que cabe às ONG desempenhar em complementação e controle à ação do Estado no provimento de políticas sociais, o que aponta para o alargamento da esfera pública das decisões, tal como ilustramos:

39

O objetivo era atingir 20 Planos. Até o período da coleta de dados, os municípios paraibanos citados pela Agenda, relacionados na primeira reunião, eram os seguintes: Alagoa Grande, Algodão de Jandaíra, Brejo dos Santos, Caaporã, Casserengue, Catolé do Rocha, Desterro, Esperança, Jacaraú, Monteiro, Patos, Pirpirituba, Princesa Isabel, Santarém, Santa Luzia, São Francisco, São José de Piranhas, São José do Rio do Peixe e São José do Sabugi.

Então eu penso que o caminho é essa articulação entre organizações governamentais e não-governamentais, porque se a não-governamental ou a ONG quisesse sozinha, ela não conseguia. Mesmo sendo conselheira do Estado foi necessário que tivesse o poder da Secretaria de Educação. Foi necessário que tivesse a mídia, por exemplo, porque aí não dá para dizer que não está fazendo, [que] o outro não fez. Então é muito assim: um controle social às vontades político-partidárias (UNICEF, 2005).

Em direção semelhante à percepção da técnica da UNICEF se coloca a da técnica do CENPEC por nós também entrevistada. Neste caso, o poder da ONG é contraposto ao poder da máquina governamental, por meio do reconhecimento da fragilidade da primeira em relação à segunda em termos da promoção de mudanças. Ainda que a técnica não possa ser tomada como uma representação direta do CENPEC, mesmo assim, em certa medida se nota um distanciamento do que preconiza o material didático por nós analisado e esse discurso “da

fragilidade”, como demonstraremos adiante.

Então é difícil você mexer nessa coisa estrutural que fica complicada, porque é assim: a gente tem muita clareza do papel que a gente tem e do lugar que a gente ocupa. E é uma ONG que tem todo o reconhecimento que ela tem, mas perto de um Estado ou perto de uma gestão municipal, a gente é pequenininho, entendeu? E aí a gente não tem força política para mudar algumas coisas ou para deixar, por exemplo, às vezes, algumas pessoas precisariam permanecer na Secretaria para dar continuidade.... porque quebra. rep. CENPEC, junho, 2005] [...] Agora, tem alguns prefeitos que a gente sentiu que, assim..., tinham uma resistência muito grande às propostas do programa e às vezes as pessoas que estão à frente, mais batalhadoras, mais ousadas, continuam, apesar das restrições nas prefeituras. (...) Algumas vezes acontece de quando o prefeito vê que isso já está na boca do povo (risos)... Já tá sendo falado... As reuniões tão acontecendo... Ele baixa a resistência e começa a fazer o quê? Ele puxa isso pra palanque. Essa conversa incorpora e vai pra palanque, dizer que aquilo era uma proposta dele. Alguns casos têm acontecido isso, (...mas) não é em todos. (...) Porque muitas vezes foi abortado, não vai pra frente, ele não consegue (CENPEC, 2005).

Chama a atenção o paradoxo que identificamos quando, ao longo do primeiro trecho do discurso, observa-se a referência a uma ação que se pretende coletiva, mas cuja expectativa de mudança é individual. Vale ainda referir o distanciamento que parece existir entre o CENPEC e os atores da máquina governamental que vão dar concretude ao Programa, fato que, certamente, se coloca em confronto com o discurso apregoado pela iniciativa. É nesta direção que a técnica entrevistada afirma:

A Casa Pequeno Davi foi parceiro assim como o Fórum das Crianças, que esteve junto, tentando levar isso para frente. Quer dizer, essa entrada do terceiro setor ela ainda é vista por alguns segmentos como alguma coisa de intromissão na coisa pública. Eu vejo assim. Porque assim [...] (CENPEC, 2005).

Por outra parte, no corpo do Relatório apresentado pelo CENPEC (2004) acerca do Programa Melhoria, encontramos as seguintes observações quanto aos resultados do trabalho desenvolvido na Paraíba:

Soluções criativas, singulares e eficientes para oferecer educação de boa qualidade a todas as suas crianças, tais como:

• Utilização do teatro para estimular a formação de competências para a leitura e a escrita;

• Criação de classes de reforço para alunos com dificuldades; • Articulação entre professores das zonas urbana e rural; • Alfabetização para pais de alunos;

• Desenvolvimento da formação continuada para todos os professores da escola;

• Utilização do folclore no currículo, tornando os conteúdos escolares mais significativos;

• Estabelecimento de parcerias com alunos do magistério para melhorar a aprendizagem da leitura e da escrita;

• Desenvolvimento do currículo através de temas da realidade social; • Eliminação de evasão com ajuda da comunidade;

• Criação de conselhos de classe na zona rural;

• Parceria com os Correios para melhorar as competências de leitura e de escrita.

Como conclusões parciais, o documento ressalta os resultados da metodologia ali adotada; a consistência da estrutura de gestão ao integrar parceiros regionais, o que proporcionou legitimidade e confiabilidade no processo; a presença constante e massiva dos formadores nos momentos de capacitação; o fortalecimento desses sujeitos enquanto lideranças locais e o apoio das prefeituras dos municípios que arcaram com os gastos de deslocamento dos agentes educacionais.

Nesse momento de acompanhamento foi definidor retornar para o material básico de capacitação, para ir em busca do significado do que os sujeitos dizem, quando estão em uma determinada posição institucional, no momento em que falam, bem como no

mapeamento de como essas relações se expressam, introduzindo uma dimensão de relativa universalidade. Vimo-nos, portanto, diante de uma situação problematizadora, em que diferentes visões estão postas a respeito de uma intervenção de ampla penetração, instigante, portanto, a uma melhor compreensão e à elucidação sobre as práticas discursivas e sociais materializadas, o que tratamos de consolidar nas análises que fizemos.