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O projeto lei n º 1.876/99 elaborado pelo Deputado Aldo Rebelo, tem gerado considerável polêmica em torno da construção de uma nova lei florestal em substituição à Lei nº 4.771 de 15 de setembro de 1965 que instituiu Código Florestal, o qual disciplina institutos jurídicos que podem ser colocados entre as principais ferramentas existentes em cunho nacional tendo em vista a proteção da flora nativa,

principalmente no que tange às áreas de reserva legal (BRASIL, 1965).

Pode-se perceber quanto aos espaços especialmente protegidos que desde a definição atribuída pelo Código Florestal de 1965, a legislação atinente tem sofrido diversas alterações, as quais parecem contínuas e ocorreram em virtude de mudanças socioeconômicas e ambientais no país. A evolução do direito ambiental com a redação do referido código passou a proteger a biodiversidade e veio a proporcionar um melhor delineamento da função social da propriedade em sua dimensão ambiental no que tange ao estreito relacionamento com a presença da reserva legal (FIGUEIREDO, 2004).

Dentre as diversas mudanças atinentes ao instituto da reserva legal propostas pelo Deputado Alto Rebelo destacam-se como principais a possibilidade dos Estados decidirem pela redução da Reserva Legal de 80% para 50% na Amazônia Legal; isenção de Reserva Legal para proprietários de imóveis rurais com menos de até quatro módulos fiscais; cômputo da Reserva Legal à áreas de preservação permanente a partir de quatro módulos fiscais para demais propriedades; anistia aos casos de desmatamentos em área de Reserva Legal ocorridos até 22 de julho de 2008 (NASSAR, 2011).

Relevante mencionar, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) que divulgou em julho de 2011 o Comunicado nº 96, intitulado “Código Florestal: Implicações do Projeto de Lei n° 1.876/99 nas áreas de reserva legal”, sua aprovação terá impactos significativos "sobre a área com vegetação natural existente nos biomas brasileiros e sobre os compromissos assumidos pelo Brasil para a redução de emissões de carbono”, destacou ainda a importância de se estabelecerem alternativas para viabilizar a aplicação efetiva das leis ambientais, com o objetivo de “conciliar o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental” (NASSAR, op cit.).

Por seu turno, ainda segundo Nassar (op cit.) o estudo realizado pelo IPEA, apresentou quatro erros que criam mais confusão do que esclarecimento sobre o que está em jogo na reforma do Código Florestal. Dentre os quais se destacou a análise do tamanho do passivo de Reserva Legal, não faz qualquer menção ao fato de que uma parte das áreas abertas, e que deveriam ser destinadas ao cálculo de Reserva Legal, foram desmatadas legalmente na legislação vigente à época; O estudo foi capaz de estimar o passivo de Reserva Legal, mas decidiu não mencionar que, se levada “a ferro e fogo”, a recomposição integral das áreas de Reserva Legal

acarretaria redução da produção, prejudicando os consumidores brasileiros; a adoção de premissas que superestimam o passivo de Reserva Legal no Brasil.

Nassar (2011) aduz que dentre os incongruentes pontos de divergência do Projeto de Lei n° 1.876/99, cumpre destacar os concernentes à reserva legal, a qual tem sua definição alterada e encontra-se disposta no art. 3°, inciso X:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei entende-se por: [...]

X – Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 13, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar à conservação e à reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, o abrigo e a proteção da fauna silvestre e da flora nativa; (BRASIL, 1999).

Releva observar, a definição de reserva legal fora acrescida pelo termo “uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural”, fator que possibilitará a utilização destas áreas desde que, atenda os preceitos de sustentabilidade, vez que a Reserva Legal trata-se de uma porção que cada imóvel deve manter sem a remoção completa, permitindo-se a extração de produtos florestais e atividades que promovam a conservação da biodiversidade do Brasil e consequentemente do Planeta..

No que tange as dimensões da reserva legal, assinala Nassar (op cit.) que o Projeto de Lei nº 1.876/99 em termos gerais manteve os percentuais mínimos na Amazônia Legal de 80% para imóveis situados em áreas de floresta, 35% para áreas de cerrado, 20% em áreas de campos gerais e 20% nas demais regiões do país (Art. 13, incisos I e II).

Em obstante, Lima (2011) verifica a possibilidade de redução da Reserva Legal na Amazônia Legal, desde que, indicado pelo Zoneamento Ecológico- Econômico (ZEE), cujo argumento alude que não induzirá o desmatamento, vez que visa a incentivar a plantação de florestas nativas e exóticas, contudo, tal possibilidade é limitada para os caso de recomposição florestal, conforme previsão do Código Florestal vigente. O art. 13 do Projeto Legal prevê ainda, em seu parágrafo 3º prevê a possibilidade de redução da reserva legal para até 50% para fins de recomposição de áreas suprimidas, nos municípios que tenham mais de 50% de sua área em unidades de conservação, nas quais existem terras indígenas e reservas extrativistas.

Por seu turno, o texto aprovado pela Câmara em seu art. 14, inciso I, prevê a redução da Reserva Legal apenas para fins de regularização da área rural consolidada, enquanto que o Código atual admite a redução de Reserva Legal em casos de recomposição e para imóveis que suprimiram vegetação antes de 1998 (LIMA, 2011).

Assim, dispõe o Projeto de Lei nº 1.876/99 acerca da redução da Reserva Legal:

Art. 14. Quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico- ZEE estadual, realizado segundo metodologia unificada, o poder público federal poderá:

I – reduzir exclusivamente para fins de regularização da área rural consolidada, a Reserva Legal de imóveis rurais situados em área de floresta localizada na Amazônia Legal para até 50% (cinqüenta por cento) da propriedade, excluídas as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos e os corredores ecológicos; (BRASIL, 1999).

Nesta senda, acentua Lima (op cit.) que a proposta do novo Código Florestal apresentada por Aldo Rebelo demonstra que a questão referente à Reserva Legal (RL) é apontada como um problema demasiadamente grande, pelo fato de abranger diversos pontos de divergência além dos percentuais adequados por englobar tanto a questão ambiental quanto a social.

Vale destacar, ainda segundo Lima (op cit) sob o aspecto de recomposição da Reserva Legal, que a Seção 3 elenca a Regularização Ambiental em Reserva Legal e o Capítulo X trata dos Instrumentos Econômicos para Conservação da Vegetação de provável benefício a ser proporcionado pelo Projeto de Lei 1.876/99, onde permite a recomposição e a compensação dos passivos de Reserva Legal em outras áreas com vegetação dentro do mesmo bioma, sendo que tal fator induz que a reforma poderá fomentar a conservação de milhares de hectares de áreas nativas íntegras, consequentemente aumenta estoques de carbono, contribuindo positivamente para a proteção da biodiversidade, água e outros recursos naturais.

Convém consignar, no que tange ao cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual de reserva legal, o Projeto de Lei 1.876/99 permite a quem desmatou ilegalmente computar a Área de Preservação Permanente no cálculo da Reserva Legal, contudo, a regra atual preceitua que o cômputo somente é admitido quando APP+RL exceder 80% da propriedade rural localizada

na Amazônia Legal, 50%da propriedade rural localizada nas demais regiões e 25% da pequena propriedade (LIMA, 2011).

Assim apregoa o texto aprovado:

Art. 16. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel desde que:

I – o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;

II – a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e

III – o proprietário ou possuidor tenha requerido a inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural, nos termos desta lei (BRASIL, 1999).

Em obstante, verifica-se que a proposta alhures quedou-se omissa no que se refere ao fato de que as áreas de preservação permanente brasileiras ocupam cerca de 10% a 15% da área dos imóveis rurais, bem como possuem funções diversas à Reserva Legal na proteção das florestas e vegetação contidas nestes espaços especialmente protegidos (TRINDADE, 2011).

Nota-se ainda, que o Projeto de Lei 1.876/99 normatizou no texto aprovado no art. 40 acerca da recomposição de 50 % da reserva legal com espécies exóticas, o que permite a quem desmatou ilegalmente recompor a área suprimida com finalidade econômica, todavia, obsta os proprietários de imóveis rurais que cumpriram a lei de plantar espécies exóticas com esta finalidade. Já a regra atual permite a utilização destas espécies somente de forma temporária, como pioneiras, cujo objetivo é a restauração do ecossistema original (art. 44, § 2º da Lei nº 4.771/65) (TRINDADE, op cit.).

A proposta de reforma aprovada no Projeto de Lei n° 1.876/00, prevê neste sentido:

Art. 40 [...]

§ 3º A recomposição de que trata o inciso I do caput poderá ser realizada mediante o plantio intercalado de espécies nativas e exóticas, em sistema agroflorestal, de acordo com os critérios técnicos gerais estabelecidos em regulamento, observados os seguintes parâmetros:

I – o plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com espécies nativas de ocorrência regional;

II – a área composta de espécies exóticas não poderá exceder a 50% (cinquenta por cento) da área total recuperada

§ 4º Os proprietários ou possuidores do imóvel que optarem por recompor a Reserva Legal na forma dos §§ 2º e 3º terão direito à sua exploração econômica, nos termos desta Lei. (BRASIL, 1999)

Vislumbra-se que a Reserva Legal terá significativas e injustas alterações no que se refere à averbação da reserva legal, onde os proprietários de imóveis rurais que cumpriram os preceitos legais atinentes deverão manter a averbação da Reserva Legal, enquanto que os proprietários que deixaram de averbar, deverão registrá-la no órgão ambiental competente (TRINDADE, 2011).

Neste ínterim, preceitua o Substitutivo Projeto de Lei 1.876/99 sobre a averbação da Reserva Legal:

Art. 34. Nos casos em que a Reserva Legal já tenha sido averbada na matrícula do imóvel e em que essa averbação identifique o perímetro e a localização da reserva, o proprietário não será obrigado a fornecer ao órgão ambiental as informações relativas à Reserva Legal previstas no inciso III do § 1º do art. 30.

Art. 19. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no Cadastro Ambiental Rural de que trata o art. 30, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei (BRASIL,1999).

Por sua vez, o Projeto de Lei n° 1.876/99 assevera em seu artigo 13, caput, que os imóveis rurais, com exceção das pequenas propriedades rurais deverão possuir área de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as áreas de Preservação Permanente (TRINDADE, op cit.).

Nesta seara, nota-se importante diferença entre o projeto aprovado pela Câmara dos Deputados e o Código Florestal vigente, vez que as propriedades rurais sem distinção de extensão territorial deve deixar área a título de Reserva Legal, porém, o Projeto de Lei 1.876/99 traz uma exceção no que se refere às pequenas propriedades rurais, ou seja, “imóvel rural com até quatro módulos fiscais”, todavia, considerada área vigente na data da publicação do Substitutivo. Ressalte-se que o remanescente da vegetação nativa existente nestas propriedades deverá ser observado até o percentual de Reserva Legal estabelecido para a região de localização do imóvel (TRINDADE, op cit.).

Dispõe o texto aprovado no Projeto de Lei n° 1.876/99 neste sentido.

Art. 13. Os imóveis rurais, exceto as pequenas propriedades ou posses rurais nos termos desta Lei, devem possuir área de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente.

§ 1º A Reserva Legal exigida no caput observará os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel:

I – imóveis localizados na Amazônia Legal:

a) oitenta por cento, no imóvel situado em área de florestas; b) trinta e cinco por cento, no imóvel situado em área de cerrado; c) vinte por cento, no imóvel situado em área de campos gerais; II – imóveis localizados nas demais regiões do País: vinte por cento. [...]

§ 7º Nos imóveis com área de até 4 (quatro) módulos fiscais que possuem remanescentes de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no caput, a Reserva Legal será constituída com área ocupada por vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões para o uso alternativo do solo (BRASIL,1999).

O Projeto de Lei n° 1.876/99 acentua ainda, sob este prisma que quando o imóvel rural se localizar em área de formações florestais, savânicas ou campestres na Amazônia Legal a Reserva Legal será definida considerando separadamente os limites contidos para cada fitofisionomia vegetal da Amazônia Legal, como prevê o art. 16, §1º do Código Florestal de 1965 (TRINDADE, 2011).

Assinala Trindade (op cit., p. 30) acerca das alterações referente aos imóveis rurais e o instituto da Reserva Legal que:

Como as propriedades e posses rurais até 4 módulos fiscais - pequenas propriedades ou posses rurais - ficam dispensadas de ter área de Reserva Legal, o PL expressa que em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada, para fins da verificação da obrigatoriedade existência da Reserva Legal, a área do imóvel antes do fracionamento. O Substitutivo veda a supressão dos remanescentes de vegetação nativa existentes nas pequenas propriedades ou posses rurais, na data de sua publicação, até que o percentual de Reserva Legal seja estabelecido para região de localização do imóvel rural 28. Incumbirá ao Poder Público - sem qualquer definição de qual ente federativo – fazer o inventário do remanescente de vegetação para o controle e fiscalização da obrigatoriedade de manter os remanescentes de vegetação nativa.

Por derradeiro, convém ressaltar outra novidade trazida na proposta de alteração do Código Florestal vigente apresentada pelo Deputado Aldo Rebelo, onde o artigo 28 estabelece que as propriedades ou posses rurais com área de Reserva Legal, em percentuais de dimensões inferiores aos exigidos, ficam obrigadas à recomposição ou compensação somente em relação à área que exceder a quatro módulos fiscais no imóvel, desde que não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo (TRINDADE, op cit.).

Lei n° 1.876/99 que:

Ou seja, aqueles imóveis que não possuem Reserva Legal ou que possuem tal área com a vegetação inferior aos limites estabelecidos, somente terão que recuperar e averbar o percentual de Reserva Legal com base no que exceder a quatro módulos fiscais no imóvel. Por exemplo: uma propriedade de 4.000 hectares, numa região onde o módulo fiscal é de 100 ha e que o percentual de Reserva Legal a ser obedecido é de 20% da propriedade. Caso este imóvel não tenha ou necessite recompor a Reserva Legal, o cálculo do percentual de tal área se dará com base no que superar os 4 módulos fiscais. Assim, os 20% da Reserva Legal seriam calculados, no exemplo, sobre 3.600 ha, e não sobre os 4.000 hectares da propriedade, pois o cálculo se dará sobre a área que ultrapassar os 4 módulos fiscais.

Inobstante, o Projeto de Lei n° 1.786/99 apresenta pontos positivos e negativos no texto aprovado pela Câmara, porém, sofrerá alterações e adaptações após apreciação do Senado Federal por meio do Projeto de Lei da Câmara nº 30/11, a ser explanado no terceiro capítulo.

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