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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR CAMPUS DE CACOAL DEPARTAMENTO ACADÊMICO DO CURSO DE DIREITO PATRÍCIA APARECIDA DA SILVA BORTOLIN

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CAMPUS DE CACOAL

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DO CURSO DE DIREITO

PATRÍCIA APARECIDA DA SILVA BORTOLIN

MODIFICAÇÃO DA RESERVA LEGAL NO NOVO CÓDIGO

FLORESTAL

Trabalho de Conclusão de Curso Monografia

(2)

FLORESTAL

Por:

PATRÍCIA APARECIDA DA SILVA BORTOLIN

Monografia apresentada à Universidade Federal de Rondônia Campus de Cacoal, como requisito parcial para grau final de Bacharel em Direito elaborada sob a orientação da Professora MSc. Thais Bernardes Maganhini.

(3)

FLORESTAL

PATRÍCIA APARECIDA DA SILVA BORTOLIN

Esta monografia foi julgada aprovada para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR – Campus de Cacoal, mediante apresentação à Banca Examinadora, formada por:

___________________________________________________ Professora MSc. Thaís Bernardes Maganhini. Orientadora/UNIR

____________________________________________________

Professor MSc Telmo de Moura Passareli - Membro/UNIR

________________________________________________

Professor MSc Bruno Milenkovichi Caixeiro - Membro/UNIR

(4)

À Deus, à minha amada mãe Neuzenir, apoiadora e parceira incondicional, presente em todos os momentos e elemento essencial de todas as minhas conquistas.

(5)

Agradeço à Deus, à minha querida mãe Neuzenir, ao meu namorado Braga Neto, ao meu irmão Patrésio, aos amigos que de alguma forma, me auxiliaram.

A minha querida orientadora Professora Msc. Thaís, por toda ajuda, paciência e compreensão no decorrer da realização deste trabalho.

Agradeço também, a Professora Irene, a qual ministrou a disciplina de direito ambiental e despertou-me o interesse pelo tema.

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RESUMO

BORTOLIN, Patrícia Aparecida da Silva. “Modificação da reserva legal no novo

Código Florestal”. 64 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso. Fundação Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal – 2011.

O estudo em questão tem por finalidade demonstrar a afetação do meio ambiente com a aprovação da proposta de alteração do Código Florestal (Lei n° 4.771/65) por meio do Projeto de Lei n° 1.876/99 do Deputado Aldo Rebelo, principalmente no que tange ao instituto da Reserva Legal. O presente trabalho elenca uma abordagem dos mecanismos de proteção do meio ambiente, observando-se o contexto histórico das normas e princípios do direito ambiental, tecendo-se considerações acerca da legislação florestal relacionada à Reserva Legal, mecanismo de significativa importância para a conservação dos recursos naturais e que possibilita sua utilização, desde que de forma sustentável, atentando-se aos preceitos relacionados à delimitação, averbação, compensação e recuperação das áreas desmatadas. A monografia desenvolveu-se por meio de consulta bibliográfica e análises de opiniões de ambientalistas, ruralistas e juristas quanto ao projeto de reforma do Código Florestal, no intuito de comparar os argumentos a favor ou contra, principais alterações, sob a ótica de evolução ou retrocesso da legislação ambiental brasileira concernente à reserva legal, bem como os possíveis impactos sobre a biodiversidade. O procedimento metodológico adotado traduz-se na observação do método dedutivo em conjunto ao dialético.

(8)

ABSTRACT

BORTOLIN, Patrícia Aparecida da Silva. “Modificação da reserva legal no novo

Código Florestal”. 64 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso. Fundação Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal – 2011.

This study aims to demonstrate the violation of the environment with the approval of the proposed amendment to the Forest Code (Law No. 4.771/65) through the Project of Law No. 1.876/99 Deputy Aldo Rebelo, especially in With respect to the institution of legal reserve. This paper lists a discussion of mechanisms of protection of the environment, noting the historical context of the rules and principles of environmental law, weaving considerations about laws related to forest Reserve, mechanism of significant importance for the conservation of resources natural and enabling its use, since in a sustainable manner, observing the precepts relating to the delimitation, registration, clearing and recovery of deforested areas. The monograph was developed through consultation literature reviews and analysis of environmental, rural and lawyers about the project to reform the Forest Code in order to compare the arguments for or against, major changes from the perspective of evolution or reverse Brazilian environmental legislation concerning the legal reserve, as well as possible impacts on biodiversity. The methodological procedure adopted is reflected in the observation of the deductive method in conjunction with the dialectic.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...10

1 PROTEÇÃO AMBIENTAL NO DIREITO BRASILEIRO...12

1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA...13

1.3 MEIO AMBIENTE COMO DIREITO FUNDAMENTAL...15

1.4 PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL...16

1.4.1 Desenvolvimento sustentável...17

1.4.2 Prevenção e Precaução...19

1.4.3 Poluidor pagador...20

1.4.4 Informação...21

1.4.5 Bem de Uso Comum do Povo...22

1.4.6 Vedação ao Retrocesso...22

1.5 CÓDIGO FLORESTAL DE 1934...23

1.6 CÓDIGO FLORESTAL DE 1965...24

2 DA RESERVA LEGAL...26

2.1 CONCEITO E FINALIDADE DA RESERVA LEGAL...26

2.2 PROJETO DE LEI Nº 1.876/ 1999 E AS ALTERAÇÕES NAS ÁREAS DE RESERVA LEGAL...30

2.3 FUNÇÃO AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL...37

2.4 RESERVA LEGAL E AS PROPRIEDADES RURAIS...39

2.5 ÁREAS DE RESERVA LEGAL NO ESTADO DE RONDÔNIA...41

2.6 DEFINIÇÃO DO MÓDULO FISCAL...43

3 A AFETAÇÃO DO MEIO AMBIENTE COM A APROVAÇÃO DA RESERVA LEGAL NO NOVO CÓDIGO FLORESTAL...44

(10)

3.3 DEFINIÇÃO DO ARTIGO 8º COM O INTERESSE SOCIAL E PÚBLICO NO

CÓDIGO FLORESTAL DE 1965...49

3.4 PONTOS DE DIVERGÊNCIA ENTRE AMBIENTALISTAS E RURALISTAS...50

3.5 CÓDIGO FLORESTAL: MODERNIZAÇÃO OU RETROCESSO?...51

CONCLUSÃO...54

REFERÊNCIAS...56

OBRAS CONSULTADAS...61

(11)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva analisar a importância sócio-ambiental da Reserva Legal e a afetação do meio ambiente com a aprovação do Projeto de Lei n° 1.876/99, cujo texto trata da reforma do Código Florestal de 1965, principal instrumento legal de proteção da flora brasileira. O estudo em questão desenvolve-se a partir de uma contextualização histórica das normas e princípios do direito ambiental relacionados à Reserva Legal, realizando-se uma abordagem da proposta de reforma, objeto que tem gerado considerável polêmica no âmbito político, jurídico e social do país, além de divergências de opiniões entre ruralistas e ambientalistas quanto à viabilidade de alteração da legislação florestal, levando-se em consideração os possíveis impactos sobre a biodiversidade.

A proposta de mudança do Código Florestal vigente apresenta como principal ponto de divergência a preservação ambiental face ao desenvolvimento agropecuário, eis que as discussões apregoam que uma provável alteração atentarar-se a uma dimensão adequada da sustentabilidade ambiental e do desenvolvimento econômico, bem como aos argumentos científicos dos impactos ambientais e do tratamento da propriedade rural.

(12)

propriedades; plantio de exóticas; compensação da Reserva Legal em outro Estado, desde que no mesmo bioma; e a anistia aos casos de ocorrência de desmatamentos em área de Reserva Legal ocorridos até 22 de julho de 2008.

Analisar criticamente as diversas incongruências do projeto alhures, identificar os possíveis impactos no patrimônio ambiental concernentes à reserva legal, investigar prováveis formas de conciliar a conservação da vegetação natural e o desenvolvimento econômico e observar como o Código Florestal vigente protege a flora brasileira, são os principais objetivos da implementação deste estudo.

Por seu turno, o trabalho desenvolve-se a partir de três capítulos: o primeiro realiza uma contextualização histórica da proteção ambiental no direito brasileiro mencionando-se normas e princípios. A segunda parte trata dos aspectos da reserva legal, conceito, finalidade, utilização e relação com a propriedade rural, mediante análise comparativa da legislação atual e do Projeto de Lei n° 1.876/99. Já o terceiro capítulo aborda a afetação do meio ambiente com a aprovação da reserva legal no Novo Código Florestal, discorrendo sobre os impactos sobre a biodiversidade, pontos de divergência entre ambientalistas e ruralistas, e menciona também opiniões sobre modernização ou retrocesso do respectivo código.

(13)

1 PROTEÇÃO AMBIENTAL NO DIREITO BRASILEIRO

A tutela jurídica do meio ambiente surgiu em virtude da necessidade de se estabelecer instrumentos de proteção face à descontrolada degradação ambiental, a qual atinge o ar, as águas, o solo e as florestas. Por conseguinte, passa a ameaçar não só o bem-estar, mas a qualidade da vida humana, se não a própria sobrevivência do ser humano (SILVA, 2007).

A proteção do meio ambiente no Brasil tem passado por diversas transformações, períodos em que não havia norma e sequer o direito ambiental, ramo do direito positivo difuso que tutela a vida humana com qualidade através de normas jurídicas protetoras do direito à qualidade do meio ambiente e dos recursos ambientais necessários ao seu equilíbrio ecológico (PIVA, 2000).

Ao analisar a legislação ambiental no Brasil, percebe-se que as primeiras formulações normativas concernentes à tutela do meio ambiente são encontradas na legislação portuguesa que teve vigência até o advento do Código Civil de 1916. Quando do descobrimento vigoravam as Ordenações Afonsinas, as quais previam que o corte de árvores de fruto era uma injúria ao Rei. Relevante acentuar que em 1521, trataram da matéria as Ordenações do Senhor Del Rey Dom Manuel, que proibiam a caça de certos animais. Em 1603 as Ordenações Filipinas previram o conceito de poluição. Contudo, toda essa legislação deixava imune o esbulho do patrimônio natural (MILARÉ, 2005).

Insta salientar, que as “Ordenações” supracitadas fomentaram a ação do Poder Público na proteção dos recursos naturais.

Segundo Silva (op cit.), a concepção privatista do direito de propriedade constituía forte barreira à atuação do Poder Público na proteção do meio ambiente, que necessariamente haveria de impor limites a tal direito e a iniciativa privada, sendo que neste contexto surgiram a primeiras normas protetoras, porém, de incidência restrita, destinavam-se a proteger direito privado na composição dos conflitos de vizinhança.

(14)

meio ambiente desenvolveu-se a partir de 1934.

Neste contexto apregoa Silva (2007, p. 35 e 36):

a) o Código Florestal (Decreto 23.793, de 23.1.1934), substituído pelo vigente, instituído pela Lei 4.771, de 15.9.1965; b) o Código de Águas (Decreto 24.643, de 10.7.1934, ainda em vigor, que, no Título IV do Livro II,

sobre “Águas Nocivas”, reprime a poluição das águas; c) o Código de Pesca (Decreto-lei 794, de 19.10.1938), que trouxe algumas normas protetoras

das águas (arts. 15, “h”, e 16), que foram ampliadas nos arts. 36 a 38 do

Código de Pesca baixado pelo Decreto-lei 221, de 28.1.1967, que é o que está em vigor.

Malgrado, o sistema jurídico brasileiro evoluiu e estabeleceu diplomas legais que disciplinam e protegem o meio ambiente, como a lei que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente no Brasil (Lei 6.938/81), seguida pela Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) e complementada pela Lei 9.605/98, a qual dispõe sobre os crimes ambientais, trouxe significativas inovações no que se refere à responsabilidade penal da pessoa jurídica, sanções de caráter educativo-ambiental, reparação de danos, dentre outros aspectos (LANFREDI, 2007).

1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Em que pese tratar-se de uma questão antiga, a agressão ao meio ambiente foi considerada consequência do progresso tecnológico e econômico, somente exigiu tratamento jurídico especial após a Segunda Guerra Mundial, no findar dos anos 50, sendo que até então não existia qualquer consciência social sobre problemas de ordem ambiental, sob qualquer aspecto de proteção da fauna ou flora (LANFREDI, op cit.).

(15)

Cediço que diversas convenções e declarações passaram a tratar da questão ambiental, eis que em junho de 1972 numa Conferência das Nações Unidas, realizada em Estocolmo, onde foi lançada a Declaração do Meio Ambiente, na qual se elencou 26 princípios, cuja preocupação foi à degradação da biosfera (LANFREDI, 2007).

Cumpre salientar que a Declaração de Estocolmo é considerada marco inicial no âmbito internacional acerca da tutela jurídica do meio ambiente, sendo que seus princípios nortearam assinaturas de acordos, protocolos, etc. Destaque-se o princípio primeiro de significativa importância, estabelecido na Conferência de Estocolmo de 1972, sob a visão de Lanfredi (op cit., p. 74):

O homem tem direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequada em ambiente que esteja em condições de permitir uma vida digna e de bem-estar; tem ele a grave responsabilidade de proteger e melhorar o ambiente para as gerações presentes e futuras.

Outrossim, em 1992 realizou-se no Brasil mais uma importante Conferência das Nações Unidas, a qual ficou conhecida como ECO 92, onde se discutiu acerca do problema de equilíbrio entre meio ambiente e desenvolvimento, bem como, reafirmou os princípios estabelecidos na Conferência de Estocolmo (SILVA, 2007).

Por sua vez, resultaram de ECO 92 outras declarações, dentre as quais se menciona a Agenda 21, considerada pela ONU uma das conferências mais importantes já organizadas, vez que lançou o desenvolvimento sustentável.

Segundo Lanfredi (op cit., p. 76), os principais objetivos da Agenda 21 são os seguintes:

(a) O processo de elaboração da Agenda 21 permite o acesso às condições básicas para promover a participação, formação e informação; b) Contribui para a formação e o fortalecimento da cidadania; c) Promove a substituição de valores inexpressivos pela participação e solidariedade, responsabilidade e cidadania, parceria e criatividade, estabelecimento de prioridades e planejamento.

(16)

Por oportuno, em relação à Lei n° 6.938/81 da Política Nacional do Meio Ambiente, frisa Lanfredi (2007) que seu objetivo é a preservação, melhoria de recuperação da qualidade ambiental, propiciar condições ao desenvolvimento socioeconômico, interesses da segurança nacional e proteção da dignidade da pessoa humana.

1.3 MEIO AMBIENTE COMO DIREITO FUNDAMENTAL

O texto constitucional brasileiro permite uma interpretação civilista, a qual visa à saúde das pessoas, expectativas das próximas gerações, utilização dos recursos sem efeitos negativos e exploração predatória. Nesta senda, a Constituição Federal Brasileira traça normas visando à defesa e proteção do patrimônio ambiental, para tanto angaria a base essencial de tratamento jurídico no intuito de manter a biodiversidade para as futuras gerações numa esfera minimamente equilibrada (CANOTILHO, LEITE, 2007).

Assim, a Constituição Federal Brasileira de 1988 trouxe entre suas normatizações uma previsão bastante completa de proteção ao meio-ambiente, haja vista trazer consigo diversos preceitos respectivos à tutela ambiental. Pinheiro (2008) leciona que “foi, no entanto, a proteção ao meio ambiente estabelecida pela

Constituição de 1988 que conferiu o status de direito fundamental ao meio ambiente,

originando o direito constitucional ambiental”.

Em razão do reconhecimento da importância do meio-ambiente para uma melhor qualidade de vida para todos, foi reservado no texto constitucional um capítulo inteiro dedicado ao meio ambiente, qual seja, o art. 225, que inserido no Título III (da Ordem Social), Capítulo VI (Do Meio Ambiente), traz a norma do direito brasileiro que foi feita especialmente para regulamentar as relações ambientais (PINHEIRO, 2008).

(17)

matéria constitucional a uma nova escala de proteção e dever ambiental, que se assemelha a um modelo ético de compromisso de todas as normas ambientais (PINHEIRO, 2008).

Segundo Mirra (apud MACHADO, 2007, p. 120) ao tecer comentários acerca da previsão constitucional que trata da proteção ao meio ambiente, qual seja, art. 225 da Constituição Federal de 1988:

O caput do art. 225 é antropocêntrico. “É um direito fundamental

da pessoa humana, como forma de preservar a vida e a dignidade das pessoas – núcleo essencial dos direitos fundamentais, pois ninguém contesta que o quadro da destruição ambiental no mundo compromete a possibilidade de uma existência digna para a Humanidade.

Como visto, o direito ambiental adquiriu caráter de direito fundamental, eis que o combate à degradação do meio ambiente, bem como, sua proteção acarreta uma proteção de todos, abrangendo ainda, a preservação da natureza e de todos seus elementos essenciais, tanto para a vida humana, quanto à manutenção de um meio ambiente equilibrado (SILVA, 2007).

Ademais, cabe ressaltar que o direito fundamental à qualidade do meio ambiental fora devidamente reconhecido pela Declaração de Estocolmo (1972) e fomentou a construção da proteção ambiental elencada na Constituição Federal de 1988. Destarte, ao manter a biodiversidade destacam-se para sua preservação, as áreas protegidas, combate à poluição, conservação dos biomas e ecossistemas, cujo objetivo maior é propiciar vida e preservar o planeta para as gerações (SILVA, op cit..

1.4 PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL

Segundo Reale (apud FIGUEIREDO, 2004) princípios gerais de direito são

“enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a

compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas”.

(18)

indicativos do caminho adequado para equilibrada proteção ambiental e em conformidade com a realidade social e com os valores culturais de cada Estado (FIORILLO, 2009).

Os princípios jurídicos ambientais são legalmente impostos e por isso assumem papel fundamental nas decisões judiciais e administrativas no tocante às demandas ambientais para a efetiva proteção do meio ambiente. O Decreto n° 5.098, de três de junho de 2004, no artigo segundo faz menção expressa aos seguintes princípios gerais do direito ambiental brasileiro: princípio do desenvolvimento sustentável, princípio da prevenção ou precaução, princípio do poluidor-pagador, princípio da informação porém, o rol apresentado é meramente exemplificativo, ou seja, há outros importantes princípios no ordenamento jurídico ambiental que devem ser igualmente observados (FIORILLO, op cit.).

1.4.1 Desenvolvimento Sustentável

O termo desenvolvimento sustentável surgiu no final da década de 1970 e delineou-se no Relatório de Brundtland, documento da Organização das Nações Unidas em meados de 1980, porém a expressão consagrou-se definitivamente com a ECO-92 e fora transformado em princípio. Por sua vez, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento definiu o desenvolvimento sustentável como

“aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade

de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (SIRVINSKAS,

2010).

É sabido que a degradação do meio ambiente coloca em patente risco o destino das gerações futuras, porém, a sociedade atual tem se voltado à análise da questão ambiental, repensando o crescimento econômico, de modo que a alternativa encontrada tem sido o desenvolvimento sustentável (MILARÉ, 2005).

Por oportuno, salienta Lanfredi (2007, p. 75):

(19)

Assinala Fiorillo (2009, p. 35) acerca do princípio do desenvolvimento sustentável:

[...] o princípio possui grande importância, porquanto numa sociedade desregrada, à deriva de parâmetros de livre concorrência e iniciativa, o caminho inexorável para o caos ambiental é uma certeza. Não há dúvida de que o desenvolvimento econômico também é um valor precioso da sociedade.

Consoante entendimento de Milaré (2005), para se resolver à problemática

acerca do “desenvolver ou preservar” é necessário que a política ambiental deixe de

se eregir em óbice ao desenvolvimento e passe a propiciar uma gestão racional dos recursos naturais, utilizando-se da premissa voltada ao desenvolvimento sustentável.

Sustenta Sirvinskas (2010, p. 122) que:

Há quem entenda que a dicotomia desenvolvimento/preservação ambiental está superada. Precisa-se, segundo estes críticos, conciliar sustentabilidade com tecnologia, em benefício do meio ambiente. Toda decisão (seja ela política, econômica ou social) deverá ter um viés ambiental. Assim, não devemos buscar mais conciliação ou compatibilização do desenvolvimento econômico com proteção ambiental. A questão ambiental deve ser parte integrante da decisão econômica.

Na hipótese do desenvolvimento sustentável vislumbra-se que o crescimento e a evolução do setor econômico podem ater-se a medidas de preservação, onde a utilização dos recursos naturais exige um planejamento adequado, o qual se funda na sustentabilidade que minimiza a degradação ambiental que resulta das atividades econômicas (CAMARGO, 2011).

(20)

1.4.2 Prevenção e Precaução

O princípio em questão nos remete a uma diferença etimológica e semântica, o que se sugere que prevenção é mais abrangente do que a precaução, sendo que a precaução é tratada como medida antecipatória, razão pela qual há juristas que adotam uma ou outra denominação.

Este princípio tem previsão constitucional, na medida em que foi inserido no texto do art. 225 estabelecendo que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito de todos e é necessário para que possam ter uma sadia qualidade de vida, sendo que para tanto, constitui dever do Poder Público e da coletividade agir de forma a protegê-lo e preservá-lo, garantindo-se, assim, vida saudável e digna às presentes e futuras gerações (MACHADO, 2009).

A intenção do legislador constitucional foi prevenir a sociedade contra os riscos e problemas decorrentes do modelo de desenvolvimento econômico que a sociedade contemporânea tem adotado nas últimas décadas, época em que imperou a extração desordenada dos recursos naturais visando ao crescimento rápido da economia, que hoje se sabe ter sido de curta duração, enquanto que em relação à natureza, sabe-se que sua restauração se opera em longo prazo evidenciando, assim, prejuízos à saúde e qualidade de vida da humanidade (MACHADO, op cit.).

Para Milaré (2005) o princípio da prevenção revela a prioridade que deve ser dada às medidas que evitem atentados ao meio ambiente, visando reduzir ou até mesmo eliminar as causas de ações que possam alterar sua qualidade essencial.

Preceitua Machado (op cit.) que tal princípio reflete-se na obrigação de prevenir ou evitar o dano ambiental antes que o mesmo possa ser detectado, o que o faz uma referência indispensável nas abordagens referentes a riscos e visa à durabilidade da sadia qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza que permeia o planeta. A Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente de 1992 evidenciou a importância do princípio da precaução na proteção e cuidou de descrevê-lo mais amplamente, no Princípio 15, utilizando-se dos seguintes termos, in verbis:

(21)

capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

Observa-se in casu a informação de que é necessário afastar o perigo antes que ele ocorra, precavendo-se dessa forma, contra quaisquer riscos. Busca-se aqui suficiente margem de segurança e distanciamento do perigo, o que exige uma ação racional quanto a utilização dos bens naturais de forma que o desenvolvimento econômico aconteça de modo sustentável, ou seja, mediante a conservação e preservação a fim de evitar a escassez do recursos do meio ambiente (FIORILLO, 2009).

Embora haja divergências quanto à denominação do princípio em questão, trata-se de uma ação antecipada diante do risco de perigo de dano ambiental que se concretiza por meio de avaliação prévia e instrumentos de proteção que possuem caráter preventivo a fim de salvaguardar o meio ambiente e a qualidade de vida, cuja aplicabilidade é exercida pelo Poder Público por meio de licenças, sanções administrativas, de cunho fiscalizatório, dentre outras medidas com a mesma finalidade (FIORILLO, op cit).

1.4.3 Poluidor Pagador

O princípio poluidor pagador ou usuário pagador remete-se a um custo da preservação, quando da utilização dos recursos do meio ambiente, sendo que representa não só uma espécie de sanção ao agressor, pois possui caráter de punição e assemelha-se à reparação. Enfim, paga-se para usufruir do patrimônio ambiental, no intuito de garantir a qualidade ambiental e o equilíbrio ecológico (MILARÉ, 2005).

(22)

Por conseguinte, por meio de tal princípio há uma obrigação do poluidor em pagar a poluição que pode ser ou que já foi causada, contudo, o pagamento efetuado pelo poluidor não lhe confere qualquer direito a poluir, pelo contrário consiste na obrigação de reparar o dano causado ao meio ambinte (MACHADO, 2007).

1.4.4 Informação

O princípio da informação ambiental encontra respaldo na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, em seus artigos 6°, § 3º e 10 e na Declaração do Rio de Janeiro de 1992, em seu princípio n° 10, onde se firmou que:

[...] no nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em

suas comunidades”. (RIO-92).

Além disso, estabelece a Constituição Federal (BRASIL, 1988) que a educação ambiental é efetivada pela informação ambiental conforme o artigo 225, § 1°, VI, da CF/88:

§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

[...]

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

Nesta senda, verifica-se que a informação serve para promover a educação não só dos indivíduos, mas da comunidade em que estão inseridos, da mesma forma que permite ao ser humano manifestar-se sobre a matéria informada (MACHADO, 2007).

(23)

possam usufruir as gerações futuras.

1.5 Bem de Uso Comum do Povo

O princípio de direito ambiental em questão trata o meio ambiente como bem de uso comum do povo, o qual é disciplinado como um direito inviolável e devidamente recepcionado pela Constituição Federal de 1988, atribuindo-lhe um caráter de direito coletivo, bem como obriga a coletividade e ao Poder Público sua defesa e preservação para as gerações presentes e futuras, essencial à qualidade de vida, passando a ser uma espécie de bem público (MELO, 2007).

Destarte, dispõe o artigo 225 da Constituição Federal de 1988 (apud, MELO, op cit., p. 46):

[...] todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Neste aspecto, o patrimônio ambiental é definido como bem de interesse público e por tal razão pertence a todos, contudo, a concepção de meio ambiente enquanto bem ambiental de interesse público deve ser tratado separadamente da definição de bens públicos e privados elencados no Código Civil, eis que trata-se de um conceito difuso, que interessa e é essencial a todos, porém, não pode ser apropriado por ninguém (MELO, op cit.).

Outrossim, por ser concebido como bem de uso comum do povo, devidamente tutelado pela Carta Magna, o meio ambiente deve ser preservado e mantido para as gerações presente e futuras.

1.6 Vedação ao Retrocesso

(24)

proteção do vulnerável, qual seja, o meio ambiente. A vedação é essencial à interpretação das normas que compõem o sistema jurídico ambiental e traduz-se em condição indispensável para a boa aplicação do direito ambiental (ARAÚJO, 2008).

Neste sentido assevera Bauman (apud, ARAÚJO, 2008, p. 04):

[...] a liquidez da vida e da sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade líquido-moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo.

Vislumbra-se que o princípio em questão visa evitar que surjam alterações na legislação ambiental de modo a diminuir a proteção aos vulneráveis, de forma a se impedir a degradação ambiental, vez que o Estado de direito não pode retroceder, indo a contramão da evolução das normas ambientais, bem como no que tange a proteção dos direitos fundamentais, onde a Carta Magna apregoa a melhoria da qualidade de vida e preceitua a proteção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado (STRUCHEL, 2009).

Por seu turno, observa-se que o princípio em questão fomenta a vedação da criação de normas concernentes a tutela ambiental que possam representar qualquer forma de retrocesso no âmbito de proteção legal do direito ambiental (STRUCHEL, op cit.).

1.7 CÓDIGO FLORESTAL DE 1934

O Código Florestal de 1934 estabelecido pelo Decreto n° 23.793, determinava que as florestas, bem como, as demais formas de vegetação eram

“bens de uso comum do povo”, expressão que foi recepcionada pelo art. 225, caput, da Constituição Federal (BRASIL, 1988).

Outrossim, sob o aspecto legal, previa o Código Florestal de 1934:

Art. 1° - As florestas existentes no território nacional, consideradas em conjunto, constituem bem de interesse comum a todos os habitantes do país, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que as leis, em geral, e especialmente este Código, estabelecem.

(25)

Por sua vez, a edição do Código Florestal de 1934, expressou a realidade sócio-econômica e política da sociedade brasileira no início do século XX e deu início aos primeiros passos rumo a uma legislação ambiental mais complexa, qual seja, o Código de 1965.

1.6 CÓDIGO FLORESTAL DE 1965

A Lei n° 4.771/1965 estabeleceu o Código Florestal de 1965, ainda em vigor, alterado pelas Leis n° 7.803/89a e n° 7.875/89b, cujo campo de tutela, em que pese denominar-se florestal, abrange não só as florestas, mas também as demais formas de vegetação brasileiras (BRASIL, 1965; 1989a; 1989b).

Benjamin (2005) comenta acerca do art. 1°, caput, do respectivo código que

“As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação,

reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as

limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem”.

Fiorillo (2009) aduz que o Código Florestal na condição de lei federal foi recepcionado pela Carta Magna em seu art. 225 e ainda assevera que as florestas são bens ambientais de natureza difusa, razão pela qual, quando situadas em espaços e propriedades privadas, devem sofrer limitações por ser o bem ambiental pertencente a todos, possibilitando o uso e gozo comum.

Ao tratar da classificação das florestas pelo Código de 1965, extrai-se que este não a fez propriamente, apenas reconheceu vários tipos, como: a) florestas nativas, florestas primitivas, florestas regeneradas e floretas artificiais ou plantadas (arts. 12, 15, 16 e 46); b) florestas heterogêneas e florestas homogêneas; c) florestas de preservação permanente e florestas não-preservadas (arts. 2° 3° e 6°); d) florestas de livre exploração (as plantadas), florestas de exploração limitada e florestas de exploração permitida com restrições (arts. 10 12 e 16); e) florestas de domínio público (nacionais, estaduais e municipais) e florestas de domínio particular

(arts. 5°, “b”, 9° e 16).

(26)

florestal, objeto do presente trabalho, fatores que ensejaram várias críticas pelo setor agrário (BRASIL, 1965).

Afirma Sirvinskas (2010) que a Lei n° 11.284/2006 instituiu novos instrumentos de proteção à flora, cujo objetivo foi conciliar o uso sustentável e a preservação do meio ambiente, contudo, fora regulamentada pelo Decreto 6.063/2007, o qual dispõe sobre a gestão das florestas públicas.

(27)

2 DA RESERVA LEGAL

Infere-se do contexto histórico, que o primeiro Código Florestal (1934) delineou tratamento legal da Reserva Legal, o qual estabeleceu um percentual de reserva de matas onde determinava que nenhum proprietário de terras coberta de mata poderia abater mais que ¾ (três quartos) da vegetação existente (BRASIL, 1934).

Tal determinação permaneceu vigente até o advento da Lei n. 4.771, que institui o Código Florestal de 1965, que passou a regulamentar de forma mais abrangente e criteriosa sobre a reserva legal, definindo-a e estabelecendo percentuais e instrumentos de punição em caso de supressão dessas áreas.

A reserva Legal sofreu ainda alterações por meio da Lei Federal nº 7.803, de 18 de julho de 1989, e pelas Medidas Provisórias 2166 e 2167, de 2001, as quais transformaram a Reserva Legal numa espécie de obrigação imposta por meio de legislação específica que atinge diretamente o proprietário de imóvel rural (ALMEIDA, 2006).

2.1 CONCEITO E FINALIDADE DA RESERVA LEGAL

Segundo definição de Sirvinskas (2010, p. 565) “reserva florestal legal é a

preservação de parte de uma área maior de determinada propriedade particular com

o objetivo de preservação da vegetação ali existente”.

Sob o aspecto do texto legal do Código Florestal, traduz-se de forma auto-explicativa, eis que a reserva legal florestal descreve-se como um espaço territorial, definido pelo poder público, especialmente protegido, cuja função ambiental específica é definida nos seguintes termos:

Art. 1º [...] § 2º [...]

(28)

Em que pese tratar-se de matéria ambiental a natureza jurídica da reserva legal é de direito administrativo e constitui-se uma intervenção do poder público na propriedade privada, condicionando o uso, gozo, fruição e disposição a uma função social da propriedade, conforme artigos 170, III e 186 da Constituição Federal (BRASIL, 1988).

A área de reserva legal constitui uma restrição parcial à alterabilidade da propriedade, bem como no que tange à sua fruição na medida em que o proprietário não pode dar ao imóvel o uso que bem entender (PIVA, 2000).

Sob o aspecto legal infere-se que o Código Florestal de 1934 definiu um único limite para a reserva legal (no mínimo 25% do tamanho da propriedade rural) e deixava-se implícito que a preocupação era de ter uma reserva de madeira dentro da propriedade. Prova dessa preocupação era que: (1) essa área era chamada de

“reserva florestal”, (2) a floresta nativa podia ser transformada em outra floresta

plantada (heterogênea ou homogênea); (3) a reserva florestal não necessitava ser mantida em áreas próximas de florestas (BACHA, 2007).

Observa-se que ao longo do tempo ocorreram mudanças no que tange a dimensão e finalidade da reserva legal, a qual passou a ser disciplinada de maneira mais complexa pelo Código Florestal de 1965 (lei nº 4.771/65) em seu artigo 16, incisos I, II, III e V:

Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em áreas de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal no mínimo:

I – oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal;

II – trinta e cinco por cento, na propriedade situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que seja localizada na mesma microbacia, e seja averbada nos termos do § 7º deste artigo;

III – vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País; e IV – vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do País (BRASIL, 1965).

(29)

localização de tais áreas. Estabeleceu ainda ressalvas quanto a áreas de preservação permanente que não entram no cômputo do percentual a título de reserva legal, além de mencionar acerca dos espaços suscetíveis de supressão.

O artigo 16 refere-se de forma expressa a áreas localizadas na Amazônia Legal, a qual compreende os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e regiões situadas ao norte do paralelo de 13ºS, dos Estados de Tocantins e Goiás, e a oeste do meridiano de 44ºW, do Estado do Maranhão, ao tratar do percentual de reserva legal em propriedade localizas em áreas de floresta e cerrado, onde os índices são definidos conforme os incisos I e II do art. 16 do Código Florestal de 1965 (SILVA, 2007).

Para Silva (op cit.) são 80% de floresta e 35% cerrado, porque elenca benefícios ao proprietário, de forma que seria mais gravoso se a reserva legal fosse de 80% da vegetação (floresta e cerrado) existente.

O limite fixado a título de reserva legal não pode ser suprimido, podendo apenas ser utilizado sob o regime de manejo florestal sustentável, observando-se os princípios e critérios técnicos e científicos estabelecidos em regulamentação legal para sua utilização, seja em termos de redução, ampliação, averbação, recomposição, compensação ou regeneração natural dessas áreas. A localização da reserva legal não é livre e deve ser aprovada pelo órgão ambiental competente, estadual ou municipal, considerando-se para o processo de aprovação a função social da propriedade. Aduz ainda Sirvinskas (2010, p. 563) que:

A escolha das áreas deverá ser aprovada pelo órgão ambiental estadual competente ou mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal ou outra instituição devidamente habilitada, observando-se a função social da propriedade (art. 16, §4º, da Lei 4.771/65), e sua finalidade é identificar a área mais relevante para o meio ambiente, evitando-se que a escolha da reserva recaia em área inadequada e sem nenhum valor ambiental.

Neste interim, acerca da localização dispõe o §4º do artigo 16 da Lei 4.771/1965:

(30)

I – o plano de bacia hidrográfica; II – o plano diretor municipal;

III – o zoneamento ecológico-econômico;

IV – outras categorias de zoneamento ambiental; e

V – a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação Permanente, unidade de conservação ou outra área legalmente protegida (BRASIL, 1965).

Neste diapasão, acentua Machado (2007) acerca da adequação da reserva legal nas propriedades rurais, a Reserva Legal Florestal deve ser adequada à tríplice função da propriedade: econômica, social e ambiental. A existência de uma Reserva Florestal, mas do que uma imposição legal é um ato de amor a si mesmo e a seus descendentes.

O Código Florestal de 1965 passou por diversas adequações por meio de medidas provisórias que objetivavam melhorar os mecanismos de proteção ambiental e utilização dos recursos naturais previstos no referido Código.

Vale mencionar que a MP n°2.166-67, de 24/08/2001, ainda em vigor, estabeleceu acerca do tratamento da reserva legal considerações positivas que vale transcrever (BACHA, 2007, não paginado):

[...] a reserva legal assume um papel nítido de conservação.

“Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e

proteção de fauna e flora nativas” (artigo 1º, inciso III); há a permissão de

uso da reserva legal, mas sob a forma de regime de manejo florestal

sustentável. “A vegetação da reserva legal não pode ser suprimida,

podendo apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentável, de acordo com princípios e critérios técnicos e científicos estabelecidos no regulamento, ressalvadas as hipóteses previstas no § 3º deste artigo, sem

prejuízo das demais legislações específicas” (artigo 16, § 2º).

(31)

Machado (apud SIRVINSKAS, 2010 p. 564) assinala acerca das características da reserva legal que:

[...] apresenta várias características da reserva legal florestal, quais sejam: a) inalterabilidade de destinação; b) restrições legais de exploração; c) gratuidade da constituição da reserva; d) averbação da reserva no cartório do registro de imóveis; e) delimitação da reserva e isenção tributária.

Nas restrições acentuadas alhures, nota-se que não admite o corte raso, enquanto que a gratuidade pressupõe que a constituição da reserva legal não onera o proprietário, tampouco, o Poder Público. Já a averbação refere-se à inscrição da matrícula do imóvel no que concerne a área definida a título de reserva legal, nos limites exigidos pelo artigo 16 e incisos da Lei 4.771/65, sendo tal área isenta de incidência de pagamento de Imposto Territorial Rural, conforme disposição do art. 18, § 2º, do Código Florestal vigente (SIRVINSKAS, op cit.).

Como visto, o instituto da reserva legal é um importante mecanismo de proteção ambiental, principalmente no que se refere ao combate ao desordenado desmatamento das florestas e destaca-se pela inalterabilidade de sua destinação e finalidade. Por consequência, restringe a utilização destas áreas nas propriedades rurais, sendo que em caso de não observação do disposto nos incisos I, II, III e IV do art. 16 da Lei n 4.771/65, suscita a aplicação de instrumentos de recuperação, bem como no que se refere a compensação por outra área equivalente em termos de importância ecológica, ambiental e extensão territorial, nos termos do inciso III do artigo supracitado (RIOS, 2005).

2.2 PROJETO DE LEI Nº 1.876/ 1999 E AS ALTERAÇÕES NAS ÁREAS DE RESERVA LEGAL

(32)

principalmente no que tange às áreas de reserva legal (BRASIL, 1965).

Pode-se perceber quanto aos espaços especialmente protegidos que desde a definição atribuída pelo Código Florestal de 1965, a legislação atinente tem sofrido diversas alterações, as quais parecem contínuas e ocorreram em virtude de mudanças socioeconômicas e ambientais no país. A evolução do direito ambiental com a redação do referido código passou a proteger a biodiversidade e veio a proporcionar um melhor delineamento da função social da propriedade em sua dimensão ambiental no que tange ao estreito relacionamento com a presença da reserva legal (FIGUEIREDO, 2004).

Dentre as diversas mudanças atinentes ao instituto da reserva legal propostas pelo Deputado Alto Rebelo destacam-se como principais a possibilidade dos Estados decidirem pela redução da Reserva Legal de 80% para 50% na Amazônia Legal; isenção de Reserva Legal para proprietários de imóveis rurais com menos de até quatro módulos fiscais; cômputo da Reserva Legal à áreas de preservação permanente a partir de quatro módulos fiscais para demais propriedades; anistia aos casos de desmatamentos em área de Reserva Legal ocorridos até 22 de julho de 2008 (NASSAR, 2011).

Relevante mencionar, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(IPEA) que divulgou em julho de 2011 o Comunicado nº 96, intitulado “Código

Florestal: Implicações do Projeto de Lei n° 1.876/99 nas áreas de reserva legal”, sua

aprovação terá impactos significativos "sobre a área com vegetação natural existente nos biomas brasileiros e sobre os compromissos assumidos pelo Brasil

para a redução de emissões de carbono”, destacou ainda a importância de se estabelecerem alternativas para viabilizar a aplicação efetiva das leis ambientais,

com o objetivo de “conciliar o desenvolvimento econômico e a conservação

ambiental” (NASSAR, op cit.).

(33)

acarretaria redução da produção, prejudicando os consumidores brasileiros; a adoção de premissas que superestimam o passivo de Reserva Legal no Brasil.

Nassar (2011) aduz que dentre os incongruentes pontos de divergência do Projeto de Lei n° 1.876/99, cumpre destacar os concernentes à reserva legal, a qual tem sua definição alterada e encontra-se disposta no art. 3°, inciso X:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei entende-se por: [...]

X – Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 13, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar à conservação e à reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, o abrigo e a proteção da fauna silvestre e da flora nativa; (BRASIL, 1999).

Releva observar, a definição de reserva legal fora acrescida pelo termo “uso

econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural”, fator que

possibilitará a utilização destas áreas desde que, atenda os preceitos de sustentabilidade, vez que a Reserva Legal trata-se de uma porção que cada imóvel deve manter sem a remoção completa, permitindo-se a extração de produtos florestais e atividades que promovam a conservação da biodiversidade do Brasil e consequentemente do Planeta..

No que tange as dimensões da reserva legal, assinala Nassar (op cit.) que o Projeto de Lei nº 1.876/99 em termos gerais manteve os percentuais mínimos na Amazônia Legal de 80% para imóveis situados em áreas de floresta, 35% para áreas de cerrado, 20% em áreas de campos gerais e 20% nas demais regiões do país (Art. 13, incisos I e II).

(34)

Por seu turno, o texto aprovado pela Câmara em seu art. 14, inciso I, prevê a redução da Reserva Legal apenas para fins de regularização da área rural consolidada, enquanto que o Código atual admite a redução de Reserva Legal em casos de recomposição e para imóveis que suprimiram vegetação antes de 1998 (LIMA, 2011).

Assim, dispõe o Projeto de Lei nº 1.876/99 acerca da redução da Reserva Legal:

Art. 14. Quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico-ZEE estadual, realizado segundo metodologia unificada, o poder público federal poderá:

I – reduzir exclusivamente para fins de regularização da área rural consolidada, a Reserva Legal de imóveis rurais situados em área de floresta localizada na Amazônia Legal para até 50% (cinqüenta por cento) da propriedade, excluídas as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos e os corredores ecológicos; (BRASIL, 1999).

Nesta senda, acentua Lima (op cit.) que a proposta do novo Código Florestal apresentada por Aldo Rebelo demonstra que a questão referente à Reserva Legal (RL) é apontada como um problema demasiadamente grande, pelo fato de abranger diversos pontos de divergência além dos percentuais adequados por englobar tanto a questão ambiental quanto a social.

Vale destacar, ainda segundo Lima (op cit) sob o aspecto de recomposição da Reserva Legal, que a Seção 3 elenca a Regularização Ambiental em Reserva Legal e o Capítulo X trata dos Instrumentos Econômicos para Conservação da Vegetação de provável benefício a ser proporcionado pelo Projeto de Lei 1.876/99, onde permite a recomposição e a compensação dos passivos de Reserva Legal em outras áreas com vegetação dentro do mesmo bioma, sendo que tal fator induz que a reforma poderá fomentar a conservação de milhares de hectares de áreas nativas íntegras, consequentemente aumenta estoques de carbono, contribuindo positivamente para a proteção da biodiversidade, água e outros recursos naturais.

(35)

na Amazônia Legal, 50%da propriedade rural localizada nas demais regiões e 25% da pequena propriedade (LIMA, 2011).

Assim apregoa o texto aprovado:

Art. 16. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel desde que:

I – o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;

II – a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e

III – o proprietário ou possuidor tenha requerido a inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural, nos termos desta lei (BRASIL, 1999).

Em obstante, verifica-se que a proposta alhures quedou-se omissa no que se refere ao fato de que as áreas de preservação permanente brasileiras ocupam cerca de 10% a 15% da área dos imóveis rurais, bem como possuem funções diversas à Reserva Legal na proteção das florestas e vegetação contidas nestes espaços especialmente protegidos (TRINDADE, 2011).

Nota-se ainda, que o Projeto de Lei 1.876/99 normatizou no texto aprovado no art. 40 acerca da recomposição de 50 % da reserva legal com espécies exóticas, o que permite a quem desmatou ilegalmente recompor a área suprimida com finalidade econômica, todavia, obsta os proprietários de imóveis rurais que cumpriram a lei de plantar espécies exóticas com esta finalidade. Já a regra atual permite a utilização destas espécies somente de forma temporária, como pioneiras, cujo objetivo é a restauração do ecossistema original (art. 44, § 2º da Lei nº 4.771/65) (TRINDADE, op cit.).

A proposta de reforma aprovada no Projeto de Lei n° 1.876/00, prevê neste sentido:

Art. 40 [...]

§ 3º A recomposição de que trata o inciso I do caput poderá ser realizada mediante o plantio intercalado de espécies nativas e exóticas, em sistema agroflorestal, de acordo com os critérios técnicos gerais estabelecidos em regulamento, observados os seguintes parâmetros:

I – o plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com espécies nativas de ocorrência regional;

II – a área composta de espécies exóticas não poderá exceder a 50% (cinquenta por cento) da área total recuperada

(36)

Vislumbra-se que a Reserva Legal terá significativas e injustas alterações no que se refere à averbação da reserva legal, onde os proprietários de imóveis rurais que cumpriram os preceitos legais atinentes deverão manter a averbação da Reserva Legal, enquanto que os proprietários que deixaram de averbar, deverão registrá-la no órgão ambiental competente (TRINDADE, 2011).

Neste ínterim, preceitua o Substitutivo Projeto de Lei 1.876/99 sobre a averbação da Reserva Legal:

Art. 34. Nos casos em que a Reserva Legal já tenha sido averbada na matrícula do imóvel e em que essa averbação identifique o perímetro e a localização da reserva, o proprietário não será obrigado a fornecer ao órgão ambiental as informações relativas à Reserva Legal previstas no inciso III do § 1º do art. 30.

Art. 19. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no Cadastro Ambiental Rural de que trata o art. 30, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei (BRASIL,1999).

Por sua vez, o Projeto de Lei n° 1.876/99 assevera em seu artigo 13, caput, que os imóveis rurais, com exceção das pequenas propriedades rurais deverão possuir área de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as áreas de Preservação Permanente (TRINDADE, op cit.).

Nesta seara, nota-se importante diferença entre o projeto aprovado pela Câmara dos Deputados e o Código Florestal vigente, vez que as propriedades rurais sem distinção de extensão territorial deve deixar área a título de Reserva Legal, porém, o Projeto de Lei 1.876/99 traz uma exceção no que se refere às pequenas

propriedades rurais, ou seja, “imóvel rural com até quatro módulos fiscais”, todavia,

considerada área vigente na data da publicação do Substitutivo. Ressalte-se que o remanescente da vegetação nativa existente nestas propriedades deverá ser observado até o percentual de Reserva Legal estabelecido para a região de localização do imóvel (TRINDADE, op cit.).

Dispõe o texto aprovado no Projeto de Lei n° 1.876/99 neste sentido.

(37)

§ 1º A Reserva Legal exigida no caput observará os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel:

I – imóveis localizados na Amazônia Legal:

a) oitenta por cento, no imóvel situado em área de florestas; b) trinta e cinco por cento, no imóvel situado em área de cerrado; c) vinte por cento, no imóvel situado em área de campos gerais; II – imóveis localizados nas demais regiões do País: vinte por cento. [...]

§ 7º Nos imóveis com área de até 4 (quatro) módulos fiscais que possuem remanescentes de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no caput, a Reserva Legal será constituída com área ocupada por vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões para o uso alternativo do solo (BRASIL,1999).

O Projeto de Lei n° 1.876/99 acentua ainda, sob este prisma que quando o imóvel rural se localizar em área de formações florestais, savânicas ou campestres na Amazônia Legal a Reserva Legal será definida considerando separadamente os limites contidos para cada fitofisionomia vegetal da Amazônia Legal, como prevê o art. 16, §1º do Código Florestal de 1965 (TRINDADE, 2011).

Assinala Trindade (op cit., p. 30) acerca das alterações referente aos imóveis rurais e o instituto da Reserva Legal que:

Como as propriedades e posses rurais até 4 módulos fiscais - pequenas propriedades ou posses rurais - ficam dispensadas de ter área de Reserva Legal, o PL expressa que em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada, para fins da verificação da obrigatoriedade existência da Reserva Legal, a área do imóvel antes do fracionamento. O Substitutivo veda a supressão dos remanescentes de vegetação nativa existentes nas pequenas propriedades ou posses rurais, na data de sua publicação, até que o percentual de Reserva Legal seja estabelecido para região de localização do imóvel rural 28. Incumbirá ao Poder Público - sem qualquer definição de qual ente federativo – fazer o inventário do remanescente de vegetação para o controle e fiscalização da obrigatoriedade de manter os remanescentes de vegetação nativa.

Por derradeiro, convém ressaltar outra novidade trazida na proposta de alteração do Código Florestal vigente apresentada pelo Deputado Aldo Rebelo, onde o artigo 28 estabelece que as propriedades ou posses rurais com área de Reserva Legal, em percentuais de dimensões inferiores aos exigidos, ficam obrigadas à recomposição ou compensação somente em relação à área que exceder a quatro módulos fiscais no imóvel, desde que não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo (TRINDADE, op cit.).

(38)

Lei n° 1.876/99 que:

Ou seja, aqueles imóveis que não possuem Reserva Legal ou que possuem tal área com a vegetação inferior aos limites estabelecidos, somente terão que recuperar e averbar o percentual de Reserva Legal com base no que exceder a quatro módulos fiscais no imóvel. Por exemplo: uma propriedade de 4.000 hectares, numa região onde o módulo fiscal é de 100 ha e que o percentual de Reserva Legal a ser obedecido é de 20% da propriedade. Caso este imóvel não tenha ou necessite recompor a Reserva Legal, o cálculo do percentual de tal área se dará com base no que superar os 4 módulos fiscais. Assim, os 20% da Reserva Legal seriam calculados, no exemplo, sobre 3.600 ha, e não sobre os 4.000 hectares da propriedade, pois o cálculo se dará sobre a área que ultrapassar os 4 módulos fiscais.

Inobstante, o Projeto de Lei n° 1.786/99 apresenta pontos positivos e negativos no texto aprovado pela Câmara, porém, sofrerá alterações e adaptações após apreciação do Senado Federal por meio do Projeto de Lei da Câmara nº 30/11, a ser explanado no terceiro capítulo.

2.3 FUNÇÃO AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL

Preliminarmente, cumpre destacar que a propriedade rural possui estreita relação com o instituto da Reserva Legal, culminando na função ambiental da propriedade e na utilização em caráter de sustentabilidade desta no sentido de proporcionar um ambiente ecologicamente equilibrado com os fins econômicos envolvidos. A concepção de propriedade é um elemento essencial para determinar a estrutura econômica e social dos Estados, tanto que a Constituição Federal de 1988 passou a considerar a propriedade privada como sendo um dos princípios da ordem econômica, devidamente elencado no art. 170 (FIGUEIREDO, 2004).

Observa-se que o Direito Ambiental opta pela terminologia de “função ambiental” ou “função sócio-ambiental” da propriedade. Há autores que sustentam

que o princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado decorre da função ambiental da propriedade.

(39)

ambiental.

Guerra e Limmer (apud FIGUEIREDO, 2004, p. 20) assinalam que a idéia

contida na função social da propriedade permite a utilização da expressão “função

socio-ambiental da propriedade”:

Neste sentido, a função sócio-ambiental da propriedade determina que o uso deve atender ao interesse público, respeitando os preceitos de ordem social pública, isto é, a propriedade não pode ser utilizada de modo a acarretar um prejuízo social. Logo, se o direito à propriedade for exercido desrespeitando a preservação ambiental, ocasionando o desequilíbrio ambiental, estaria, portanto, impondo um ônus à coletividade, rompendo, portanto, com os preceitos de segurança jurídica.

Sobejamente, vislumbra-se que a utilização da propriedade rural deve observar sua finalidade socio-ambiental, sendo, portanto, condicionada ao bem-estar coletivo e a preservação do ambiente natural pelo proprietário, valendo-se da função adequada a sustentabilidade.

Cabe analisar que o relacionamento da propriedade e o meio ambiente remete ao processo de mediatização da relação homem/natureza. Segundo a filosofia do direito de Hegel (apud FIGUEIREDO, op cit., p. 37) todas as coisas são passíveis de apropriação pelo homem, vez que sua vontade pode situar-se sobre o que bem entender inclusive a propriedade:

[...] esta adquire por isso o caráter de propriedade privada, e a propriedade comum, que segundo a sua natureza pode ser ocupada individualmente, define-se como uma comunidade virtualmente dissolúvel e na qual só por um acto do meu livre arbítrio eu cedo a minha parte.

Nota-se, que o instituto da reserva legal incide sobre a propriedade privada de imóveis rurais, definindo-se um percentual que deve ser observado, o qual limita o uso individual da propriedade, obstando sua destinação para qualquer fim, devendo ser observada sua função ambiental.

(40)

para a conservação da vegetação nativa do local ou de sua recuperação natural pelo não uso de tais áreas para atividades agropecuárias (FIGUEIREDO, 2004).

Neste aspecto, afirma Figueiredo (op cit., p.93):

Desta forma, podemos afirmar que as restrições ao uso e gozo dos bens ou limitações administrativas ao direito de propriedade alicerçam-se no princípio da função social da propriedade, mas com ele não alicerçam-se confundem. Uma limitação administrativa ao direito de propriedade deve necessariamente conformar-se ao princípio da função social da propriedade, não podendo contrariá-lo, pena de inconstitucionalidade.

Em obstante, cumpre observar ainda, nestes aspectos, concernentes ao instituo da reserva legal enquanto mecanismo de preservação e conservação das áreas remanescentes é uma restrição parcial ao uso da propriedade, bem como no que se refere a sua fruição, na medida em que o proprietário não pode dar ao imóvel a destinação que bem entender, deve observar precipuamente que os princípios de direito ambiental e preceitos legais atinentes (SIRIVINSKAS, 2010).

2.4 RESERVA LEGAL E AS PROPRIEDADES RURAIS

De todos os países do mundo, o Brasil é o único país que exige das propriedades rurais a manutenção de certo percentual a título de reserva legal, área esta que não pode ser utilizada para a produção agropecuária. Fato este que revela uma crescente consciência coletiva da população em torno da conservação dos recursos naturais (HAHN, 2011).

Por conseguinte, leciona Sirvinskas (op cit.) que na relação do instituto da reserva legal e a propriedade rural há mecanismos de proteção em caso de supressão da floresta ou vegetação existente, dentre os quais cumpre mencionar a averbação, compensação e regeneração natural.

Por oportuno, insta salientar que a necessidade e a função da averbação da reserva legal dão-se por determinação legal, a fim de se dar publicidade a Reserva Legal, onde o Registro de Imóveis possibilita a eventuais adquirentes do imóvel rural conhecimento de sua constituição e extensão (COSTA, 2008).

(41)

de adquirentes de imóveis rurais no que tange a observação da reserva legal que:

[...] a reserva legal é uma obrigação que recai sobre o imóvel, obrigando o proprietário como se fosse um ônus real; transmitindo-se automaticamente para todos que passem à condição de proprietário do imóvel em qualquer circunstância.

Destarte, verifica-se que a condição de proprietário vincula o adquirente ao ônus de recuperação da área de reserva legal possivelmente suprimida no imóvel rural adquirido, sendo vedada a alteração de sua destinação, vez que deve ser observada sua finalidade, conforme o artigo supracitado.

A reserva legal é uma porcentagem de cada propriedade, onde está vedado o corte raso, bem como, demanda averbação por ser quantitativa e locacionalmente variável, diversamente das áreas de preservação permanente não se trata de um mecanismo de preservação, mas de conservação, vez que permite seu uso direito por meio de instrumentos sustentáveis como o manejo florestal (CYSNE, AMADOR, 2000).

De acordo com Little (2003, p. 176):

As reservas legais, definidas no Código Florestal (Lei nº 4.771 de 1965) e alteradas pela Medida Provisória n° 1.511/96, são obrigatórias, e cabe ao proprietário definir a área a ser averbada. Caso a reserva legal florestal fosse adotada de maneira eficaz, seria possivelmente o mais expressivo instrumento de preservação da biodiversidade do país, tendo em vista a inexpressividade da área física o fato de permear todos os ecossistemas e biomas. Por outro lado, a implantação da reserva legal florestal daria maior estabilidade ambiental às áreas de agropecuária, devido à maior diversidade biológica, diminuindo assim, a incidência de pragas e doenças, os índices de erosão, de assoreamento dos rios, aumentando a proximidade do homem com a natureza e propiciando maior beleza e harmonia.

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Em contrapartida, verifica Figueiredo (2004) que o princípio da ordem econômica ao lado da propriedade privada e sua função social revelam a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente como requisito para o cumprimento da função social da propriedade rural. Assim, verifica-se que tais disposições visam a proceder a exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores, conforme disposto no art. 186, inc. I, II, IV, da Constituição Federal (BRASIL, 1988).

2.5 RESERVA LEGAL NO ESTADO DE RONDÔNIA

O avanço da fronteira agropecuária desencadeou destruição generalizada da biodiversidade autóctone, com uma intensa substituição das espécies nativas por outras de interesse humano. Asseveram Alves, Machado e Ribeiro (2007) que a partir da década de 1960 as atividades extrativistas que até então prevaleciam na região, contudo, com a abertura de estradas e a chegada de madeireiros, agricultores e fazendeiros provenientes de outras regiões do país, intensificaram a degradação da floresta, atingindo altos índices de desmatamento.

Em contrapartida aos mecanismos de proteção ambiental dispostos no Código Florestal, os proprietários de imóveis rurais no Estado de Rondônia não tem respeitado os percentuais de reserva legal, sendo que existem propriedades que ainda estão totalmente desflorestadas (ALVES; MACHADO; RIBEIRO, 2007).

O Código Florestal de 1965 prevê os limites percentuais a serem atendidos a título de reserva legal em seu artigo 16, inciso I, cujo limite é de 80% para propriedade rural situada na Amazônia Legal. Considerando a porcentagem mínima a ser obedecida é a mesma, a legislação estadual enseja divergências no que tange ao inciso I do parágrafo 5º do artigo 16 do Código Florestal, o qual permite a redução da reserva legal para fins de recomposição, para até 50%, desde que indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico, Zoneamento agrícola, ouvido o CONAMA, o Ministério do Meio Ambiente da Agricultura e do Abastecimento (Revista Informativa do Ministério Público do Estado de Rondônia, 2011).

Referências

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