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6. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO NA UERN:

6.1 Projeto tecnológico: diagnóstico e concepções da instituição sobre interfaces

6.1.2 Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia da UERN (2007)

No documento norteador das práticas educativa que é o Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia da UERN, observam-se as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de Pedagogia no contexto brasileiro, buscando atender os desafios da sociedade atual, que, por sua vez, vem permeada pelas contradições e problemas no sistema educacional em seus níveis de ensino. O objetivo do curso consiste em: “Formar pedagogos para atuarem na docência da Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos e na gestão dos processos educativos, nos espaços escolares e não escolares, que impliquem o trabalho pedagógico”. (PPC/UERN, p.22, 2007).

Esse objetivo amplia a área de atuação do pedagogo, transpondo a educação escolar e sua função estritamente docente. Alarga por consequência, seu campo de atuação para todos os espaços que lidem com processos pedagógicos. Dessa forma, abre um debate acerca da identidade deste profissional e de sua formação - como um currículo poderá dar conta de um campo de atuação tão vasto, visto que a formação do pedagogo deverá abarcar docência em diferentes níveis de ensino (educação infantil, ensino fundamenta I e educação de jovens e adultos), a gestão de processos educativos escolares e não escolares?

Além dessas áreas de atuação citadas há também as possibilidades advindas das tecnologias digitais como a educação a distância, não sendo concedida a importância no projeto pedagógico, mesmo em um contexto em que a necessidade de pedagogos formados nessa área vem crescendo, conforme destaca Ramal (2002): “Também fora dos âmbitos estritamente acadêmicos o pedagogo assume novas funções. (...) para que haja processos

educacionais realmente inovadores, é fundamental o trabalho de desenhistas instrucionais, nova área que articula saberes da Pedagogia, da Comunicação e da Linguística para gerar arquiteturas de navegação que favoreçam a aprendizagem significativa."8

Apesar da pouca importância dada à educação a distância (EaD) no currículo, esta não está totalmente ausente, pois se encontra disciplinas optativa ofertada pelo Curso de Computação, a disciplina Educação a Distância. À nosso ver, existe uma contradição nessa questão, pois educação a distância é uma área fundamentalmente pedagógica, pois se trata de formação, devendo, portanto, se situar no âmbito da Faculdade de Educação e não da computação, que trata de questões mais técnicas.

Na composição curricular de disciplinas obrigatórias, a Tecnologias e Mediação Pedagógica, com carga-horária de 60h, traz em sua ementa o conteúdo referente a EaD. Observamos, que há pouca atenção a essa área de atuação do pedagogo.

Nos objetivos específicos do PPC/UERN, destaca-se que o curso deve,

Orientar o desenvolvimento de metodologias e materiais pedagógicos adequados à utilização das tecnologias da informação e da comunicação de maneira a beneficiar a produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional. (2007, p. 22)

Como competência, os graduandos:

Relacionar as linguagens dos meios de comunicação aplicadas à educação, nos processos didático-pedagógicos, demonstrando domínio das tecnologias de informação e comunicação adequadas ao desenvolvimento de aprendizagens significativas.

Ao analisarmos a integralização curricular, no entanto, se evidencia-se que, de forma explicita, as Tecnologias da Informação e Comunicação somente são abordada no Núcleo de Estudos Básicos, Aplicação Tecnológica, no 8º período (último) do curso.

Em estudo realizado por Ribeiro e Soares (2012), intitulado “Currículo e formação Profissional no Contexto da Cibercultura: um olhar sobre a formação do pedagogo”, que teve como foco a análise do Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia da UERN e sua relação com novas tecnologias nos processos formativos, as autoras evidenciam uma lacuna referente a essa questão, analisando a partir de cada núcleo que compõe a integralização curricular, conforme destacado a seguir “Percebemos, a partir do currículo prescrito, que nesses dois momentos da formação é feito referência explícita as tecnologias midiáticas, sendo que no

8 RAMAL, Andrea Cecilia. “Pedagogo: a profissão do momento”. Rio de Janeiro: Gazeta Mercantil, 6 de março de 2002. http://www.idprojetoseducacionais.com.br/artigos/PEDAGOGO.pdf

Estudo Acadêmico Introdutório II, observa-se a ênfase na presença do cinema, da música, da fotografia como ampliação dos repertórios de leituras, sem o estabelecimento direto com o uso das tecnologias digitais como potencializadora de aprendizagem em um contexto da cibercultura. (P. 6).

No núcleo introdutório o projeto faz uma relação das linguagens midiáticas, mas não as relacionam às tecnologias digitais. A produção e a edição do áudio, do vídeo e da imagem estão cada vez mais integradas no digital e na web (SANTAELLA, 2013).

No núcleo de aplicação tecnológica, no período final do curso, observa-se a Disciplina “Tecnologias e Mediação Pedagógica”. Sobre essa discussão, Ribeiro e Soares (2012) destacam que “(...)percebemos no ementário da disciplina uma imersão direta nas discussões conceituais da cibercultura, com correspondência no registro do diário da atividade, sendo que este último não evidencia a aprendizagem de conteúdos procedimentais, uma vez que não revela a metodologia utilizada na disciplina.” (p. 7)

A disciplina em foco é a única que contempla a discussão das tecnologias digitais na educação, diretamente, e traz uma ementa que tenta abranger uma gama muito extensa de conteúdo, que compreendemos que necessita ser redimensionada. A ementa traz,

A sociedade contemporânea, a educação e o uso das tecnologias. O uso das tecnologias e os processos de exclusão e de emancipação social. As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) e os desafios na formação do pedagogo. A mediação pedagógica, compreensão e uso dos audiovisuais em sala de aula: fotografia, rádio, cinema, TV, vídeo, computador, softwares educativos, internet. Experiências de Educação à Distância e do uso de audiovisuais em sala de aula. (PPC/UERN, 2007)

Já no núcleo de aprofundamento, é possível abranger outros cursos por meio das disciplinas optativas. Nesse sentido, as autoras destacam que “No núcleo de estudos e aprofundamentos, identificamos no elenco das disciplinas optativas do currículo prescrito, a oferta de algumas optativas que parecem dialogar com o tema da Cibercultura.” (RIBEIRO E SORAES, p. 7).

Vê-se que o currículo prescrito aponta para uma formação do pedagogo que deve estar apto a desenvolver uma cultura digital, com a utilização e domínio das tecnologias da informação e comunicação, mas, ao mesmo tempo, não oferece condições em sua integralização curricular para que essa inclusão efetivamente possa ocorrer. As autoras ainda lembram que, para formar professores na educação básica, é preciso que seus formadores estejam inseridos na cultura digital.

Eu acho ainda muito incipiente, muito elementar a forma. Outro dia um aluno apresentando um projeto que está fazendo com uma professora, ele dizia que apenas 6 professores usavam o portal do professor para jogar material na plataforma da UERN, ou seja, ninguém usa, uma maioria significativa não utiliza, inclusive eu não utilizo. (...) Mas porque é uma dificuldade para a gente trabalhar no portal da UERN, enquanto eles não abrirem, não disponibilizarem, fazer uma coisa mais acessível, tudo você tem que pedir licença, então isso é uma das barreiras que me impedem de utilizar. (Prof.ª Flor de Lis, entrevista 01/04/2013)

O projeto pedagógico do Curso de Pedagogia é um documento que revela as contradições, mas ao mesmo tempo é orientador das práticas educativas. Apesar de sua vertente prescritiva, é nele que a comunidade se apoia e vê sua identidade sendo constituído, neste sentido, está longe de atender as necessidades formativas referentes a Interfaces Digitais Interativas na formação de seu alunado.

6.1.3 A visão das professoras colaborados sobre a articulação das interfaces digitais no