• Nenhum resultado encontrado

O período que compreende as décadas de 1930/ 40 pode ser considerado como um momento de grande fertilidade para a educação musical no Brasil. Nessa ocasião foi implantado o ensino de música nas escolas em âmbito nacional.

Contudo, a música brasileira desse período caracterizou-se pela procura de uma identidade. Deu-se início, portanto, com Villa-Lobos a fase das demonstrações orfeônicas e projetos pedagógicos grandiosos de caráter populista e “de forma acelerada intensificou seus

esforços na direção do nosso, praticamente abandonando a via do novo contemporâneo...”

(KATER 2001, p. 39). É exatamente esse o quadro – ao final da década de 30 – que apresenta a música brasileira.

Nesse contexto, caracterizado também como de grande efervescência política, Villa- Lobos como representante das artes, assume a direção da Superintendência da Educação Musical e Artística (SEMA) das Escolas Públicas do Rio de Janeiro, fundada pelo educador Anísio Teixeira. A SEMA, baseada na reforma que instituiu o ensino obrigatório de Canto Orfeônico no Município do Rio de Janeiro (Decreto 19.890 de 18 de abril de 1931), criou o Curso de Orientação e Aperfeiçoamento do Ensino de Música e Canto Orfeônico. As atividades decorrentes da SEMA resultaram na formação do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, em 1942 que teria incumbência não só de formar professores, como também orientar e fiscalizar todas as iniciativas do canto orfeônico no país inteiro. O compositor preocupou-se não só em criar e disseminar uma metodologia de educação musical própria; ao mesmo tempo propunha-se a formação de um repertório apropriado ao Brasil, além de gerar a habilitação de um corpo docente especializado (BEYER, 1993; HENTSKE e OLIVEIRA, 1993; GOLDENBERG, 1995).

Esse período foi marcado por uma crescente produção de novas propostas pedagógicas para a música e por um ensino tradicional, centrado na música ocidental, que se fortalecia com o surgimento dos conservatórios e escolas especializadas na formação musical (PAZ, 2000).

A seleção do repertório empregado no canto orfeônico fundamentou-se, em especial no folclore nacional e teve como finalidade basilar a preservação dos valores culturais do povo. Na contra mão dessas ações, deu-se início a um movimento de renovação: o “Música

Viva”. O movimento foi encabeçado por Koellreutter e seguido pela nova geração de

compositores brasileiros da época (KATER, 2001).

Vale ainda ressaltar, durante o Estado Novo (1937-1945), a importância da Reforma Capanema (Leis Orgânicas do Ensino) e suas contribuições para o ensino da música durante o período republicano. Nesse contexto, o canto orfeônico fazia parte do currículo durante quatro anos do primeiro ciclo e durante os três anos posteriores do segundo ciclo, com a denominação música e canto orfeônico (FUCCI AMATO, 2006).

Outro aspecto relevante nesse percurso, refere-se à criação do curso de formação de professores de música, no ano de 1960, em São Paulo, pela Comissão Estadual de Música (FONTERRADA, 1992).

É importante perceber que a presença da música nos currículos da rede oficial de ensino, nesse período, oportunizou uma maior circulação musical, desenvolvendo, dessa maneira, um processo de democratização e de valorização cultural entre a população brasileira.

No entanto, após três décadas do estabelecimento do Canto Orfeônico como proposta de ensino para a música nas escolas regulares, este passa a ser substituído pela Educação Musical, termo que aparece pela primeira vez na legislação educacional brasileira com a LDB 4024/61, transformando-se, assim, em disciplina curricular (Id).

Ao final da década de 1960, encontra-se o país diante de um regime autoritário imposto após 1968. Com a promulgação da LDB 5692/71, apregoada pelo governo militar, a música perdeu seu status curricular. Com o ensino polivalente das artes a prática musical é afastada das escolas, principalmente das escolas públicas.

Esse período, marcado pela repressão de um regime autoritário, é percebido silenciosamente a partir de movimentos de educação musical que se estabelecem como experiências particulares em estados brasileiros. Desses destaco as experiências pedagógico- musicais desenvolvidas pelo professor Alberto Jaffé e Pedro Cameron. Ambos desenvolveram trabalhos com ensino coletivo de instrumentos de cordas em orquestras. Cameron em São Paulo, nas décadas de 1970 e 1980. Jaffé implantou uma metodologia de ensino coletivo própria, apoiado pela FUNARTE, através do Instituto Nacional de Música na cidade do Rio de Janeiro, na época dirigido por Marlos Nobre. O trabalho teve ampla repercussão, sendo desenvolvido nas cidades de Fortaleza, Brasília e São Paulo (SILVA, 2008). Outro trabalho local que se destacou, desse período até a década de 1990, foi a efervescência da atividade coral vivida na cidade de Fortaleza. A esse respeito tratarei com maiores detalhes um pouco adiante, ao abordar a educação musical na UFC.

Abriu-se espaço, no entanto, em 1996, para a oferta de licenciaturas específicas nas áreas de artes visuais, artes cênicas, dança e música com a LDB 9394/96, que resgatou as Artes como forma de conhecimento.

Esse apanhado histórico trouxe, até aqui, percepções preliminares de como a Educação Musical teve sua trajetória marcada pelos artefatos políticos, econômicos e sociais que perpassam a nossa história. Desta forma, introduz-se o cenário que se coloca como pano de fundo desse estudo, tecendo um sucinto panorama do contexto musical brasileiro para enfocar a partir daqui a configuração de um campo pedagógico musical que processualmente se desenvolve na UFC.

Na busca de fontes documentais que me referendassem quanto ao período que antecede a instituição do curso de educação musical da UFC, encontrei no Projeto Político Pedagógico do referido curso, desenvolvido pelo professor Elvis Mattos, subsídios que satisfizeram essa procura. O relato que se segue, portanto, é parafraseado desse documento.