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Projetos técnicos com Fóruns inter-regionais e Organismos Internacionais

4 DA ANÁLISE DOS MODELOS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL À

4.10 Projetos técnicos com Fóruns inter-regionais e Organismos Internacionais

No tocante aos projetos de cooperação técnica na área de combate à epidemia de HIV/AIDS, faz-se necessário relatar que além dos projetos já citados, sendo os mesmos executados de forma bi ou trilateral, o Brasil estabeleceu outros projetos de cooperação técnica no contexto dos Fóruns e Organismos Internacionais de que participa. Nesse sentido, existem projetos técnicos desenvolvidos no âmbito do Fórum IBAS e da CPLP.

A cooperação em saúde no IBAS pode ser analisada em cada instância em que o Fórum está estruturado: coordenação política, cooperação setorial e Fundo IBAS. Para análise dos projetos na área técnica serão analisados apenas os projetos do Fundo IBAS concluídos até o momento, uma vez que não faz parte da coordenação política a instituição de projetos, e os projetos estabelecidos na cooperação setorial serão analisados na seção sobre a Cooperação Científico-Tecnológica.

Os projetos do Fundo IBAS contemplaram seis países: Burundi, Cabo Verde, Guiné- Bissau, Haiti, Serra Leoa e Palestina. Na área de saúde destacam-se os projetos com Cabo Verde, Guiné Bissau e o Burundi99 (IBSA, 2011). O projeto com o Burundi foi estabelecido em 2010, e se concentrou em estratégias de fortalecimento da infraestrutura e do combate à epidemia de HIV/AIDS no país. Para isso o projeto consistia na construção de um centro de saúde e fornecimento de insumos para este estabelecimento, permitindo que houvesse ações de prevenção, testagem (teste para saber se o indivíduo é portador do vírus HIV) e tratamento

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Burundi é um país africano que tem um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH), 0,400,

pelos dados de 2014. Disponível em <

http://www.undp.org/content/undp/en/home/presscenter/events/2014/july/HDR2014.html>. Acesso em 10/01/2016

de pacientes. O orçamento aprovado foi de US$ 1.145.630,00 (um milhão cento e quarenta e cinco mil seiscentos e trinta dólares). A duração do projeto foi de três anos, entre 2010 e 2012 (IBSA, 2011, p.7-8).

No relatório sobre o projeto em 2011, as informações mostravam que a construção do centro de saúde estava avançada e a previsão de inauguração seria em julho de 2012. Ao mesmo tempo em que as obras avançavam, era feito também a capacitação técnica do pessoal, com workshop local na área de HIV/AIDS, intercâmbio de técnicos nas cidades de Bujumbura100, Brasília, Dakar e Nova Delhi, e equipagem tecnológica do centro, com computadores, material médico, veículos doados pelo Governo do Burundi e ONGs que atuam no país (IBSA, 2011, p. 7-8).

Em Cabo Verde a na Palestina os projetos desenvolvidos foram na área de saúde, não sendo mencionado especificamente se houve ações na área de combate à epidemia de HIV/AIDS. O projeto do Fundo IBAS com Cabo Verde incluiu ações para reabilitar e equipar dois centros de saúde na Ilha de São Nicolau, área remota da região, permitindo e facilitando o atendimento da população local. O projeto foi completado em 2008, teve duração de dois meses e orçamento de US$ 37.065,00 (trinta e sete mil e sessenta e cinco dólares) (IBSA, 2011, p. 23).

Outro projeto na área de saúde do Fundo IBAS foi estabelecido com a Palestina, e teve como objetivo reestruturar um Hospital Central do Crescente Vermelho101 na Faixa de Gaza, destruído por causa da guerra. O projeto teve orçamento de US$ 1.000.000,00 (um milhão de dólares) e duração de um ano, entre janeiro de 2012 e janeiro de 2013. Recentemente foi aprovada a Fase II desse projeto, que amplia a reestruturação do Hospital para a construção de um centro cirúrgico, aumentando o número de leitos disponíveis para tratamento de pacientes. O orçamento aprovado para essa fase do projeto é de US$ 630.000,00 (seiscentos e trinta mil dólares), com previsão de duração de um ano, entre maio de 2014 a junho de 2015 (IBSA, 2014, p. 21-32).

No relatório anual do Fundo IBAS de 2014, os projetos de saúde e HIV/AIDS em Cabo Verde e no Burundi, respectivamente, são demonstrados como projetos já concluídos. O referido relatório informa sobre outros projetos em andamento do Fundo IBAS na área de saúde, tais como um projeto recentemente aprovado para o Vietnã em 2014, intitulado “Uma

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Bujumbura é a capital e maior cidade do Burundi

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O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho foi fundado em 1863. Atua em área de guerras e conflitos armados com o objetivo de proteger as vítimas, e promover as leis que protejam as vítimas nestas condições. É uma Organização independente e neutra, tem o apoio de milhões de voluntários e é financiada por doações voluntárias de Governos e das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Disponível em < https://www.icrc.org/pt/o-cicv>. Acesso em 10/01/2016.

abordagem inovativa em e-aprendizado para a saúde”, cujo objetivo é a capacitação de recursos humanos em saúde (estudantes de medicina) e profissionais da saúde da região norte do país por meio de implantação da plataforma digital e de módulos de e-aprendizado no sentido de melhorar a cobertura de atendimento e os serviços de saúde. A prioridade inicial do projeto é ampliar a capacitação e o conhecimento em doenças não transmissíveis, tais como as cardiovasculares e o câncer. O orçamento aprovado foi de US$ 990.000,00 (novecentos e noventa mil dólares), com duração de dois anos, de junho de 2014 a junho de 2016 (IBSA, 2014, p. 24).

Representando projetos com Organismos Internacionais destacam-se projetos que foram estabelecidos no contexto da CPLP. Os projetos em saúde com o Organismo Internacional estão assentados no Plano Estratégico de cooperação em saúde da CPLP102, que estabeleceu sete eixos estratégicos para definição de projetos na área: 1) Formação e desenvolvimento da Força de Trabalho em Saúde; 2) Informação e Comunicação em Saúde; 3) Investigação em Saúde; 4) Desenvolvimento do Complexo Produtivo da Saúde; 5) Vigilância Epidemiológica e Monitorização da Situação de Saúde; 6) Emergências e Desastres Naturais; 7) Promoção e Proteção da Saúde (CPLP, 2016).

Projetos prioritários em saúde foram estabelecidos de acordo com o eixo estratégico. Nesse sentido, para a formação e desenvolvimento da força de trabalho em saúde (eixo 1) foi proposta a criação da Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde da CPLP; a estruturação da Rede de Escolas Técnicas de Saúde da CPLP; a estruturação da Rede de Escolas Nacionais de Saúde Pública da CPLP; a formação médica especializada nos Países de Língua Portuguesa (CPLP, 2016).

No que tange à informação e comunicação em saúde (eixo 2), os projetos previam a criação do Portal CPLP/Saúde. Para o eixo três, investigação em saúde, o projeto incluiu o fortalecimento da investigação científica em saúde pública na CPLP (CPLP, 2016).

A construção de Centros Técnicos de Instalação e Manutenção de Equipamentos (CTIME) foi um projeto inserido no eixo quatro, que previa o desenvolvimento do complexo produtivo da saúde. Para a vigilância epidemiológica e monitorização da situação de saúde

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O documento base para o Plano Estratégico para cooperação em saúde na CPLP foi aprovado na Reunião Extraordinária dos Ministros de Saúde em 2008. O documento tinha como objetivo definir as diretrizes orientadoras, os eixos estratégicos, as áreas e os projetos prioritários, bem como as estruturas de operacionalização do PECS/CPLP para o período 2009-2012 (REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DOS MINISTROS DA SAÚDE DA CPLP, 2008). Na III Reunião dos Ministros da Saúde da CPLP, em Estoril, Portugal, em 2009, foi aprovado o Plano Estratégico PECS/CPLP 2009-2012, que no seu escopo também aprova a formação do grupo técnico de saúde da CPLP, a fim de garantir a operacionalização, monitorização, avaliação e sustentabilidade do Plano Estratégico, e a criação de um fundo setorial da saúde da CPLP como um mecanismo de apoio financeiro à execução de projetos aprovados no Plano (DECLARAÇÃO DE ESTORIL, 2009).

(eixo 5), o projeto previa a Monitorização e Avaliação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio na CPLP (CPLP, 2016).

O eixo seis incluiu projetos para elaboração de um plano comunitário de apoio mútuo para situações de emergências sanitárias nos Estados membros (incluindo crises sanitárias pós-emergências naturais; escassez aguda de medicamentos; surtos epidêmicos; carência aguda de recursos humanos, etc.) (CPLP, 2016). O projeto Comunidades Saudáveis: Implantação de projetos-piloto nos países da CPLP contemplou o eixo sete, que diz respeito à promoção e proteção da saúde nos países da CPLP (CPLP, 2016).

Cabo Verde vem desenvolvendo com o Brasil um projeto que tem como objetivo o fortalecimento da atenção primária em saúde. Ações na área incluem a reorganização e a prestação de atendimento em cuidados primários em saúde103 e a capacitação de equipes em cuidados primários em saúde. O projeto BRA/04/044-S441 teve início em 2012 (ABC, 2016d).

Brasil e Angola desenvolveram um projeto para Capacitação do Sistema de Saúde de Angola. O projeto BRA/04/044-S242 teve início em 2010, e tem como objetivos a formação de profissionais para atuar na área de ensino, investigação e cooperação técnica na escola de Saúde Pública de Angola e a estruturação de uma rede de bibliotecas em saúde em Angola, contribuindo para a reestruturação das escolas técnicas de saúde e o fortalecimento do Instituto Nacional de Saúde Pública do país (ABC, 2016d).

A capacitação técnica na área de saúde em Guiné-Bissau é contemplada pelo projeto BRA/04/044-S404, que tem como objetivo dar apoio na área de diagnóstico laboratorial em HIV e outras doenças infecciosas no país. Nesse sentido, foi criado o Instituto Nacional de Saúde (INASA), em 2009, onde está localizado o Laboratório Nacional de Saúde Pública (LNSP). A falta de capacitação em recursos humanos é um constrangimento para o efetivo enfrentamento da epidemia de HIV/AIDS e outras doenças infecciosas no país. O projeto que teve início em 2012 inclui justamente a capacitação técnica e profissional do Laboratório Nacional de Saúde Pública (ABC, 2016d).

O projeto BRA/04/044-S310 com Moçambique, iniciado em 2011, inclui a implantação do Centro de Telesaúde, da biblioteca e do Programa de ensino à distância em saúde da mulher, da criança e do adolescente no país (ABC, 2016d).

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Cuidados primários em saúde são estratégias implementadas de forma contínua e sistematizadas, para integrar ações preventivas e curativas tanto a nível individual, quanto comunitário. Disponível em http://www.sites.epsjv.Fiocruz.br/dicionario/verbetes/ateprisau.html. Acesso em 10/01/2016

No tocante à capacitação de recursos humanos em saúde no âmbito da Rede de Escolas Nacionais de Saúde Pública (RESP), que faz parte do eixo 1 do PECS/CPLP, projetos e iniciativas existentes na área são descritos como inseridos nesse contexto. No relatório da Secretaria Executiva da o PECS/CPLP em 2012 consta a descrição de projetos concluídos na área de saúde entre os anos de 2000 e 2012, no contexto do Plano Indicativo de Cooperação (PIC). Há a descrição do projeto Pr11/ST/01 com foco na área de HIV/AIDS, orçado em €19.383,00 (dezenove mil trezentos e oitenta e três euros)104

(CPLP, 2010b, p. 24).

Outro projeto descrito no relatório em questão que também se insere no eixo 1 do PECS/CPLP foi o Pr12/ST/01 executado em 2008, que teve por objetivo implementar ações visando dar apoio à capacitação de recursos humanos em saúde dos PALOP. O projeto foi orçado em €272.492,00 (duzentos e setenta e dois mil quatrocentos e noventa e dois euros), e previa a qualificação de docentes em saúde pública, com ênfase nas áreas de gestão, vigilância epidemiológica e administração hospitalar. O projeto visava ainda o desenvolvimento de um processo de formação profissional em saúde pública em diferentes níveis (médio e superior)105(CPLP, 2010b, p. 9).

Os dois projetos foram financiados pelo Fundo Especial da CPLP. A entidade financiadora do projeto Pr12/ST/01 foi a Agência Brasileira de Cooperação e a Instituição executante foi a FIOCRUZ (CPLP, 2010b).

Inicialmente projetos na área científico-tecnológica inseridos como cooperação técnica no primeiro relatório publicado pelo Ipea junto com a ABC e o MRE em 2010 foi considerado em relatórios posteriores, 2013 e 2016 como cooperações separadas, e que será abordada em seção própria.

No sentido de aprofundar o conhecimento sobre as estratégias da cooperação brasileira para o desenvolvimento internacional na área de combate à epidemia de HIV/AIDS, construiu-se se um banco de dados com o intuito de analisar os mesmos por meio de modelo estatístico. O objetivo inicial era avaliar quais as possíveis motivações do Brasil em ações de cooperação humanitária e técnica por meio da doação de antirretrovirais e projetos técnicos de combate à epidemia de HIV/AIDS. A presença ou ausência de interesses políticos, econômico-comerciais e sociais poderia ser avaliada por meio de dados, tendo como objetivo final verificar se ao cooperar nessas modalidades o país se mantém alinhado aos princípios da Cooperação Sul-Sul.

104 Não consta no relatório do Programa Indicativo da cooperação na CPLP quem foram as Instituições

financiadoras e executoras do projeto.

105 Não consta no relatório do Programa Indicativo da cooperação na CPLP quem foram as Instituições

4.11 Cooperação humanitária e Cooperação técnica Sul-Sul brasileira na área de