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2 BASES E CONDIÇÕES PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

2.5.8 O ProJovem e o ProJovem Trabalhador

2.5.8.2 ProJovem Trabalhador

Esse é mais um programa do governo de Lula, em realidade, uma continuação do ProJovem oferecido agora com uma “nova roupagem”. Também é um programa da responsabilidade da Secretaria Geral da Presidência da República, que visa à inclusão social dos jovens com idade entre 18 e 29 anos, que saibam ler e escrever e que ainda não tenham concluído o Ensino Fundamental. O MTE (2015), a respeito do ProJovem Trabalhador, anuncia em seu site73 que

preparar o jovem para o mercado de trabalho e para ocupações alternativas geradoras de renda são os principais objetivos do ProJovem Trabalhador. Podem participar do Programa os jovens desempregados com idades entre 18 e 29 anos, e que sejam membros de famílias com renda per capta de até um salário mínimo.

O ProJovem Trabalhador unificou as ações: Consórcio Social da Juventude, Empreendedorismo Juvenil, Juventude Cidadã e Escola de Fábrica. Os participantes receberão bolsa auxílio no valor de R$ 100,00, e em até seis parcelas, mediante comprovação de 75% de frequência ás aulas. Os cursos de qualificação serão de 350 horas/aula, sendo 100 horas/aula de qualificação social e 250 horas/aula de qualificação profissional.

O Programa será desenvolvido em parceria com Municípios e Governos de Estados, no caso do ProJovem Trabalhador – Juventude Cidadã, e Sociedade Civil e Iniciativa Privada, no caso dos Consórcios Sociais da Juventude. O objetivo da ação de qualificação é estimular e fomentar a geração de oportunidades de trabalho, negócios, inserção social, bem como promover a visão empreendedora, com posterior inserção no mercado de trabalho de 30% dos jovens qualificados.

73 Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/politicas_juventude/projovem-trabalhador-1.htm>. Acesso em 20 abr.

Porém enfatiza, ainda, que

atualmente está vigente somente a ação Juventude Cidadã que visa à parceria com Prefeituras Municipais (acima de 20 mil habitantes), Governos Estaduais e Distrito Federal.

Destaca-se a questão assim descrita no site do MTE (2015) sobre a descontinuidade de modalidades de ações oferecidas pelo programa. Fato que direciona para a questão em saber o porquê desta “descontinuidade”. Não obstante, saber qual a efetividade desse programa para a juventude carente, para a quem foi destinado. Nesse momento, é necessário relevar também a constatação de KUENZER (2006, p. 898) que indicou ser o valor da referida “bolsa auxílio” pouco atrativo para muitos jovens. Entende-se que esse valor seja irrisório, tanto para aquele que faz “bicos” em trabalhos precarizados, quanto àqueles que já vivem na marginalidade, e que necessitam se auto sustentar, e, às vezes, até toda uma família. Outras questões são relevadas a seguir.

De acordo com o documento oficial (BRASIL, 2008, p. 14) o programa compreendia as quatro modalidades assim dispostas:

 ProJovem Adolescente, que objetiva complementar a proteção social básica à família, oferecendo mecanismos para garantir a convivência familiar e comunitária e criar condições para a inserção, reinserção e permanência do jovem no sistema educacional. Consiste na reestruturação do programa Agente Jovem e destina-se a jovens de 15 a 17 anos.

 ProJovem Urbano, que tem como finalidade elevar o grau de escolaridade visando ao desenvolvimento humano e ao exercício da cidadania, por meio da conclusão do ensino fundamental, de qualificação profissional e do desenvolvimento de experiências de participação cidadã. Constitui uma reformulação do ProJovem – Programa Nacional de Inclusão de Jovens.  ProJovem Campo, que busca fortalecer e ampliar o acesso e a permanência dos jovens agricultores familiares no sistema educacional, promovendo elevação da escolaridade - com a conclusão do ensino fundamental - qualificação e formação profissional, como via para o desenvolvimento humano e o exercício da cidadania. Valendo-se do regime de alternância dos ciclos agrícolas, reorganiza o programa Saberes da Terra.  ProJovem Trabalhador, que unifica os programas Consórcio Social da Juventude, Juventude Cidadã e Escola de Fábrica, visando à preparação dos jovens para o mercado de trabalho e ocupações alternativas geradoras de renda. Atenderá a jovens de 18 a 29 anos, em situação de desemprego que sejam membros de famílias com renda mensal per capita de meio salário mínimo.

Ao ser observada a segunda diretriz, por exemplo, tem-se a impressão de que o programa, de fato, era inovador e trazia uma proposta progressista de formação profissional. No entanto,

sob a denominação “qualificação profissional”, o que o ProJovem Urbano efetivamente oferece é a incorporação de um “ethos do trabalho bem feito”, ou seja, trata-se de incorporar uma determinada concepção do que é o fazer do trabalho contemporaneamente: um trabalho cooperado, com qualidade, em que bons patrões e bons empregados produzem com eficiência para o bem de todos. A divisão social do trabalho é tomada em um sentido durkheimiano, como processo natural e inevitável no interior do qual todos, independente de sua função particular, têm a mesma importância na medida em que contribuem igualmente para o bem comum (ANDRADE, 2010, p. 11- 12).

Depura-se também que o programa trazia em seu currículo vínculos com o empreendedorismo. Para Andrade (2010, p. 15), esse programa “tem como diretriz central a disseminação de uma ‘cultura empreendedora’ entre seus alunos, isto é, a disseminação dos valores, atitudes e comportamentos característicos dos empresários inovadores”. Essa é uma “cultura liberal” disseminada nos meios educacionais brasileiros, em função das altas taxas do desemprego, e outros graves problemas sociais concernentes ao mundo do trabalho contemporâneo (ANTUNES, 2008; MÉSZÁROS, 2011; POCHMANN, 2006).

As classes dominantes acreditam que dessa forma, ou seja, na atitude empreendedora, o desemprego no país poderá ser minimizado. Essa é uma realidade constatada, pois a acentuada abertura de empresas no país, já vem ocorrendo desde a ampliação das crises econômicas das fases de Collor e FHC. O SEBRAE (2005, p. 11) apontava que “o número de microempresas no Brasil, entre 1996 e 2002, evoluiu de 2.956.749 para 4.605.607, com crescimento acumulado de 55,8%, passando a participação percentual no total de empresas de 93,2%, em 1996, para 93,6%, em 2002”. No ano de 2012, de acordo com a mesma entidade (SEBRAE, 2014, p. 9), já eram cerca de 5,15 milhões de microempresas. Nesses estudos a entidade também aponta que, “notocante às Empresas de Pequeno Porte, em 2009, somavam 660 mil. Em 2012, totalizaram 945 mil, com elevação de 43,1%, superando a taxa de crescimento das Médias e Grandes Empresas (MGE), de 31,2%”.

O que já foi apontado por Antunes ([org.], 2006) é que as grandes empresas vêm cotidianamente reduzindo os seus quadros funcionais. Esse desemprego, por sua vez, acarreta na abertura de pequenos empreendimentos, muitos deles prestadores de serviços às grandes, nesse caso o fenômeno chamado de “terceirização”.

Mas, como um jovem com recursos econômicos mínimos pode “empreender” algo? Que tipos de empreendimentos ensejam esse programa? Plantar esses sonhos capitalistas na mente de quem não conseguiria reunir o capital inicial mínimo para qualquer empreendimento, é no mínimo, uma crueldade com o aluno. Não seria esse, então, mais um motivo para a evasão e o “desprezo” ao programa por parte de seu público? Poderia também tal proposta de conteúdo de caráter liberal colaborar para que o estudante tivesse um sentimento de fracasso?

Além dessa filosofia educacional liberal que está presente nos programas, existem outras críticas comuns, como as dificuldades de articulação entre federação e estados, e a desarticulação entre o aprendizado científico e o técnico. Se na proposição curricular existia uma suposta articulação rumo à politecnia, a prática mostra o contrário.

O currículo proposto nos cursos do Projovem Trabalhador implementado em 2008 se pautou num modelo tradicional de currículo de educação profissional, que separa os momentos da formação: o destinado à formação básica ou geral e o voltado à formação específica, vinculada à área de atuação profissional. Essa fragmentação marca diferentes níveis de aprendizagem e desloca a dimensão da prática profissional para o segundo momento da formação. (...) É necessário que o currículo propicie a articulação entre as práticas e as discussões teóricas a elas referidas, em tempos e espaços contínuos, rompendo com a tradicional separação entre o tempo e o espaço de aprender teoricamente e o tempo e espaço para atuar praticamente (DELUIZ, 2010, p. 26).

Nessa mesma linha, queixas são feitas também quanto ao conteúdo de ensino, ao material didático e à “falta de infraestrutura”74 para o aprendizado tanto teórico quanto o técnico prático. Esse é um problema já bastante conhecido desde a Lei 5.692/71, que tentou transformar escolas propedêuticas em técnicas da noite para o dia.

No que diz respeito especificamente à seleção dos conteúdos de ensino, cada uma das instituições, âncora e executoras, seguiu o critério estabelecido pelo seu próprio corpo docente. No que se refere às metodologias de ensino, também não houve uma diretriz norteadora da ação das instituições. (...) O material didático da parte de formação básica está dividido em cadernos: Língua Portuguesa, Matemática, Inclusão Digital e Temas Transversais. Os

74 Observar matéria de DAVILIRA, Débora Alves – O Estado de São Paulo (jornal), onde a jornalista escreve que

“segundo um relatório do Fundo de População das Nações Unidas (ONU), autorizado pelo governo brasileiro, há “grande precariedade” na infraestrutura das unidades de ensino. O trabalho chama de “erro estratégico” delegar aos municípios a responsabilidade de definir os locais onde serão realizadas as aulas de qualificação e participação cidadã. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,projovem-urbano-e-caro-e-ineficiente-imp- ,809182>. Acesso em 22 abr. 2015.

dois primeiros abordam de forma superficial conteúdos tradicionalmente trabalhados no ensino fundamental, sem integração entre os conhecimentos (DELUIZ, 2010, p. 26).

Um grande conjunto de fatos apurados marcam o já apontado desinteresse dos jovens pelo programa, assim como, a evasão dos matriculados. Sobre o ProJovem Urbano, Soares, Ferrão e Marques (2011 p. 850) depuraram que a partir do “número de participantes no Programa, 47.142 indivíduos, o número de alunos que evadiram é bastante elevado (19.199, cerca de 41%). Os reprovados representam 26% e, portanto, apenas 33% (15.424) dos alunos foram aprovados”.

Esse é o conjunto dos maiores problemas que refletem na incapacidade desses dois programas em atingir os seus objetivos. Fato observado na pesquisa para este trabalho é que nenhum profissional das seis pequenas empresas foi egresso desses programas.