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PROMOÇÃO DE UM COLECTIVO DE TRABALHO

No documento Anabela Maria de Oliveira Fernandes Vol.I (páginas 130-135)

CAPÍTULO IV – AO ENCONTRO DO ESTUDO…

6.4 PROMOÇÃO DE UM COLECTIVO DE TRABALHO

6.4.1 O trabalho em equipa e a emergência de processos de qualificação profissional

A valorização de equipas multidisciplinares e a sua potenciação em processos de qualificação dos elementos poderá ter impacto em duas dimensões:

• No trabalho colectivo que pretende superar uma lógica de somatório de competências profissionais, por uma lógica qualificadora centrada na acção;

• A acção como determinante para a qualificação dos agentes, na assunção de que é esta que forma e qualifica. (D’Espiney, 2009).

Desta forma, no âmbito da Divisão em causa, considera um dos entrevistados, “(…) nós temos um método de trabalhar diferente, mais activo, mais participativo e acabamos por ser mais autónomos, e quando vamos para a discussão, às vezes esbarramo-nos em relação às outras divisões ou outros serviços com o excesso de burocracia e na dependência da voz da chefia, portanto da autorização da chefia para qualquer passo que se dê.” (E1. p.7).

Constatamos, nesta declaração, que se percepciona uma diferença em relação a outras áreas do serviço autárquico. Trata-se de um campo para um maior aprofundamento, provavelmente, sustentador de outras propostas de investigação, porque esta ideia não se apresenta totalmente consensual quando transportada para toda a autarquia.

De acordo, em parte, com as anteriores palavras coloca-se um outro entrevistado, “(…), o mais gratificante de trabalhar nesta Câmara, não é o que se faz, mas sim como se faz. A liberdade de trabalho, a liberdade de produção de propostas, a liberdade de reflectir, a liberdade das contribuições serem aceites, não só entre pares mas também a estrutura hierárquica, é se calhar a mais-valia desta equipa.” (E2. p.18)

Trata-se de um campo de análise, que cruza as perspetivas pessoais e profissionais, cruza lógicas políticas entre o quotidiano profissional, e as decisões de política global de funcionamento da autarquia, enquanto organização complexa e diferenciada.

No entanto, “ A forma como esta é, uma forma de trabalhar em que não se desresponsabilizando e não suprimindo hierarquias, é um verdadeiro trabalho de equipa como ele deve ser. E num trabalho de equipa em que cada um é chamado a dar de si e a receber, ora isso contribui imenso para a valorização pessoal e profissional de cada um. “ (E5 p.54).

Retomamos aqui processos de interação entre os agentes, baseados num clima que favorece a democracia, se centra em processos de acção que os mobiliza. Estes processos parecem evidenciar convivialidade, o prazer no trabalho e reconfortam quem neles se implica.

Um conforto, que se entende possível, pela acção autárquica, nomeadamente pela existência de instrumentos que procuram conciliar questões, mais de conteúdo técnico com questões eminentemente políticas, expostos da seguinte forma:

“ (…). Articula-se profundamente, ou seja, (…) existem instrumentos de gestão aqui no Município que são muito confortáveis para que os serviços, de alguma maneira, resolvam essa dificuldade, (…) o seu grau de eficácia seja em correlação com os objectivos delineados, (…). A clareza dos objectivos da Autarquia também não constituem um problema, ou seja, instrumentos como eu referi há bocadinho,( aliás, ao que vou descortinando nem sequer é um instrumento consensualizado em outras Autarquias), portanto há muitas Autarquias que nem sequer têm este quadro de avaliação (…) e portanto o que acontece é que estes instrumentos estão a montante devidamente identificados e devidamente operacionalizados neste momento e portanto permitem com alguma facilidade que haja de facto esta relação dos níveis de produção com os níveis de definição dos objectivos das próprias politicas da Autarquia, (…).” (E6,p.77)

6.4.2 Formas de participação e concepção de uma estratégia comum

Em consonância com os pontos, anteriormente estudados, procuramos junto dos elementos, uma maior concretização progressiva de situações que evidenciem processos metodológicos potencialmente inovadores.

Uma ideia, desde logo presente, prende-se com o facto de todos os elementos se encontrarem identificados com uma estratégia que ajudaram a construir.

Encontramos como interesse da Autarquia, ao longo do tempo, a promoção de espaços de participação, como um eixo politico prioritário, “(…),é um princípio do Município dentro dos seus valores, e depois é muito bem incorporado, e eu não tenho problemas em dizer que passei por quatro vereadores até à data, ou seja pelos responsáveis políticos, que é o responsável máximo pelo serviço, existindo essa disponibilidade por parte do sector político, a nós tranquiliza-nos muito por saber que podemos manter a mesma liberdade de acção e a mesma capacidade de reflexão e não cairmos naquilo a que se chama a rotina do funcionalismo público, ou uma monotonia de execução.” (E2,p.18).

Um dos momentos de operacionalizar este princípio, que constatámos ser muito importante, são as chamadas “Jornadas”.

Sobre o seu tempo de duração, e a metodologia adoptada para a sua realização, constatámos diferentes contributos:

“ (…). O espaço das Jornadas, efectivamente é um espaço de participação alargada. (…).” (E6, pp.70,71);

” (…) este grupo também tem permitido essa actividade, muita grata, que é o pensar a nossa Divisão e o pensar a Acção Cultural como um todo, e procurar reagir a situações fracas na continuidade do trabalho. (…) anualmente nós temos uma avaliação mais colectiva, relativamente a matéria estratégica, a matéria operacional, e uma avaliação sobre as metas que efectivamente nos propunhamos no ano anterior e do grau de alcance efectivo do cumprimento dessas mesmas metas.(E6,p.60)

Ainda de acordo com os dois aspectos, refere um dos (as) entrevistados (as) que “Promove a participação de todos…talvez não de forma igual, há um grupo mais restrito que tem oportunidade de debater, mais profundamente a Divisão, os restantes têm uma participação mais de fugida. (…) Portanto, a sua participação é muito mais…, é menor, não estão o tempo todo, por caso este ano, pela primeira vez, foi pedido ao grupo dos administrativos que também fizessem uma apresentação do seu trabalho, mas foi a primeira vez, enquanto os técnicos, todos eles fazem a sua avaliação do ano que passou em termos de trabalho. É-lhes dada essa oportunidade e aos restantes colegas não.“ (E1p6)

Trata-se de ponderar e conciliar, por um lado, como se pode melhorar a ocorrência de espaços e momentos para a participação. Por outro, a constatação de existência de processos interessantes e com alguma profundidade de participação.

“Sim a planificação é efectivamente participada, existe um acompanhamento dessa planificação, mas cada um de nós tem autonomia suficiente para desenvolver o seu trabalho, sem ter que constantemente pedir autorização, portanto pedir para continuar, sabemos o que planificamos, sabemos o que é esperado de nós, sabemos seguir em frente, sabemos fazer sem esperar que seja autorizado, porque autorizado já está à partida. “ (E1, pp.6,7)

Refira-se que são notórios os sinais de enraizamento de hábitos de participação, uma forma de trabalhar assumida com alguma naturalidade.

“Nós temos inclusivé criado um sector de participação, que durante muito tempo foi a Divisão de Acção Cultural. Aquilo que é hoje uma bandeira da Câmara, em termos de participação, teve a sua origem na Divisão de Acção Cultural. (…), a organização é mais fluida face aos seus objectivos num sistema participado do que nos outros, isso aí posso claramente assumir.” (E2,p.18)

A assunção de um trabalho coletivo, proporcionador da elaboração e definição de eixos de intervenção, de implicação para a resolução de situações, potenciadora de uma estratégia de envolvimento comum, encontra eco nos seguintes depoimentos:

“Eu acho que qualquer momento que seja de partilha mais colectiva aponta no sentido de pensarmos o nosso trabalho e as formas de intervenção, o facto de termos as reuniões semanais

outros e nos confrontarmo-nos com aquilo que corre bem e com o que corre mal, e para melhorar, acho eu.” (E3, p.27)

“Valoriza-se a opinião e a experiência de toda a gente, os amuos também, e as limitações. Tentamos sempre ter uma atitude pró activa no sentido de ver onde existem as dificuldades e tentar ajudar os colegas que eventualmente tenham algumas dificuldades.” ( E4, p.46)

Uma lógica de funcionamento, que se desmultiplica em diferentes contextos de trabalho, e sintetizado da seguinte forma:

“Eu não tenho propriamente uma equipa, tenho várias equipas. Existe uma máxima que continua a funcionar que é o diálogo entre todos, tento ao máximo envolver todas as pessoas e decidir em conjunto com toda a gente.” (E5, p.52)

Este ponto parece evidenciar que o momento de realização das “Jornadas” da Divisão tem um particular sentido para a equipa. A sua realização contém um conjunto de intencionalidades que:

• Favorece o trabalho coletivo;

• Aprofunda metodologias de trabalho em equipa;

• Promove a reflexão dos intervenientes nos processos de animação e desenvolvimento cultural;

• Aproxima o tempo da acção e da reflexão;

• Organiza, de forma participada, a construção de uma estratégia de intervenção, em consonância com as decisões políticas autárquicas, mas num contexto de participação democrática e recriadora crítica de metodologias de trabalho para a sua consecução.

Durante a realização desta investigação, na sequência destes depoimentos, a existência anual das “Jornadas” despertou-nos a constatação de duas outras situações:

• O reconhecimento da existência de processos democráticos no seu funcionamento, associados a metodologias de trabalho inovadoras que potenciam eixos de acção cultural, territoralizados e participados;

• As metodologias e processos, presentes nas “Jornadas”, poderiam ocorrer em mais momentos ao longo do ano, serem disseminados ou recriados, aprofundando-se no quotidiano da equipa.

No documento Anabela Maria de Oliveira Fernandes Vol.I (páginas 130-135)