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É chegada a hora do desfecho do presente estudo. A incursão feita por dentre esta seara mostrou-se por demais proveitosa, e, para que se feche o círculo, e consiga-se obter o máximo possível do tema, abre-se, nesta secção, espaço para todos os tipos de proposições de doutrinadores, juristas enfim, de estudiosos do direito acerca de pontos pertinentes aos dois cenários até agora delineados.

4.2.1. Corrente Pró Investigação pelo MP

O propósito maior desta secção não é ater-se a critérios técnico- legislativos acerca da possibilidade ou não, ante ao ordenamento pátrio, de uma investigação a cargo do órgão ministerial. Não se trata aqui de uma questão de poder ou não poder, mas sim de: porque poder, e ainda: no caso de poder, como fazê-la de maneira adequada.

Nada mais justo do que ceder espaço às vozes ativas do direito brasileiro que tentam lançar luz sobre a penumbra que cerca a questão, mais das vezes o objetivo é formar opinião acerca do assunto que mais tarde –assim se espera- será objeto de trabalho legislativo.

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Lopes Jr.97 é um nome de peso dentre os defensores do sistema contemplativo da atuação ministerial, colhe-se de seu estudo que:

Partindo da categoria de “órgão encarregado”, como explicamos, podem ser encontrados atualmente três sistemas de investigação preliminar: investigação policial, juiz instrutor ou promotor investigador. Está mais do que constatada a falência do inquérito policial e do sistema de investigação a cargo da polícia. O próprio exemplo brasileiro é uma demonstração inequívoca disso. Quanto ao juiz instrutor, a situação é ainda mais grave. Se o modelo policial agoniza, o juiz de instrução já está morto. Há séculos. Ressuscitá-lo hoje seria um imenso retrocesso. Basta lembrar da barbárie iniciada no século XII, quando começou a transferência de poderes instrutórios para o juiz e que culminou na inquisição e toda uma era de escuridão jurídica [...] Sobra então –literalmente- a figura do promotor investigador. Sempre dissemos que essa era a opção “menos problemática”, principalmente quando comparada com as demais (policial e judicial). Basta analisar as vantagens e inconvenientes de sua estrutura, bem como o funcionamento em sistemas concretos (Itália, Alemanha, Portugal e os híbridos Espanha e França), para concluir que a investigação a cargo do Ministério Público é aquela em que os inconvenientes (igualmente existentes) sã mais facilmente contornáveis e passíveis de superação)

O autor usa um raciocínio de lógica por exclusão para chegar ao sistema do promotor-investigador ao rechaçar outros modelos, a seu ver, impraticáveis.

Outro entusiasta do modelo investigativo pelo parquet é Kac98. No seu entender o ideal seria uma transformação completa na realidade processual penal brasileira, no entanto alguma inovação no que tange à persecução já seria de bom tamanho.

Para o autor, alguns pontos cruciais deveriam acompanhar a mudança no sistema investigativo atual: a criação das Centrais de Inquérito (CIs) e seleção de casos a serem investigados pelo MP. A Central de Inquérito nada mais seria que, o espaço físico devidamente aparelhado de recursos humanos e materiais, aonde ao menos um promotor, um delegado e uma equipe de policiais, devidamente treinada, promoveriam investigações sob a batuta do MP. Estas investigações dirigidas pelo órgão ministerial seriam aquelas oriundas de casos já previamente selecionados, no entender do autor ficariam a critério do MP os crimes: dolosos contra a vida, hediondos e assemelhados, praticados por organizações criminosas, de corrupção de verbas do erário público, lavagem de dinheiro e contra a ordem econômica, financeira e tributária. 97 LOPES JR, 2008, p.315. 98 KAC, 2004, passim.

Vindo também aliar-se a esta corrente Fontes99, o qual, por meio de um artigo debatendo a questão, intenta justificar a falácia de alguns argumentos usados pelos detratores do sistema permissivo.

[...] argumentos têm sido utilizados por aqueles que negam ao Ministério Público poder investigatório em matéria criminal [...] parte da premissa [...] de que o membro do Ministério Público, por ser o titular da ação penal, é parcial, podendo ser levado por essa razão a realizar uma investigação tendenciosa [...]O problema desse argumento é que seus defensores, sem maior justificativa, creditam à Polícia Judiciária, em detrimento do MP, a possibilidade de realizar uma investigação imparcial. Ora, Polícia e Ministério Público estão igualmente encarregados e interessados na repressão penal, não havendo por que acreditar que um deles seja mais imparcial que o outro. A Polícia, pela forma prática como intervém no sistema, protagonizando uma luta por vezes de vida ou morte contra a criminalidade e exercendo a força física legal, como diria Weber, teria até menor inclinação para reconhecer e respeitar os direitos dos investigados. Então, o que garantiria aos membros da Polícia essa imparcialidade ou por que a possuiriam em maior grau que os membros do Ministério Público?

O autor é exemplar ao rebater o disparate de se imaginar que a Polícia Judiciária possa ser mais imparcial do que o MP, afinal de contas quem conhece a realidade policial sabe muito bem da ânsia de seus agentes em sentenciar já nas delegacias o acusado.

Em referência a carta escrita pela Anistia Internacional endereçada ao Presidente do Supremo Tribunal Federal, ainda extrai-se do artigo redigido por Fontes100: “na condição de órgão independente do Executivo, o Ministério Público é um dos únicos, senão o único, organismo capaz de, atualmente, realizar tais investigações no Brasil.”

Mais uma vez aludindo-se ao fato de que sendo Polícia Judiciária um órgão subordinado ao executivo, não poderia esta realizar uma investigação desimpedida e livre de amarras hierárquicas.

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FONTES, Paulo Gustavo Guedes, Investigação pelo MP: a questão da imparcialidade. Disponível em: <http://www.prse.mpf.gov.br/artigos/imparcialidade2.pdf>. Acesso em: 12 out. 2009. 100

4.2.2. Corrente Contra investigação a cargo do MP

Como pudemos observar, os argumentos que sustentam a posição contemplativa da atuação ministerial são muito bem alicerçados. Nada mais justo, portanto, que se abra espaço para o ponto de vista de outros autores que tentam desconstruir essa imagem de que a investigação feita pelo órgão ministerial seria a redenção de todos os males da fase persecutória.

Tourinho Filho101 rebate a tese da seleção de casos vislumbrada por Kac102anteriormente. Segundo o renomado processualista penal:

Somos da opinião de que, a prevalecer o entendimento ministerial, deverá o Ministério Público não apenas proceder a certas investigações que fazem a mídia agitar e delirar, mas também investigar todas as infrações: furtos, estelionatos, lesões corporais, estupro, tráfico etc. Mas... aí seria demais... para tais investigações existe a Polícia. Para os fatos mais importantes da vida nacional e envolvendo pessoas de projeção, afasta-se a Polícia e passa a atuar Sua Excelência o membro do Ministério Público.

Como se pôde ver, o autor vê com grande ceticismo critério de seleção de casos, vendo nele uma artimanha para que o MP “separe o joio do trigo” quando atuar como investigador.

Mudando o enfoque argumentativo, outras questões são levantadas por Barroso103 como a de que:

Concentrar no Ministério Público atribuições investigatórias, além da competência para promover a ação penal, é de todo indesejável. Estar-se-ia conferindo excessivo poder a uma única instituição, que praticamente não sofre controle por parte de qualquer outra instância, favorecendo assim condutas abusivas.

Unindo-se a este entendimento também Granzotto104:

Cumpre-se informar que o controle externo exercido pelo Parquet não se aplica aos atos internos da Polícia, pois, se assim fosse, tornar-se-ia uma

101

TOURINHO FILHO, 2005, p.285-286. 102

KAC, Marcos, 2004, passim. 103

BARROSO, Luís Roberto. Investigação pelo Ministério Público. Argumentos Contrários e a

Favor. A Síntese Necessária. 01.2004. Disponível em: <http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/documentos-e-

publicacoes/docs_textos_interesses/investigacao_MP.pdf>. Acesso em: 18 out. 2009, pg.13.

104

GRANZOTTO, Cláudio. Investigação direta pelo Ministério Público - não consonância com a sistemática do Processo Penal Constitucional. 12.2005. Disponível em:

<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2362/Investigacao-direta-pelo-Ministerio-Publico-nao- consonancia-com-a-sistematica-do-Processo-Penal-Constitucional.> Acesso em: 18 out. 2009.

espécie de corregedoria. Esse controle se dá sobre a principal atividade da polícia, qual seja, a investigação, através de acompanhamento e requisição de diligências, dentre outras funções. Sendo assim, no momento que o Ministério Público avocasse a investigação, haveria um grande prejuízo ao controle externo da referida atividade e, conseqüentemente, ao sistema acusatório.

Esta é uma questão que, realmente, não pode se deixar de levar em conta. Pois o equilíbrio do Estado Democrático de Direito é construído em sistema de pesos e contrapesos, aonde um órgão ao desempenhar uma função é, de se certa forma, controlado por outro.

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