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Proposta Educativa: Observando, Manuseando, Cozinhando e

IV. Investigando com as Crianças sobre as Amêijoas

2. Projeto: Descobrindo as Amêijoas

2.5. Fase III Execução

2.5.2. Proposta Educativa: Observando, Manuseando, Cozinhando e

No dia 27 de maio, como combinado com as crianças, levei amêijoas de várias espécies. Para a concretização da proposta educativa, combinámos que a observação das amêijoas seria realizada antes do lanche para, após o lanche, irmos ao “restaurante” do “cozinheiro” FL (5 anos), ou seja, realizaríamos a confeção das amêijoas com a receita que essa criança trouxera de casa, em resultado das pesquisas realizadas com a família. Uma vez que as crianças já tinham observado duas amêijoas com a educadora cooperante, considerei que seria importante, antes das crianças iniciarem a proposta educativa, fazer um ponto da situação e avaliação das aprendizagens das crianças (Vasconcelos et al., 2012), de modo a poder auxiliá-las no momento da observação e manuseamento das amêijoas. Assim, as crianças fizeram o registo gráfico e pictórico do que tinham descoberto, antes de iniciarem a observação das amêijoas.

Terminado o registo gráfico e pictórico, as crianças formaram grupos de dois elementos para observarem, manusearem e partilharem as suas descobertas com o seu par, potenciando um momento de aprendizagem cooperativa. Segundo Lopes e Silva (2008), “as actividades de aprendizagem cooperativa permitem às crianças adquirir e desenvolver, simultaneamente, competências cognitivas e sociais” (p.6). As Figuras 41, 42 e 43 evidenciam alguns dos momentos de aprendizagem cooperativa ocorridos aquando da observação e manuseamento das amêijoas.

Durante este momento, as crianças foram partilhando as suas descobertas com o

Figura 43 – A criança (FR, 5

anos) a ensinar a outra criança (LN, 6 anos) a produzir som com a conha da amêijoa.

Figura 42 – Uma das crianças

(MT, 5 anos) a partilhar a descoberta do seu grupo (o pé da amêijoa), enquanto a outra criança (A, 4 anos) fechava as valvas para se poder observar melhor o pé da amêijoa.

Figura 41 – A criança (B, 5 anos)

a partilhar a sua descoberta (o pé da amêijoa) à outra criança (C, 6 anos).

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Com esta proposta as crianças foram (re)descobrindo a morfologia interna e externa da amêijoa. Inicialmente, as crianças ainda se referiam aos sifões como tubinhos e às valvas como conchas. Com o desenrolar da proposta educativa e no seu términus, as crianças já utilizavam os termos cientificamente corretos.

Antes da realização da proposta educativa as crianças pareciam confundiam a parte com o todo, ou seja, nas suas ideias prévias (para além da confusão entre ameixas e amêijoas) algumas crianças referiam que a amêijoa era apenas a concha, excluindo o molusco (como se pode observar na Figura 44). Antes da observação das amêijoas, as crianças referiam que a amêijoa era o molusco, excluindo o exosqueleto como se pode observar no registo gráfico e pictórico da Figura 45. Após a observação e manuseamento das amêijoas, as crianças parecem ter reformulado as suas ideias. Os seus registos gráficos e pictóricos evidenciam essa mudança conceptual como se pode observar na Figura 46. Esta mudança conceptual também foi evidente no discurso das crianças: “A amêijoa é o molusco e as duas valvas que protegem o molusculo

(molusco).” (AN, 5 anos). “As duas valvas formam a concha da amêijoa e a concha é o esqueleto da amêijoa.” (FR, 5 anos); “Elas não são peixes porque não têm espinhas como aqueles peixes que trouxeste, Susana. É diferente dos peixes.” (D, 6 anos); “Elas têm o corpo moleeee (espremendo o molusco) são um molusculos (moluscos).” (A, 4

anos); “As amêijoas têm o esqueleto fora e os peixes têm dentro e também é diferente

de nós porque temos os ossos aqui dentro.” (MT, 5 anos).

Após o lanche demos início à segunda parte da proposta educativa – confeção das amêijoas: amêijoas à bulhão pato. A criança (FL, 5 anos) que tinha trazido a receita de casa assumiu o papel de “cozinheiro”, como se pode observar na Figura 47, enquanto as

Figura 45 – Registo gráfico

e pictórico da AN (5 anos) antes da observação e manuseamento das amêijoas.

Figura 46 – Registo gráfico e

pictórico da AN (5 anos) após a observação e manuseamento das amêijoas.

Figura 44 – Registo

gráfico e pictórico das ideias prévias da AN (5 anos).

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restantes crianças assumiam o papel de clientes do restaurante. O “cozinheiro” preparou os ingredientes, cortando-os (alho e coentros) como evidencia a Figura 48. Consoante a criança ia mostrando ao grupo os ingredientes que iam sendo retirados do saco, questionava o grupo se sabiam o que era (por exemplo, mostrou a garrafa de azeite e questionou o grupo se sabiam o que era) e as crianças identificaram e nomearam os ingredientes, referindo vivências familiares como, por exemplo, “Sei o que é. É azeite.

A minha mãe deita azeite na salada e na sopa do mano e no arroz.” (L, 4 anos).

Terminada a confeção da receita as crianças que quiseram, provaram as amêijoas. Depois da prova das amêijoas, as crianças registaram numa matriz de um gráfico de barras (construído previamente por mim) a sua opinião sobre a prova das amêijoas, ou seja, assinalaram numa das três colunas do gráfico de barras (gostei/não; gostei/não; provei) a sua opinião, como se pode observar na Figura 49.

Durante o preenchimento da matriz do gráfico as crianças iam referindo o que estava a acontecer, dizendo “Está a ganhar o gosto.” (EV, 5 anos), “Agora está empatado. Há 5

cruzes no gosto e 5 no não provei.” (FR, 5 anos). Após todas as crianças terem

registado a sua opinião, explorámos os resultados, tendo uma criança referido “Ainda

nos falta decidir o que vamos escrever aqui em cima, como fizemos naqueles (apontando para dois pictogramas existentes na sala).” (LN, 6 anos). As crianças

foram dando a sua opinião sobre que título a colocar no gráfico de barras chegando-se a acordo que o título seria “Gráfico da receita das amêijoas.”, e que este seria escrito por uma das crianças (FR, 5 anos).

Figura 48 – O “cozinheiro” a

cortar os ingredientes.

Figura 49 – Gráfico de barras

preenchido pelas crianças após a prova das amêijoas.

Figura 47 – O “cozinheiro”

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Posso inferir que as crianças, ao realizarem esta proposta educativa, foram desenvolvendo competências em diversas áreas de conteúdo das OCEPE (Ministério da Educação, 1997):

a) Na área do conhecimento do mundo – as crianças reconheceram e nomearam os ingredientes utilizados na confeção da receita (azeite, alho e coentros); (re)descobriram alguns aspetos morfológicos internos e externos das amêijoas; exploraram a profissão e respetivas funções de um cozinheiro; foram desenvolvendo capacidades em ciência, como a capacidade de observação, de registo, de comunicação e de justificação;

b) Na área de formação pessoal e social – as crianças foram desenvolvendo capacidades de interação entre pares; coconstruíram as suas aprendizagens, observando e manuseando colaborativamente as amêijoas; partilharam as suas descobertas e conhecimentos sobre o molusco bivalve com o seu par e com o grande grupo; respeitaram a sua vez de falar e ouviram o outro; negociaram e tomaram decisões relativamente à definição do título do gráfico e a criança que iria escrevê-lo; esperaram pela sua vez de colocar a sua opinião na matriz do gráfico de barras; foram relacionando os ingredientes da receita com vivências e experiências do seu contexto familiar;

c) Na área da expressão e comunicação, domínio da matemática – as crianças foram desenvolvendo o sentido do número (contagem oral e de objetos, subtizing; princípio da cardinalidade, conservação da quantidade), analisaram os resultados obtidos no gráfico de barras (organização e tratamento de dados) e referiram a necessidade do gráfico ter um título;

d) Na área da expressão e comunicação, domínio da linguagem oral – as crianças expandiram o seu vocabulário, formularam frases para comunicar os acontecimentos vivenciados no momento da observação das amêijoas e partilharam, simultaneamente, as suas observações, ideias e descobertas;

e) Na área da expressão e comunicação, domínio da abordagem à escrita – as crianças contactaram com o código escrito e foram desenvolvendo a compreensão da função da escrita (contem mensagens) e foram desenvolvendo a consciência gráfica;

f) Na área da expressão e comunicação, domínio da expressão dramática – as crianças representaram papéis de cozinheiro e clientes do restaurante);

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g) Na área da expressão e comunicação, domínio motor – as crianças com o preenchimento do gráfico foram desenvolvendo a motricidade fina e habilidades percetivo-visuais (orientação espacial; discriminação visual e coordenação óculo- manual).

2.5.3. PROPOSTA EDUCATIVA: CONSTRUINDO INSTRUMENTOS