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COLEÇÃO 3 Ser protagonista: Português

4.2 Gêneros orais e propostas de produção de textos 1 Propostas de produção de Seminários

4.2.4 Propostas de produção de Debate

O debate desempenha um papel importante na sociedade pois possibilita discussões de pontos de vista e defesa de opiniões. As competências comunicativas que

COLEÇÃO 02

In: FARACO, MARUXO e MOURA, 2011, p. 245 Figura 8

permeiam a interação no gênero debate são, entre outras, a gestão da palavra pelos participantes, a escuta de um ponto de vista e a retomada do turno com argumentos que sejam coerentes ao explicitado pelo interlocutor (cf. DOLZ e SCHNEUWLY, 2004). Fazer com que o estudante participe de práticas interacionais como a produção desse gênero coopera com a formação crítica do estudante e sua reflexão sobre o uso linguístico realizados para fins explícitos. Assim, esse gênero explora técnicas linguísticas atreladas à argumentação, capacidade crítica sobre o discurso do outro e tomada de posição para a construção da identidade.

Variadas são as tipologias de debates, dentre as quais, segundo Dolz e Schneuwly (2004), o “debate televisivo” é o protótipo do gênero. Para o trabalho em sala de aula, há o debate de opinião de fundo controverso, o debate deliberativo e o debate para resolução de problemas. Assim como os outros gêneros apresentados neste trabalho, o debate é uma forma de construção coletiva de conhecimentos a partir da integração de diversas opiniões.

Buscou-se, para esse gênero textual, descrever, neste trabalho, brevemente uma abordagem de cada uma das coleções para o ensino do debate, pois esse é o único gênero oral explorado em todas as coleções analisadas. Assim pensamos conseguir apresentar de maneira mais fiel as orientações metodológicas e conceituais de cada uma. Lembramos que as Coleções 1 e 3 apresentam o trabalho com gêneros orais em capítulos exclusivos ao estudo do gênero, enquanto a Coleção 2 apresenta uma estrutura um pouco diferente, pois um mesmo gênero é explorado em três capítulos diferentes do livro, nas seções “Linguagem oral”.

A Coleção 1 propõe a produção de três debates regrados públicos. Para tanto, há um capítulo de apresentação do que seja o gênero, outro capítulo em que há o trabalho com a contra-argumentação aplicada na produção de um debate e, por último, há o trabalho em um capítulo com a argumentação oral e escrita. O capítulo sobre o debate inicia o trabalho explorando o contexto e a função do gênero. Em uma seção intitulada “Trabalhando o gênero”, o livro busca auxiliar a compreensão sobre a situação comunicativa em que se insere a produção do texto nesse gênero. Além disso, há, nessa seção, uma transcrição de partes de um debate sobre os relacionamentos nas redes sociais. Após a exposição do texto, algumas perguntas de interpretação são expressas; no entanto, esses questionamentos não buscam a reflexão apenas sobre elementos temáticos ou sobre a superfície textual. Por meio das perguntas e das possíveis respostas, o estudante é instigado a compreender o contexto de circulação, o papel dos interlocutores, os

conteúdos possíveis e processos argumentativos para a construção do texto oral em questão. O livro objetiva, portanto, por meio do contato com esse gênero, possibilitar ao estudante refletir sobre a estrutura, a função e os interlocutores envolvidos no processo de comunicação de produção do debate.

Essa coleção continua a exploração do gênero com uma proposta de produção textual. Um texto escrito sobre o Orkut é apresentado para motivar os alunos a organizar seus argumentos para a realização do debate. Pode-se atualmente questionar a relevância desse tema, uma vez que o Orkut não é mais uma rede social tão acessada pelos jovens. Muitos, ao entrar em contato com um texto sobre esse tema, provavelmente o questionarão e pedirão uma atualização do assunto (ou referente) a ser ponto de discussão. Um box ilustra a importância da filmagem do debate para posterior avaliação e aprimoramento de competências linguísticas. Em seguida, o livro expõe uma tabela cujo título é “Princípios e procedimentos para a produção de um debate democrático”. Nessa tabela (Figura 9) há alguns tópicos que necessitam ser ponto de reflexão do aluno para que o debate seja produzido adequadamente. Essa tabela pode ser também utilizada para avaliar os textos orais produzidos. Os tópicos inseridos na tabela são: a preparação da sala, o moderador, o tempo, procedimentos e expressão. A esses tópicos são adicionadas instruções aos estudantes para a realização do debate.

As duas outras propostas de produção do debate partem da noção de que o estudante já saiba o funcionamento e a estrutura do gênero textual. Assim, o elemento central das propostas não é o gênero em si, mas as estratégias de argumentação e de contra-argumentação utilizadas na realização verbal. No capítulo destinado à contra- argumentação, a proposta de produção textual é um pouco maior do que no capítulo organizado ao estudo da argumentação oral e escrita. Naquele, o livro orienta a escolha de um moderador e faz observações sobre o tempo de interação, a postura dos participantes e outras questões que já haviam sido discutidas no capítulo sobre o debate. Há ainda um box bastante parecido com o encontrado no capítulo sobre o debate, tendo mesmo conteúdo verbal, com um design diferente de exposição. O tema do debate para esse capítulo é a eutanásia, e a proposta vem acompanhada de um texto para reflexão. Na última proposta de produção do debate na coleção, há apenas a orientação temática para a realização do texto, acompanhada da instrução para os estudantes de que devem observar o capítulo sobre o debate para a produção do texto.

A “preparação da sala” é o primeiro tópico elencado. A colocação desse tópico em primeira instância expressa que o texto precisa ser preparado mesmo antes de sua realização efetiva. A preparação da sala é prévia à expressão oral dos participantes e faz parte de uma etapa de planejamento e de preparação do texto. O “moderador” é, posteriormente à preparação da sala, colocado em evidência na tabela. O livro informa o papel do moderador, o posicionamento adequado em sala de aula e algumas construções

COLEÇÃO 1

In: CEREJA e MAGALHÃES, 2011, p. 275 Figura 9

linguísticas que o participante usará para realizar suas tarefas ao intermediar os debatedores em ação. O “tempo” também é explorado na tabela. Nesse tópico, o livro chama a atenção do estudante à necessidade de concisão e de organização da fala, pois o mesmo terá um pequeno tempo para expressar suas opiniões. No tópico de nome “procedimentos”, o respeito às regras estabelecidas para o debate e o respeito ao colega são apontados como necessários. É interessante salientar esse ponto em sala de aula, pois apresenta um perfil de debate bastante diferente do que é veiculado na mídia de maneira usual. O tópico seguinte, “expressão”, indica algumas características importantes para a fala dos participantes atrelada a elementos extralinguísticos e à materialidade da fala. O falar alto, o olhar para o público, a gesticulação contida são elencados nas orientações da tabela. Além disso, esse tópico apresenta uma atividade de letramento como constituinte e importante para a ação em um debate: a tomada de notas para posterior comentários. Na última parte da tabela, os autores trabalham a utilização da língua. São colocados em destaque de instrução a variante usual do debate e os recursos que provocam a coesão entre as falas dos debatedores. Esse texto também orienta o estudante a evitar a utilização de marcadores discursos, o que, como já discutimos na análise da proposta de produção de seminário apresentada pela coleção, é uma instrução conturbada e traz resquícios da busca pela oralidade pública submissa às regras da escrita formal.

Não há, nesse capítulo, orientações sobre o planejamento textual realizado por uma pesquisa sobre o conteúdo que será discutido. No trabalho com o seminário, que é predominantemente expositivo, a coleção orienta e induz a uma pesquisa intensa sobre a temática do texto oral. Para esse gênero argumentativo (o debate), não há indicações de leitura prévia ou preparação pessoal para a produção do texto oral. No entanto, os argumentos utilizados pelos estudantes precisam estar embasados em fatos e em conceitos reais. Considera-se, nesta pesquisa, importante a recomendação de um trabalho de pesquisa prévio à realização textual do debate, que também é um gênero oral formal e público que trabalha com conhecimentos dos participantes sobre o mundo e sobre um tema específico.

A Coleção 2 organiza o trabalho com o gênero debate de maneira fragmentada, em três seções sobre linguagem oral agrupadas em uma unidade. A primeira parte do ensino do debate nessa coleção indica o contexto e a função de uso do gênero. O livro afirma que os debates são gerados a partir de questões polêmicas, e são construídos pelo processo de argumentação para que o participante expresse sua opinião sobre um tema. O volume inicialmente propõe uma produção de debate sem explorar as características do

gênero, buscando fazer com que os estudantes expressem seus conhecimentos prévios sobre a construção desse texto. O aluno precisa utilizar, para a realização da tarefa, os temas apresentados em outra seção do livro. O livro orienta a turma a se dividir em dois grupos: um a favor e outro contrário à temática que seria escolhida para a atividade. Um representante de cada equipe expõe os argumentos do seu grupo para os outros alunos; e, a partir da reflexão conjunta e da contraposição entre os argumentos, é gerado o debate em sala. Um aluno teria a tarefa de controlar o tempo e de iniciar, finalizar e conceder o turno durante o debate, esse aluno adquire o papel de mediador do evento.

Referências a atividades de letramentos são comuns nas orientações para a produção desse gênero oral. O livro afirma que é importante que os alunos, em uma etapa inicial de discussão, anterior à exposição pública de suas ideias, escrevam os argumentos que serão defendidos pelos representantes dos grupos; o volume indica também que os outros estudantes poderão ajudar seus representantes, durante o debate em si, anotando questões importantes para complementar o discurso expresso pelos oradores e entregando os papéis a esses representantes. A sugestão de gravação do debate é apontada nessa coleção, assim como na anteriormente analisada. Ao final da atividade, os estudantes precisam analisar o debate. Algumas questões são colocadas em relação aos papéis dos participantes: mediador, representantes dos grupos e ouvintes. Esses questionamentos deixam evidente a importância dos interlocutores para a comunicação. Algumas perguntas são feitas em relação ao conteúdo do debate, elencando aspectos importantes de abordagem do tema, clareza da apresentação dos argumentos, pertinência de perguntas vindas do mediador, atenção ao tema e a possibilidade de mudança de opinião pelos representantes dos grupos. Nessa avaliação, os estudantes precisam identificar qual foi o discurso mais persuasivo e o motivo para tanto. Essas considerações fazem os estudantes pensarem sobre as estratégias argumentativas que presenciaram e construíram.

A segunda seção de trabalho para o debate é menor em relação à primeira. A atividade precisa ser realizada em pequenos grupos. A coleção indica que outro tema polêmico será escolhido para a realização dessa produção oral, mas não são colocadas opções para escolha pelos alunos. A falta de orientação em relação a temáticas para as produções de textos orais pode deixar a atividade mais frouxa. O gênero debate, em geral, possui uma adequação peculiar de assuntos, pois o tema de trabalho precisa ser polêmico e, ao mesmo tempo, coerente com a faixa etária, os interesses dos alunos e o contexto.

O livro informa que é necessário organizar os papéis de cada participante. Uma primeira produção oral deve ser realizada e, passado algum tempo de discussão, os papéis

dos participantes precisam ser trocados. Essa troca deve ser feita, segundo a orientação da atividade, várias vezes. A proposta evidencia, basicamente, a postura e a função de cada participante para a construção do gênero. Não são apresentadas as características essenciais do gênero, ou recursos linguísticos importantes para a organização e construção do debate. Após a produção textual, os participantes precisam novamente analisar suas produções.

É na terceira seção sobre o debate que o livro faz referência aos suportes midiáticos em que são realizados debates, como a televisão e o rádio. Um trecho transcrito de debate sobre as cotas em universidades é apresentado no livro. Com as mesmas perguntas com que avaliaram seus debates, os estudantes precisam analisar o debate transcrito. Os estudantes precisam discutir também as diferenças de performance entre os debatedores mais experientes e as suas atuações. No entanto, isso é feito sem a ajuda de gravações de debates, apenas com a transcrição apresentada e com a indicação, pelo livro, da possibilidade de busca do estudante por outros debates expostos na mídia. É exigida uma produção textual oral desse gênero, sobre um tema de escolha dos alunos. As propostas de debate, nesse volume, partem da intuição dos alunos em relação ao gênero, chegam a uma reflexão sobre a performance, buscam comparar um debate profissional ao realizado pelos alunos, mas não chegam ao aprofundamento do que seja o gênero. Enquanto a postura dos participantes é bastante trabalhada, quase nada é dito em relação à estrutura composicional do debate e aos conteúdos adequados. Os recursos linguísticos, paralinguísticos e extralinguísticos que compõem a prática não são mencionados, a não ser implicitamente em questão sobre a clareza do discurso dos participantes.

Em outro volume, a coleção propõe um debate para explorar como se organiza a mesa-redonda. O debate regrado deveria ser realizado após uma exposição oral e a função da produção desse texto é apenas para compreender como se realiza uma mesa-redonda. Assim, não há especificações mais precisas sobre a proposta. Essa atividade não serve à compreensão do que seja um debate, mas utiliza o conhecimento do estudante sobre o gênero para orientar o estudo de outro gênero. Conforme a metodologia empregada, sem uma base concreta do que seja um debate, o estudante fica impossibilitado de compreender o que é exatamente uma mesa-redonda.

A Coleção 3 inicia a proposta de produção com um conceito do que é o debate regrado. A polêmica dos temas e a divergência de opiniões são apresentados como constituintes da essência do gênero, sendo necessário um contexto de polêmica e de busca por soluções coletivas a problemas situações adequadas para a realização desse gênero

oral. A função de exercício da cidadania e da construção social é, portanto, exposta. Um debate sobre células-tronco é transcrito no livro. Em seguida, vários questionamentos são colocados para a interpretação do conteúdo, da maneira de construção do texto e da situação comunicativa. Um box que explica a situação de produção do gênero faz parte desse momento inicial de esclarecimento das características do debate.

Uma seção com o título “Entre o texto e o discurso – estudando o ponto de vista do oponente” segue à apresentação do gênero. Essa parte do capítulo busca auxiliar os estudantes a compreender os processos de reformulação textual e refutação da opinião do outro (adversário). A modalização é, aí, apresentada como recurso ou estratégia para expressar a responsabilidade do enunciador em relação à sua fala.

Chega-se, então, à parte de produção textual, chamada “Produzir um debate regrado”, elemento mais importante do capítulo para este trabalho. Quatro temas polêmicos são apresentados para que os alunos escolham um: a lei antifumo, o reconhecimento pela lei da união de pessoas do mesmo sexo, o uso de telefones celulares em sala, e a criação de cotas em universidades públicas. Todos os temas apresentados são adequados às exigências do gênero e ao contexto de construção do conhecimento em sala de aula. A classe, para a realização da atividade, precisa se dividir em duas partes: uma contrária ao exposto no tema, e a outra a favor. Uma tabela apresenta as características principais do texto que será produzido pelo aluno: o gênero textual, o público, a finalidade, o meio, a linguagem, o que é necessário evitar e incluir. Uma subseção no capítulo orienta o planejamento textual, realizado (i) pela discussão e tomada de notas de possíveis argumentos, (ii) pela pesquisa para recolhimento de dados, exemplos e informações, (iii) pela formulação de perguntas ao grupo adversário, e (iv) pela contraposição realizada em função dos possíveis argumentos utilizados pelo outro grupo. A subseção “elaboração” orienta a realização do debate, expondo o papel do mediador na apresentação dos participantes, declaração de regras para o tempo de argumentação e outros procedimentos. Na atividade, um primeiro momento é de exposição argumentativa das opiniões dos grupos e o segundo bloco é formado por perguntas e respostas entre os grupos para instigar a argumentação. O evento de letramento de tomada de notas para consulta e para reformulação de argumentação é colocado como importante para a produção textual.

A “avaliação” do debate realizado é instruída por meio de uma tabela que aponta como importante o respeito às regras apresentadas pelo moderador, a contribuição para o esclarecimento do assunto em questão, o aproveitamento do planejamento, o uso coerente

de informações pesquisadas, a argumentação proposta, e o apoio do grupo com quem estava falando. O livro propõe, ainda, que o estudante responda à pergunta “qual foi a conclusão ou solução à qual o debate levou?” (2011, p. 371). Esse questionamento deixa claro que o objetivo da atividade não é apenas o trabalho com o gênero em si, mas a busca pela formação de sujeitos conscientes de seu papel na sociedade. Ao perguntar a solução resultante do debate, o livro expressa que a finalidade máxima não é apenas a produção de texto, pois os alunos, nessa atividade, têm o objetivo de refletir um problema social para solucioná-lo, ou, pelo menos, estabelecer posicionamentos e conclusões a respeito do assunto.