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Capítulo 1 – As nacionalidades e ocupações dos inventariados

1.3. Ocupações ou profissões dos inventariados

1.3.2. Proprietários e investidores

Os proprietários e investidores formam o segundo grupo de atividades econômicas mais frequentes em Campinas, como mostra a Tabela 1.6. Trata-se de indivíduos de difícil identificação pelos registros oficiais, pois não era praxe

16 VANGELISTA, Chiara. Os braços da lavoura: imigrantes e “caipiras” na formação do mercado de

trabalho paulista (1850-1930). São Paulo: Ed. HUCITEC, 1991, p. 239.

0 10 20 30 40 50 60 1870-1890 1895-1915 1920-1940

denominar alguém como investidor ou rentista.17 Aqui, o critério adotado considera

proprietário e investidor o inventariado cujo arrolamento de bens registra três imóveis ou mais. Também são incluídos os indivíduos que viveram de rendimentos provenientes de empréstimos de capital e de lucros aplicados em ações de empresas.

Há duas categorias nesse grupo econômico. Os que indicam ter nessa atividade a sua ocupação principal e os que faziam dela uma forma secundária de originar rendimentos, geralmente atrelada à produção de café. Esse é o caso de alguns cafeicultores identificados também como capitalistas, como mostra os inventários de Francisca de Paula Andrade, baronesa de Monte-Mor, e de Carlos

Egydio de Souza Aranha.18

Os proprietários e investidores como ocupação principal somam 220 dos 242 registros, enquanto os casos como ocupação secundária reúnem os 22 restantes. A Tabela 1.8 apresenta o resumo desse grupo.

Tabela 1.8 – Proprietários e investidores, Campinas, 1870-1940, em número e %

1870-1890 1895-1915 1920-1940 Totais No. % No. % No. % No. Atividade principal 45 84,9 68 89,5 107 94,7 220 Atividade secundária 8 15,1 8 10,5 6 5,3 22 Totais 53 100,0 76 100,0 113 100,0 242

Fonte: inventários TJSP–Campinas.

Nota-se a tendência de aumento percentual de inventariantes que declaram atividades do inventariado como principal, ao contrário dos casos declarados como secundários, que decrescem ao longo do tempo. Os dados indicam, de modo geral,

que os proprietários e investidores baseavam seus negócios na cidade.19

17 Alguns casos foram identificados nas listas de profissões publicadas nos almanaques. Por exemplo, em FERREIRA, Carlos e SILVA, Hypolito da (org.). Almanach popular de Campinas para 1879. Campinas: Typ. da Gazeta de Campinas, 1878, há uma lista de proprietários “com mais de um imóvel”, como frisam os organizadores. Os nomes compõem um conjunto de listas reunidas sob o título de “Lavradores, capitalistas, proprietários etc.”, p. 65-85. Segue esta linha editorial os almanaques organizados por LISBOA, José Maria. Almanak de Campinas para 1871. Campinas: Typ. da Gazeta de Campinas, 1870 e Almanak de Campinas para 1873, páginas 26-37 e 21-32, respectivamente. Há poucas alterações dos nomes nas edições de BARCELLOS, Henrique de.

Almanach do Correio de Campinas para 1886. Campinas: Typ. a vapor do Correio de Campinas,

s.d. e na edição de CARDONA, Francisco e ROCHA, José (orgs.). Almanach de Campinas (litterário

e estatístico) para 1892. Typ. Cardona, s.d.

18 TJC, 4º Ofício, n.4738, 1880 e n.4890, 1885.

19 A participação relativa da população urbana do município de Campinas – incluindo seus distritos – superou a rural no intervalo de 1918 a 1934. O Recenseamento da Prefeitura de Campinas, de 1918 registrou 43,9% de urbanos e 56,2% de rurais. O Censo Escolar do Estado de São Paulo,

1.3.3. Comerciantes

O grupo de comerciantes é o terceiro mais importante na amostra de inventários, com 141 casos. Seus ramos de atuação são variados e de grande expressão. Por essa razão, foram utilizadas cinco categorias definidas segundo os tipos de atividades econômicas. A área de alimentação agrega estabelecimentos de secos e molhados, açougues, vendas de víveres e ovos, bem como atacadistas de café, açúcar, cereais, algodão, fumo e bebidas. A área de tecidos e vestuário reúne lojas de tecidos ou fazendas, roupas, sapatos e armarinhos. Identificam-se, ainda, as categorias de ferragens, móveis e ferramentas; de farmácias, boticas e drogarias; e a de outros negócios, que compreende comércios de pouca expressão, como de lenha e madeira, de combustíveis e derivados, de fogos de artifício e de livros e revistas.

Com 66 ocorrências no total, sobressaem os comércios da área de alimentos e bebidas. As lojas de tecidos e vestuário somam 18, os estabelecimentos para venda de ferragens, móveis e ferramentas, 13, as farmácias e boticas, 6, e os outros negócios, 3. São 35 casos sem declaração e identificação do comércio. A distribuição das categorias por períodos pode ser conferida na Tabela 1.9.

Tabela 1.9 – Comerciantes por categorias de negócios, Campinas, 1870-1940, em número e %

1870-1890 1895-1915 1920-1940 Totais No. % No. % No. % No. Alimentos e bebidas 10 30,3 23 51,1 33 52,4 66 Tecidos e vestuário 5 15,2 6 13,3 7 11,1 18 Móveis, utensílios e ferramentas 1 3,0 6 13,3 6 9,5 13 Farmácias, boticas e drogarias 2 6,1 1 2,2 3 4,8 6 Outros negócios 0 0,0 1 2,2 2 3,2 3 Negócios sem identificação 15 45,5 8 17,8 12 19,0 35 Totais 33 100,0 45 100,0 63 100,0 141

Fonte: inventários TJSP–Campinas. Nota: Outros negócios: combustíveis, lenhas e madeiras, livros e revistas.

Em 1870-1890, a categoria mais expressiva é a de alimentos e bebidas, com 30,3% do total, sendo 4 estabelecimentos de secos e molhados, 4 atacadistas de açúcar, café e algodão e 2 açougues. Os estabelecimentos de tecidos e vestuário participam com 15,2%. Há 2 casos de farmácias e boticas (6,1%) e apenas 1 de móveis, utensílios da casa e ferramentas (3%).

realizado em 1934 registrou 51,9% de urbanos a 48,1% de rurais. BAENINGER. Espaço e tempo

A categoria de alimentos e bebidas continua majoritária no período 1895- 1915, com 51,1% do total, sendo 17 estabelecimentos de secos e molhados, 4 açougues e 2 atacadistas de alimentos e bebidas. As lojas de vestuário e tecidos somam 13,3%, mesmo percentual das lojas de móveis, utensílios domésticos e ferramentas. Foram identificados, ainda, 1 farmácia ou botica (2,2%) e 1 comércio de madeiras (2,2%).

Em 1920-1940, o percentual da categoria de alimentos e bebidas atinge 52,4% do total, sendo 27 armazéns de secos e molhados, 5 atacadistas de alimentos e bebidas e 1 açougue e venda de víveres e ovos. As lojas de vestuários e tecidos somam 11,1%, os estabelecimentos de móveis e utensílios do lar e ferramentas, 9,5%, as farmácias e boticas, 4,8%. A categoria de outros negócios soma 3,2%, com 1 posto de combustíveis e derivados e 1 banca de livros e revistas.

No grupo de comerciantes destacam-se os proprietários de armazéns de secos e molhados, com percentuais elevados e crescentes no conjunto do período. As demais categorias indicam tendências ora positivas ora negativas, não apresentando um padrão definido. Embora as diferentes tendências dificultem a análise das categorias, os tipos de comércio sugerem a diversificação da oferta disponível na época, inclusive de alimentos e bebidas, móveis e utensílios domésticos (mobília austríaca e porcelana inglesa, por exemplo) e vasta gama de produtos ligados à moda, como tecidos finos, roupas, sapatos e joias, antes dirigidos aos mais ricos e que passam a ser consumidos por outros estratos da sociedade.20