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6 O PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (PETI) E

6.3 PROTEÇÃO INTEGRAL E O PETI

cidadania ativa, pois conforme Silva e Tavares (2011), faz-se necessário que não só se conheçam esses direitos, mas que haja uma formação tal que faça com que cada indivíduo, coletivamente, tenha como exigir e vivenciar seus direitos de forma ativa. Nem explicitamente, nem implicitamente, trazem disposições sobre a cidadania ativa, uma vez que, para que essa exista, faz-se necessário propiciar ações e espaços em que se conheçam os seus direitos, os direitos das crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil e suas famílias, que os instrumentalizem para estes lutarem e vivenciarem estes direitos. Para que possam ativamente lutar, reivindicar e exercer seus direitos, com autonomia.

6.3 PROTEÇÃO INTEGRAL E O PETI

A resolução nº 8/2013 – que reordena o PETI - quando expõe sobre o eixo da informação e mobilização, propõe elementos que se constituem importantes para a proteção integral, que é a promoção de direitos e prevenção de violações. Isso, porque, quando se trata de sensibilização, campanhas e mobilizações, aponta para o fortalecimento dessa promoção e prevenção, mas não para a garantia de uma proteção integral que diga respeito a diversas dimensões, ou seja, onde ficam o estabelecimento, a garantia e proteção dos direitos? Essas dimensões, conforme Campos (2009), são componentes essenciais da proteção integral. Vale ressaltar também, que quando se realiza sensibilização e mobilização com atores e órgãos/instituições que trabalham em torno da temática do trabalho infantil, não se prevê que estas cheguem ao público alvo (crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil e suas famílias), pois a normativa dispõe sobre a sensibilização e mobilização daqueles. Do mesmo modo pode-se dizer a respeito das campanhas. Uma vez que o PETI dispõe isto, não garante processos que desenvolvam a proteção integral que se referem aos múltiplos órgãos e atendimentos das múltiplas necessidades, defendidas por Morlachetti (2013).

O segundo eixo, qual seja o da identificação, que se refere a busca ativa, identificação e registro no CadÚnido, não traz referências sobre a proteção integral, ou seja, não menciona nenhum aspecto que se refira aos atendimentos das múltiplas necessidades das crianças e adolescentes.

No eixo da proteção social, artigo 7º, elenca sobre a transferência de renda (lembrando que este é repassado pelo PBF) – inciso I; sobre inserção em serviços socioassistenciais porém sem que o PETI acompanhe, o que não dá garantia de atendimento e

efetividade – inciso II; a respeito de encaminhamentos para os serviços de saúde, educação, cultura, esporte e lazer, porém se trata de encaminhamentos, e encaminhamentos primários – inciso III; e encaminhamentos das famílias em ações de inclusão produtiva – inciso IV.

No que se refere ao inciso III, ainda, vale ressaltar que este não trata sobre atendimento e efetivação dos múltiplos direitos, mas de encaminhamento, que são campos totalmente distintos.

Ainda vale salientar neste item da proteção social da normativa, que em seu parágrafo único, é colocado explicitamente o termo proteção integral. Dispõe que “Parágrafo único. O inciso III do caput compreenderá ações intersetoriais para garantia integral da proteção social.” (BRASIL, 2013, p.4).

Como dizer, todavia, que há uma possibilidade de garantia da proteção integral, como pensar que esses encaminhamentos sejam efetivados pelas demais políticas públicas e ações se a normativa não prevê acompanhamentos? Uma forma operacional crítica dos órgãos e organismos e instituições, e não apenas encaminhamentos, como Morlachetti (2013) discute.

Ao tratar do eixo da defesa e da responsabilização, também não tem evidenciado a perspectiva da proteção integral. Não traça sobre a concretização e garantia dos diversos direitos que as crianças e adolescentes possuem, conforme o pensamento defendido pelo autor supracitado.

Quando se trata de articulação com entidades de defesa e acompanhamento de processos de medidas de proteção, não se tem nestes termos nada que faça referência à proteção integral. Pois mesmo que, Morlachetti (2013), expresse que se necessita da atuação de dispositivos governamentais e não governamentais, este também prossegue que essa atuação deve garantir e não só trabalhar no campo da defesa e responsabilização, e nem somente com entidades que trabalhem neste perfil.

O eixo do monitoramento, tampouco traz elementos que mostrem explicitamente e implicitamente a proteção integral, pois conforme o autor acima, a proteção integral trata da atuação transversal dos vários organismos institucionais e da garantia e efetivação dos múltiplos direitos.

É possível, portanto, notar que a categoria proteção integral, não se encontra contemplada no PETI. Pois, ela trata da atuação de múltiplos organismos do sistema de proteção de forma transversal, para concretização e garantia dos diversos direitos, conforme aponta Morlachetti (2013).

Faz-se importante lembrar que a proteção integral é prevista no Estatuto da criança e do adolescente, lei 8.069/90. Esta dispõe no seu artigo 1º que a lei consiste na proteção

integral das crianças e dos adolescentes. Ainda prossegue estabelecendo que todos desse segmento gozam de direitos fundamentais iguais aos adultos – tendo em vista os que se aplicam à sua idade – e direitos específicos que levam em consideração sua condição de pessoa em desenvolvimento.

O Estatuto dispõe sobre direitos relativos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

A convenção nº 182, de 1999, da OIT, prescreve que se deve prestar medidas efetivas para dispensar a necessária e apropriada assistência direta para retirar crianças das piores formas de trabalho infantil, assim como assegurar sua reabilitação e integração social.

A Convenção Internacional dos Direitos da Criança, de 1989, também evidencia e estabelece múltiplos direitos que devem ser garantidos para o fortalecimento da cidadania e dignidade da criança e do adolescente. Direitos que devem ser garantidos para o seu pleno desenvolvimento e vivencia da paz e justiça social.

Ainda que o Estatuto e as convenções supracitadas tenham um determinado avanço no que diz respeito à categoria em análise, o PETI mostrou-se um retrocesso por sequer levantar e trazer pontos da proteção integral defendida pela pesquisa.

O PETI, portanto, não traz nada que possa ser concebível como proteção integral, pois esta deve ser realizada para “respetar, promover, proteger, restituir y restablecer los derechos [...]” das crianças e dos adolescentes, em todos os níveis, seja local, regional ou internacional (MORLACHETTI, 2013, p.12).