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6 O PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (PETI) E

6.1 SUJEITO DE DIREITOS E O PETI

O PETI no seu eixo I, artigo 5º da resolução nº 8 de 2013, traz sobre a informação e mobilização nos territórios. Elenca esse processo na atuação com atores e segmentos sociais, agentes públicos, movimentos sociais, centrais sindicais, federações, associações e cooperativas de trabalhadores e empregadores que atuam na erradicação do trabalho infantil. Traz também um processo de apoio e acompanhamento de audiências do Ministério Público, e de realização de campanhas que possam difundir os agravos para desenvolvimento da criança e adolescente que se encontrem em situação de trabalho infantil.

O PETI, embora traga processos que se referem a campanhas que visam à erradicação do trabalho infantil das crianças e adolescentes, não oferece acompanhamento que possa instituir um processo pedagógico que faça com que esses direitos, de fato, sejam reconhecidos por aqueles que se encontram na situação de trabalho infantil.

Campanhas podem ser difundidas, mas não garantem que as crianças e adolescentes, situados no trabalho infantil, e seus familiares, sejam atingidos. Sem um processo específico de acompanhamento direto dentro do programa, não se garante a socialização dessas informações e nem conhecimento desses direitos, como também a participação na defesa de seus direitos.

Inclusive, o inciso III, especificamente, em que considero, que trata de ações de campanhas voltadas para a sociedade no geral (campanhas que visam divulgar os agravos do trabalho infantil), não traz referência à socialização de seus direitos, mas somente à socialização dos problemas do trabalho infantil para o desenvolvimento da criança e do adolescente.

Vale ressaltar, que Gonçalves (2015) sustenta que a categoria sujeitos de direitos não só se trata da promulgação de direitos voltados para a criança e o adolescente, mas de permitir uma socialização efetiva de conhecimento e informações desses direitos que venha a traduzir uma potencial e efetiva participação no que tange aos seus direitos conquistados historicamente.

Assim sendo, difundir determinadas ideias, difundir determinados conhecimentos, não garante que as crianças e adolescentes reconheçam-se como sujeito de direitos. Não garante

que se adquira a chegada da informação de seus direitos, prejudicando o processo de reconhecimento como sujeito de direitos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 prevê esse segmento social como titulares de direito; e, como já visto anteriormente, essa legislação traz expressamente a categoria sujeito de direitos. Essa lei não somente dispõe que esse segmento possui direitos, como também elenca em seus artigos, disposições que preveem que toda criança e adolescente sejam informados sobre seus direitos.

O Estatuto prevê direitos para crianças e adolescente já em seu artigo 2º, o qual preconiza não só direitos humanos que toda pessoa possui, como direitos específicos. Ao longo de suas disposições, de seus artigos prevê diversos direitos, direitos atinentes às mais variadas temáticas.

Ao prever que toda criança e adolescente são titulares de direitos, dispõe sobre formas que façam com que seus direitos sejam informados, conhecidos e reconhecidos. Estas disposições podem ser previstas em seu artigo 16, inciso II; artigo 53; artigo 70-A incisos I e V; artigos 71 e 76 e artigo 100, parágrafo único, incisos I e XI. São disposições que visam a informação sobre seus direitos e o conhecimento e reconhecimento como sujeitos de direitos.

Sendo assim, a legislação traz não só esse segmento como titulares de direitos, como dispõe formas que visam com que se concretize a socialização da informação e reconhecimento desses direitos pelas crianças e adolescentes.

A Convenção sobre os direitos da criança de 1989, não traz expressamente a nomenclatura sujeito de direitos, mas também prevê que todas as crianças e adolescentes são titulares de direitos. Elenca direitos humanos que toda pessoa possui e também direitos específicos por sua condição de pessoa em desenvolvimento.

A convenção já elenca que crianças e adolescente são titulares de direitos em seus primeiros artigos, a exemplo do 2º, 4º e 5º. Ao longo de seus diversos artigos, dispõe sobre direitos mais diversos, referentes a esse segmento.

Além de dispor que esse segmento é titular de direitos, dispõe sobre formas de fazer com que as crianças e adolescentes sejam informados, conheçam e reconheçam seus direitos. Um exemplo dessas disposições são os artigos 5, 13, 14, 17, 19, 29, 42. Preconizando não só direitos, mas também que este segmento seja orientado para o exercício de seus direitos.

O artigo 6º da resolução n 8º sobre PETI o qual trata do eixo sobre a identificação desse segmento em situação de trabalho infantil, primeiramente trata sobre uma busca ativa e uma identificação dessa situação de trabalho, em seguida trata do registro no CadÚnico. Mas

não retoma nenhuma nota ou disposição, nesse eixo, que vise uma socialização das informações junto às crianças e aos adolescentes no que tange aos seus direitos.

No artigo 7º da resolução que trata da proteção social, o documento trata sobre a transferência de renda e de encaminhamentos que devem ser feitos com as crianças e adolescentes que foram encontrados nesta situação, assim como de suas famílias. Todavia não coloca neste artigo propostas ou ação de acompanhamento ou socialização sobre seus direitos.

No eixo da defesa e responsabilização, em seu artigo 8º, o documento elenca disposições sobre a articulação que deve ser feita com entidades responsáveis pela defesa (a exemplo do Ministério Público e Conselho Tutelar). Também dispõe sobre acompanhar os processos em que as famílias estejam sob medida protetiva, mas não o acompanhamento direto. Isto nos mostra que nesse eixo, também, não se evidencia nenhuma disposição voltada para a socialização dos direitos junto ao segmento em questão.

Na parte que trata do eixo do monitoramento, artigo 9º, o documento aponta ações como o registro em sistema de informação, sobre o monitoramento da identificação e cadastramento em serviços assistenciais, sobre o monitoramento das metas, mas não aponta nenhum processo em que implique a concretização de processos de socialização da informação também.

É necessário destacar, aqui, que um sujeito de direitos se trata não só do âmbito da individualidade, mas que também deve estar inscrito e ser considerado no âmbito da coletividade, numa defesa da indivisibilidade e da indissociabilidade dos direitos humanos (NEVES, 2015).

As Convenções nº 138 de 1973 e nº 182 de 1999, da OIT, tratam, respectivamente, da idade mínima para admissão no trabalho e das piores formas de trabalho infantil. Ambas tratam de disposições que garantem o direito de proteção da criança e adolescente que as salvaguardem da situação de violação que é o trabalho infantil.

A convenção nº 138, assim como os artigos (6º, 7º, 8º, 9º) da resolução do PETI não dispõe sobre socializar informações, mas dispõe sobre a criação de uma declaração normativa no país ao ratificar tal convenção. A legislação está mais voltada para o estabelecimento da idade mínima, com intuito de combater o trabalho infantil. Estabelecendo, por exemplo, as condições específicas de setores produtivos que preveem a não aplicação da convenção, ou de setores que possuem permissão de autoridades para admissão de crianças em atividades artísticas, por exemplo. Mas não traz disposições referentes à socialização de informações e (re)conhecimento dos direitos por parte das crianças e adolescentes. Dispõe, somente, sobre o direito da criança e adolescente terem proteção no que tange à exploração de suas vidas, e de

ter seu desenvolvimento respeitado. Trazendo entraves para a perspectiva da categoria sujeito de direitos.

A convenção nº 182 dispõe também sobre o direito da criança e adolescente estarem salvaguardados da violação do trabalho infantil. Expressa sobre o direito de proteção da criança e do adolescente no que tange ao trabalho infantil. Mas não traz sobre a socialização de informações sobre os direitos junto às crianças. Todavia, vale salientar que esta convenção foi aprovada junto à sua recomendação nº 190, a qual dispõe sobre esse direito de proteção, sobre a socialização de informações e conhecimento e reconhecimento por parte das crianças e adolescentes no que tange aos seus direitos.

Nestes termos, pode-se considerar que a convenção nº 138 traz ainda impasses no que tange à categoria de sujeito de direitos. A convenção nº 182 elenca impasses nas suas disposições, mas como sua recomendação 190 é seu complemento, pode-se aferir que a categoria está em pé de ser salvaguardada pela normativa. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Convenção sobre os direitos da criança trazem avanços na perspectiva da categoria analisada. O PETI, por sua vez, mesmo com estas três últimas legislações tendo avanços no que tange à categoria, pauta entraves para as perspectivas do sujeito de direitos.