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1. INTRODUÇÃO

2.4 A POLÍTICA PÚBLICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

2.4.1 Proteção Social Especial e a Alta Complexidade

Em sua essência, a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais estrutura-se através do conceito de proteção social, a qual é sinalizada como a ação do Estado com vistas a garantir, através das ações e serviços ofertados pelo SUAS, “a segurança de sobrevivência (de rendimento e de autonomia); de acolhida; de convívio ou vivência familiar” (BRASIL, 2005; 2010; 2014a). Por seu turno, a LOAS (em sua redação mais recente, pós-tipificação) apresenta a proteção social pautando- a como ação necessária à “garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos” (BRASIL, 2014a, p. 1).

Nesse sentido, entende-se que a proteção social abarca os pressupostos de enfrentamento às situações de pobreza, vulnerabilidade, risco social e ruptura ou fragilização dos vínculos familiares, sociais e comunitários de indivíduos e suas famílias, com primazia para a atuação com base na matricialidade sociofamiliar13.

Para tanto, o SUAS atua com vistas a afiançar as seguranças sociais aos usuários, através do que conceitua como aquisições (impactos esperados após as intervenções). Nesse sentido, elenca como possíveis as aquisições da segurança de de acolhida, de convívio e de desenvolvimento da autonomia, elencadas nos Quadros 1, 2 e 3.

13A atuação voltada à matricialidade sociofamiliar relaciona-se com o pressuposto de que a família é o

lócus primordial do estabelecimento de vínculos afetivos, de sociabilização, e por isso considerada a célula mater da sociedade. Assim, conforme aponta a PNAS, “para a família prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal. Nesse sentido, a formulação da política de Assistência Social é pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos indivíduos.” (BRASIL, 2004, p. 41).

Quadro 1 – Seguranças afiançadas (segurança de acolhida)

SEGURANÇA DE ACOLHIDA

Ter acolhidas suas demandas, interesses, necessidades e possibilidades;

Ser acolhido em condições de dignidade em ambiente favorecedor da expressão e do diálogo; Ter reparados ou minimizados os danos por vivências de violações, abusos e riscos sociais; Ter sua identidade, integridade e história preservadas;

Receber orientações e encaminhamentos, com o objetivo de aumentar o acesso a benefícios socioassistenciais e programas de transferência de renda, bem como aos demais direitos sociais, civis e políticos.

Fonte: Brasil (2014a)

Percebe-se com o Quadro 1 que a segurança de acolhida remete à garantia de condições adequadas de atendimento do usuário nos serviços públicos da assistência social, com garantia de sigilo, escuta qualificada da demanda e promoção do acesso aos direitos sociais. Na PNAS (BRASIL, 2004, p. 40), a mesma se materializa através de

[...] ações, cuidados, serviços e projetos operados em rede com unidade de porta de entrada destinada a proteger e recuperar as situações de abandono e isolamento de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos,restaurando sua autonomia, capacidade de convívio e protagonismo mediante a oferta de condições materiais de abrigo, repouso, alimentação, higienização, vestuário e aquisições pessoais desenvolvidas através de acesso às ações socio-educativas. Quadro 2 – Seguranças afiançadas (segurança de convívio familiar e comunitário)

Fonte: Brasil (2014a)

SEGURANÇA DE CONVÍVIO FAMILIAR E COMUNITÁRIO

Vivenciar experiências que contribuam para o estabelecimento e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários;

Vivenciar experiências que possibilitem meios e oportunidades de conhecer o território e (re)significá-lo, de acordo com seus recursos e potencialidades;

Vivenciar experiências de ampliação da capacidade protetiva e de superação de fragilidades familiares e sociais;

Ter acesso a serviços de outras políticas públicas setoriais, conforme necessidades; Ter acesso a serviços de qualidade, conforme demandas e necessidades.

O Quadro 2 elenca o escopo da segurança de convívio familiar e comunitário, que demanda a realização de ações de desenvolvimento do senso de pertencimento ao território, à vida em sociedade, ao exercício da cidadania. A segurança de convívio é ilustrada na PNAS (BRASIL, 2004, p. 40) como aquela que é ofertada através de

[...] ações, cuidados e serviços que restabeleçam vínculos pessoais, familiares, de vizinhança, de segmento social, mediante a oferta de experiências socioeducativas, lúdicas, socioculturais, desenvolvidas em rede de núcleos socioeducativos e de convivência para os diversos ciclos de vida, suas características e necessidades.

Por sua vez, o Quadro 3 apresenta como segurança de desenvolvimento da autonomia a possibilidade de vivenciar os atendimentos na política da assistência como direitos efetivos, diferenciando-a em definitivo do viés assistencialista e filantrópico.

Quadro 3 – Seguranças afiançadas (segurança de desenvolvimento da autonomia)

SEGURANÇA DE DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA

Vivenciar experiências pautadas pelo respeito a si próprio e aos outros, fundamentadas em princípios ético- políticos de defesa da cidadania e justiça social;

Vivenciar experiências que se utilizem de recursos disponíveis pela comunidade, família e demais serviços para potencializar a autonomia e possibilitar o desenvolvimento de estratégias que diminuam a dependência e promovam a inserção familiar e social;

Vivenciar experiências potencializadoras da participação cidadã, tais como espaços de livre expressão de opiniões, de reivindicação e avaliação das ações ofertadas, bem como de espaços de estímulo para a participação em fóruns, conselhos, movimentos sociais, organizações comunitárias e outros espaços de organização social;

Vivenciar experiências que contribuam para a construção de projetos individuais e coletivos, desenvolvimento da autoestima, autonomia, sustentabilidade e ampliação do universo informacional e cultural;

Ter oportunidades de superar padrões violadores de relacionamento; Poder avaliar as atenções recebidas, expressar opiniões e reivindicações;

Ter ampliada a capacidade protetiva da família e a superação das situações de violação de direitos; Ter acompanhamento que possibilite o desenvolvimento de habilidades de autogestão, autossustentação e independência;

Vivenciar experiências para relacionar-se e conviver em grupo administrar conflitos por meio do diálogo; Vivenciar experiências que possibilitem lidar de forma construtiva com potencialidades e limites;

Ter acesso a informações sobre direitos sociais, civis e políticos e condições sobre o seu usufruto. Fonte: Brasil (2014a)

Quadro 4 - Disposição dos serviços da Política da Assistência Social conforme níveis de complexidade

Por fim, a segurança de autonomia se expressa na PNAS (BRASIL, 2004, p. 40)

através de

[...] benefícios continuados e eventuais que assegurem: proteção social básica a idosos e pessoas com defciência sem fonte de renda e sustento; pessoas e famílias vítimas de calamidades e emergências; situações de forte fragilidade pessoal e familiar, em especial às mulheres chefes de família e seus filhos.

Dentro deste escopo, configuram-se a proteção social básica (foco na prevenção de situações de vulnerabilidade e risco social através do desenvolvimento de potencialidades e do fortalecimento dos vínculos sociais e comunitários) e a proteção social especial (foco na reconstrução dos vínculos familiares e no enfrentamento das situações de violações de direitos) (BRASIL, 2011).

O Quadro 4 apresenta de forma sintetizada os serviços ofertados de acordo com o nível de complexidade na política da assistência. Ressalte-se que os serviços de média complexidade são executados nos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Centros-dia para Pessoas com Deficiência e Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros Pop). Por sua vez, os serviços da proteção social básica são executados nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).

Média complexidade Alta Complexidade

Serviços de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI)

Serviço de Acolhimento Institucional, nas modalidades Abrigo Institucional, Casa-Lar,

Casa de Passagem e Residência Inclusiva Serviço Especializado de Abordagem Social Serviço de Acolhimento em República Serviço de Proteção Social a Adolescentes em

Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de

Serviços à Comunidade (PSC)

Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora

Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas

Famílias Serviço de Proteção em Situações de

Calamidades Públicas e de Emergências Serviço Especializado para Pessoas em

Situação de Rua Fonte: Brasil (2014a)

Não obstante, observam-se ainda nesta categorização, no âmbito da proteção social especial, os serviços de alta complexidade, que remetem à oferta de proteção integral aos indivíduos e famílias. Define-se como proteção integral (BRASIL, 2005, p. 38) aquela que remete à garantia de

[...] moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou, comunitário. Tais como: atendimento integral institucional; Casa Lar; República; Casa de Passagem; Albergue; Família Substituta; Família Acolhedora; Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade, internação provisória e sentenciada) e trabalho protegido.

Em suma, a extensão da proteção integral deve ser aplicada aos diversos públicos em situação de alta vulnerabilidade/risco social, caracterizando a necessidade do planejamento, execução e monitoramento de ações e serviços para o atendimento de crianças, adolescentes, adultos (em processo de saída de situação de rua e adultos com deficiência) e famílias, idosos e mulheres em situação de violência e seus filhos (BRASIL, 2014a).

2.4.2 O acolhimento institucional de crianças e adolescentes e o contexto global