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TERCEIRA PARTE

PROTECIONISMO OFICIAL

Em l867 o governo contrata o empresário José Amat uma Companhia Lírica, subvencionando-o, para dar espetáculos pelo tem- po de 4 anos (1868-71).

Em 1872 contrata o governo do Dr. Joaquim Pires Machado Portella, mediante subvenção, o ator e empresário Manuel Lopes Car- doso, de saudosa memória para a Imprensa Bahiana, uma Companhia Dramática portuguesa, de primeira ordem, para trabalhar no Teatro S. João durante os anos de 1873-74.

Impõe ao empresário, entre outras obrigações, a de conferir, anualmente, um prêmio de 200§000 à melhor composição dramática que aparecesse, de autor baiano.

Ó tempora, ó mores!..

Hoje será mais fácil instituir-se um prêmio de honra para a melhor peça teatral escrita para fazer, não rir, nem chorar, mas corar!.. Pois não é assim que se estimula o trabalho intelectual de um escritor de senso moral e estético ?!.

Em épocas posteriores, nos anos de 1878, 1879 e 1880, quan- do a Bahia gozou as belas estações líricas do empresário Thomás Pasini, foi essa empresa, durante aqueles três anos, subvencionada pelo gover- no da província com 20:000$000, por ano.

Ao depois, em contraposição, significativa, eloqüente, do notável, justo e louvável empenho desses passados governos pela digni- ficação da arte musical e dramática, foram seus sucessores, pouco e pouco, cerceando o auxílio ao bom, ao nobre teatro, chegando, por fim, a esquecê-lo de todo, a desprezá-lo completamente, negando-lhe tudo... tudo..., mas tudo que pudesse concorrer para seu amparo ma- terial, influência social e prestígio moral!

Lá uma que outra vez, de longe em longe (casos esporádi- cos), à força de muito trabalho, muita canseira, exaustivos esforços de alguma alma piedosa, que, atristurada, se compadece do infeliz, após titânicas lutas entre a má vontade de uns, o cretinismo de outros e o indiferentismo da maior parte, consegue o pobre abandonado, conde- nado a todas as misérias, algumas migalhas dos banquetes orçamentá- rios do Estado.

Não são eles porém, os artistas brasileiros, nem os estrangei- ros, que exauram o tesouro público não são eles, tampouco, que dão desfalques ao erário do país.

Altivos, como a arte que professam, não sabem imitar os tartufos de burel e os “loyolas de casaca”, dignos, todos, do inclemente azorrague de um Molière, para galgar posições cômodas na vida social. Arcabouçados no verdadeiro mérito, que se não humilha, morrem torturados, embora, mas não se dobram, não se curvam, não adulam, incensando aqui, beijando ali, rastejando acolá, comprando por qualquer preço a glória, no mercado dos quinquilheiros, venden- do, por qualquer moeda, a dignidade, por qualquer prato de lentilhas o caráter!

Nega-se subvenção ao teatro, mas não se tem pena de san- grar o erário público, quando a nefasta “politicalha” alça o seu colo de salamandra polipódia, dentro dos aveludados reposteiros palacianos!

Subvencionar o teatro não é só proteger as artes, mas, tam- bém, a instrução, a educação do povo, não é só despertar o sentimento do belo, mas estimular a mentalidade culta para o engrandecimento da literatura nacional e o espírito da mocidade para atos de civismo pátrio.

Tão alta, tão imensamente salutar é a influência que o teatro e exerce na vida social, que, por isso, tens merecido, sempre, a máxima atenção e amparo da parte dos governos bem orientados de sua rota administrativa.

Na antiga Grécia o teatro era subvencionado e os arcontes auxiliavam as companhias que se organizavam, por exigência do povo, que frequentava muito os teatros.

Os gregos denominavam – teórico – o dinheiro destinado a essa subvenção oficial e era tão grande o culto pelo teatro, considera- vam tão sagrado esse dinheiro, que nem para acudir a própria defesa nacional ousavam tocá-lo.

Durante uma das guerras médicas, o chefe do Estado, lutan- do com imensas dificuldades para organizar a defesa do país consultou o povo sobre se podia retirar dos templos os recursos destinados a manutenção do teatro.

O povo respondeu que não ! Aquele dinheiro era sagrado. O Teatro desde as remotas eras de Eurípides, Esquilo, Sófo- cles, Aristófano e Menandro, com as suas tragédias, na Grécia; desde Plauto, Terêncio, Navio, Ariosto e Metastasio, na Itália; Corneille, Racine, Molière, Marivaux, Voltaire, Beaumarchais e Victor Hugo, na França; desde Shakespeare, na Inglaterra; Schiller e Goethe, na Alemanha; Cer- vantes, Calderon, Lope de Vega, na Espanha; Gil Vicente, Garrett, Casti- lho, e Pinheiro Chagas, em Portugal; até Domingos de Magalhães, Mar- tins Pênna, Porto Alegre, Macedo, Machado de Assis, Alencar e Agrário, no Brasil; desde os dramas realistas de Dumas Filho, até os metafísicos de Ibsen; – sempre e sempre foi intenso foco de luz para a Civilização, de alumbramentos para a arte, que é a expressão do belo – de toda a maior grandeza de nossos pensamentos e sentimentos íntimos, de nossa vida física.

Propagadores foram, todos esses intelectuais, antigos e mo- dernos, de reformas sociais, no teatro.

O objetivo de todos tem sido sempre o mesmo, engrandecer o espírito humano.

O teatro é o meio eficaz de favorecer a comunicação social - diz Lastarria, é o mais formidável ensinamento para o povo – afirma Eugène Poitou, é ainda maior que a da ciência, sua influência sobre o povo – opina Bluntschli, é o indicador do estado de civilização de um povo pensa Dias da Mota, educa e poetisa a alma de uma nação – conceitua Bastiat, pode concorrer para reformar os costumes e aper- feiçoar a Civilização – apregoa José Bonifácio, é nele que se forma a alma pública conclama, ainda, Victor Hugo o poeta que Martins Pontes chamava maior que o mar.

A despesa, portanto, dos governos com o teatro parece que é perfeita e cabalmente justificável e, consequentemente, bem justifica- da, também, a aplicação do dinheiro do contribuinte.

IDADE ASINÉRGICA