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PRIMEIRA PARTE

TEATRO GUARAN

É o título que figura, desde o dia 13 de maio de 1920, à fachada de um novo edifício construído à Praça Castro Alves, inaugura- do em 24 de dezembro do ano anterior, sob a denominação de Kursaal Baiano.

Embora destinado a diversões públicas de todos os gêneros, e possua palco e caixa em condições de receber boas companhias, não é, propriamente, um teatro, na integridade do termo, nem para esse fim foi construído, senão para oferecer à nossa população um edifício digno de exibições cinematográficas, e representações do gênero varie- dades, distinto, por suas linhas arquitetoriais em uma capital adiantada como a nossa.

Sob tal aspecto considerada, é, realmente, a melhor casa de Cinema da Bahia.

Atraente centro de diversões é esse, com o qual dotou a em- presa Portela Passos & Cª, e de que foi construtor o proveto engenheiro civil e arquiteto, Cav. Filinto Santóro, autor, também, do projeto.

O edifício tem as seguintes dimensões:

Altura - 13,50 m; largura - 16,40 m; comprimento - 48,30 m; idem, dependências para artistas e Administração - 16,00 m.

O estilo de construção preferido foi o novo, que produz belo efeito estético, pela concepção do conjunto.

Fora erro recorrer às linhas severas do classicismo, para dar arquitetura a um edifício da natureza do Guarani.

Tanto externa, como internamente, a tudo preside a ciência do engenheiro, aliado ao gosto artístico do arquiteto.

No corpo principal foi construído elegante salão de espera, para onde o público entra por cinco portas, dividindo-se em duas cor- rentes: uma, por duas escadas laterais, conduz aos camarotes e a gale- ria nobre, e a outra às cadeiras do vasto salão de espetáculos, com capacidade para setecentas pessoas, comodamente sentadas. Seis por- tas laterais, conduzindo diretamente aos terraços e jardins, dão saída ao público, terminadas as sessões.

O salão principal se compõe:

a) platéia, ocupando cada lugar 0,55 m por 0,80 m. b) camarotes, com cinco cadeiras cada um, a 4 m sobre o nível térreo, com duas largas escadas para a respectivo acesso.

c) frisas, abaixo dos camarotes, e juntas do arco da cena do palco.

d) galeria nobre, acima do nível dos camarotes.

e) cabine do operador cinematográfico, à prova de fogo, ao fundo da sala.

A caixa do teatro é ladeada de cômodos suficientes para os artistas de ambos os sexo, e possui quatro gabinetes sanitários.

O palco, de regulares proporções, obedece em tudo à mo- derna construção, e está aparelhado para receber companhias.

Possui dois panos de boca sendo o mais rico de veludo, abrin- do em cortinas, e outro de anúncios comumente usado hoje, em nos- sos teatros.

Duas artísticas figuras, alegóricas, representando a poesia e a música, completam a ornamentação do palco.

A iluminação é toda elétrica, sendo de irradiação e reflexão na sala de espetáculos, para evitar que as múltiplas lâmpadas ofendam a vista dos espectadores.

Possantes lâmpadas, distribuídas pela parte externa (jardins, pavilhões e edifício) além do facho de luz intensa, colocado ao alto deste, tornam sua fachada bastantemente iluminada, e do mais belo efeito, à noite.

Cumpre salientar que foi escrupulosamente estudado o meio de facilitar as entradas e saídas dos espectadores, bem como o proble- ma da ventilação natural, auxiliada pela artificial, que é feita por aspira- dores mecânicos, instalados em bocas abertas no forro, euritimetica- mente distribuídos na decoração do mesmo,e, ainda, por meio de ven- tiladores elétricos, colocados ao alto das portas laterais e colunas do edifício.

Todo o terreno ocupado por este está impermeabilizado e mozaicado, e para evitar o acúmulo da poeira, e curvo o encontro das paredes com o forro.

Ao fundo do edifício, e em prolongamento integrante deste, demoram várias dependências do teatro, destinadas a escritório de ad- ministração, depósitos de materiais, etc.

No espectáculo da inauguração foi focalizado o filme, A Rai- nha Apache havendo alguns números de Arte, na segunda parte, de variedades.

O Teatro Guarani foi construído em virtude de concessão e contrato com a Câmara Municipal, assinado a 8 de julho de 1916, pelo então Intendente Dr. Antônio Pacheco Mendes e engenheiro Cav. Filin- to Santóro, que projetou e dirigiu, tecnicamente, todas as obras, inicia- das no mesmo local onde devia ser edificado o malogrado Teatro Muni- cipal, projetado pelo Dr. Júlio Viveiros Brandão, quando Intendente (1912), e cujos alicerces chegaram a ser feitos, em grande parte. Em- preendimento notável que se não efetivou, infelizmente, por circuns- tâncias deploráveis, que ora não fazem ao caso.

Pelo aludido contrato, assumiu o concessionário as seguin- tes obrigações:

1ª. Construir uma casa de espetáculos confortável, e com todos os requisitos higiênicos.

2ª. Construir pequenos e elegantes pavilhões, para fins con- cernentes ao edifício.

3ª. Ajardinar o local.

4ª. Construir uma balaustrada, arquitetual, para substituir o gradil inestético que circundava a praça.

Essa balaustrada, que tem sete figuras alegóricas de orna- mentação, destinadas ao malogrado Teatro Municipal, e que são de ferro fundido, e não mármore, como diz Rocha Pombo era suas Notas de Viagem (ao norte do Brasil), foi inaugurada no dia 7 de setembro de 1916.

Todas as obrigações contratuais foram cumpridas, possuin- do, hoje, a cidade belo logradouro público, era uma de suas principais praças.

Pela cláusula primeira desse Contrato, foi concedido o direi- to ao Eng. Filinto Santóro de, por si só, ou empresa que organizasse, explorar comercialmente o teatro, pelo prazo de 30 anos, isento do pagamento de quaisquer impostos ou taxas presentes ou futuras.

Pela cláusula segunda, todas as despesas para o cumprimen- to do Contrato correrão por conta do Eng. Santóro ou empresa pelo mesmo organizada, não podendo sobre o Município pesar o menor ônus.

Pela cláusula sexta, vencido o prazo mencionado, o conces- sionário, ou empresa, entregará ao Município, em perfeito estado de conservação, o jardim, com todas as suas obras e construções que estiverem feitas, inclusive o teatro, sem indenização nenhuma, qual- quer que seja o pretexto que possa alegar, ficando-lhe apenas, no caso de arrendamento, assegurada a preferência.

Constituída a empresa, sob a firma Portella Passos & Cª, para a exploração desse Contrato, da qual faziam parte os engenheiros Filin- to Santóro e José Portella Passos, foi a mesma alterada, em setembro de 1921, para todos os seus efeitos, pela admissão do sócio Sr. Mário Go- mes dos Santos, para “Portella Passos & Cª. Limitada”, consoante peti-

ção n. 3.420. dirigida à Câmara, naquela data pela primitiva firma, e despacho oficial da Intendência.