7. Utilização dos aminoácidos pelos animais monogástricos Os aminoácidos da dieta ingeridos pelos animais são absorvidos no trato
7.3. Protocolo para determinar as exigências de aminoácidos para mantença e eficiências de utilização dos aminoácidos
7.3.1. Ensaio de alimentação
Para cada ensaio, 50 matrizes Cobb sexualmente imaturas, com 23 semanas de idade, foram individualmente colocadas em gaiolas e submetidas a um período de 8 horas de luz e 16 horas de escuro. As aves foram distribuídas em 5 tratamentos com 10 repetições de 1 ave.
7.3.2. Dietas experimentais
As aves foram alimentadas com dieta basal purificada (Tabela 20), contendo uma mistura de aminoácidos cristalinos para atender as exigências em 40% do recomendado pelo NRC (1994), com exceção do aminoácido estudado, que foi suplementado com cinco níveis variando de 0,00% a 0,40% da exigência recomendada. Todas as dietas eram isocalóricas (3.506 kcal EM/kg) e isonitrogênicas com a suplementação de ácido glutâmico (6,78%PB). As aves receberam alimentação controlada (109g/ave/dia).
Tabela 20 - Composição da dieta basal e da mistura de aminoácidos cristalinos.
Dieta Basal1 Mistura de aminoácidos2
Ingredientes % Aminoácidos %
Amido até 100 L-Glutamato 3,129
Sacarose 17,00 L-Glicina 0,798
Óleo de milho 6,50 L-Alanina 0,947
Celulose 7,96 DL-Metionina 0,152
Fosfato bicálcico 2,22 L-Cistina 0,136
Sulfato Mg 0,35 L-Arginina 0,440
Carbonato K 0,35 L-Lisina-HCl 0,400
Cloreto de sódio 0,30 L-Leucina 0,436
Cloreto colina -60 0,26 L-Isoleucina 0,292
Bicarbonato de sódio 0,20 L-Fenilalanina 0,260
Mistura vitamínica 0,13 L-Tirosina 0,228
Mistura mineral 0,06 L-Treonina 0,296
Etoxiquim 0,02 L-Valina 0,328
Mistura de aminoácidos2 8,04 L-Histidina 0,128
L-Triptofano 0,072
Total 100 Total 8,042
1Composição nutricional da dieta: 3.506kcalEM/kg;, 6,78% de proteína equivalente aos aminoácidos cristalinos e 0,49% Ca. 2 Mistura de aminoácidos conforme 40% da recomendação do NRC (1994). (Sakomura e Coon, 2003).
7.3.3. Abate comparativo para determinar deposição protéica corporal No início do ensaio, um grupo de 20 aves com pesos médios semelhantes às matrizes do ensaio foram submetidas ao jejum de 36 horas e sacrificadas por asfixia (CO2). As aves que permaneceram no ensaio foram alimentadas por um período de 21 dias. No final, todas foram sacrificadas e imediatamente congeladas a -4 oC.
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Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S.
7.3.4.Processamento das aves e análises corporais
Oito aves de cada tratamento foram processadas em autoclave para se obter amostras corporais homogêneas. As aves foram colocadas individualmente em bandejas e mantidas em autoclave a 120 oC por 16 horas. Depois foram homogeneizadas em um misturador industrial (Waring Laboratory heavy duty model 38BL62) e as amostras foram congeladas a -20 oC. Após, foram secas por liofilização (Virtis Instrument). O nitrogênio corporal foi analisado pelo método da combustão de Dumas.
Para analisar aminoácidos, não é recomedado processar as aves em autoclave porque a temperatura elevada (120 oC) pode interferir nas análises de aminoácidos. Dessa forma, duas aves de cada tratamento foram moídas em um processador de alimentos (Hobart Bowl Choper), as amostras foram armazenadas a -20 oC e, posteriormente, foram secas por liofilização. Após, foram moídas novamente com nitrogênio líquido em micromoinho (Waring commercial blender model 38BL54). As amostras foram desengorduradas, em extrato etéreo por 16 horas, conforme AOAC (1997). Depois de desengorduradas foram moídas novamente em micromoinho. A composição em aminoácidos foi determinada após uma hidrólise em HCl (6mol/l), por 24 horas, por cromatografia de troca iônica (Beckman 119 CL).
7.3.5. Dados obtidos de consumo do aminoácido, retenção protéica e de aminoácido corporal
Os dados da retenção protéica e de aminoácidos corporais foram calculados pela diferença entre a composição corporal final e inicial e expressos em (g/ave/
dia, g/kg P0.75/dia, e g/kg PB/dia), conforme apresentado para lisina na Tabela 21.
Tabela 21 - Deposição de proteína e de lisina em reprodutoras pesadas, alimentadas com níveis crescentes de lisina.
Nivel Consumo Consumo Acréscimo de Acréscimo de
lisina dieta de lisina lisina corporal proteína corporal
g/100g g/a/d mg/a/d mg/kg0,75/d mg/kgP/d mg/a/d mg/kg0,75/d mg/kgP/d g/a/d g/kg0,75/d g/kgP/d 0,00 62,06 0,00 0,00 0,00 -85,01 -50,06 -172,28 -1,968 -1,165 -4,003 0,10 80,91 79,65 45,49 158,47 -60,43 -33,77 -120,36 -1,632 -0,933 -3,300 0,20 106,22 212,44 116,39 397,50 30,88 17,32 62,34 0,500 0,272 0,874 0,30 109,00 327,00 175,91 603,00 50,24 27,61 97,58 1,177 0,625 2,061 0,40 109,00 436,00 235,43 811,85 155,38 83,75 293,08 0,752 0,406 1,390 (Sakomura e Coon, 2003).
7.3.6. Determinação das exigências para mantença e eficiências Os dados foram ajustados pelas regressões polinomiais da proteína retida ou lisina corporal retida em função dos níveis de lisina ingeridos. As exigências de mantença foram determinadas pelo intercepto da reta no eixo X, representando a ingestão de lisina quando a retenção de proteína ou de lisina for zero. A eficiência de utilização da lisina foi considerada o coeficiente de regressão da reta determinada pela deposição de lisina em função do consumo de lisina.
Método fatorial para determinar exigências nutricionais
Na Tabela 22 são apresentadas as equações para estimar as exigências de lisina para mantença e as eficiências de utilização da lisina para deposição corporal.
Tabela 22 - Regressões da deposição da proteína corporal, deposição de lisina corporal (Y) em função do consumo de lisina (X), exigências de lisina para mantença e eficiências de utilização da lisina para deposição corporal.
Regressões R2 Lisina mantença Efic.
(mg/dia) (%) Deposição de proteína corporal1
Ave Y = -2,338 + 0,0177 X - 0,000024 X2 0,51 175,0 (ave) Peso metabólico Y = -1,369 + 0,0188 X - 0,000046 X2 0,51 94,2 (kg0,75) Peso protéico Y = -4,722 + 0,0191 X - 0,000014 X2 0,50 333,3 (kg PP)
Deposição de lisina corporal2
Ave Y= -90,809 + 0,5408 X 0,76 167,9 (ave) 54
Peso metabólico Y = -52,538 + 0,5564 X 0,76 94,4 (kg0,75) 56 Peso protéico Y = -184,875 + 0,5583 X 0,75 331,1 (kg PP) 56
1Resultados com 40 aves, 8 aves para cada nível. 2Resultados considerando-se 10 aves, 2 aves para cada nível (Sakomura e Coon, 2003).
O método utilizado para estimar as exigências dos aminoácidos para mantença é baseado no conceito de que a deposição protéica está relacionada com a suplementação de um aminoácido limitante na dieta. De acordo com os resultados obtidos (Tabela 22), as estimativas das exigências de lisina para mantença com base no acréscimo de proteína e de lisina foram semelhantes, indicando que é possível determinar as exigências dos aminoácidos para mantença, levando-se em conta a deposição de proteína corporal. Isso é importante para realizar pesquisas para determinar exigências dos aminoácidos, pois as análises de PB, além de serem mais fáceis de analisar, os custos são inferiores aos aminogramas.
As exigências são expressas, por ave, por quilograma de peso metabólico ou por quilograma de peso protéico. Normalmente, a literatura tem apresentado os coeficientes em relação ao peso metabólico; entretanto, a vantagem de expressar em relação ao peso protéico é devido ao fato da composição corporal, principalmente em gordura, variar de acordo com a idade e alimentação. Dessa forma, quando os coeficientes são expressos com base no peso protéico, é possível fazer comparação entre aves de diferentes idades e pesos corporais. Os coeficientes de regressão das equações (0,54, 0,56 e 0,56) representam as eficiências de utilização da lisina para deposição corporal.
Na Tabela 23, encontram-se as exigências de mantença dos aminoácidos obtidas neste estudo, segundo Fisher (1998) para matrizes, Baker et al. (1966), Baker e Allee (1970) e Fuller et al. (1989) para suínos em crescimento; Edwards e Baker (1999a,b), Baker et al. (1996) e Hruby (1998) para frangos de corte e Leveille (1959 e 1960) para galos.
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Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S.
Tabela 23 - Estimativas das exigências de aminoácidos para mantença (mg/kgP0.75/d) para aves e suínos de acordo com a literatura.
Autores (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Aminoácidos Matrizes Matrizes Frangos Frangos10 a 21d Galos Suínos Suínos
Lisina 94 73 114 – 89 0 29 36 25
Arginina 173 50 104 120
-Metionina 56 25 9 – 15 19 90 9 26
Leucina 117 32 38 124 23
Isoleucina 92 50 56 72 16 30
Fenilalanina 163 16 27 60 18 21
Treonina 130 40 46 31 74 53 39
Histidina 44 10 4 0
-Valina 106 60 49 – 32 36 61 20 21
Triptofano 11 10 6 19 11 5
1Sakomura e Coon (2003); 2Fisher (1998) - Aminoácidos expressos (mg/kgP/d). 3Edwards e Baker (1999 a,b), Baker et al. (1996 a,b); 4Hruby (1998); 5Leveille (1959); 6Fuller (1989);
7Baker et al. (1966), Baker e Allee (1970).
Conforme os resultados obtidos por esses autores, verifica-se que certos aminoácidos, como arginina, leucina, isoleucina, fenilalanina, treonina e valina parecem ser mais importantes para a mantença do que os demais. As exigências diferem segundo a espécie, os suínos possuem menores necessidades do que as aves. Maior divergência entre os resultados é de lisina para aves. Hruby (1998) não detectou qualquer valor, e Leveille (1959) encontrou baixa exigência. Em contraste, Fisher (1998), Edwards et al. (1999b) e Sakomura e Coon (2003), determinaram valores mais elevados. A variação entre os resultados indica a importância de padronizar um método adequado para os estudos das exigências de mantença dos aminoácidos.
No geral, os resultados parecem concordar com os achados de Kino e Okumura (1986). Os autores, baseados nos resultados obtidos nos estudos com pintos submetidos à deficiência de um único aminoácido, sugeriram dividir os aminoácidos essenciais em quatro grupos: o primeiro grupo foi para aqueles que tiveram menor efeito da deficiência (histidina, lisina e triptofano); o segundo (leucina, fenilalanina e tirosina); o terceiro (treonina, valina, arginina e isoleucina) e o último que proporcionou maior efeito no crescimento das aves e balanço de N (metionina+cistina).
7.4. Necessidades dos aminoácidos para deposição de tecido protéico