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O protocolo rápido de análise de estado de cavernas para priorizar ações de conservação e/ou restauração

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.4 ELABORAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO RÁPIDA DE IMPACTO AMBIENTAL EM CAVERNAS

4.5.1 O protocolo rápido de análise de estado de cavernas para priorizar ações de conservação e/ou restauração

Para a análise foram utilizados 16 indicadores distribuídos entre meio interno e externo, já que os dois são interdependentes, mas possuem características distintas. Há indicadores de características gerais, amplas e os de caráter mais específico, que requerem um maior grau de estudo da caverna a ser avaliada. A ficha possui uma avaliação quantitativa em termos de ausência e presença de características e com informações a serem colocadas em patamares.

Abaixo estão descritos os indicadores utilizados para caracterização dos ambientes interno e externo.

No ambiente interno os indicadores são:

BIÓTICOS

a) ocorrência de animais com troglomorfismo (como despigmentação, ausência de olhos, apêndices alongados etc.), possível troglóbio - animais restritos às cavernas, não sendo encontrados em ambientes externos: a existência de seres vivos extremamente

adaptados à vida cavernícola, endêmicos e que necessitam de um ambiente equilibrado, com características constantes para sobreviver. Indica necessidade de conservação da caverna, uma vez que todo organismo troglóbio é considerado em risco de extinção. Já a

ausência sugere apenas que naquele ambiente não foi encontrada esse tipo de fauna, o que pode ocorrer sem ligação com estado de conservação da caverna;

b) grupo de animais encontrados nas cavernas: invertebrados e vertebrados tendem a

utilizar o ambiente cavernícola de formas diferentes, assim a existência de ambos aumenta os tipos de relações ecológicas dentro da cavidade natural;

c) ocorrência da fauna interna de invertebrados: quanto maior a riqueza melhor, pois se

tende a aumentar o índice de diversidade. A pontuação deve ser dada a partir quantidade das morfoespécies encontradas. A divisão entre pequena, média e alta riqueza foi estipulada de acordo com critérios sugeridos por Souza-Silva (2008);

d) riqueza de grupos de morcegos (observar guano existente dentro da caverna e se possível identificar as espécies): cada tipo de grupo trófico a que os morcegos pertencem

possuem contribuições diferentes ao meio externo e composição de fauna de invertebrados diferentes em cada tipo de guano. Dentre os grupos tróficos foram feitas quatro categorias com pontuações crescentes de acordo com a alimentação apresentada pelo morcego e sua influencia no meio externo. A pontuação para esse tópico deve ser dada pelo grupo encontrado com maior valor atribuído;

e) sítio paleontológico - presença de fósseis (inteiros ou fragmentos de animais ou vegetais) e/ou icnofósseis (vestígios de atividade vital de antigos organismos, como pegadas e perfurações): a presença de fósseis possibilita contribuições para a área da

evolução, taxonomia e sistemática;

ANTRÓPICOS

f) descaracterização visível do ambiente (agentes como: grades, lixo, pichação, iluminação artificial, dedetização, escadas, coleta predatória de componentes biológicos...): a descaracterização por si só é um grande indicador de degradação, de falta

de conservação, já que as características ambientais e/ou biológicas foram alteradas para melhor servir ao homem. Esse tipo de degradação pode afetar a comunidade e as características físicas da caverna, indicando necessidade de restauração para manutenção da dinâmica do ambiente;

g) sítio arqueológico - local com vestígios de atividades (pinturas, fogueiras, sepulturas, ferramentas de pedra lascada, etc.) de seres humanos que viveram antes do início de nossa civilização: a presença de achados arqueológicos possibilita o conhecimento da

história humana, dos costumes e de culturas antigas;

h) beleza cênica (qualidade estética de uma paisagem aos olhos da população que a frequenta.): tende a auxiliar na produção de mitos e lendas e na conservação de cavernas

como templos de beleza natural;

i) patrimônio cultural (é o conjunto de todos os bens, materiais ou imateriais, que, pelo seu valor próprio, deve ser considerado de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de um povo): a cavidade que apresenta esse atributo faz parte do

imaginário da população humana que a envolve e possui importância histórica e cultural;

ABIÓTICOS

j) espeleotemas: em relação à quantidade de exemplares de tipos diferentes em bom estado: quanto maior a diversidade de espeleotemas mais ornamentada a caverna, o que

tende a aumentar seus atributos morfológicos e sua beleza cênica. Assim, só se contam aqueles que não estejam danificados;

k) presença de corpo d’água permanente (rios, lagos, lagoas subterrâneos e/ou superficiais internos): a presença aumenta os tipos de habitats a serem colonizados dentro

da caverna, serve como mais um aporte energético e indica alta relação com o meio externo, podendo servir indiretamente como aporte de água para as populações do entorno. No ambiente externo os indicadores serão:

BIÓTICO

l) tipo de ocupação no entorno da caverna (principal atividade): presença do bioma

característico da região é o melhor tipo de ocupação do solo, com possibilidade de fornecer mais aporte energético para a fauna interna a partir de serrapilheira e guano, por exemplo. O ambiente natural modificado para pastagem, agricultura ou recém reflorestado possui menor aporte energético a ser oferecido para a fauna externa, diminui a presença de animais silvestres na área e diminui alimentos para outros organismos. Assim, animais que saem da caverna para poder se alimentar, precisam ir mais longe para encontrar seu alimento. A descaracterização do ambiente externo para uma paisagem residencial, comercial ou industrial agrava as características negativas presentes em ambientes naturais descaracterizados e podem contribuir ainda mais na poluição da água, do ar e do solo;

ABIÓTICO

m) heterogeneidade ambiental do Carste (presença de outras paisagens cársticas no entorno das cavernas – como lapiás, dolinas, uvalas, e poliés): quanto maior a

quantidade de feições cársticas no entorno de cavernas, maior a propensão de encontrar outras CNS ainda não localizadas na região e mesmo indica uma área de grande importância geológica e geomorfológica com necessidade de conservação;

ANTRÓPICOS

conservação (UC) indicam a priorização para esses ambientes serem protegidos, em maior intensidade nas de proteção integral. Entretanto, não indica que as localizadas fora de UC não tenham importância;

o) alteração antrópica de origem doméstica urbana ou industrial visível no ambiente (lixo, esgoto, fábricas, siderurgias, queimadas, plantas exóticas, coleta predatória de componentes biológicos): alterações antrópicas podem contaminar a cadeia alimentar e

formar novos micro-ecossistemas, modificando as características do ambiente. Queimadas e desnudamento do solo podem causar poluição e/ou favorecer a erosão, o que pode abalar as características geológicas e geomorfológicas da região e dizimar espécies da flora nativa;

p) presença de construções ou grandes modificações ambientais (como: estrada, núcleo urbano, mineração, agropecuária,...) medida por distância em m a partir da entrada da caverna: essas características descaracterizam de forma mais direta e incisiva,

agravando as características negativas que podem estar presentes por alterações de origem urbana ou industrial, podendo contribuir mais na poluição da água, do ar e do solo e no abalo de estruturas geológicas e geomorfológicas da região.

As pontuações empregadas para cada característica analisada foram somadas e foi encontrado o resultado para o estado da caverna, o que tornará possível a sua classificação. Valores iguais ou menores que 42 pontos indicam baixa prioridade de conservação/restauração, os valores encontrados de 43 a 86 pontos sugerem média prioridade de conservação/restauração e valores a partir de 87 pontos explicitam alta prioridade de conservação/restauração.