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3.4 Premelting

4.1.6 Pseudopotenciais

Embora o Teorema de Bloch afirme que as fun¸c˜oes de onda dos el´etrons possam ser expandidas atrav´es de um conjunto discreto de ondas planas, para expandir os orbi-

Figura 4.5: Ilustra¸c˜ao esquem´atica dos potenciais considerando todos os el´etrons (linha s´olida) e pseudopotenciais (linha tracejada) e suas fun¸c˜oes de onda correspondentes. Fi- gura retirada da referˆencia [46].

Cap´ıtulo 4. Simula¸c˜ao computacional de contornos de gr˜ao no gelo 55

Figura 4.6: Esquema ilustrando a aproxima¸c˜ao do caro¸co congelado para o ´atomo de Alum´ınio.

tais do caro¸co ´e preciso um n´umero grande de ondas planas, j´a que os orbitais do caro¸co s˜ao fortemente ligados. Al´em disso, o n´umero de ondas planas na base tamb´em deve ser grande a fim de acompanhar as oscila¸c˜oes r´apidas das fun¸c˜oes de onda dos el´etrons de valˆencia na regi˜ao do caro¸co. Para realizar c´alculos considerando todos os el´etrons ´e pre- ciso um tempo computacional muito longo para calcular as fun¸c˜oes de onda dos el´etrons. Assim, a aproxima¸c˜ao do pseudopotencial permite que as fun¸c˜oes de onda possam ser expandidas utilizando um conjunto bem menor de ondas planas. Sabe-se que a maioria das propriedades f´ısicas dos s´olidos s˜ao mais dependentes dos el´etrons de valˆencia do que dos el´etrons do caro¸co. A aproxima¸c˜ao do pseudopotencial remove o forte potencial de Coulomb do n´ucleo e os efeitos dos el´etrons do caro¸co, substituindo-os por um potencial efetivo mais suave atuando nos el´etrons de valˆencia, conforme ilustrado na Figura 4.5.

Em resumo, o pseudopotencial troca a densidade eletrˆonica dos el´etrons internos por uma densidade mais suave que ´e capaz de reproduzir muitos aspectos f´ısicos dos el´etrons do caro¸co. Essa aproxima¸c˜ao ´e conhecida como aproxima¸c˜ao do caro¸co congelado ou frozen core approximation e est´a ilustrada na Figura 4.6.

Um pseudopotencial ´e desenvolvido para considerar um ´atomo isolado de um ele- mento, mas pode ser utilizado para c´alculos que envolvem este ´atomo em qualquer am- biente qu´ımico sem a necessidade de ajustes extras. Essa propriedade ´e conhecida como transferabilidade do pseudopotencial e os c´odigos de DFT atuais fornecem uma extensa biblioteca de pseudopotenciais para praticamente todos os elementos da tabela peri´odica. Assim sendo, pseudopotenciais que requerem uma energia de corte alta s˜ao considerados duros enquanto os mais computacionalmente eficientes s˜ao considerados suaves. Os pseu-

[51].

4.2

C´alculos atrav´es de primeiros princ´ıpios

Para que os c´alculos de DFT possam predizer algumas propriedades f´ısicas, pri- meiramente ´e necess´ario definir as posi¸c˜oes de um conjunto de ´atomos, de forma que, se repetido em todas as dire¸c˜oes, tem-se uma estrutura cristalina tridimensional com- pleta, o qual ´e chamada de superc´elula. A distˆancia entre cada ´atomo ´e conhecida como parˆametro de rede. Al´em disso, pode-se fazer uso de condi¸c˜oes peri´odicas de contorno a fim de simplificar os c´alculos. Como a natureza sempre busca minimizar a energia, ent˜ao o parˆametro de rede de uma c´elula, o qual nos fornece a distˆancia de equil´ıbrio entre cada ´

atomo, pode ser encontrado atrav´es de DFT.

4.2.1

Otimiza¸c˜ao geom´etrica

Uma das informa¸c˜oes principais que se deseja saber ´e a energia total, seja de apenas uma mol´ecula ou uma superc´elula composta por um conjunto de mol´eculas. ´E importante ressaltar que nos c´alculos de DFT ´e necess´ario definir apenas a c´elula unit´aria e ent˜ao a mesma ´e repetida periodicamente conforme a Figura (4.7). Ent˜ao, para encontrar a energia total de uma configura¸c˜ao ´e preciso encontrar a geometria desta superc´elula capaz de minimizar a energia total.

Por exemplo, considere a mol´ecula de ´agua H2O livre. Para minimizar a geome-

tria desta mol´ecula ´e preciso determinar o comprimento das duas liga¸c˜oes covalentes e a distˆancia entre os dois hidrogˆenios de forma que a mol´ecula fique est´avel. Para determi- nar estes valores atrav´es de DFT, ´e necess´ario construir uma superc´elula que tenha um consider´avel espa¸co vazio, para que a mol´ecula n˜ao interaja com as mol´eculas repetidas na superc´elula de tamanho e formato fixos. Desta forma, ´e poss´ıvel minimizar as distˆancias entre os ´atomos utilizando algum dos algoritmos de minimiza¸c˜ao fornecidos pelos pacotes de DFT dispon´ıveis. Para realizar a minimiza¸c˜ao, tamb´em ´e preciso escolher o crit´erio de

Cap´ıtulo 4. Simula¸c˜ao computacional de contornos de gr˜ao no gelo 57 Tabela 4.1: Dados geom´etricos para a mol´ecula de ´agua isolada. Dados calculados atrav´es de c´alculos DFT usando o pacote VASP e valores te´oricos retirados da referˆencia [53].

Calculado Te´orico Erro percentual l(H1-O1) 0,97178˚A 0,95781(03)˚A 1,46% l(H2-O1) 0,97178˚A 0,95781(03)˚A 1,46% φ(H1-O1-H2) 104,4798◦ 104,4776(19)◦ 0,23%

parada, de forma que a magnitude das for¸cas em todos os ´atomos seja pr´oxima de zero. Al´em do mais, ´e importante que as posi¸c˜oes iniciais dos ´atomos sejam razoavelmente pr´oximas das ideais, caso contr´ario, isso pode causar um grande impacto nos c´alculos, fazendo at´e com que a energia m´ınima global n˜ao seja encontrada.

Para exemplificar, foi realizada uma otimiza¸c˜ao geom´etrica atrav´es do pacote VASP para a mol´ecula de ´agua livre. Utilizando o algoritmo quasi-Newton para relaxar os ´ıons at´e o estado fundamental, o funcional PBE dentro da aproxima¸c˜ao PAW, a magnitude m´axima das for¸cas como 0, 02eV/˚A, foi poss´ıvel obter os resultados presentes na Tabela 4.1. Em geral, a habilidade de minimizar de forma eficiente a energia de uma cole¸c˜ao de ´

atomos ´e possivelmente a parte mais importante de todos os c´alculos de DFT.

4.2.2

C´alculos de frequˆencias vibracionais

Na se¸c˜ao anterior foi apresentado como utilizar c´alculos de DFT para otimizar uma determinada estrutura. Em geral, os resultados de energia total e paramˆetros de rede encontrados s˜ao bastante satisfat´orios, por´em ´e importante ressaltar que essa ´e uma aproxima¸c˜ao para temperatura 0K. O ideal ´e saber como os materiais se comportam a

Figura 4.7: Superc´elula com condi¸c˜oes de contorno peri´odicas. Figura retirada da re- ferˆencia [52].

copia, por exemplo.

Seguindo o exemplo presente na referˆencia [54], foram consideradas as vibra¸c˜oes de uma mol´ecula de mon´oxido de carbono CO isolada, como esquematizado na Figura 4.8. Seja xO e xC as coordenadas ao longo do eixo x para os ´atomos de oxigˆenio e carbono

respectivamente, e b como sendo o comprimento da liga¸c˜ao qu´ımica entre os mesmos. A expans˜ao em s´erie de Taylor para a energia ao redor do ponto de equil´ıbrio b0 ´e

E = E0+ (b − b0)  dE db  b=b0 +1 2(b − b0) 2 d2E db2  b=b0 + · · · . (4.21)

A primeira derivada da energia ´e zero, pois ela est´a sendo avaliada na regi˜ao de m´ınima energia. Para pequenos deslocamentos ao redor do ponto de equil´ıbrio, tem-se a chamada aproxima¸c˜ao harmˆonica

E = E0+ α 2(b − b0) 2, α = d 2E db2  b=b0 . (4.22)

Tratando o n´ucleo como uma part´ıcula cl´assica, a segunda Lei de Newton fornece ∂E ∂xC = mC d2xC dt2 , ∂E ∂xO = mO d2xO dt2 . (4.23)

Combinando a equa¸c˜ao (4.22) e a equa¸c˜ao (4.23), obt´em-se o comportamento do

Figura 4.8: Mol´ecula de mon´oxido de carbono. A coordenada xO ´e a posi¸c˜ao do ´atomo de

Cap´ıtulo 4. Simula¸c˜ao computacional de contornos de gr˜ao no gelo 59 tamanho da liga¸c˜ao qu´ımica ao longo do tempo,

d2b(t) dt2 = α  mC + mO mCmO  (b(t) − b0). (4.24)

Observe que a equa¸c˜ao (4.24) ´e a equa¸c˜ao do oscilador harmˆonico simples e assim ´e poss´ıvel obter a frequˆencia de oscila¸c˜ao ω. O comprimento da liga¸c˜ao entre os dois ´atomos oscila com a seguinte frequˆencia vibracional

ν = ω 2π = 1 2π r α mC+ mO mCmO . (4.25)

Para calcular a frequˆencia vibracional da mol´ecula de mon´oxido de carbono atrav´es de DFT, primeiramente ´e preciso encontrar o comprimento b que minimiza a energia. Al´em disso, ´e necess´ario calcular o termo α = [d2E/db2]

b=b0 atrav´es da aproxima¸c˜ao de

diferen¸cas finitas,

d2E

db2 ≈

E(b0+ δb) − 2E(b0) + E(b0− δb)

(δb)2 , (4.26)

onde δb → 0. Em um c´alculo de DFT a escolha de δb ´e muito importante e usualmente deve ser da ordem de 10−2at´e 10−1, pois para deslocamentos maiores, o sistema n˜ao estaria mais no regime de pequenas oscila¸c˜oes e isso mudaria completamente os resultados.

Para calcular as frequˆencias vibracionais de um conjunto de ´atomos, deve-se con- siderar primeiramente que as mol´eculas interagem entre si. Desta forma, ´e definido um conjunto de N ´atomos e um vetor em coordenadas cartesianas para as 3N coordenadas, r = r1, · · · , r3N. Dado que r0 ´e o ponto de equil´ıbrio do sistema, ´e mais conveniente

definir as novas coordenadas como sendo x = r − r0. Ent˜ao, similar `a equa¸c˜ao (4.22), a

expans˜ao da energia em torno do ponto de equil´ıbrio agora ´e da forma,

E = E0+ 1 2 3N X i=1 3N X j=1  ∂E ∂xi ∂xj  x=0 xixj, (4.27)

onde as primeiras derivadas s˜ao zero.

Definindo uma matriz de ordem 3N × 3N que cont´em todas as derivadas segundas, Hij, conhecida como matriz hessiana. Assim, partindo do mesmo princ´ıpio para o caso

x(t) =

3N

X

i=1

[ai cos(ωt) + bi sen(ωt)] ei, (4.29)

onde e1, · · · e3N ´e o conjunto de autovetores da matriz ˜A, e ai e bi s˜ao as constantes que

determinam as posi¸c˜oes iniciais e velocidades dos ´atomos.

No contexto da aproxima¸c˜ao harmˆonica, cada modo vibracional pode ser entendido como sendo um oscilador harmˆonico. Em mecˆanica cl´assica, o comportamento do oscilador harmˆonico ´e simples, como foi apresentado nos modelos acima para uma mol´ecula ou um conjunto delas. Por´em, para uma descri¸c˜ao mais precisa, ´e importante entender o problema do oscilador harmˆonico em mecˆanica quˆantica. Sabe-se que a energia do oscilador harmˆonico cl´assico ´e

E = E0+

kx2

2 , (4.30)

onde x = 0 ´e a posi¸c˜ao de equil´ıbrio.

Por outro lado, em mecˆanica quˆantica, sabe-se que n˜ao ´e poss´ıvel conhecer ao mesmo tempo a posi¸c˜ao e o momento de uma part´ıcula, conforme diz o princ´ıpio da incerteza de Heisenberg. Assim sendo, a menor energia corrigida ´e

E = E0+

2 (4.31)

onde h ´e a constante de Planck e ν ´e a frequˆencia de oscila¸c˜ao cl´assica. Os outros valores de energia para o oscilador harmˆonico quˆantico s˜ao En = E0 + n + 12 hν. A diferen¸ca

entre essa energia e a energia m´ınima cl´assica ´e chamado de energia de ponto zero. Os c´alculos de DFT fornecem informa¸c˜oes para 0K, pois nesta configura¸c˜ao os ´atomos est˜ao nas posi¸c˜oes de equil´ıbrio. Por´em, para uma descri¸c˜ao mais precisa seria necess´ario incluir a energia de ponto zero. Na pr´atica, esta aproxima¸c˜ao n˜ao ´e utilizada, pois para calcular as frequˆencias dos modos normais exige uma maior demanda computacional do que apenas minimizar a energia, entretanto, os efeitos dessa aproxima¸c˜ao se tornam mais importantes ao considerar sistemas com ´atomos leves.

Cap´ıtulo 4. Simula¸c˜ao computacional de contornos de gr˜ao no gelo 61 Os estados vibracionais que caracterizam um material s˜ao chamados de fˆonons. Di- ferentemente de modos normais em mol´eculas, fˆonons n˜ao s˜ao espacialmente localizados e envolvem vibra¸c˜oes simultˆaneas em uma cole¸c˜ao de ´atomos infinita com periodicidade espacial bem definida. Enquanto os modos normais de uma mol´ecula s˜ao definidos em um conjunto discreto de vibra¸c˜oes, os fˆonons de um material s˜ao definidos por um espectro cont´ınuo de fˆonons com uma faixa de frequˆencias cont´ınua, por isto, este espectro ´e co- nhecido como densidade de estados vibracionais e fornece muitas informa¸c˜oes importantes em rela¸c˜ao `as propriedades f´ısicas de um s´olido. Atrav´es de c´alculos de DFT tamb´em ´e poss´ıvel calcular a densidade de estados dos fˆonons.

4.2.3

Princ´ıpios da dinˆamica molecular

´

E poss´ıvel combinar DFT com MD para estudar a dinˆamica das mol´eculas, m´etodo conhecido como ab initio molecular dynamics (AIMD). Para entender as ideias princi- pais da t´ecnica AIMD, ´e importante revisar primeiramente alguns conceitos da dinˆamica molecular cl´assica. As simula¸c˜oes de dinˆamica molecular ou molecular dynamics (MD) fornecem um conjunto de ferramentas computacionais que possibilitam acompanhar as trajet´orias dos ´atomos. Os m´etodos utilizados em MD calculam o comportamento de um sistema molecular ao longo do tempo, e desta forma, ´e poss´ıvel investigar a estrutura, mecˆanica, dinˆamica e termodinˆamica nas fases l´ıquida, s´olida e gasosa. Foi primeiramente introduzido por Alder e Wainwright [55, 56] no final da d´ecada de 50, por´em a primeira simula¸c˜ao MD de um sistema real´ıstico foi realizada em 1974, por Rahman e Stillinger para a ´agua na fase l´ıquida [57]. Desde ent˜ao, o n´umero de t´ecnicas de simula¸c˜ao tem aumentado, de forma que, j´a existem t´ecnicas especializadas para tratamento cl´assico e quˆantico dos problemas, a fim de estudar as propriedades e rea¸c˜oes qu´ımicas.

Quanto aos aspectos pr´aticos da dinˆamica molecular, o objetivo ´e resolver as equa¸c˜oes do movimento numericamente, de forma que as for¸cas sejam calculadas atrav´es de potenciais. Desta forma, dependendo do sistema em quest˜ao, a escolha do potencial interatˆomico ´e muito importante. Um dos potenciais mais simples que ´e muito utilizado ´e o potencial de Lennard-Jones, que representa o potencial eletrost´atico entre pares de el´etrons dentro de um determinado raio de corte. Al´em disso, tamb´em ´e muito popular o uso de potenciais emp´ıricos. A fim de exemplificar, existem v´arios modelos r´ıgidos e flex´ıveis para simular a mol´ecula de ´agua nas suas fases condensadas. Entre eles, tem-se o modelo SPC, TIP4P, entre outros. Uma outra forma de calcular as for¸cas ´e atrav´es de

Figura 4.9: Sistema com N part´ıculas em uma caixa de volume V. Para descrever a posi¸c˜ao de cada ´atomo, indicado pelos c´ırculos, tem-se as trˆes coordenadas cartesianas (x, y, z), al´em disso, tem-se tamb´em o conjunto de velocidades iniciais {v1, · · · , vi} indicadas por

setas e as massas mi de cada ´atomo.

m´etodos ab initio, como ser´a discutido na pr´oxima se¸c˜ao.

A mecˆanica estat´ıstica ´e fundamental para o estudo de diferentes sistemas atˆomicos, pois fornece a ponte entre os estados microsc´opicos e as propriedades termodinˆamicas macrosc´opicas, como temperatura, press˜ao capacidade t´ermica, entre outros. Um estado termodinˆamico de um sistema ´e definido por um pequeno conjunto de parˆametros, como por exemplo, a temperatura T, a press˜ao P e o n´umero de part´ıculas N, e assim, as pro- priedades termodinˆamicas podem ser extra´ıdas a partir das equa¸c˜oes de estado. Al´em do mais, o estado microsc´opico de um sistema ´e definido pelas posi¸c˜oes atˆomicas e momentos, sendo que estes tamb´em podem ser considerados como coordenadas no espa¸co de fase, que possui dimens˜ao 6N. Um ´unico ponto no espa¸co de fase ´e capaz de descrever o estado de um sistema e assim um ensemble ´e uma cole¸c˜ao de pontos no espa¸co de fase que satis- fazem as condi¸c˜oes de um estado termodinˆamico particular. As simula¸c˜oes de dinˆamica molecular geram uma sequˆencia de pontos no espa¸co de fase em fun¸c˜ao do tempo. No conjunto microcanˆonico, o estado termodinˆamico ´e caracterizado por um n´umero cons- tante de ´atomos, volume e energia, e corresponde a um sistema isolado. J´a no conjunto canˆonico, a temperatura e o volume s˜ao constantes e a energia pode variar.

Considere um sistema com N ´atomos dentro de um volume V conforme ilustrado na Figura 4.9. Desta forma, para a descri¸c˜ao do sistema, a energia cin´etica total e a

Cap´ıtulo 4. Simula¸c˜ao computacional de contornos de gr˜ao no gelo 63

Figura 4.10: Sistema com N part´ıculas em uma caixa com volume V constante e em contato com um banho t´ermico a temperatura T. Os c´ırculos s˜ao os ´atomos e as setas indicam o vetor velocidade de cada um.

energia potencial total respectivamente s˜ao

K = 1 2 3N X i=1 mivi2 U = U (r1, · · · , r3N). (4.32)

Nesta situa¸c˜ao, a energia total, que ´e a soma da energia cin´etica com a energia potencial, ´e conservada. Desta forma, tem-se um ensemble de estados poss´ıveis com N, V e E constantes. Por outro lado, o momento total de uma cole¸c˜ao de part´ıculas ´e conservado, por´em n˜ao acontece o mesmo para um sistema com condi¸c˜oes peri´odicas de contorno. Para definir a temperatura do sistema, as velocidades s˜ao distribu´ıdas de acordo com a distribui¸c˜ao de Maxwell-Boltzmann, logo a energia cin´etica m´edia para cada grau de liberdade ´e 1 2m ¯v 2 = kBT 2 ⇒ kBTM D 2 ≡ 1 6N 3N X i=1 mivi2. (4.33)

Como a energia cin´etica n˜ao ´e conservada nas equa¸c˜oes do movimento para esse sistema, a temperatura TM D observada em uma simula¸c˜ao NVE oscila com o tempo. A

fim de reproduzir melhor os fenˆomenos da natureza, ´e interessante que os resultados de MD sejam comparados aos resultados experimentais. Em um experimento, ´e mais f´acil ter controle da temperatura ao inv´es da energia. Neste tipo de situa¸c˜ao, o sistema conta com poss´ıveis estados contendo N, V e T constantes caracterizando assim um ensemble canˆonico, como apresentado na Figura 4.10.

L = 1 2 X i=1 mis2v2i − U (r1, · · · , r3N) + Q 2  ds dt − gkBT ln s, (4.34) onde s ´e um grau de liberdade adicional que age como um sistema externo para um sistema f´ısico de N part´ıculas, ou seja, s relaciona o sistema NVT com o reservat´orio de calor, Q ´e um parˆametro de dimens˜ao de energia×tempo2 e se comporta como uma massa para o movimento de s, e o parˆametro g ´e igual ao n´umero de graus de liberdade do sistema f´ısico. ´E importante ressaltar que se s(t) ≡ 1, ent˜ao a lagrangiana estendida da equa¸c˜ao (4.34) se reduz a lagrangiana do ensemble microcanˆonico.

As equa¸c˜oes do movimento para a lagrangiana da equa¸c˜ao (4.34) foram escritas elegantemente por Hoover [60] da seguinte forma,

dri dt = vi, (4.35) dvi dt = 1 mi ∂U (r1, · · · , r3N) ∂ri − ξ mi vi, (4.36) dξ dt = 1 Q "3N X i=1 miv2i − 3N kBT # , (4.37) d ln s dt = ξ, (4.38)

de forma que na equa¸c˜ao (4.36) tem-se a adi¸c˜ao de um termo de fric¸c˜ao que aumenta ou diminui a velocidade das part´ıculas, dependendo do sinal de ξ. A equa¸c˜ao (4.37) controla o sinal e a magnitude de ξ.

Reescrevendo a equa¸c˜ao (4.37), tem-se que dξ

dt = 3N kB

Q [TM D− T ] , (4.39) onde TM D ´e a temperatura instantˆanea dos ´atomos na simula¸c˜ao e T ´e a temperatura

desejada. Desta forma, ´e poss´ıvel controlar a temperatura atrav´es do ajuste da velocidade de todos os ´atomos. Essa aproxima¸c˜ao d´a origem ao conhecido termostato de Nos´e- Hoover. Al´em disso, o potencial interatˆomico est´a inserido na equa¸c˜ao (4.36).

Cap´ıtulo 4. Simula¸c˜ao computacional de contornos de gr˜ao no gelo 65 termin´ıstico, uma outra op¸c˜ao para simular um sistema no ensemble NVT ´e utilizar um termostato estoc´astico. Este tipo de termostato requer a introdu¸c˜ao de for¸cas dissipativas, como a fric¸c˜ao, a qual fisicamente vem das for¸cas flutuantes que movem uma part´ıcula devido ao movimento ca´otico das mol´eculas em um solvente. Al´em disso, para que um sistema de equa¸c˜oes tenha um significado f´ısico, tamb´em ´e preciso incluir um termo es- toc´astico para levar em considera¸c˜ao estas for¸cas flutuantes. A presen¸ca de um termo de for¸ca estoc´astica deixa o termostato mais complicado de um ponto de vista te´orico, por´em, ´e um dos mais utilizados na pr´atica devido ao seu desempenho razo´avel. Um dos motivos que levam ao bom funcionamento deste tipo de termostato ´e que a fric¸c˜ao ´e um parˆametro real. Desta forma, as equa¸c˜oes do movimento de um sistema com um termostato estoc´astico s˜ao conhecidas como equa¸c˜oes da dinˆamica browniana.

4.2.4

Dinˆamica molecular ab initio

No tratamento de um sistema atrav´es de dinˆamica molecular, as equa¸c˜oes do mo- vimento newtonianas s˜ao resolvidas numericamente a partir de um estado inicial e s˜ao sujeitas a um conjunto de condi¸c˜oes de contorno. Um dos aspectos mais desafiadores nesta metodologia ´e o c´alculo das for¸cas, que podem ser computadas atrav´es de um modelo emp´ırico ou um campo de for¸ca, o qual ´e parametrizado para reproduzir dados experimentais ou c´alculos ab initio muito precisos. Por outro lado, os campos de for¸ca e

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