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CAPÍTULO II PSICOLOGIA DA SAÚDE

2.2 Psicologia Clínica da Saúde

Quando em 1896 Lightner Witmer utilizou a expressão ―psicologia clínica‖, deu início a uma área de psicologia aplicada, por oposição à psicologia laboratorial que se praticava até então. A definição dos campos de psicologia aplicada foi sendo estabelecida ao longo do tempo. Esta psicologia aplicada no início não se distinguia entre o que se tornou depois psicologia educacional e psicologia clínica, no sentido de que tinha como objeto de intervenção as crianças com dificuldades na escola (Ribeiro, 2005).

Porém, o início da psicologia aplicada formal acabaria por ocorrer muitos anos depois, através de uma psicologia profissional. Mais especificamente, na psicologia clínica, que se tornou uma área vigorosa e ampla da psicologia aplicada, numa renovação constante que expressa o seu dinamismo (Leal, 2006).

A psicologia como profissão no campo da saúde está indissociavelmente ligada à psicologia clínica embora, a psicologia clínica na sua origem não tivesse a orientação que lhe é comummente dada. Por esta altura, Psicologia da Saúde apontava para uma separação entre esta área e a da Psicologia Clínica. Ou seja, entendia-se que a intervenção da Psicologia Clínica tendia a centrar-se na saúde mental e nas doenças mentais, enquanto o foco da Psicologia da Saúde centrar-se-ia na saúde física e em todas as outras doenças, que não as mentais (Leal, 2006).

Apesar desta situação de separação entre as duas áreas, haviam, por um lado, os médicos não – psiquiatras, que pediam ajuda para trabalhar com os seus utentes ao reconhecerem que uma parte importante dos problemas com que lidavam era de origem psicológica e reconhecia-se que uma parte importante dos problemas com que lidava o

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médico não – psiquiatra eram de índole psicológica (Ribeiro & Leal, 1996). Por outro lado, observa-se que o desenvolvimento dos serviços de saúde implicava o confronto com situações de alteração ou perturbação na saúde que, comportando necessariamente respostas concomitantes num registo psicológico, nem por isso eram enquadráveis em categorias psicopatológicas e não podiam, por isso, ser tomadas como objeto de intervenção à parte. Bem pelo contrário, respostas depressivas ou de ansiedade, então como hoje, inscreviam-se, frequentemente, num quadro adaptativo fundamental à situação posterior do indivíduo em situação de doença (Ribeiro & Leal, 1996).

Acrescenta-se que a psicologia profissional que se pratica em contexto de saúde e de doenças, e que se designa por ―psicologia clínica‖, tem integrado, ao longo do seu desenvolvimento, um conjunto de evoluções resultantes de reorganizações históricas, científicas, políticas e económicas, em que a psicologia da saúde emerge como uma das últimas contribuições (Leal, 2006).

A Psicologia como profissão no campo da saúde é hoje uma área reconhecida. Embora a terminologia ―psicologia clínica‖ seja dominante, ela já não qualifica a psicologia que se faz com a doença mental. A terminologia adotada tende a referir o termo ―saúde‖ em vez de ―clínico‖ para abranger este contexto amplo, e também porque ―clínico‖ remete para o método e não para o contexto, como já explicámos. Podemos perceber esta situação através da análise da diretiva europeia para o diploma europeu de reconhecimento de qualificação profissional para o exercício da psicologia refere como contextos de prática a ―educação‖, a ―saúde‖, o ―trabalho e organizações‖ e ―outras‖ (Leal, 2006).

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Outro dado a realçar é que a evolução da conceção de saúde afetou as práticas do psicólogo que intervém no sistema de saúde, levando à discussão da necessidade de reorientar as funções profissionais do psicólogo clínico (Fox, 1982).

Apesar de tudo, observa-se, em alguns países, uma divisão entre os psicólogos clínicos que se reclamam da saúde mental e os psicólogos clínicos que se reclamam da saúde. Para os primeiros, a ligação à saúde mental, à psicopatologia e à doença mental permanece, tentando transpor os quadros clássicos da avaliação, investigação e intervenção para os novos contextos de intervenção. Para os segundos, a doença mental é apenas uma entre outras e o esforço vai no sentido da descoberta de novas fórmulas de avaliação, investigação e intervenção adaptadas aos múltiplos contextos com que se deparam (Ribeiro, 2005).

Em suma, pode ser assumido que a Psicologia da Saúde é uma área de aplicação de todos os contributos da Psicologia eminentemente úteis para manter a saúde e lidar com as doenças (Leal, 2006). ―The term health is na adjective that defines the arena in which the core knowledge in the science and profession of psychology is applied and, thus, there is not today a health psychology that differs from psychology proper‖ (Matarazzo, 1987, p. 899). Esta frase de Matarazzo significa que depois de um primeiro momento em que a Psicologia da Saúde aparecia como um conjunto de práticas do Psicólogo com as populações sem doença mental, surgiu um outro, decorrente e natural, em que a tónica era colocada na Psicologia realizada em contexto do Sistema de Saúde em geral, e nos serviços de que o Sistema dispunha (Ribeiro e Leal, 1996).

Diversos teóricos como Belar, Deardorff e Kelly (1987), adotaram a expressão ―psicologia clínica da saúde‖, que definiram como a aplicação dos conhecimentos e métodos de todos os campos práticos da psicologia na promoção e manutenção da saúde

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física e mental do indivíduo e na prevenção, avaliação, e tratamento de todas as formas de perturbação mental e física, nas quais as influências psicológicas podem ser usadas ou podem contribuir para aliviar o mau funcionamento ou distress (Ribeiro e Leal, 1996).

Estes autores indicavam que a expressão ―psicologia clínica da saúde‖ ―representava uma fusão da psicologia clínica, com o seu foco na avaliação e tratamento de indivíduos em distress, com o conteúdo da psicologia da saúde‖ (Belar et al, 1987, p. 1).

Millon argumenta que as duas áreas – psicologia clínica e psicologia da saúde – são essencialmente apenas uma: ―Clinical psychology was misguided in its evolution when it followed a dualistic mind-body model and thereby limited itself to ministering to the ―mentally‖ disordered. Health psychology carne into being in great measure as an antidote to the deficits and imbalance this created‖ (Millon, 1982, p. 9).

Belar (1997) menciona que ―a psicologia clínica da saúde é uma especialidade para o século XXI, se não a especialidade para a prática profissional os cuidados de saúde‖ (p411, cit. por Ribeiro e Leal, 1996).

A designação Psicologia Clínica da Saúde implica, na nossa opinião, a síntese e o compromisso, entre duas gerações de perspetivas sobre a Psicologia (Ribeiro & Leal, 1996). Assim, a característica definidora da clínica reside na possibilidade de utilização de todos os informes psicológicos na resolução de uma problemática colocada por um indivíduo, um grupo, ou uma população, tomado como objeto de análise e intervenção clínica. (Ribeiro & Leal, 1996). Neste contexto, a Psicologia Clínica da Saúde acaba por ocupar um lugar central no Sistema de Saúde.

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Atualmente existem, defensores de uma Psicologia da Saúde centrada na promoção da Saúde e na prevenção das doenças físicas; uma Psicologia da Saúde dominantemente como área de ensino e investigação dos fenómenos correlacionados com a saúde e as doenças; uma outra que considera que ―grande parte da psicologia da saúde é, na realidade psicologia social aplicada‖ (Leal, 2006).