• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II PSICOLOGIA DA SAÚDE

2.1 Psicologia da Saúde Surgimento

Formalmente, a Psicologia da Saúde remonta à década de 1970 (Ribeiro, 2005). Por esta altura ocorreu uma mudança na maneira de conceptualizar o sistema de saúde em geral e o de cuidados de saúde em particular. Esta mudança ocorreu devido às críticas vigentes em relação ao modelo biomédico, dando origem ao que ficou conhecido por ―segunda revolução da saúde‖, já abordada no capítulo I (Engel, 1977; Michael, 1982; Ribeiro, 1994).

35

Em 1973, nos Estados Unidos da América, foi criada no seio da American Psychological Association (APA) uma task force on health research, com o objetivo de estudar ―a natureza e a extensão da contribuição dos psicólogos para a investigação básica e aplicada sobre os aspectos comportamentais nas doenças físicas e na manutenção da saúde‖. Na origem, a psicologia da saúde sugeria uma separação entre a área de prática e a da psicologia clínica. Em suma, entendia-se que a intervenção da psicologia clínica tendia a centrar-se na saúde mental e nas doenças mentais, enquanto o foco da psicologia da saúde se centraria em todas as outras (APA Task Force on Health Research, 1976, p. 263).

Ainda na década de setenta, mais precisamente em 1976, publicava-se um relatório sobre as relações entre a psicologia e os contextos tradicionais de saúde e doença, propondo orientações para esta área. Em 1978, surgiu a Divisão de Psicologia da Saúde da APA (Divisão 38), que, a partir de 1982, fez sair o primeiro número do seu periódico, denominado Journal af Health Psychology (Ribeiro, 2005). Convém realçar que um movimento semelhante ocorria igualmente na Europa. O Regional Office for Europe da Organização Mundial de Saúde, sediado em Copenhaga, publica em 1984 um documento da autoria da European Federation of Professional Psychologists Association, que esclarece a contribuição da psicologia para a saúde. Neste documento sugeria-se a inclusão dos problemas de saúde em geral e não somente a doença mental (Leal, 2006).

Uma das primeiras definições formais de psicologia da saúde foi proposta por Stone (1979) e refere que a psicologia da saúde é qualquer aplicação científica ou profissional de conceitos e métodos psicológicos a todas as situações próprias do campo da saúde, não apenas nos cuidados de saúde mas também na saúde pública, educação para a saúde, planificação da saúde, financiamento, legislação (Leal, 2006).

36

Uns anos mais tarde, Matarazzo apresentou uma definição que se tornou clássica (já referida anteriormente) e que acrescentou pouco ao que Stone já dissera, ou seja, que a psicologia da saúde se define como o domínio da psicologia que recorre aos conhecimentos provenientes das diversas áreas da psicologia com vista à promoção e proteção da saúde, à prevenção e tratamento das doenças, à identificação da etiologia e diagnóstico relacionados com a saúde, com as doenças e disfunções associadas, à análise e melhoria do sistema de cuidados de saúde e ao aperfeiçoamento da política de saúde (Matarazzo, 1980). Esta última definição apresenta-se como muito abrangente, visto abranger tudo o que é possível fazer no sistema de saúde em geral.

A Conferência de Arden House propôs, posteriormente, uma declaração de consenso que afirma que ―a psicologia da saúde é um campo genérico da psicologia, com o seu corpo próprio de teoria e conhecimento, que se diferencia de outros campos da psicologia‖ (Olbrisch & Levenson 1995, p. 240).

Em suma, pode-se concluir que uma das características marcantes da psicologia da saúde, para além de deslocar o seu interesse para aspectos de saúde e de doenças não mentais, é também, e talvez em primeiro lugar, a mudança da atenção do pólo ―doença‖ para o pólo ―saúde‖, passando a considerar este pólo como objecto epistemológico diferente das doenças, com definição própria e métodos de intervenção e de avaliação específicos. Isto significa, que depois da década de setenta, o papel da psicologia na saúde e nas doenças ultrapassa muito o que tradicionalmente tendia a ser atribuído à psicologia, sobretudo o que tendia a ser denominado psicologia clínica (APA Task Force on Health Research, 1976; Albee, 1982; Delon, Pallak & Hefferman, 1982; Matarazzo, 1980, 1984; Miller, WHO, 1985).

37

A Psicologia da Saúde alastrou-se muito rapidamente nos Estados Unidos da América e no resto dos países desenvolvidos. Atualmente, salvo raras exceções, a prática da psicologia da saúde e da psicologia clínica não se diferencia, visto que, a psicologia neste universo desenvolve ações com ―objetivos de saúde‖, como dizia a OMS em 2000. Hoje fala-se em psicologia em contexto de saúde que engloba inúmeras áreas de intervenção e inúmeros contextos (Ribeiro, 2005).

Em Portugal, a psicologia da saúde trouxe igualmente uma contribuição à psicologia clínica enquanto psicologia profissional. Pelo facto da psicologia profissional denominada ―psicologia clínica‖ só ter sido instituída e definida em 1994 (Leal, 2006).

Portugal dispõe de uma Sociedade de Psicologia da Saúde (SPPS) que se constituiu por escritura pública em 9 de Junho de 1995 na sequência da realização do primeiro congresso nacional de psicologia da saúde, evento que ocorreu em Lisboa em 1994 e foi organizado por iniciativa de investigadores e profissionais pertencentes a diversas associações profissionais e de ensino da Psicologia. Acrescenta-se ainda que a SPPS é uma Sociedade Científica, sem fins lucrativos, que tem por objetivos estatuários: a promoção e divulgação do exercício da psicologia da saúde, a investigação científica, a promoção de realizações científicas e a divulgação da psicologia da saúde (Leal, 2006).

38