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As publicações mais influentes na produção acadêmica sobre a neutralidade de rede

3. QUE PESQUISADORES INFLUENCIAM A PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE

3.3 As publicações mais influentes na produção acadêmica sobre a neutralidade de rede

As dez publicações mais influentes na produção acadêmica sobre a neutralidade de rede, apresentadas na figura a seguir, foram encontradas conforme método exposto na subcapítulo 2.2, que faz a ponderação entre a influência que cada autor possui individualmente e suas publicações mais referenciadas. Importante informar que o nome do autor que aparece em negrito no quadro, quando a publicação possui mais de um autor, é daquele autor que, por meio da aplicação dos critérios de classificação, levou o texto à melhor colocação possível na lista abaixo. Assim, um texto com mais de um autor pode ter colocações diferentes, conforme o resultado da aplicação da fórmula que pondera a influência do autor com a quantidade de referências a suas publicações. Também por meio do quadro a seguir é possível observar que dois dos pesquisadores mais citados na produção científica sobre neutralidade de rede, Jean Tirole e J. Gregory Sidak, devido às características do método aplicado, não possuem publicações entre as mais influentes na produção acadêmica sobre a neutralidade de rede.

Figura 16 – Relação dos dez textos mais influentes sobre a neutralidade de rede

Ordem Texto Autores Ano influência Índice de

1 Network neutrality, broadband discrimination Wu 2003 42,97

2 Towards an economic framework for network neutrality regulation Schewick van 2007 28,15

3 The End of End-to-End: Preserving the Architecture of the Internet in the Broadband Era Lemley & Lessig 2000 22,22 4 Network neutrality and the economics of congestion Yoo 2006 20,00

5 Beyond network neutrality Yoo 2005 20,00

6 Net Neutrality on the Internet: A Two-sided Market Analysis Economides & Tag 2012 19,26

7 Modularity, vertical integration, and open access policies: towards a convergence of antitrust and regulation in the Internet age

Farrell &

Weiser 2003 19,26

8 The economics of product-line restrictions with an application to the network neutrality debate Hermalin & Katz 2007 17,04 9 The future of ideas: the fate of the commons in a connected world Lessig 2001 14,07

10 Keeping the Internet Neutral? Tim Wu and Christopher Yoo debate Yoo & Wu 2006 14,07

Há que ressaltar que em média os textos mais influentes sobre a neutralidade de rede foram publicados em meados da década 2000, demonstrando que a discussão sobre esse princípio ganhou força nos EUA no mínimo cinco anos antes que essa mesma discussão fosse fomentada no Brasil pelo Marco Civil da Internet. Além disso, a primeira definição sobre a neutralidade de rede de uma entidade brasileira de governança da Internet só foi estabelecida em 2009, por intermédio do decálogo de princípios para a governança e uso da Internet no Brasil84, aprovado pelo CGI.br.

Três dos dez textos mais influentes sobre a neutralidade de rede não tratam especificamente sobre esse princípio: “The End of End-to-End: Preserving the Architecture of the Internet in the Broadband Era” e “The future of ideas: the fate of the commons in a connected world”, ambos de Lessig, publicados respectivamente em 2000 e 2001; e “Modularity, vertical integration, and open access policies: towards a convergence of antitrust and regulation in the Internet age”, de Farrell e Weiser, publicado em 2003. Esses três textos, não por coincidência os mais antigos da relação das dez publicações mais influentes sobre a neutralidade de rede, não possuem como cerne essa temática. Na verdade, eles trazem importantes fundamentos que posteriormente foram utilizados para subsidiar a discussão acerca da neutralidade de rede que estava por se intensificar.

Lessig escreveu sobre acesso aberto, que preveniria as operadoras de banda larga de empacotarem seu negócio/serviço principal (banda larga - telecomunicações) conjuntamente com o serviço de provimento de acesso à Internet. Lessig também fez a defesa veemente do princípio end-to-end, que estabelece que a inteligência da rede deve estar nas pontas, permanecendo simples em seu centro, impedindo a discriminação de aplicações e conteúdos pela camada lógica. Já Farrell e Weiser, principalmente com suas análises sobre a modularidade, auxiliaram o aprofundamento da discussão de aspectos econômicos sobre a regulação da Internet.

Observa-se que Wu, Yoo e Lessig são autores de 6 dos 10 textos mais influentes na produção acadêmica sobre a neutralidade de rede. Há que se destacar a grande influência do texto de Wu, “Network Neutrality, Broadband Discrimination”, que na relação apresentada foi o primeiro a colocar, em 2003, a neutralidade de rede como tema central. Esse texto de Wu realça-se dos demais textos em relação ao seu índice de influência, sendo aproximadamente 50% mais influente que o segundo colocado, e três vezes mais influente que o nono e décimo textos da lista. Como o próprio título leva a inferir, o centro da

84 Resolução CGI.br/RES/2009/003/P. Disponível em http://cgi.br/resolucoes/documento/2009/003. Acesso em 25.01.2015.

construção do argumento de Wu a favor da neutralidade de rede são as aplicações. Toda sua análise se desdobra do impacto da discriminação, pelas operadoras de banda larga, nas aplicações. Para ele, o que traz riqueza e valor à rede/banda larga são as aplicações. Wu inova ao fazer a distinção entre a propriedade das redes e a propriedade do que trafega nas redes. Portanto, mesmo no escopo de infraestrutura de redes proprietárias das operadoras, o controle do tráfego não deveria ser confundido com o controle do conteúdo, pois o conteúdo pertence aos usuários, e não aos operadores de banda larga. Foram revelações como essas que popularizam o texto de Wu, tornando-o referência na discussão sobre neutralidade de rede.

Já os textos de Yoo, “Network neutrality and the economics of congestion”, “Beyond network neutrality” e “Keeping the Internet Neutral? Tim Wu and Christopher Yoo debate”, são populares por fazerem contraponto à defesa do princípio da neutralidade de rede, ao trazer pelo viés econômico argumentos duros sobre possíveis impactos negativos da implementação desse princípio. Para ele, o maior deles seria o desincentivo ao investimento em infraestrutura de banda larga pelas operadoras de telecomunicações, que associado ao crescimento do tráfego de dados levaria ao congestionamento da Internet. Toda essa sua concepção levou à popularização da expressão economia do congestionamento, presente no título de uma de suas publicações que aparecem na lista das mais influentes sobre a neutralidade de rede.

Por fim, Katz, Economides e Van Schewick, por meio, respectivamente, dos textos “The economics of product-line restrictions with an application to the network neutrality debate”, “Net Neutrality on the Internet: A Two-sided Market Analysis” e “Towards an economic framework for network neutrality regulation”, fazem a discussão da neutralidade de rede sob o prisma da economia. Os dois primeiros tentaram fazer uma análise mais “neutra”, mas esta última fez um extenso tratado sobre aspectos econômicos que levariam a necessidade da regulação da Internet, em especial de princípios como a neutralidade de rede. Se Yoo faz contraponto à Wu ao tirar o centro da discussão do campo do direito para levá-la para o campo econômico, principalmente por meio da discussão sobre a economia do congestionamento, é justamente van Schewick que faz a tréplica desse embate por meio de uma exposição econômica minuciosa favorável à defesa da neutralidade de rede.

A discussão sistematizada do conteúdo desses textos, por meio da utilização da TFD, se dá na próxima seção. Lá ficará mais evidente a diversidade de abordagem desses pesquisadores sobre o mesmo tema: a neutralidade de rede.