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Resultados da aplicação da Teoria Fundamentada em Dados na análise das notas

5. SEMELHANÇAS ENTRE OS ARGUMENTOS DA PRODUÇÃO ACADÊMICA

5.1 Resultados da aplicação da Teoria Fundamentada em Dados na análise das notas

Conforme exposto no subcapítulo 2.4.2, durante a leitura das notas taquigráficas da Comissão Geral do Marco Civil da Internet, dados foram sendo coletados, em um processo cognitivo, individualizado e marcado pela formação teórica deste autor, e posteriormente agrupados de acordo com a semelhança da informação que carregavam. Esses grupos de dados foram aos poucos rotulados em categorias, e com o avançar da leitura e o aumento da base de dados coletados, essas categorias foram subdivididas em subcategorias, formando uma massa de dados codificados e categorizados. À medida que iam sendo registradas anotações e observações sobre as categorias e subcategorias, ocorria um processo que ajudava a reforçar as categorias e subcategorias já identificadas, assim como gerava novas subcategorias até o ponto de saturação.

Na análise dessas notas taquigráficas com o uso da TFD, a neutralidade de rede firmou-se como categoria central, desdobrando-se nas seguintes subcategorias: conceito de neutralidade de rede; argumentos a favor da neutralidade de rede; origens das críticas ao conceito de neutralidade de rede; críticas ao conceito de neutralidade de rede; e exceções ao princípio da neutralidade de rede. Além da categoria central, surgiu a categoria Internet, composta pelas seguintes subcategorias: pilares da Internet; distinção em relação à banda larga; direitos sociais vinculados à Internet; recursos livres; liberdade e diversidade de conteúdo; e regulação da Internet / Marco Civil da Internet. Ao todo, foram registradas 104 notas (registros de anotações e observações sobre as notas taquigráficas) sobre essas categorias e seus desdobramentos. A figura 30 sumariza os macrodados da análise.

Figura 30 –Macrodados sobre análise das notas taquigráficas da Comissão Geral do Marco Civil da Internet com o uso da Teoria Fundamentada em Dados.

Categoria Subcategoria Notas % Setor representado*

A B C D E F G H I Internet Pilares da Internet 2 8,0 1 1 Distinção em relação à banda larga 3 12,0 1 2 Direitos sociais vinculados à Internet 1 4,0 1 Recursos livres 1 4,0 1 Liberdade e diversidade de conteúdo 1 4,0 1 Regulação da Internet / Marco Civil da Internet 17 68,0 2 7 1 1 2 2 1 1 Subtotal 25 - 2 9 1 3 5 2 0 2 1 Subtotal % - 100,0 8,0 36,0 4,0 12,0 20,0 8,0 0,0 8,0 4,0 Neutralidade de rede Conceito de neutralidade de rede 27 34,2 14 1 7 3 1 1 Argumentos a favor da neutralidade de rede 19 24,1 7 6 2 1 3 Origens das críticas

ao conceito de neutralidade de rede 1 1,3 1 Críticas ao conceito de neutralidade de rede 25 31,6 10 15 Exceções ao princípio da neutralidade de rede 7 8,9 1 1 5 Subtotal 79 - 0 32 1 14 6 7 4 0 15 Subtotal % - 100,0 0,0 40,5 1,3 17,7 7,6 8,9 5,1 0,0 19,0 TOTAL 11 104 - 2 41 2 17 11 9 4 2 16 TOTAL (%) - 100,0 1,9 39,4 1,9 16,3 10,6 8,7 3,8 1,9 15,4 *Legenda: A – governo; B – parlamento; C – entidade de governança da Internet; D – academia; E – sociedade civil; F – empresas de TIC; G – provedores de conteúdos; H – provedores de aplicações; I – operadoras de telecomunicações.

Fonte: elaborado pelo autor (2014)

Essas categorias, subcategorias e suas correspondentes anotações e observações foram organizadas, considerando as conexões entre elas, visando estruturar um axioma. A figura que representa essa organização encontra-se no apêndice B. A figura 31 sintetiza o resultado da classificação, ilustrando como se estruturou a discussão sobre neutralidade de rede no âmbito da Comissão Geral do Marco Civil da Internet. Os círculos, com diâmetros proporcionais à quantidade de notas atreladas, representam as categorias e subcategorias. Os relacionamentos entre as categorias são representados pelas setas, e as relações de dependência entre categoria e subcategorias por uma linha espessa contínua.

Figura 31 – Representação sintetizada da estruturação da discussão sobre neutralidade de rede no âmbito da Comissão Geral do Marco Civil da Internet.

Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

Por meio dessa figura é possível visualizar que a categoria neutralidade de rede enquadra-se como categoria central por ser o principal ponto de origem e destino dos argumentos utilizados na Comissão Geral, e por isso ser o cerne da amarração e sustentação de toda argumentação. Essa categoria é composta basicamente pelo balanceamento de três subcategorias: conceito de neutralidade de rede; críticas ao conceito de neutralidade de rede; e argumentos a favor da neutralidade de rede. Esta última subcategoria acaba por buscar alguns elementos em subcategorias da Internet para sustentar a argumentação favorável à neutralidade de rede. Já a discussão na categoria Internet ficou basicamente concentrada na subcategoria regulação, tendo em vista que o escopo da discussão da Comissão Geral era justamente a regulação da Internet por meio do projeto de lei do Marco Civil.

Essas categorias, subcategorias e suas propriedades surgiram e foram refinadas à medida que a TFD foi utilizada na leitura das notas taquigráficas da Comissão Geral do Marco Civil da Internet. Foi essa sistematização que possibilitou a análise dos diferentes posicionamentos sobre a neutralidade de rede dos diversos atores em disputa sobre esse princípio, com foco no setor de vinculação.

A figura 32 representa a contribuição para estruturação das subcategorias da categoria neutralidade de rede por tipo de vinculação dos participantes que discursaram na Comissão Geral do Marco Civil da Internet.

Figura 32 – Representação da contribuição para estruturação das subcategorias da categoria neutralidade de rede por tipo de vinculação dos participantes que discursaram na Comissão Geral do Marco Civil da Internet.

Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

Conforme pode ser observado, as críticas ao conceito de neutralidade de rede provieram em sua maioria dos representantes das operadoras de telecomunicações, completadas por um parlamentar87. Predominaram na argumentação a favor do conceito de

neutralidade de rede a atuação dos representantes do parlamento e da academia, estes com maior foco na proteção contra a discriminação de conteúdos e aplicações, e aqueles na garantia dos direitos sociais. A discussão das exceções à neutralidade de rede foram o ponto de interesse das empresas de TIC – ressalta-se que muitas delas vendem equipamentos que permitem fazer as discriminações técnicas para o gerenciamento do tráfego de dados na rede. O conceito de neutralidade de rede foi bastante trabalhado pelos representantes do

87 Todas as críticas parlamentares ao conceito de neutralidade de rede vieram do Deputado Federal Eduardo Cunha, PMDB/RJ.

Origens das críticas ao conceito Conceito Exceções Argumentos a favor Críticas ao conceito

Governo Parlamento

Entidade de governança da Internet Academia Sociedade civil Empresas de TIC Provedores de conteúdos Provedores de aplicações Operadoras de telecomunicações

parlamento88, de forma complementar pela academia, e subsidiária pela sociedade civil. Por

fim, uma possível origem das críticas ao conceito de neutralidade de rede foi citada por representante da sociedade civil.

A figura 33 representa a contribuição para estruturação das subcategorias da categoria Internet por tipo de vinculação dos participantes que discursaram na Comissão Geral do Marco Civil da Internet.

Figura 33 – Representação da contribuição para estruturação das subcategorias da categoria Internet por tipo de vinculação dos participantes que discursaram na Comissão Geral do Marco Civil da Internet.

Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

Pela observação dessa figura é possível verificar que a principal subcategoria da categoria Internet, a regulação, foi objeto de contribuição de todos os atores, à exceção dos provedores de conteúdos. Destaca-se a atuação dos parlamentares na discussão da categoria regulação, com foco em argumentos contrários à regulação da Internet por meio do projeto de lei do Marco Civil. Já a liberdade e diversidade de conteúdos e os recursos livres foram dois temas tratados com exclusividade por representantes da academia. A discussão de direitos sociais atrelados à Internet ficou restrita à sociedade civil, que também atuou fortemente para trabalhar a distinção entre Internet e banda larga – distinção complementada por intervenções de alguns parlamentares. Por fim, a composição da subcategoria pilares da Internet ficou dividida entre notas dos representantes do parlamento e dos provedores de aplicações.

Apresentadas as informações gerais sobre a utilização da TFD na sistematização dos registros da Comissão Geral do Marco Civil da Internet, parte-se agora para o processo de

88 Principalmente pelo relator do Marco Civil da Internet, o Deputado Federal Alessandro Molon, PT /RJ. Pilares

Distinção em relação à banda larga Direitos sociais Recursos livres Liberdade e diversidade de conteúdo Regulação / MCI

Governo Parlamento

Entidade de governança da Internet Academia Sociedade civil Empresas de TIC Provedores de conteúdos Provedores de aplicações Operadoras de telecomunicações

interpretação da classificação. Inicia-se com a categoria Internet, que dá as linhas gerais da discussão sobre a neutralidade de rede.