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Na sociedade de consumo o crescimento exponencial de ações de marketing agressivas é o recurso utilizado pelosfornecedores para atraírem os consumidores a adquirir seus produtos e serviços. Assim, visando proteger a parte vulnerável da relação de consumo exposta à tais práticas, o Código de Defesa do Consumidor elencou, dentre os direitos básicos do consumidor, o direito à informação, em que o fornecedor tem o dever de informar, em observância ao princípio da boa-fé objetiva, que se manifesta através da cooperação, lealdade, transparência e confiança. Para Cavalieri Filho (2014, p. 104), tal dever de informar é cumprido quando a

informação estiver adequada (compatível com os riscos do produto ou serviço), suficiente (completa e integral) e verídica (verdadeira).

Além disso, o fornecedor também tem o dever de aconselhar e orientar o consumidor não profissional, passando-lhe as informações e indicações necessárias, bem como a opinião crítica como especialista, para que o adquirente consiga escolher o produto ou serviço mais adequado para sua necessidade dentre as diversas opções presentes no mercado. A orientação do fornecedor expert é um dos reflexos mais importantes da boa-fé, pois o consumidor leigo deposita toda a sua confiança e expectativa em relação às vantagens e aos riscos a que está sujeito na opinião do profissional. Neste sentido, conforme leciona Cavalieri Filho (2014, p. 105), “nenhum consumidor poderá ser levado a adquirir um produto ou serviço com periculosidade inerente sem que seja advertido dessa periculosidade, sob pena de responder civilmente o fornecedor”. O autor ainda afirma que:

O dever de informar do fornecedor é de duas ordens: (1) dever de informar nas relações individualizadas, como nas tratativas, na oferta e no contrato de compra e venda de mercadorias ou de prestação de serviços, casos em que terá de fornecer todas as informações sobre o preço, objeto do contrato, condições de pagamento, uso e periculosidade; (2) dever de informar nas relações com pessoas indeterminadas, como na publicidade que atinge a massa de consumidores, caso em que não pode incluir dado falso capaz de induzir em erro o consumidor, nem omitir dado essencial, que, se conhecido, afastaria o consumidor. (CAVALIERI FILHO, 2014, p. 106).

Tal dever de informar tem condão no princípio da boa-fé e da transparência, exigidos na fase pré-negocial. Quanto ao seu conteúdo pertencente, este corresponde às informações necessárias e suficientes para o conhecimento do consumidor em relação aos aspectos relevantes para fundamentar a sua decisão, conforme disposto no art. 31 do CDC:

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. (BRASIL, 2020).

Neste sentido, os fatos considerados notórios (amplamente conhecidos), não fazem parte do dever de informar pois, ao ter conhecimento de um fato, o consumidor não pode ser enganado, e, de acordo com Cavalieri Filho (2014, p. 107) “a partir do momento que o consumidor conhece a informação necessária para o seu consentimento informado, o dever de informar está satisfeito”. Deste modo, o conteúdo da oferta deve ser completo, de maneira que

possibilite que o consumidor seja devidamente informado sobre o que está adquirindo. Assim, podem ser considerados meios de informação para o cumprimento do dever de informar a publicidade, a oferta, cartazes, rótulos de produtos, embalagens e demais instrumentos capazes de veicular tais informações. Bolzan (2014, p. 342) afirma que todas as informações suficientemente precisas e veiculadas poderão se enquadrar no conceito de oferta, para fins do CDC.

Na esfera consumerista, a marca assume grande influência na atividade econômica do fornecedor, tendo em vista a dimensão que a publicidade adota nas relações de consumo, bem como seu alcance nas mais diversas classes sociais. É na fase preliminar do processo de formação da relação consumerista que os fornecedores atuam tentando compreender a vontade do consumidor, apresentando e oferecendo seus produtos e serviços através de estratégias de marketing que visam a concretização do negócio jurídico.

Diante de tais fatos, o CDC assegura aos consumidores a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, exigindo que o princípio da boa-fé esteja presente nas práticas que precedem o início de qualquer relação jurídica de consumo, como a ética, transparência, honestidade, lealdade e o respeito ao consumidor. Assim, resguarda-se a verdade nas publicidades e propagandas direcionadas aos adquirentes, exigindo que todas as informações prestadas na apresentação, oferta ou publicidade sejam cumpridas pelo fornecedor.

Quanto aos princípios fundamentais da publicidade, de acordo com Miragem (2016, p. 271), classificam-se em: princípio da identificação, princípio da veracidade e princípio da vinculação. O princípio da identificação relaciona-se com o disposto no art. 36 do CDC, in verbis: “A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.” (BRASIL, 2020). Assim, a publicidade realizada pelo fornecedor deve ser apresentada de modo que o público alvo a identifique de forma separada das demais informações veiculadas no mesmo veículo de divulgação. Neste sentido, o autor ainda afirma que “por força do princípio da identificação é que se estabelece a necessidade de distinguir em determinado veículo de comunicação, a publicidade do restante da sua programação editorial, cujo método deverá variar conforme o tipo de mídia.” (MIRAGEM, 2016, p. 271).

Tal princípio estabelece que a publicidade deve ser imediatamente identificada, sem exigir algum nível intelectual do consumidor. Há algumas técnicas publicitárias que violam o

princípio da identificação, como a publicidade dissimulada, clandestina e subliminar. A publicidade dissimulada tem aparência de informação, mas possui escopo publicitário oculto do público. Já a publicidade clandestina (merchandising), veicula produtos ou serviços na rotina de personagens de filmes, novelas, programas de TV, entre outros. Por fim, a publicidade subliminar é aquela que visa convencer o consumidor acerca das qualidades de determinado produto ou serviço, estimulando o inconsciente do consumidor, de forma imperceptível.

O princípio da veracidade, por sua vez, exige que o conteúdo das mensagens publicitárias seja de cunho exclusivamente verdadeiras e corretas. O parágrafo único do art. 36 do CDC estabelece que “o fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem.” (BRASIL, 2020). Assim, as informações essenciais, como os riscos do produto ou serviço devem ser amplamente divulgadas, de forma clara e objetiva, não podendo induzir o consumidor em erro. O dever de informar ainda pode ser agravado ao se direcionar a determinado público-alvo, tendo em vista a necessidade de maior proteção a estes consumidores, como é o caso das crianças e dos idosos. A violação do princípio da veracidade caracteriza a publicidade enganosa, prevista no art. 37, §1º do CDC.

Por fim, há ainda o princípio da vinculação, que, conforme Miragem (2016, p. 276) “[...] é aquele pelo qual se estabelece que a oferta publicitária vincula o fornecedor ao seu cumprimento nos termos do anúncio”, sob pena de ser responsabilizado, nos moldes do art. 35 do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 35 - Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:

I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;

II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;

III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. (BRASIL, 2020).

Portanto, é possível que o consumidor faça o fornecedor cumprir com sua palavra quando houver oferta prévia, conforme afirma José Geraldo Brito Filomeno (2018, p. 299):

Isto pode ser resumido na expressão: prometeu, tem de cumprir. Ou seja, uma vez veiculada uma oferta, ou então uma mensagem publicitária, o anunciante fica obrigado a contratar com os eventuais consumidores, exatamente pela maneira e condições ofertadas ou anunciadas. Tem sido bastante comum, nesse aspecto, que,

veiculada uma publicidade em que os preços são bastante convidativos, mas se entendendo, pós-veiculação, que esses foram publicados ou anunciados erroneamente [...].

Assim sendo, pode-se dizer que o princípio da vinculação é o mais relevante da publicidade, pois estabelece o vínculo entre o produto ou serviço à publicidade divulgada sobre ele, ainda que não se realize contrato de consumo, devendo estar presente na fase pré-contratual, conforme previsto no art. 30 do CDC, in verbis:

Art. 30 - Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. (BRASIL, 2020).

A publicidade é o principal veículo dos fornecedores para atrair os consumidores, e também é o meio pelo qual alcançam o lucro almejado com a venda de produtos e serviços que disponibilizam no mercado. Sendo fato inegável que a publicidade influencia pensamentos, comportamentos e condutas, o legislador interveio e passou a vedar aquelas que forem consideradas enganosas ou abusivas, conforme art. 37, caput “é proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.” (BRASIL, 2020), visto que violam os princípios da identificação e da veracidade. Cabe destacar que, conforme Cavalieri Filho (2014, p. 109):

[...] deve, pois, ser considerado abusivo, tudo o que afronte a principiologia e a finalidade do sistema protetivo do consumidor, bem assim se relacione à noção de abuso de direito, o que vale tanto para a relação fornecedor-consumidor, quanto para a relação dos fornecedores entre si [...].

A publicidade pode ser classificada como enganosa, por comissão ou por omissão, ou como abusiva. Na publicidade enganosa por comissão o fornecedor afirma algo que não corresponde com a realidade, induzindo o consumidor ao erro, enquanto que na publicidade enganosa por omissão o fornecedor omite informações relevantes sobre as características do produto ou serviço que, caso reconhecidas, o consumidor não iria adquirir. A publicidade abusiva, por sua vez, é ilícita, pois propaga conteúdo abusivo de direito, agredindo os valores sociais, tem cunho discriminatório, violento, desrespeitoso e também se caracteriza pelo aproveitamento da situação de hipervulnerabilidade de determinados consumidores, como é o caso dos idosos e das crianças. Tais definições estão elencadas no art. 37, §1º, §2º e §3º do CDC, in verbis:

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. (BRASIL, 2020).

Outro ponto que merece destaque em relação às práticas abusivas é o aproveitamento da hipossuficiência do consumidor. Tal caracterização é reconhecida através de condições especiais, como a idade e a condição econômica, caso em que se enquadra as crianças e, especialmente, os idosos. Assim, as publicidades que se valem da hipervulnerabilidade do idoso para impor-lhe produtos e serviços é caracterizada como abusiva, pois desrespeita valores éticos legalmente reconhecidos. Não raro é possível observar que tais práticas se aproveitam da fraqueza ou da ignorância dos consumidores para vender seu produto ou serviço. Assim, visando garantir maior proteção à figura do hipervulnerável, o art. 39, IV do CDC, prevê:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:

[...]

IV - Prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços. (BRASIL, 2020).

Conforme Schmitt (2014, p. 137), o idoso é hipervulnerável diante da atuação dos fornecedores, considerando suas limitações específicas, tornando-se vítima de determinados abusos. Diante dos riscos inerentes a eles, o idoso também tem proteção sobre tais condutas abusivas do fornecedor no Estatuto do Idoso, em seu art. 10, §2º, que assegura e resguarda sua integridade física, psíquica e moral:

Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.

§ 2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais. (BRASIL, 2020).

Um dos setores em que mais se manifesta as abusividades contra os consumidores idosos é nos empréstimos consignados, aprovados pela Lei nº 10.820/03, que permite ao idoso

realizar empréstimos junto a bancos e financeiras conveniadas com o INSS, obtendo o pagamento através de descontos mensais sobre o benefício previdenciário recebido pelo consumidor. Inicialmente, tal norma era vista como garantia ao idoso para acessar o mercado de empréstimo financeiro, no entanto, tem gerado dados alarmantes, pois está estimulando o superendividamento. Um dos motivos que está desencadeando tal situação é a forma de funcionamento deste sistema, por meio de descontos do benefício para o pagamento e do estímulo pelas taxas de juros mais baixas do que as do mercado em geral para conceder o crédito.

Dentre os motivos que incentivam a realização do empréstimo, está o fato de que o tomador não precisa esperar para adquirir o bem que almeja, pois com a obtenção do crédito, tal perspectiva é suprida imediatamente. Entretanto, os consumidores não se dão conta de que desta maneira o bem adquirido terá, ao término do pagamento do empréstimo, um custo superior do que o valor à vista. Como consequência, a sociedade em geral acaba sofrendo com o superendividamento, que é a insolvência do consumidor que não consegue adimplir suas dívidas financeiras.

Neste rol, destaca-se a categoria dos consumidores idosos, tendo em vista que, por serem mais frágeis, são frequentemente alvos de propagandas de oferta de crédito fácil. Atraídos pela facilidade de pagamento do crédito consignado, que possibilita o desconto de valores mensais de sua aposentadoria, o consumidor idoso acaba comprometendo sua qualidade de vida, pois recebe valores muito reduzidos, sendo insuficiente para saldar as dívidas creditícias e ainda para sobreviver. Neste sentido, reduzir ainda mais este montante deixa o idoso tomador de crédito em situação de miserabilidade. Schmitt (2014, p. 264) leciona que:

O marketing agressivo desenvolvido e que foca somente os prazeres alcançáveis pelo crédito, desprovido de advertências acerca dos entraves gerados pelos encargos incidentes sobre o empréstimo ou daqueles derivados do inadimplemento, promove o superendividamento do indivíduo, fenômeno que vem sendo registrado mundialmente [...]. (grifo do autor).

A concessão de crédito possibilita aos mais pobres o acesso ao mercado de consumo, sendo a única forma de adquirir determinados produtos e serviços, em contrapartida, tais práticas revelam abusos dos fornecedores, pois, de acordo com Schmitt (2014, p. 137), “[...] se o crédito é fácil, o endividamento também o será”. Assim, o que inicialmente parecia um desenvolvimento positivo por possibilitar a aquisição de bens e serviços às classes mais pobres,

tornou o consumo uma forma de preenchimento social e cultural, em que, conforme o autor, “[...] sofre ainda mais o idoso esquecido, abandonado, que observa no crédito um fator de inclusão e, até mesmo, de obtenção de afeto.” (SCHMITT, 2014, p. 138).

Neste sentido, o endividamento dos idosos ocorre também pela facilidade de obtenção do crédito, revelando-se uma situação abusiva em que o fornecedor do crédito obtém vantagem financeira em razão da inexperiência do consumidor, não se importando com os malefícios gerados pela contratação. Conforme aponta Mariana Carvalho Victor Coelho e Patryck de Araujo Ayala (2020, p. 257):

[...] o que muito ocorre no caso do crédito consignado para idosos é a atitude maliciosa do mercado para atrair consumidores de idade avançada a comprar através dos descontos em aposentadoria – e ainda mais, por ser um contrato irrevogável –, valendo-se para tanto de propagandas e de figuras de autoridade, que exploram medos específicos às pessoas idosas (como por exemplo a solidão e a fragilidade relacionada à sua saúde), em um nítido abuso das condições intrínsecas a esta parcela da população.

Tal situação apenas ressalta a hipervulnerabilidade desse consumidor e sua frequente exploração pelo mercado, evidenciada pelo abuso em que se aproveita das condições de ser idoso. Assim sendo, a hipervulnerabilidade do consumidor deve ser critério interpretativo das circunstâncias negociais, bem como do atendimento e do dever de informar do fornecedor, em que se deve considerar a fragilidade de tais consumidores para prestar uma informação mais eficiente e compreensiva, para que a proteção do consumidor seja capaz de acompanhar a evolução das práticas do mercado de consumo.

2 CONCESSÃO DO CRÉDITO E O SUPERENDIVIDAMENTO

O mercado de consumo atual desenvolveu-se a partir da publicidade que, ao atingir as mais variadas classes sociais, despertou o desejo e o incentivo ao consumo, que ultrapassam as reais necessidades, possibilitado através do fácil acesso ao crédito. Com a publicidade, surgiu a ideia de que o consumo é uma necessidade básica e essencial para o indivíduo ser integrado na sociedade, sendo valorizado aquilo que ele possui, incentivando a utilização desenfreada do crédito, por meio de pagamento em longas parcelas ou de contratação de empréstimos, o que leva muitas vezes à situação de superendividamento.

O fornecimento de crédito ao consumidor idoso tornou-se um mercado em franca expansão após o advento da Lei nº 10.820/03, que permitiu a concessão de crédito com o adimplemento das parcelas a partir de descontos diretamente no benefício previdenciário. Neste contexto, a democratização do acesso ao crédito permitiu o desenvolvimento econômico com mais dinheiro circulando no mercado, na medida em que os idosos, camada da população até então com crédito praticamente inacessível em função da baixa renda e da falta de garantias reais ou pessoais exigidas pelo sistema financeiro, passou a ter a possibilidade de acesso a produtos e serviços até então inacessíveis. Em contrapartida, tornou-se uma das principais causas do superendividamento, principalmente do consumidor idoso, que passou a ser atraído pelo fácil e rápido acesso ao crédito com a modalidade de empréstimo consignado, e, logo em seguida, por meio de empréstimos pessoais com débito em conta do valor mensal da parcela.

O superendividamento é uma realidade presente no mundo atual, de significativo impacto social, caracterizado pela impossibilidade total do consumidor pessoa física, leigo e de boa fé, de adimplir suas dívidas atuais e futuras, resultantes do consumo. No momento, inexiste definição expressa em lei no ordenamento jurídico brasileiro, sendo utilizada como base a lei francesa para caracterizá-lo. Por isso, é urgente a aprovação do Projeto de Lei nº 3515/15, que visa normatizar as relações de consumo relacionadas aos créditos, criando mecanismos de prevenção e repressão ao endividamento do consumidor, com o objetivo de lhe garantir o mínimo existencial.

Neste contexto, o presente capítulo abordará acerca do acesso ao crédito no Brasil, considerando a porcentagem dos consumidores idosos endividados segundo dados do Balcão

do Consumidor do Curso de Direito da Unijuí. Posteriormente, serão estudados os empréstimos consignados e os empréstimos pessoais, analisando suas características, diferenças, vantagens e desvantagens, bem como as fraudes e abusividades que os cercam, considerando as técnicas de mercado direcionadas aos idosos, que os induzem ao consumo. Por fim, diante da ausência de legislação específica, será analisada a necessidade de lei normativa para superar o superendividamento, apresentando os principais aspectos e propostas do Projeto de Lei nº 3515/15 para a proteção dos consumidores de crédito.

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