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QUADRO 17: COMO OS TÉCNICOS PERCEBEM A ADOÇÃO DOS PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS NOS ASSENTAMENTOS

QUADRO 8: O QUE OS AGRICULTORES ESPERAVAM DOS SERVIÇOS DE ATES

QUADRO 17: COMO OS TÉCNICOS PERCEBEM A ADOÇÃO DOS PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS NOS ASSENTAMENTOS

CATEGORIAS DE RESPOSTAS FREQÜÊNCIA

Existem fatores que dificultam a adoção 11 Existem fatores que favorecem a adoção 4

Questão agoecológica é mito 1

Fonte: Pesquisa de campo

As respostas evidenciaram que os técnicos identificam fatores que dificultam a adoção dos princípios agroecológicos e fatores que favorecem a adoção dos princípios agroecológicos. A primeira categoria apresenta freqüência bem maior que a segunda, (11 opiniões da primeira contra quatro da segunda).

Uma terceira categoria refere-se a um depoimento que coloca a agroecologia como um mito, segundo o trecho

“... até agora, pelo que eu vejo, é mito. [...] porque essa questão do agricultor ter conhecimento da agroecologia, hoje, muitos não têm, não é passado ainda, não foi passado de forma mais abrangente.” (Técnico do PA1, 23 anos, 1 ano e meio na entidade).

Foram vários os fatores relatados que dificultam a adoção dos princípios agroecológicos nos trabalhos de ATES. A falta de infra-estrutura básica nas comunidades dificulta o escoamento dos produtos e favorece o interesse dos agricultores em criar gado bovino, como demonstra o relato

“... e não tem infra-estrutura básica pro agricultor escoar seu produto, o agricultor é levado a desmatar pra criar gado, plantar capim, criar gado porque se ele não tem estrada pra ele tirar a banana, pra ele tirar o cupu, pra ele tirar o maracujá, mas o gado em qualquer época do ano é possível porque ele toca, ele vende pro vizinho. Então na verdade é o que até o banco na hora de acurar os projetos diz que o gado é o único produto que dá liquidez” (Técnico do PA4, 32 anos, sete anos na entidade).

As dificuldades em se entender amplamente o que é a agroecologia, assim como a falta de capacitação dos próprios técnicos em relação a esse tema foram questionadas, como demonstra o depoimento

“... essa questão de princípio agroecológico eu acho é complicado, é algo complicado de você passar, às vezes de você entender porque o que é agroecologia? É simplesmente não usar agrotóxico? Ou usar plantas que... é uma série de coisas né, que envolve a agroecologia. [...] acho que vai além disso e por isso eu acho que falta capacitação pra nós, profissionais né, pra que a gente possa ter capacidade de falar pra esses agricultores e a partir... que seja feita a nossa capacitação, aí a gente pode tentar trabalhar melhor com os agricultores”. (Técnica do PA1, 27 anos, sete meses na entidade).

A presença de representantes de empresas siderúrgicas nas áreas de assentamento foi apontada como um entrave nas questões agroecológicas, em que alguns técnicos levantam o incentivo à produção de eucalipto para produção de carvão destinado a estas empresas, como neste trecho

“... enquanto a gente tá tentando conscientizar o não desmatamento, a não extensão do projeto de bovinocultura, né, então tá indo outra equipe por trás, principalmente o das guzeiras, das siderúrgicas, atrás de convencer o agricultor a fazer o plantio de eucalipto pra extração de madeira pra fazer carvão, que isso acarreta uma implicação, futuramente, no próprio projeto do agricultor...” (Técnico do PA4, 29 anos, sete anos na entidade).

Ainda sobre a intervenção de siderúrgicas nos PAs, uma opinião destaca a disputa entre a ideologia que o técnico repassa aos agricultores, que busca reforçar a tradição dos camponeses, com a remuneração oferecida por empresas multinacionais para a produção de madeira para carvão nos lotes:

“...e a questão também é de não entender e dar mais valor à tradição. É questão dos agricultores né, que muitas vezes eles podem até entender, mas como tá dando mais valor à questão remunerada, à tradição: ‘ ah, meu pai fazia isso há mil tantos anos, isso não acaba, vira capoeira, vira mata de novo né’. Mas pensando lá no dinheiro lá da multinacional” (Técnico do PA1, 29 anos, dois anos na entidade).

“... a gente procura conscientizar o agricultor mas isso, nós somos pouco ainda, deveria ter mais participação mais e mais do próprio IBAMA em si, fazer reunião, eventos nos assentamentos, com a participação de várias entidades, vários órgãos né, que eu acho que isso só fortaleceria mais a conscientização, a capacitação do próprio agricultor...” (Técnico do PA4, 29 anos, sete anos na entidade).

Outro fator citado foi a resistência de alguns agricultores em adotar sistemas agroecológicos. De acordo com um técnico:

“... até hoje, inda é uma resistência dito pelos agricultores, pelo fato do sistema agroecológico ter uma certa lentidão em seus resultados”. (Técnico do PA2, 30 anos, quatro anos na cooperativa).

Outro extensionista relata uma experiência nesse sentido:

“... tinha um veterinário aqui que chegava e tava passando água de côco pro gado, passando casca de banana; o próprio agricultor quando a gente saía, vinha depois e falava comigo: ‘ pô aquele cara é louco? Vem trazer um doido pra cá?’ Entendeu?” (Técnico do PA2, 28 anos, três anos e meio na entidade).

Alguns fatores favoráveis à adoção dos princípios agroecológicos foram levantados, como o uso de adubação orgânica nas atividades dos lotes e as tentativas de implantar projetos de reflorestamento:

“... a gente tenta implantar e tamo conseguindo implantar essas atividades agroecológicas; em termos de adubação orgânica, deixando pra trás... ultrapassando o químico...” (Técnico do PA4, 24 anos, um ano e meio na cooperativa);

“... a gente tem procurado financiar [elaborar] também projetos de reflorestamento, ainda é pouco, até por causa do próprio conhecimento do agricultor que tá pouco ainda, ele não tem aquela segurança que futuramente pode ser viável aquele projeto (Técnico do PA4, 29 anos, sete anos na entidade).

Com essa questão foi possível evidenciar as dificuldades dos extensionistas em lidar com as questões agroecológicas. A falta de esclarecimento até mesmo conceitual a respeito do assunto e a falta de uma capacitação continuada impedem o repasse aos agricultores. Os técnicos não sabem de fato o que á a agroecologia, não têm domínio sobre isso e, conseqüentemente, a perspectiva não chega aos agricultores.

Grosso modo, o que se faz na prática é, no máximo, a tentativa de conscientizar os agricultores nos assentamentos a não desmatar, buscando diversificar as atividades produtivas para fugir à pecuarização, além de algumas iniciativas de educação e manejo ambiental.

Projetos de reflorestamento também são incentivados. Porém, tais iniciativas esbarram em uma série de obstáculos.

A precariedade estrutural nos PAs, principalmente quanto às péssimas condições das estradas, é o que tem dificultado o escoamento de produtos, o que favorece a expansão da pecuária bovina. A facilidade de venda dos animais, muitas vezes, é assegurada mesmo com estradas ruins. Como mencionado no depoimento de um extensionista, alguns agricultores entendem que atividades agroecológicas apresentam um retorno mais lento. Nas condições precárias em que vive a maioria das famílias assentadas, estas atividades são relegadas ao segundo plano, quando comparadas a outras que dão um retorno econômico mais rápido, como é o caso do gado bovino.

O autor desta pesquisa, em um trabalho de campo feito há alguns anos como agente de ATES em um assentamento da região, foi questionado quando apresentou a proposta de plantio de cupuaçu, financiado pelo Pronaf A. Um agricultor perguntou com quantos anos as plantas começariam a produzir, obtendo a resposta de que normalmente levaria de quatro a cinco anos. Surpreso, o agricultor perguntou o que ele e sua família comeriam durante este período, no sentido de que, nas condições em que se encontravam, não poderia se endividar com uma atividade de retorno tão lento, mesmo que ela apresentasse várias atribuições agroecológicas. Este relato demonstra um pouco das dificuldades em se adotar uma perspectiva agroecológica nas atividades de ATES, em virtude das condições de precariedade estrutural, econômica e social das famílias assentadas.

A influência de siderúrgicas é outro fator limitante nesse quadro, pois algumas empresas da região apresentarem às comunidades propostas para plantio de eucaliptos e outras espécies de plantas para produção de carvão nos lotes familiares. As propostas colocam renda garantida, além de uma série de benefícios, como acompanhamento técnico da atividade. Isso faz com que os agricultores pensem em mudar seus sistemas de produção, indo de encontro a toda intenção de trabalhar pela diversificação das atividades e investir em atividades com manejo agroecológico.

A agroecologia, no sudeste paraense, é algo novo, uma forma de orientação para intervenção no meio rural em que técnicos e agricultores possuem muito pouco conhecimento, o que ressalta a necessidade de investimentos em capacitação, em discussões amplas a respeito do assunto para todos os envolvidos com a ATES. Faz-se necessário conhecer experiências bem sucedidas para poder se aplicar a um determinado contexto. Há ainda a cultura expropriativa da floresta entre os agricultores, a tradição que herdam na forma de lidar com o meio ambiente que muitas vezes constitui-se em novos obstáculos. Não são todas as

famílias que sabem trabalhar com a mata, com a floresta amazônica de forma a fazê-la rentável e sustentável, pois grande parte veio de outras regiões do país, não tendo um prévio contato com áreas de mata virgem, como ocorre em vários lotes. Não são ‘extrativistas’, não são ‘povos da floresta’.

Portanto, a prática dos serviços de ATES da Copserviços fica a desejar na questão agroecológica pois ainda é um processo em formação, que necessita de aperfeiçoamento, pesquisa e conhecimento para poder ser implementado nos processos de intervenção. Até o momento desta investigação, esse é um aspecto que apresenta mais dificuldades do que facilidades para se consolidar.

A última questão debatida com os técnicos diz respeito ao conhecimento que eles possuíam sobre o documento oficial que regula os serviços de ATES. Buscou-se com isso perceber de que forma o conhecimento ou não do conteúdo do documento pode estar influenciando a prática dos profissionais.

QUADRO 18: CONHECIMENTO DOS TÉCNICOS A RESPEITO DO DOCUMENTO